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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

IMORTAIS (2011)

PONTUAÇÃO: RAZOÁVEL
Título Original: Immortals
Realização: Tarsem Singh
Principais Actores: Henry Cavill, Mickey Rourke, Stephen Dorff, Freida Pinto, Luke Evans, John Hurt, Joseph Morgan, Isabel Lucas

Crítica:


OS DEUSES E OS HOMENS

Fight! For immortality!


Para os admiradores maiores da mitologia clássica, Imortais soar-lhes-ia, logo à partida, como uma proposta irresistível e absolutamente irrecusável. Não morre, afinal, a esperança de encontrar no cinema uma adaptação à altura do nosso fascínio pela cultura grega. O trailer, contudo – e sejamos francos - já nos fazia temer um produto com pouco mais interesse do que o meramente comercial, apesar da promessa de prodígio visual. Na verdade, aquilo que temos em Imortais é um épico gorado, tremendamente eloquente na sua retórica inócua, profundamente ridículo para os puristas que esperariam o impossível da reconstituição histórica, com base num mito amplamente cultuado através dos séculos, mas aqui um tanto ou quanto desvirtuado em prol de um filme para adolescentes, assente no maniqueísmo das suas personagens e no facilitismo dos seus processos narrativos. Imortais é, sobre todas as coisas, espectáculo. Espectáculo que se quer rentável. Os deuses da indústria pouco se interessam, ao que parece, com a memória dos Homens.

Depois da obra-prima visual que é The Fall – Um Sonho Encantado, num circuito mais independente, Tarsem abraça finalmente o cinema de massas. Já em 2000 havia dado que falar com o seu filme de estreia, protagonizado por Jennifer Lopez, A Cela, onde cruzou, pela primeira vez, o thriller policial centrado num bizarro psicopata – muito ao género de Silêncio dos Inocentes e de Sete Pecados Mortais – com o seu universo perfeccionista, fantasioso e surreal, onde o esplendor visual atinge o mais elevado requinte. Imortais dá continuidade a essa estética, entregando-se finalmente às infinitas potencialidades do digital. Neste campo, Imortais é deslumbrante. Quem nos dera experienciar pessoalmente aquelas visões do Olimpo. O detalhado e assombroso trabalho de guarda-roupa, por fim, completa o raro vislumbre que o filme constitui e, por isso, merece todo o reconhecimento. Emanuel Levy diz que Tarsem Singh is a gifted, eccentric visual artist but he is certainly not a storyteller (Cf. http://www.emanuellevy.com/review/immortals/). Conclusão compreensível, se só tivermos visto este seu titânico filme.

Dos mesmos produtores de 300, o filme partilha várias características que aproximam ambos os filmes: a proeminência dos efeitos digitais na construção dos cenários e no acabamento da fotografia (contribuindo para uma maior similitude com os jogos de computador), a exploração da violência e da brutalidade como recurso estilístico, em sequências de acção plenas de sangue e testosterona, as impressionantes (e muitas vezes excelentes, inclusive) coreografias de lutas (onde o slow motion se impõe como um verdadeiro trunfo), a pouca profundidade e desenvoltura das personagens e a fraca articulação dos episódios, tendo como compensação um excesso de movimentos de câmara, a utilização abusiva dos efeitos sonoros (um pouco como nos filmes de terror, aos quais recorrem para prender desesperadamente o espectador) ou uma operática banda sonora (nada de novo, somente a cópia da cópia, da etc., do original). Henry Cavill e Freida Pinto, emanando sensualidade e erotismo, são, independentemente das suas qualidades como actores, criaturas por demais abençoadas pelos deuses, tão belos e perfeitinhos em cada uma das curvas dos seus corpos. Particularmente na cena do discurso para a multidão (lugar-comum incontornável, no qual Teseu (Cavill) incita os soldados para a guerra) é notável a inconsistência na construção da personagem: até ali jamais demonstrara possuir o dom da palavra e de, um momento para o outro, assume-se como um herói fluente. Somente Mickey Rourke, Stephen Dorff e Joseph Morgan (escusado será referir John Hurt) nos lembram, de tempos a tempos embora aprisionados nas limitações dos seus papéis, que existem actores nesta produção; sabem, daqueles que representam. Em ambos os filmes, o físico dos protagonistas é cuidado e determinante; todavia, com um look actual em demasia para um filme que, por mais fantástico que seja, almeja a viagem no tempo, de regresso a tempos idos. . Ecoam ainda as influências de megalomanias recentes, como Tróia, Alexandre, o Grande ou Confronto de Titãs, que Tarsem luta por superar em escala e grandeza. Para isso, nada como expandir exércitos e paisagens e edificar mais uns metros de muro.

