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quinta-feira, 6 de abril de 2017

ROMEU + JULIETA (1996)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
★★★★ 
Título Original: Romeo + Juliet
Realização: Baz Luhrmann
Principais Actores: Leonardo DiCaprio, Claire Danes, Harold Perrineau, John Leguizamo, Pete Postlethwaite, Paul Sorvino, Paul Rudd, Jamie Kennedy, Miriam Margolyes, Dash Mihok, Zak Orth, M. Emmet Walsh, Jesse Bradford, Brian Dennehy, Vincent Laresca, Vondie Curtis-Hall

Crítica:

A TRAGÉDIA DO AMOR 

 Did my heart love 'til now? 

Baz Luhrmann sabe como quebrar corações. Foi assim na obra-prima do musical moderno Moulin Rouge!, cuja fórmula herdou deste anterior - revolucionário e estonteante - Romeu + Julieta. Para isso, nada como pegar na história de amor mais icónica de todos os tempos. Mas... levar à Hollywood dos meados dos anos 90 e às novas gerações de todo o mundo - mergulhadas numa pop culture de videoclipes musicais e de consumo cada vez mais rápido e instantâneo -, as palavras eruditas e tudo menos comerciais de William Shakespeare? Que loucura, que fracasso anunciado. Daí o rasgo de génio de Luhrmann, fiel ao seu íntimo artístico: o cineasta arrisca manter o texto, em tanta da sua graça original, mas traz a acção da Verona italiana da Idade Média para a Verona Beach americana da modernidade, plena de arranha-céus, não com contendas de cavalos pelas estradas de terra e pó mas com rusgas de automóveis pelas ruas de alcatrão, inundadas de anúncios publicitários, não com lutas de capa e espada mas com tiroteios de camisas coloridas e floridas, abertas ao sabor do vento, ferozes perseguições de helicópteros pelos ares e meios televisivos que relatam as notícias em vez dos clássicos narradores. Comédia, acção, romance, drama, tragédia. A banda sonora é uma mistura igualmente tão eclética e irreverente que, aliada aos bruscos e efervescentes jogos de câmera, zooms, fast e slow motion e à frenética e alucinada montagem de Jill Bilcock... contribui, de forma inequívoca, para a estranheza e brilhantismo da adaptação. Tamanha ousadia e originalidade poderia ter corrido muito mal, não fosse a visão e a convicção, a paixão e o profundo sentido estético de Luhrmann e de toda a sua equipa. O filme tornou-se o maior sucesso de uma adaptação de Shakespeare aos cinemas, mas simultaneamente alvo de um mar de críticas destrutivas e de incompreensão. Nada, enfim, que o tempo não se ocupe, justa e oportunamente, de corrigir.

O prólogo é um autêntico trailer: compila algumas das melhores imagens do que estamos para ver, sobrepõe-nas a alta velocidade, acompanhado-as - sempre - de música electrizante, soma-lhes várias frases comerciais e por demais enigmáticas, suscitando a expectativa, e a manobra de marketing está concluída, pronta a lançar o seu produto. O título parece no ecrã: Romeo + Juliet, entendemos o + em vez do e porque é mais cool, mais pop. Mas cúmulo da provocação: Williams Shakespeare's antecede o título. Os que forem a Shakespeare irão certamente ao engano. O mote está lançado. Foquem-se no +, que é também uma cruz. Quando o próprio prólogo é um trailer, nada mais se pode esperar que não um filme comercial. Contudo - e este raciocínio impõe-se, a meu ver, como o mais importante -, ser um filme comercial não significa, por si só, ser um mau filme. Na verdade, ir beber influência à MTV revelou-se uma experiência tremendamente enriquecedora e actualizou ou regenerou, de certo modo, a linguagem cinematográfica em plenos anos 90. Sem esta influência, o que seria de Boogie Nights de Paul T. Anderson, de Clube de Combate de David Fincher ou de Requiem for a Dream de Darren Aronofsky. Não podemos esquecer que realizadores como Fincher ou T. Anderson chegaram mesmo a trabalhar o videoclip. De todos, Luhrmann foi quem desenvolveu uma abordagem mais espectacular e musical. A belíssima cena em que Romeu e Julieta pela primeira vez cruzam olhares, com o aquário pelo meio, poderia perfeitamente servir de videoclipe à canção I'm Kissing You, da Des'ree. Poderíamos estar a assistir, efectivamente, ao videoclipe - é esse o jogo aqui. E o triunfo da identificação com o público contemporâneo. Da mesma forma, a canção serve perfeitamente a cena, levando a um envolvimento emocional imediato e poderosíssimo. Numa altura em que as paixões juvenis, na vida real, florescem ao som da música (os casais apaixonados partilham canções e headphones) e em que os desgostos de amor são, igualmente, acompanhados por temas musicais, a música seria sempre o meio privilegiado para chegar aos espectadores mais jovens e para fazê-los sentir o romance e a tragédia da peça de Shakespeare, em toda a sua intensidade. A opção de manter o texto não só é corajosa como meritória, sendo porventura responsável por levar novos leitores ao mestre dramaturgo. Este é um entendimento derradeiramente optimista, mas creio nele.

