★★★★★
Título Original: MagnoliaRealização: Paul Thomas Anderson
Principais Actores: Julianne Moore, Tom Cruise, Philip Seymour Hoffman, William H. Macy, Philip Baker Hall, John C.Reilly, Melora Walters, Jason Robards, Melinda Dillon
Crítica:
De uma orquestração magistral que se estende do âmago a cada uma das suas pétalas, Magnolia é a obra de arte perfeita. É daqueles pedaços do éter que desabrocha em nós o mais profundo e sentido encantamento. O seu alimento é, somente e apenas, um dos melhores argumentos da História do Cinema, personificado por um elenco todo ele sublime. E o seu Deus Criador é um só, de génio puro e de nome Paul Thomas Anderson.
Magnolia fala-nos, de forma arrebatadora e com a maior eloquência, da dor e do caos universal resultantes do ressentimento e da quase natural incapacidade humana para o perdão: porventura, a mais intemporal das doenças que afecta e corrói a nossa espécie. É por isso que Magnolia está tão próximo de nós, quiçá em cada um de nós. Perdoar é, tantas vezes, um milagre tão impossível quanto um milagre bíblico; e dessa impossibilidade, a vida sai claramente a perder, fingida e ferida por detrás de máscaras e de orgulho. O arrependimento mata: é o cancro da psique. Life ain't short, it's long, it's long, God damn it! Não admira que o velho e impertinente Earl Partridge, às portas da morte, admita:
Aliás, às tantas, as personagens de Magnolia parecem precisar todas de um psicológo ou de um psiquiatra: umas arrependidas e outras cheias de amor para dar, vítimas de uma incomunicabilidade que tem tanto de coincidência como de culpa humana. Como lutar contra a incomunicabilidade? Falando, com a verdade de nós próprios. E eis meio caminho percorrido para curar a doença e ser feliz.
A câmera de P. T. Anderson filma com uma mestria irrepreensível, que nem um olho irreverente e implacável, assaz dinâmico, que se espelha em todos os planos meticulosos, nos zooms, na perseguição deambulatória pelos corredores do estúdio de televisão, nos planos estáticos ou na grande confluência estética ambicionada e por demais conseguida. Magnolia é, ainda, um grande exercício de manipulação: na excepcionalidade e originalidade do argumento (na narração do prólogo e do epílogo ou nas informações meteorológicas apresentadas, que denunciam uma forte personalidade autoral), na tão planificada realização (a fluída e rápida apresentação das personagens ou a cena em que as personagens, em conjunto, parecem sair da diegese para cantar o tema Wise Up) ou na montagem prodigiosa de Dylan Tichenor. Outra coisa impressionante e na qual P. T. Anderson triunfa completamente é a direcção de actores: Julianne Moore, Tom Cruise, Philip Saymour Hoffman, William H. Macy, Philip Baker Hall, John C. Reilly, Melora Walters, Jason Robards, Melinda Dillon; todos perfeitos nos seus papéis, servindo os propósitos do drama, da comédia e/ou da tragédia.
A fotografia de Robert Elswit, com os seus tons soturnos, serve a magnificência do projecto; projecto que vive também - e tanto - da banda sonora: os momentos musicais a partir das canções de Aimee Mann são inesquecíveis assim como o eterno Also Sprach Zaratustra, de Richard Strauss. A persistente e tensa composição de Jon Brion tem, é evidente, um uso bastante singular: é obssessivo e por vezes massacrante - o que já se tornou uma marca autoral na obra do realizador.
Magnolia é, pois, a sinfonia operática da condição humana, a jeito de turbilhão de emoções, com um final de redentores efeitos catárticos. Sometimes people need a little help. Sometimes people need to be forgiven. E, às vezes, os milagres acontecem mesmo. This happens. This is something that happens. Perdoar é então possível. O mau tempo passa e o sol raia novamente.
Conslusão? Uma obra monumental. Um dos melhores filmes de sempre.
O DILÚVIO DO PERDÃO
We may be through with the past,
but the past ain't through with us.
but the past ain't through with us.