Não partilhando de especial entusiasmo pelo 3D, há que salientar a notória evolução da tecnologia, cada vez mais funcional, alcançando o seu propósito original, muito embora a sua utilidade se resuma a isso: possibilitar que o espectador entre no mundo do filme, tela adentro.

No seu todo, eis uma embalagem por demais sugestiva e atractiva para o público jovem, que encontra nestes escapes lúdicos as mais memoráveis (ainda que por pouco tempo) experiências cinematográficas. Para o público que dispensa entretenimento espalhafatoso e que está mais habituado a obras sublimes – entre os quais também existem jovens, outros jovens - o filme tornar-se-á num bocejo tão encantador quanto entediante. A concretização de uma epopeia em filme, baseada na mitologia clássica, fica para outro dia. Quanto a Tarsem, esperemos que ganhe a credibilidade suficiente junto dos grandes estúdios (que sabemos ser fundamental, em Hollywood) para voltar às grandes obras de arte, daquelas verdadeiramente imortais; talento e visão não lhe faltam e isso já deixou mais do que comprovado. Não sei é se será para já. Que é como quem diz, com Mirror, Mirror… O trailer já circula por aí – e sejamos francos – não nos incentiva por aí além.


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Originalmente publicada na edição 28 da revista Take.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

CLEÓPATRA (1963)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: Cleopatra
Realização: Joseph L. Mankiewicz, Rouben Mamoulian, Darryl F. Zanuck

Principais Actores: Elizabeth Taylor, Richard Burton, Rex Harrison, Pamela Brown, Martin Landau, Robert Stephens, Andrew Keir, Kenneth Haigh, George Cole, Cesare Danova, Martin Benson, Francesca Annis, Hume Cronyn, Roddy McDowall, Desmond Llewelyn

Crítica:

A ESFINGE

Queens. Queens. Strip them naked
as any other woman, they are no longer queens.

A megalomania no cinema encontra em Cleópatra, de Joseph L. Mankiewicz, um dos seus expoentes máximos. Chegava ao fim a era de ouro dos épicos, plenos de esplendor e majestade, ou, pelo menos, uma das mais proeminentes eras do género. Na verdade, depois de Cleópatra, poucos mais épicos se fizeram assim, em Hollywood; a odisseia que foi produzir o filme, numa loucura para lá da ousadia, quase arruinou os estúdios da 20th Century Fox. Raramente encontraremos, de forma tão real, massiva e impressionante, tantos e tão grandiosos cenários, tantos e tão ornamentados figurinos, tantos e tão bem orquestrados figurantes. Da deslumbrante fotografia de Leon Shamroy, emana uma beleza quente, sensual e exótica, que cristaliza na memória a perfeição de tão exacerbado primor técnico. A escala alcançada - e longe de qualquer carácter hiperbólico - mais parece ultrapassar o humanamente possível e tocar o divino.

O filme imortalizou, para sempre, o talento e o encanto de Elizabeth Taylor. Ao lado de Rex Harrison e de Richard Burton (Júlio César e Marco António, respectivamente), montou-se o triângulo principal do elenco, com magníficas prestações. Memorável e absolutamente espectacular, a cena da chegada de Cleópatra, a Roma; sem dúvida, a melhor cena do filme, de uma encenação tremenda. Ela, a mulher, a governante e a divindade - para lá do poder, das ambições e das traições políticas, as ligações amorosas, o sonho de Alexandre e o trágico destino de todos os homens e mulheres que cobiçaram o divino: a ascensão e o declínio.