Determinante para o sucesso da obra foram as escolhas do casting: Leonardo DiCaprio, o menino prodígio de Gilbert Grape, aqui a um ano de conhecer o estrondoso estrelado com o filme Titanic, é por demais carismático, bonito e sedutor, mas também notavelmente magnetizante na sua interpretação. Vibramos com ele, choramos com ele. A graciosa Claire Danes é encantadora e torcermos pelo romance. De um lado Mercúcio (estupendo e hilariante Harold Perrineau como melhor amigo do herdeiro dos Montéquios, ora de cabelo aos canudos e de cruz ao peito ora de peruca e travestido), do outro lado Tibaldo (John Leguizamo, irascível e galante, como primo de Julieta e capataz dos Capuletos). Duas famílias inimigas e, por isso, amaldiçoadas. Algures pelo centro, os cúmplices: a ama de mel da sempre fabulosa Miriam Margolyes e o padre boticário de Pete Postlethwaite, fiel à métrica do poeta.

Excelente, a direcção artística: a praia parece um autêntico parque de diversões de terceiro mundo (o palco em ruínas foi, na verdade, devastado por um furacão durante a produção), as igrejas excedem-se em velas e neons, a mansão dos Capuletos faz jus à riqueza e ostentação da família. As referências às peças de Shakespeare multiplicam-se, um pouco por todo o lado, nos cartazes ou revistas, assim como as representações e os símbolos cristãos (na roupa, nos carros, na pele tatuada). A fotografia é vívida, com as cores ao serviço dos propósitos dramáticos. Romeu + Julieta tão depressa homenageia - e goza, plena de humor - o western ou os filmes de gangsters, ao som dos temas mais populares e descontraídos, como vai buscar uma sinfonia de Mozart para suscitar o riso numa cena de interiores, Wagner para dramatizar uma determinada situação ou os corais de Craig Armstrong para atingir o tom mais operático e trágico. É quase uma antologia, de gosto diversificado e mais ou menos duvidoso.

O resultado, se me permitem, transcende quaisquer dúvidas. É como ingerir uma droga alucinogénica e, de repente, o virtuosismo de Shakespeare encontrar eco num surrealismo mundano, excitado e desenfreadamente histérico, injectado com níveis de adrenalina tão absurdos que o descontrolo hormonal e sem limites pode arrancar das personagens, a qualquer momento, os seus segredos mais íntimos. Com o seu quê de nonsense, descomprometido mas profundamente sentido, Romeu + Julieta revela-se uma experiência absolutamente sem limites. É como o fogo-artifício que, às tantas, irrompe pelo céu do baile de máscaras: explosivo e deslumbrante, imprevisível e adolescente - como as primeiras e verdadeiras paixões. Percebo, por isso, que os mais puristas, mais conservadores ou mais velhos não só não gostem como denigram os valores artísticos da produção. Não é só uma questão geracional, mas creio-a sobre todas as outras. Romeu + Julieta foi um filme, em certos aspectos, à frente do seu tempo, que desbravou novos caminhos. Uma aposta, contra todas as expectativas, ganha: de inesgotáveis e contagiantes energia e fruição artística, deveras apaixonante e de emoções à flôr-da-pele, finalmente tão intensa como se nos cravasse um punhal no peito.