De uma orquestração magistral que se estende do âmago a cada uma das suas pétalas, Magnolia é a obra de arte perfeita. É daqueles pedaços do éter que desabrocha em nós o mais profundo e sentido encantamento. O seu alimento é, somente e apenas, um dos melhores argumentos da História do Cinema, personificado por um elenco todo ele sublime. E o seu Deus Criador é um só, de génio puro e de nome Paul Thomas Anderson.
Magnolia fala-nos, de forma arrebatadora e com a maior eloquência, da dor e do caos universal resultantes do ressentimento e da quase natural incapacidade humana para o perdão: porventura, a mais intemporal das doenças que afecta e corrói a nossa espécie. É por isso que Magnolia está tão próximo de nós, quiçá em cada um de nós. Perdoar é, tantas vezes, um milagre tão impossível quanto um milagre bíblico; e dessa impossibilidade, a vida sai claramente a perder, fingida e ferida por detrás de máscaras e de orgulho. O arrependimento mata: é o cancro da psique. Life ain't short, it's long, it's long, God damn it! Não admira que o velho e impertinente Earl Partridge, às portas da morte, admita:
Don't ever let anyone ever say to you, 'You shouldn't regret anything.' Don't do that, don't! You regret what you fucking want! And use that, use that, use that regret for anything, any way you want. You can use it, okay?
Aliás, às tantas, as personagens de Magnolia parecem precisar todas de um psicológo ou de um psiquiatra: umas arrependidas e outras cheias de amor para dar, vítimas de uma incomunicabilidade que tem tanto de coincidência como de culpa humana. Como lutar contra a incomunicabilidade? Falando, com a verdade de nós próprios. E eis meio caminho percorrido para curar a doença e ser feliz.
A câmera de P. T. Anderson filma com uma mestria irrepreensível, que nem um olho irreverente e implacável, assaz dinâmico, que se espelha em todos os planos meticulosos, nos zooms, na perseguição deambulatória pelos corredores do estúdio de televisão, nos planos estáticos ou na grande confluência estética ambicionada e por demais conseguida. Magnolia é, ainda, um grande exercício de manipulação: na excepcionalidade e originalidade do argumento (na narração do prólogo e do epílogo ou nas informações meteorológicas apresentadas, que denunciam uma forte personalidade autoral), na tão planificada realização (a fluída e rápida apresentação das personagens ou a cena em que as personagens, em conjunto, parecem sair da diegese para cantar o tema Wise Up) ou na montagem prodigiosa de Dylan Tichenor. Outra coisa impressionante e na qual P. T. Anderson triunfa completamente é a direcção de actores: Julianne Moore, Tom Cruise, Philip Saymour Hoffman, William H. Macy, Philip Baker Hall, John C. Reilly, Melora Walters, Jason Robards, Melinda Dillon; todos perfeitos nos seus papéis, servindo os propósitos do drama, da comédia e/ou da tragédia.
A fotografia de Robert Elswit, com os seus tons soturnos, serve a magnificência do projecto; projecto que vive também - e tanto - da banda sonora: os momentos musicais a partir das canções de Aimee Mann são inesquecíveis assim como o eterno Also Sprach Zaratustra, de Richard Strauss. A persistente e tensa composição de Jon Brion tem, é evidente, um uso bastante singular: é obssessivo e por vezes massacrante - o que já se tornou uma marca autoral na obra do realizador.
Magnolia é, pois, a sinfonia operática da condição humana, a jeito de turbilhão de emoções, com um final de redentores efeitos catárticos. Sometimes people need a little help. Sometimes people need to be forgiven. E, às vezes, os milagres acontecem mesmo. This happens. This is something that happens. Perdoar é então possível. O mau tempo passa e o sol raia novamente.
Conslusão? Uma obra monumental. Um dos melhores filmes de sempre.
Este filme é excelente.
ResponderEliminarTem cenas muito marcantes e diálogos e interpretações geniais.
Está muito bom mesmo.
Bjs
Grande filme cheio de cenas magistrais.
ResponderEliminarRAPHAEL VAZ: Obrigado. «Magistral» é mesmo um dos melhores adjectivos a utilizar neste tão genial caso.