Ironia ou não, o filme teve a mesma ambição e o mesmo destino: ainda que não totalmente, acabou por fracassar e dele contam-se hoje as grandes façanhas. Diria que o seu maior erro foi o desequilíbrio narrativo - não a duração, propriamente, como tantos apontam. Afinal, a longa duração de um filme não dita, por si só, a sua qualidade. Importa que haja história para contar - e aqui há quanto baste - e um equilíbrio salutar entre a declamação e a acção. Às tantas, terá faltado mais acção à história. A partir da Batalha de Ácio, no último quarto do filme, é notório o equilíbrio entre ambas as componentes, acabando a narrativa por triunfar magistralmente; fosse todo o filme assim. Depois de todos problemas e contrariedades que a produção atravessou, o desequilíbrio foi certamente um reflexo disso mesmo.

Na pedra, resistente a qualquer erosão, fica a marca de um filme que, ainda que desproporcionado, se consagrou monumental.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

CLEÓPATRA (1934)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: Cleopatra
Realização: Cecil B. DeMille

Principais Actores: Claudette Colbert, Warren William, Henry Wilcoxon, Joseph Schildkraut, Ian Keith, Gertrude Michael, C. Aubrey Smith, Irving Pichel, Arthur Hohl, Edwin Maxwell, Ian Maclaren, Eleanor Phelps, Leonard Mudie, Grace Durkin, Ferdinand Gottschalk, Claudia Dell, Harry Beresford, Jayne Regan, William Farnum

Crítica:
Together we could conquer the world.

Um guarda-roupa faustoso (Vicky Williams), desfilando por entre cenários grandiosos e imponentes (Roland Anderson, Hans Dreier), é sublimado pelo olhar ambicioso e perfeccionista de Cecil B. DeMille. Esta estética megalómana e refinada, de elevado esplendor visual (quão requintada é a fotografia de Victor Milner), é, aliás, uma das grandes marcas do realizador.

Claudette Colbert, a musa, por detrás de um olhar sedutor e enigmático, magnetiza o espectador numa performance verdadeiramente memorável. Henry Wilcoxon e Warren William destacam-se, no protagonismo dos seus papéis, da tragédia shakespeariana - a sombra de Shakespeare e do seu Júlio César foi inultrapassável, desde os tons do discurso e da proclamação à construção ou reconstrução episódica da narrativa, até certo ponto.

Entre intrigas e traições, o triunfo do amor. E, mais espectacular do que totalmente magistral, um épico absolutamente apaixonante.

domingo, 13 de março de 2011

NAUSICAÄ DO VALE DO VENTO (1984)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Kaze no tani no Naushika
Realização: Hayao Miyazaki


Filme de Animação

Ainda que sem o prodígio técnico das mais recentes obras do cineasta, um épico belíssimo e muito bem construído, com personagens sólidas e com um argumento poderosíssimo, da maior consciência ecológica.
[Crítica em espera]

domingo, 12 de setembro de 2010

A MARATONA DOS ÉPICOS - Encerramento

O CINEROAD - A Estrada do Cinema encerra aqui a sua Maratona dos Épicos que, entre 03 e 11 de Setembro, encheu o blogue de críticas, apresentações, vídeos, participações especiais, comentários e visitas.

A propósito, as visitas do CINEROAD duplicaram durante estes dias e foram aceites, diariamente, dezenas de comentários, pelo que o profundo agradecimento que tenho a tecer se dirige a todos.

Para eventual curiosidade, segue o ranking dos 5 posts mais visitados da Maratona:

1º lugar | Ben-Hur
2º lugar | Álamo
3º lugar | Spartacus
4º lugar | Gladiador
5º lugar | Tróia

Ficaram um sem fim de épicos por tratar, como esperado; muitos deles filmes absolutamente obrigatórios. Mas estou certo de que falaremos deles futuramente e que não deixaremos que a sua chama se apague.

Obrigado a todos e, já sabem, vemo-nos na estrada!

sábado, 11 de setembro de 2010

BEN-HUR é o melhor épico de sempre!