I defy you, stars!

segunda-feira, 27 de março de 2017

MACBETH (2015)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
★★★★ 
Título Original: Macbeth
Realização: Justin Kurzel
Principais Actores: Michael Fassbender, Marion Cotillard, David Thewlis, Paddy Considine, Sean Harris, Jack Reynor, David Hayman, Elizabeth Debicki, Daniel Westwood, Ross Anderson, Maurice Roëves, Barrie Martin, Hilton McRae, Scott Dymond, Seylan Baxter, Lynn Kennedy

Crítica:

TRONO DE SANGUE 

 What's done cannot be undone. 

2015 foi, definitivamente, um ano de grande colheita: O Renascido de Alejandro G. Iñárritu, Mad Max - Estrada da Fúria de Frank Miller, O Abraço da Serpente de Ciro Guerra e Os Oito Odiados de Quentin Tarantino constam, obrigatoriamente, na lista dos melhores filmes do ano. Não obstante, a vitalidade desta apaixonante arte manifestou-se ainda - e de forma inequívoca - noutros tantos títulos, entre os quais aquele que é, seguramente, um dos mais belos, poéticos e hipnóticos pedaços de cinema do ano: Macbeth, de Justin Kurzel, a partir da tragédia imortal de William Shakespeare.

I. A PALAVRA

A peça é seiscentista. No século XX, de Orson Wells a Akira Kurosawa e a Roman Polanski, vários foram os cineastas que ousaram filmar a poética shakespeariana - e esta peça em particular -, cientes dos detractores mais ou menos fanáticos e absolutamente assegurados, como se Shakespeare fosse infilmável ou tão divino que todas as tentativas de transpô-lo para o grande ecrã fossem indignas ou estivessem, logo à partida, amaldiçoadas. Devo assumir, como homem de letras que sou, a minha total admiração, devoção e reverência ao mestre, poeta e dramaturgo inglês. Efectivamente, considero-o sagrado - o que não quer dizer, contudo, que o meu fel se desfaça, pestilento, num azedume cego e, de certo modo, cliché, a cada vez que se toca na sua inigualável obra; pelo contrário. Declamá-lo com sangue fresco, pulsante veia artística e acalorada paixão é tudo o que mais posso desejar. A arte vive através dos tempos, precisamente, pela memória e pela influência.

Em pleno século XXI, Macbeth de Kurzel preserva a essência e a erudição das palavras originais, ao mesmo tempo que se supera em poesia visual, sempre com apurado bom gosto. O que é perceptível aos olhos deslumbra e extasia, com aparente facilidade, os espectadores de primeira viagem, mas quando confrontados com a palavra, uma determinada barreira impõe-se-lhes. Para os menos acostumados ao lirismo poético e a toda a sua riqueza, a obra assombra-se impenetrável e quase inacessível, dada a exigência no entendimento e na desmistificação do estilo: da inversão sintática aos jogos do verbo, da tão sonante musicalidade do que é proferido à poderosíssima imagética do que é, entre as recorrentes metáforas e comparações, tantas vezes sugerido. Porque ao assistirmos a Macbeth desfrutamos de uma experiência cinematográfica, teatral e, em última ou primeira instância, literária, vale a pena revê-lo e relê-lo tantas vezes quantas necessárias, atentos à transversalidade da palavra, até que finalmente se quebre o gelo e até que verdadeiramente se sintam - entre o nevoeiro, o fumo ou o entardecer, ou o carregado e em tudo extraordinário desempenho dos actores - o lado negro da alma, a visceral intensidade de Shakespeare e a beleza que há em tudo isso.

