O mundo da crítica é muito directo, racional e justo. E de que maneira. Nada de elites, não há elites na crítica, na crítica cinematográfica. Nem estatutos artificiais e fantasiosos. É tudo perfeito. Não se pode é gostar de TITANIC. Não se pode é gostar de PEARL HARBOR. Não se pode é gostar de AUSTRÁLIA. De resto, o mundo da crítica é simpático e perdoável.
Não se pode é gostar de histórias de amor. Daquelas que não estão apetrechadas de intelectualismo. De preferência intelectualismo fecundo. Porque arte, como se sabe, significa intelectualismo.
Já fede o ódio intelectualista à arte de TITANIC. Não são sempre opiniões diferentes, acreditem. Quando não é «integração no grupo», já o explica a Sociologia, é muitas vezes esta noção de arte intelectualóide. PEARL HARBOR, por exemplo, tem o azar de ter um realizador comercial, que como se sabe está logo à partida incapacitado de criar arte maior. Uma coisa leva necessariamente à outra. Se tiver um Ben Affleck como actor principal, então, o filme está morto. Não por ele até poder prestar um bom desempenho, mas porque é mais um Leonardo DiCaprio ou um Brad Pitt. É naturalmente bonito. E beleza não convém muito a uma obra de arte. Tem é que ser intelectualóide. Leonardio DiCaprio, como se sabe, é um actor sem talento e o mesmo se pode dizer de Brad Pitt. Não lhes bastava serem bonitos, ainda tinham que ser desastres no mundo da representação. Péssimas escolhas, estes actores... são venenos de bilheteira, como recentemente chamaram a Nicole Kidman. Outra que também teve o azar de ser bonita e ao mesmo tempo tão pouco talentosa... ah, e artificial («veneno de bilheteira», os mesmos que criticam os filmes de Michael Bay e que parecem tantas vezes querer matar um filme só pelo seu sucesso comercial). Não, não se pode gostar de TITANIC, PEARL HARBOR, AUSTRÁLIA... São narrativas orgânicas! (
no sentido de Bürger, A Teoria da Vanguarda) Estas obras não complicam, não se tentam mostrar pós-modernas, entendem? Umas para as outras são como
Odisseias e
Eneidas e
Os Lusíadas: no sentido em que se imitam narrativamente... Bah Bah Bah... Ai Calcifer, Calcifer! Já estou a consumir demasiada lenha, ainda me consumo!
Sarah Ashley e Drover têm pouca química no ecrã. Afinal agora já é porque são diferentes de uns Jack e Rose e de uns Rafe e Evelyn. Sim, porque Sarah e Drover até são uns pré-adultos... em idade e em personalidade! Ah, deviam ter imitado os outros pares românticos para... podermos criticar na mesma!
São uns seis filmes num só, este AUSTRÁLIA. Que falha de Luhrmann. Jurava que a ideia fazia parte da própria estética do autor, devo estar enganado. Muita confusão de géneros, péssimas opções tomadas. «Somewhere over the Rainbow»? Em AUSTRÁLIA? Ah, só sabe imitar, este Luhrmann! Sustenta o seu filme na obra dos outros! AUSTRÁLIA e O FEITICEIRO DE OZ são como eu e o Howl. Um sem o outro não vive.
O filme é artificial! Humm... mais um resultado de péssimas opções do realizador. Nada a ver com a sua estética. Lenha! Lenha! Ah, os efeitos especiais são tão artificiais! São a mais! Não, não são artificiais. Nem sempre resultam da melhor forma, pois bem. Mas é tudo a mesma coisa! O filme já está morto mesmo antes de estrear! E quando estreou nos Estados Unidos só fez 30 milhões e custou mais uns 100 milhões.
Dead film. É como um PEARL HARBOR, não vale a pena! Encham-nos de polpa! Polpa! O argumento é muito vazio (intelectualmente, entenda-se), cheio de clichès (mais uma péssima opção, bolas!).
Sim, faltam-lhe ideias. Mas até nisso se distingue de TITANIC e de PEARL HARBOR. Agora não me critiquem o misticismo! Que escolha mais errada! Então isso tem alguma coisa a ver com a cultura australiana? Ai, fica esquisito o misticismo ali, logo para mim que não acredito nessas coisas! Ai que esquisito.
A
Odisseia ou a
Eneida, obras pós-modernas por excelência, só são boas obras de arte porque se lêem em menos de duas horas, vá, duas no máximo. AUSTRÁLIA não pode ser um bom filme, dada a duração. É como um O SENHOR DOS ANÉIS ou um REINO DOS CÉUS. Péssimos, péssimos. A duração determina logo se uma obra é boa ou não. Já todos sabemos disso! E ainda insistiram em fazer este AUSTRÁLIA? Que falta de bom senso. Três horas de boa arte é assustador, impraticável, impossível. A terra gira à volta do sol. Deviam ter decepado aquele maldito Copérnico mal ele abriu a boca! Há coisas que simplesmente são. E porque são, significa que devem ser e continuar a ser. São as tábuas da lei de um bom crítico.
Bonito por fora, vazio por dentro. Ah, mas afinal ser belo ainda conta para alguma coisa! Ainda que seja para criar aparência, mas não é arte. Aliás, uma excelente fotografia não é arte. É superficial e é um complemento. O que interessa é um argumento cheio de intelectualismo. Ou então representações de Clint Eastwood e de Hilary Swank. E temos um excelente filme, belo, belo. Cheio por dentro, mas bonito por fora? Não tão bonito por fora, certamente... Bah Bah... Ouvi dizer que nem tanto ao mar nem tanto à terra. E voltamos então à questão: o belo não é importante. Nada de Brad Pitts na indústria, nem de Leonardos DiCaprios, nem de Ben Afflecks, mesmo que estes um dia surpreendam, escrevam ou realizem com mestria. Porque estão logo mortos à partida.
Aliás, o que eu tenho feito aqui é filosofar sobre a morte, ainda não se tinham apercebido? Calcifer, o filósofo.
AS CRÓNICAS DE CALIFER. A ironia, a sátira, o humor.
Nota: o conteúdo destas «Crónicas de Calcifer» não expressa, necessariamente, as opiniões e interesses do autor deste blog.