Após uma votação inicialmente renhida e ultimamente mais expressiva, ultrapassando a fasquia dos 150 votos, BEN-HUR acaba por conquistar o ouro, o primeiro lugar do pódio desta Maratona dos Épicos, com 53% dos votos. Em segundo lugar, O SENHOR DOS ANÉIS, com 47% dos votos.

Obrigado a todos os que votaram!

OS DEZ MANDAMENTOS - O Trailer



Um filme arrojado e espectacular.

OS NIBELUNGOS de Fritz Lang, segundo João Palhares

Agradecimento Especial:
João Palhares, Cine Resort

Fritz Lang e Thea von Harbou adaptaram a lenda dos Nibelungos, nos anos 20, para o grande ecrã. Lang com este díptico (já antes tinha feito Die Spinen e fez depois, o épico indiano), afirmou-se como o maior artesão do épico.

O filme demorou dois anos a ser finalizado e reflecte toda um rigor formal e temático, com tanto de épico como interior. É dividido em duas partes (A Morte de Siegfried e A Vingança de Kriemhild) e descreve, segundo Lang, quatro mundos, com diferentes condutas e ideais. Ora é o contraste entre estas duas partes e estes quatro mundos que motiva Lang e o permite trabalhar as escalas dos planos e fazer a transição do grande para o pequeno e do distante para o próximo, do épico para o mais íntimo, das massas para as personagens. O contraste permite-lhe, também, tecer considerações sobre a Alemanha sua contemporânea, uma Alemanha dividida e nas vésperas da subida e notoriedade do partido nazi. É, sim, um hino nacionalista (largamente financiado pela UFA), mas com uma ideologia e uma crença que só podiam ser de quem se preocupava social e politicamente, e Lang foi dos maiores sociólogos cinematográficos.

De resto, estão aqui os temas da aproximação do Mal e da sua propagação, como ente invisível, aqui culpa do mais nobre sentimento humano, o Amor. O de Kriemhild por Siegfried...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

ALEXANDRE, O GRANDE - O Trailer



Um magnífico trailer é capaz
de prometer mundos e fundos, não é?

ALEXANDRE, O GRANDE de Oliver Stone, segundo Jorge Teixeira

Agradecimento Especial:
Jorge Teixeira, Comentador assíduo do CINEROAD

Alexandre, O Grande é uma película que em vez de recorrer a muitas e grandes batalhas como cenário para contar uma história, se serve delas (poucas) para relatar o significado de um mito, de uma personagem, visto por ela mesma ou pelos que a rodeiam, numa perspectiva interior. Pois na realidade, será, acima de tudo, visto pelo criador da obra aqui transposta. Nesse sentido, Oliver Stone aborda a película com o objectivo claro de expor a sua visão daquilo que foi um dos maiores personagens históricos da antiguidade. Serve-se para isso de um narrador, de Ptolomeu, algo cínico e afiado (Anthony Hopkins claramente dispensável enquanto actor), para contar a sua perspectiva pessoal da vida do herói macedónio. E é aqui que triunfa, pois não é um narrador deliberadamente absoluto e objectivo, mas sim um homem de idade (e um oficial jovem) que, influenciado pelas suas próprias experiências e ângulos pessoais, oferece uma alternativa para mostrar a complexidade da personalidade aqui tratada. Uma visão sincera e subjectiva e, possivelmente para além dos factos. Talvez demasiado negra, que reflecte excessivos defeitos e receios no herói, mas ao mesmo tempo muito realista e esforçada em retirar e descobrir um ser humano num titã. Desconstrói um mito, uma lenda, um herói num homem carregado de ambição e de sonhos impossíveis. Um homem às tantas entregue a poucas companhias. Compreendido só pelos seus próprios mitos. Amigo para alguns e venerado por outros tantos, será no entanto respeitado e admirado por todos.