ResponderEliminarGEMA e JOÃO BIZARRO: Subscrevo-vos inteiramente. Que obra-prima.
Cumps.
Filipe Assis
CINEROAD – A Estrada do Cinema
Inspirador.
ResponderEliminarObra-Prima!!!!!!
ResponderEliminarGUSTAVO H.R.: Sim. E tão mais do que isso ;)
ResponderEliminarPISSARRA: Sem dúvida! ;)
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Um dos melhores filmes de sempre!
ResponderEliminarDotado de um brilhante simbolismo e de bom trabalho em todos os aspectos Magnolia revela-se, para mim, a melhor obra de "história cruzadas" que alguma vez existe...
Abraço
http://nekascw.blogspot.com/
P.S.- Boa crítica
Deus, estes textos teus são de uma destreza a nível de escrita invejável, só quem escreve é que entende o trabalho que dão a conceber, por muita inspiração que se tenha. Muitos Parabéns, uma das razões pelas quais venho a este blogue não é apenas pelo cinema :) Ainda não vi o Magnólia, tenho recebido boas críticas (ou a tradicional má crítica de quem não percebeu nada) e fica aqui mais um incentivo.
ResponderEliminarNEKAS: Muito obrigado ;) Subscrevo-te na íntegra.
ResponderEliminarCLÁUDIA GAMEIRO: Ou param com tantos elogios ou não sei onde me esconder! Estou a brincar, claro... LOLOL Muito, muito obrigado, mais uma vez Cláudia ;) É muito bom ler todos esses elogios e aperceber-me do reconhecimento.
Resta-me só dizer: Vê MAGNOLIA. É genial. É sublime. É uma obra-prima ;)
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Bom ver este filme aqui, belamente resenhado por ti.
ResponderEliminarÉ curioso, mas eu indico este filme e quase todos não gostam. Acham chato ou cansativo. Para mim, está no meu top 5 de melhores filmes, definitivamente.
É uma reflexão, um épico humano, eu diria. Um filme que me toca até a alma.
Você soube bem comentar sobre o argumento e da reflexão embutida do filme, é uma arte muito perfeita mesmo. Como não ter levado o Oscar de filme e direção? tem a melhor atuação da carreira de Tom Cruise e tenho dito, mais uma perda do Oscar.
Daí vem um que se apropria do estilo e tenta fazer uma boba imitação e leva oscar? eu falo do Crash - muito influenciado pela edição, premissa e estética do Magnolia, obviamente não chega nem perto...ou melhor, fica bem longe.
Abraço
É um filme muito difícil de digerir, ideal para certos estados de espírito. Soberbo na articulação das histórias paralelas, o final é sublime.
ResponderEliminarSim, o final... dos mais metafóricos que o cinema já viu. Boa crítica, terei que rever o filme para ver se, efectivamente, concordo contigo em pleno!
ResponderEliminarCRISTIANO CONTREIRAS: Obrigado ;) Também é dos meus filmes preferidos, inevitavelmente. De facto, este filme merecia um maior reconhecimento por parte da Academia. Mas os Óscares valem o que valem.
ResponderEliminarJulgo, no entanto, que a comparação com CRASH, de Paul Haggis, é forçada.
TIAGO RAMOS: Percebo-te. É muito mais complexo do que aparenta e suscita uma aprofundada reflexão à natureza humana.
FLÁVIO GONÇALVES: Obrigado, uma vez mais ;) Sim, creio que gostarias de rever a obra para saber se, porventura, estamos de acordo em tudo.
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Este filme pelo que tenho comentado com conhecidos meus é um filme que ou se gosta muito ou não se gosta. Sinceramente achei o filme fenumenal. É tipico filme que não me importo nada de ver uma segunda ou uma terceira vez. Achei a escolha da banda sonora uma escolha tao brilhante, Aimee Mann é sempre uma boa melodia.
ResponderEliminarAKASH TEHLARI: Sim, concordo. Aliás, como todos os filmes que conheço do genial Paul Thomas Anderson. São desses filmes que facilmente extremam posições. É uma obra-prima para a vida e para a História do Cinema, no meu entender.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
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