Nesta devastadora guerra do trono, como na poesia, a palavra é a espada: saber da sua arte revelar-se-á imprescindível para alcançar qualquer triunfo interpretativo. Curioso que, na língua inglesa, estabilizadas as evoluções gráficas e fonéticas, a espada (sword) tenha a palavra (word) lá dentro.

II. A REPRESENTAÇÃO

A palavra é escrita e é percepcionada por nós, espectadores, mas não sem antes ser dita. Os actores são os intermediários da história e as personagens vivem neles antes de viverem em nós. Macbeth é a história (e o nome) de um guerreiro bem sucedido, cuja lâmina desbravou lealdade para com o rei Duncan. Quando uma profecia o anuncia como futuro rei, o homem torna-se cego e transforma-se. Tomando as rédeas do fado, não fosse este mentir, principia a hamartia: cumpre o regicídio, elimina todas as eventuais ameaças e apunhala quem tiver que apunhalar, sem coração, sem culpa, em nome da ambição e do poder. Inclusive os seus homens e amigos mais próximos. Enquanto ascende ao trono e ao status, a sua alma é assolada por alucinações, como se ainda sobrassem resquícios de consciência ou de humanidade, e a descida aos infernos principia, rumo à solidão e à morte. Michael Fassbender é Macbeth, em toda a sua insensibilidade e monstruosidade. A sua performance é, a maior parte do tempo, de um underacting silencioso e contido, mas de uma irascibilidade repentina sempre que o descontrolo o surpreende. E de uma frieza inacreditável quando deveria chorar a perda.

Full, full of scorpions, is my mind.

Se a predição lhe envenena o espírito e lhe seca o coração, o que dizer da pretensiosa acção de Lady Macbeth (Marion Cotillard). A esposa, invocadora de espíritos malignos, não é senão uma ávida  e sedutora serpente, a segredar-lhe constantemente ao ouvido e a tentá-lo para o pior caminho. A sua voracidade só estancará quando o marido não mais a consultar e, totalmente febril, praticar os crimes mais terríveis e hediondos, como queimar vivas crianças e descendências inteiras. Aí Lady Macbeth, já rainha, aperceber-se-á de que já foi longe de mais. Colocar-se-á no lugar da mulher de Macduff ou do próprio - também ela sabe o que é perder um filho, gerado do próprio ventre - e ver-se-á reflectida. O desempenho de Cotillard é completamente sideral. O seu olhar, as lágrimas que verte... dizem tudo sobre a sua dor interior, que tão arduamente lhe implora por silêncio e paz.

O elenco secundário está igualmente magnífico nos seus papéis: David Thewlis é o desditoso Duncan, monarca atraiçoado. Paddy Considine é o malogrado Banquo: lesser than Macbeth and greater. Not so happy yet much happier. Thou shalt get kings though thou be none. E Sean Harris é o desventurado Macduff, cujo ajuste de contas com o protagonista culminará no renhido combate corpo-a-corpo do último acto, onde só uma interpretação errónea do presságio poderá justificar a reviravolta.

A companhia entrega nas suas vozes as mais sentidas declamações. A sua música confunde-se com os arranjos espectrais de Jed Kurzel (irmão do realizador), cujas cordas clamam, tremem e se arrastam demoradamente, como que perpetuando e espelhando o sofrimento das personagens.


III. A IMAGEM


O provérbio é atribuído a Confúcio e diz: uma imagem vale mais do que mil palavras. A máxima popular explica, em grande parte, o retumbante sucesso do cinema enquanto arte de contar histórias, em comparação, por exemplo, ao modesto êxito literário ou mesmo teatral dos dias correntes. No entanto, um filme como Macbeth desafia, necessariamente, tal sabedoria. Sendo que à palavra já me dediquei no primeiro capítulo, focar-me-ei, agora e ainda que por palavras, na imagem.