Esta visão do realizador converte-se na espinha dorsal da vida do protagonista e do próprio filme, na tumultuosa relação com os seus pais e na aprendizagem inicial. Stone mostra com delicadeza como estes traumas na juventude determinam posteriormente o mundo de Alexandre. Demonstra essa preocupação na caracterização do personagem ao longo de toda a fita, sendo como realizador, inteligente e habilidoso com a câmara, como também atrevido e efectivo por vezes. A cena em que Alexandre cai ferido e toda a paleta se tinge de magenta é de uma extrema beleza tremendamente adequada. O resultado é uma cena soberba em todos os sentidos, sobretudo na fotografia. Aliás a fotografia, a cenografia, as coreografias, toda a direcção de arte e guarda-roupa estão deslumbrantes, roçando a perfeição. Quando juntas, constituem momentos inesquecíveis e muito bem filmados, como são exemplo as duas únicas batalhas do filme. Terrivelmente eficazes. Assim como a banda sonora que acompanha e eleva ao extremo as cenas, intemporalizando-as. Vangelis cria, pois, uma sonoridade única, linda, magnífica, muito bem entregue à história do não menos magnífico, Alexandre. Em relação à montagem e ao argumento é que a obra adquire alguns dos seus defeitos. Estes, que dizem respeito à estrutura narrativa, por vezes lenta em demasia, incoerente em determinadas transições, e sobretudo desequilibrada no seu conjunto. O narrador sendo essencial tem algumas incoerências também, relata passagens que deveriam estar sendo encenadas, enquanto fica ausente nos tais momentos mais cansativos. Por outro lado, nas interpretações tem-se um elenco de um modo geral credível e em sintonia, em que se destacam Angelina Jolie, com a sua força e carisma e Val Kilmer, com uma actuação conseguida e vivaça. Colin Farrel está muito bem, mas algo exagerado em determinadas cenas de grande carga emotiva, tornando menos credível o potente guião que interpreta. Decepcionante por vezes com essa energia desequilibrada, poderá dizer-se, mas no cômputo geral coerente, dedicado e à altura do desafio.

Em suma, um filme muito subvalorizado que não é o grande, o épico filme que poderia ter sido, mas que dá a impressão de não ser visto pela perspectiva mais adequada. A profundidade que Oliver Stone consegue obter no tratamento do protagonista é por demais incompreendida. Provavelmente influência da história do personagem, das possíveis alterações à vida conhecida do herói. Será, contudo, melhor visionar a película, não tanto como um documento histórico, mas como uma análise narrativa, poética e subjectiva de um homem reconhecido por todos pelas suas conquistas, mas afinal de contas também de carne e sangue como qualquer um de nós.

Especial destaque à edição mais recente intitulada Alexander Revisited: The Final Cut, que dispõe de cerca de 40 minutos extra e que se encontra profundamente alterada na montagem, melhorando o produto final. As cenas adicionais acentuam essencialmente as relações entre Alexandre e as suas constantes mais próximas. No entanto a novidade maior reside no modo de organização da película e o ritmo imposto na montagem, que confronta duas linhas narrativas. A principal acompanha um Alexandre adulto, rei e conquistador na Ásia. A outra, e num contexto secundário em analepse, conta a vida de um Alexandre jovem em convivência com seus pais, ainda na aprendizagem. A acção avança, mas sempre estruturada por estas duas narrativas, com paralelismos e articulações interessantes que sustentam melhor as decisões do argumento. Anthony Hopkins como Ptolomeu e narrador é o mediador desta complexa transição entre cenas, o que lhe dá maior dimensão e credibilidade, ainda que a sua aparência física fosse mais uma vez dispensável. Apesar de tudo algumas falhas, referidas anteriormente, mantêm-se tanto no argumento como na montagem.

O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO de D. W. Griffith, segundo Flávio Gonçalves

Agradecimento Especial:
Flávio Gonçalves, O Sétimo Continente

Não é, de todo, tarefa fácil discernir aquilo que faz do épico de D. W. Griffith, a sua primeira longa-metragem (e a primeira alguma vez produzida), um grande filme e, evitando cair num evidente paradoxo, um filme menor.

Resultará, pois, se o olhar adoptado pelo espectador contemporâneo, relativamente ao norte-americano The Birth of a Nation, for, primeira e puramente, de interesse histórico e estético. Este é, sem sombra para hesitações, um dos maiores e mais importantes marcos do Cinema: pioneiro em avanço técnico, utilização de inovadoras sequências e estratégias de narrativa do realizador que são revisitadas (os grandes planos, os desvanecimentos, etc.), em produção (e subsequente custo financeiro – 110 mil dólares amealhados com dificuldade), em duração (mais de três horas), há que, necessariamente, reconhecer o valor deste trabalho pela enorme influência na procedente realização de mais (e sinceramente melhores) obras de arte.

Assim sendo, a substância d’O Nascimento resta-se à ambiciosíssima tarefa de elevar e homenagear a História dos Estados Unidos da América, debruçando-se, para consegui-lo, nas desavenças de duas famílias, de lados adversos, na época da Guerra Civil Americana. É com elevado grau de dramaticidade que Griffith se propõe a retratar a batalha, os tumultos ou o assassinato de Lincoln, em paralelo com uma recta final que faz, inevitavelmente, com que este se mantenha como um dos mais controversos filmes feitos. O racismo inerente ao sacrifício de vida protagonizado por Lillian Gish, que prefere matar-se a cair na “selvajaria” do negro que a persegue, é, por todos nós e no actual pensamento ocidental, motivo suficiente para que rejeitemos, com a devida força (mais ainda na época em que o filme foi feito, em que a comunidade negra lutava para consolidar os seus direitos), esta história. E não nos esqueçamos da exaltação do Ku Klux Klan (liderado pelo amante da virgem que acaba por se suicidar) e do menosprezo tido pela libertação dos escravos. Mas todas estas são razões ideológicas que nos afastam do melodrama, pelo seu carácter exageradamente patriótico e racista, que também se arrasta com algumas sequências longas e desnecessárias.

Não obstante, este épico deve ser visto, principalmente, por aqueles que se interessam pelas origens da arte do cinema, pela técnica que nos envolve na actualidade e pela mestria da realização de D. W. Griffith.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

LAWRENCE DA ARÁBIA de David Lean, segundo Rato

Agradecimento Especial:
Rato, O Rato Cinéfilo

Se há filmes aos quais se associa a impossibilidade de serem feitos de novo hoje em dia, Lawrence da Arábia é certamente um dos melhores exemplos. O próprio Steven Spielberg que, como se sabe, tem o céu como limite, reconhece que, mesmo com toda a moderna tecnologia, seriam precisos mais de 250 milhões de dólares para produzir algo semelhante. E de qualquer modo não valeria a pena pois nunca teria a grandeza do original, que ele mesmo considera o melhor filme jamais realizado.

Classificado em 5º lugar na tabela do American Film Institute dos melhores 100 filmes de sempre, este épico incomparável é fruto da persistência e teimosia de David Lean, inglês nascido em Surrey no dia 25 de Março de 1908 (viria a falecer em Londres, a 16 de Abril de 1991), e que começou por trabalhar na montagem de filmes, durante toda a década de trinta. Depois, e a partir de 1942, realizou 16 longas metragens, destacando-se Brief Encounter / Breve Encontro (1946), Oliver Twist (1948), The Bridge on the River Kwai / A Ponte do Rio Kwai (1957), Doctor Zhivago / Doutor Jivago (1965), Ryan's Daughter / A Filha de Ryan (1970) e A Passage to India / Passagem Para a India (1984). Mas Lawrence of Arabia, que dirigiu aos 54 anos, permanecerá sem dúvida como a sua coroa de glória. Omar Sharif, um dos emblemáticos actores do filme, interroga-se ainda hoje como foi possível conseguir realizar-se tal empreendimento: «imagino-me no papel do produtor do filme e vir alguém dizer-me que queria investir uma data de dinheiro num projecto de cerca de quatro horas, sem estrelas, sem mulheres e nehuma história de amor, sem grande acção também e inteiramente passado no deserto, por entre árabes e camelos... Com certeza que levava uma corrida!». Mas felizmente tal não aconteceu com David Lean, por culpa talvez dos 7 Oscars que o seu último filme também recebera.