Na construção de cada frame, o que Kurzel e o progidioso director de fotografia Adam Arkapaw tentam alcançar é a dimensão etérea, sublime e derradeiramente poética dos solilóquios, diálogos ou versos de Shakespeare. Para que a imagem esteja à altura da palavra. Por isso, Macbeth é um banquete visual absolutamente espantoso e magnetizante. Certos quadros, nos quais as personagens se fundem, por via do enquadramento e da iluminação, nos elementos naturais, tornando-se figuras abstractas numa tela de cores intensas, perdurarão na nossa memória muito para além da primeira visualização do filme. Desde a abertura, Macbeth é de um deslumbramento contínuo e impõe-se, por força das imagens, como um filme iminentemente atmosférico e reflexivo: das virgens e recônditas paisagens da Escócia, de esplendor inebriante, aos mais épicos planos de batalha, meticulosamente entrecortados pela montagem de Chris Dickens entre o slow ou o fast motion e o choque das forças rivais em tempo real. O efeito de tais recursos assombra-nos como um fantasma ou como um pesadelo. O confronto é violento, sangrento mas impressionantemente belo. E a chama profundamente estilizada jamais se extingue: nomeadamente na aparição das Irmãs Fatídicas entre os campos e a bruma (infectando a fé cristã com as crendices pagãs), nas sofridas preces de Lady Mcbeth (atormentada por insuperáveis traumas) na capela da vila, ou mesmo o decisivo duelo, já referido, entre Macbeth e Macduff (onde a saturação cromática conduz a um clímax quase operático). A noite, a noite é escura e cheia de terrores, como diria a bruxa de outra guerra de tronos, por isso a fase do dia por excelência para pintar o pano de fundo das mais importantes cenas da tragédia é o entardecer, com os seus tons alaranjados e escarlate. Macbeth não é senão um filme crepuscular: o sol cede o seu lugar às trevas e o seu calor à fria noite, assim como Macbeth, outrora honesto e respeitado, cede a razão à loucura e a sua integridade à tirania, à desgraça e à obscuridade. As imagens anunciam a morte, em crescendo. Escasseia a luz: imperam os tons azulados, gélidos como cristais, sempre que é dia e não há sol. A aurora é como um novo ocaso e o laranja, no plano final, dá mesmo lugar ao vermelho. Vermelho-sangue. O destino está consumado.

Tomorrow and tomorrow and tomorrow... creeps in this petty pace from day to day to the last syllable of recorded time. And all our yesterdays have lighted fools the way to dusty death.

A ambição transborda no olhar dos actores, a vingança cozinha-se nos interiores mas é no campo aberto, encoberto pela neblina ou pelas cores da paleta, que o destino amplamente se concretiza, conferindo à trama um fôlego denso mas refrescante, sinistro mas simultaneamente delirante e onírico. Se as imagens também são uma forma linguagem, que linguagem transcendente é a de Macbeth! Que trabalho de fotografia - sob todos os primas - incrível, ousado e singular.

Conclusão

Não sei que artista será Kurzel; não tenho dons adivinhatórios. Ainda não assisti a Assassin's Creed, mas receio o pior, não só porque não me pareceu interessante por aí além, como me pasma a transição radical de uma obra tão erudita quanto Macbeth para uma tão aparentemente comercial quanto essa outra. Não que não haja bom cinema comercial; não me interpretem mal, sei bem o que é ser incompreendido pelo gosto demasiado eclético. Mas há apostas comerciais de alguns realizadores talentosos que roçam a vergonha - por exemplo: o homem que fez The Fall também realizou, em seguida, uma banalidade chamada Immortals. Isto para dizer que, independentemente do curso que os cineastas tomarem, e dos filmes menores que estrearem em seguida, importa valorizar devidamente os filmes significantes que nos deixaram. Macbeth é sem dúvida um desses filmes, virtuosíssimo, que ou virará cult ou continuará alienado da maioria dos espectadores, sendo que o mais provável é que lhe aconteça ambas as coisas; é certo que não foi concebido para a maioria dos espectadores. Não tenho dons adivinhatórios, relembro, mas tento e dito-lhe esta sorte.


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CINEROAD ©2020 de Roberto Simões