Lawrence da Arábia é um filme que, pelo menos uma vez, deveria ser visto no grande écran, numa sala escura. Só assim se poderá usufruir de toda a grandiosidade do filme. Hoje considero-me um felizardo por ter vivido esse momento único no início da década de 70, quando da reposição do filme em todo o mundo. Apesar de já então se encontrar amputado em cerca de meia hora. Mas mesmo assim, assistir ao vivo, no esplendor dos 70 mm de uma grande sala de cinema (hoje em dia uma impossibilidade estabelecida) foi sem dúvida uma excitante e inesquecível experiência. É que Lawrence da Arábia não é apenas um filme biográfico ou de aventuras, muito embora contenha esses elementos. Acima de tudo, é um filme que usa o deserto como palco de emoções, cativando os espectadores a ponto destes se entregarem totalmente ao puro prazer sensorial de ver e sentir o impacto do vento ou do sol abrasador nas dunas. E isto é algo que não se pode descrever por palavras, tal como não se pode explicar o amor que por vezes sentimos por uma pessoa em especial; porque neste caso é o deserto essa outra pessoa, o objecto da nossa paixão.

Acrescente-se agora a memorável música de Maurice Jarre e temos essa paixão elevada aos píncaros do sublime e do êxtase. É esta a razão pela qual as pessoas não se lembram do filme por elementos narrativos; recordam antes uma série de momentos visuais, cuja magia perdura na memória do filme: o apagar de um fósforo a originar o nascer do sol no deserto; a aproximação de uma silhueta no horizonte, como se de uma miragem se tratasse; a travessia do deserto de Nefud; o espectacular ataque a Akaba; o descarrilamento do comboio; a entrada de Lawrence no bar dos oficiais..., e a sequência mais bela - o resgate de Gasim por Lawrence - aqui tudo se conjuga na perfeição. Oberve-se a importância capital da música: começa titubeante, indecisa, a ilustrar a dúvida de Farraj sobre a veracidade da silhueta que mal se distingue ao longe (será ou não uma miragem mais?). Depois, e à medida que a dúvida se transforma em certeza, a música vai crescendo também, até acompanhar o galope desenfreado das duas montadas e os gritos de alegria dos dois homens na iminência do reencontro. É por cenas destas, sem qualquer diálogo, puramente cinemática, que se reconhece a genialidade dos grandes artistas. E David Lean foi sem dúvida um dos maiores.

Uma referência final a Peter O'Toole, que tem aqui um início fulgurante de carreira, com um papel à medida de toda uma vida. Este Irlandês nascido em County Galway (a 2 de Agosto de 1932) mas educado em Leeds, Inglaterra, teve na década de 60 os seus anos de glória no cinema, depois de doze anos passados nos palcos de teatros, nos quais se iniciou com apenas 17 anos; frequentou a Royal Academy of Dramatic Arts, onde teve por colegas Alan Bates, Richard Harris ou Albert Finney. Filmes como Becket (1964), Lord Jim (1965), What's New, Pussycat / Que há de Novo, Gatinha? (1965), How To Steel a Million / Como Roubar Um Milhão (1966), Night of the Generals / A Noite dos Generais (1969), The Lion in Winter / O Leão no Inverno (1969), Goodbye Mr. Chips / Adeus Mr. Chips (1969) ou ainda Man of La Mancha / O Homem da Mancha (1972), ficarão para sempre associados às magníficas interpretações de O'Toole, que conseguia estar à vontade em qualquer tipo de papel. Nomeado 7 vezes para o Oscar, nunca conseguiu levar para a casa a almejada estatueta, apesar de ser considerado um dos melhores actores da sua geração. Nos Globos de Ouro a sorte sorriu-lhe mais: ganhou aquele prémio por três vezes (nos filmes Becket, The Lion in Winter e Goodbye Mr. Chips), num total de oito nomeações. Na déada de 70 problemas de alcool quase que lhe arruinaram de vez a carreira e a própria vida. Conseguiu sobreviver, apesar dos múltiplos tratamentos a que foi submetido lhe terem acabado para sempre com a beleza da juventude, tão bem captada naqueles filmes.

TRÓIA de Wolfgang Petersen, segundo Rui Francisco Pereira

Agradecimento Especial:
Rui Francisco Pereira, Cinemajb

Aquele que poderia ter sido um épico inesquecível, falha redondamente na realização e no argumento. Falha no seu núcleo, falha na sua génese. E esta falha contamina todo o filme, como se de um vírus se tratasse, arruinando-o por completo. Wolfgang Petersen mostra falta de visão e óbvia incompetência atrás das câmaras, recorrendo e incorrendo em erros como o uso abusivo e descabido de zoom-in e slow-motion, planos absolutamente banais e até total falta de orientação nas batalhas.

O argumento de David Benioff iguala o nível de miserabilidade, começando por deturpar e manipular a história original, adaptando-a a um formato mais fácil e pseudo-dramático, com diálogos banais e pouco fluídos. A cereja no topo do bolo é mesmo o ridículo visual de Aquilles. Interpretado por um grande actor como Brad Pitt e... transformado num ídolo das adolescentes. Cabelos oleosos e puxados para trás, pele bronzeada, músculos definidos, peito sem pêlos... E com isto, Tróia perde definitivamente toda a sua credibilidade.

Brad Pitt, com tudo isto, cai no ridículo e traz-nos uma das piores interpretações da sua carreira. Quanto ao restante elenco, é, quase todo, igualmente aniquilado pela dupla Petersen-Benioff. Salvam-se Eric Bana, Brian Cox e Sean Bean.Os restantes valores de produção são, como seria de esperar para o orçamento em questão, de luxo.

Era com a Versão de Realizador que Wolfgang Petersen tinha a oportunidade para provar que o desastre não tinha sido culpa sua. Mas o que Petersen alcançou nesta sua segunda oportunidade foi o que se esperaria de um tarefeiro: um filme ligeiramente melhor. Os trinta minutos que Petersen adiciona a esta nova versão, não têm importância suficiente que justifique a sua inclusão. O filme em si ganha alguma riqueza, sem dúvida, mas a Wolfgang Petersen falta mesmo contenção. Note-se, por exemplo, a adição e maior explicitação das cenas de nudez e de cariz sexual. Mas haveria mesmo necessidade? Foi este o motivo do insucesso do filme? A não aparição dos seios de Diane Kruger? Por favor…

Tróia é, muito lamentavelmente e em qualquer versão, um falhanço.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O SENHOR DOS ANÉIS - A Trilogia



Um dos melhores filmes de sempre.
Palavras para quê?

ÁLAMO de John Wayne, segundo Álvaro Martins

Agradecimento Especial:
Álvaro Martins, Preto e Branco

The Alamo é a exaltação da liberdade, da resistência e da república. É a luta contra a tirania. O filme de John Wayne tem tudo para ser (e é-o) um grande épico. Não só na magnificência dos cenários e da sua história, mas essencialmente por tudo o que o Duke herdou de Ford. Acima de tudo, a glorificação do seu (Ford) cinema e o patriotismo. E é este “herdamento” (além das interpretações, da fotografia, das sombras, da forma como filma o céu [novamente Ford], etc.) que faz com que o Duke consiga encontrar o equilíbrio essencial para criar um épico desta natureza. E, seguramente, há poucos como este.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

ROBIN HOOD de Ridley Scott, segundo Tiago Ramos

Agradecimento Especial:
Tiago Ramos, Split Screen

Aquilo que Ridley Scott nos traz, apesar da ideia interessante, não é mais que um épico frouxo e morno, vítima de uma certa falta de ambição em tornar o projecto potencialmente mais aliciante.

Robin Hood poderia ser a prequela bem sucedida de um dos mitos mais conhecidos de sempre. Este Robin dos Bosques, este guerreiro encapuçado que conhecemos, não é ainda o herói dos mais desfavorecidos, que rouba aos ricos para dar aos pobres. Não é ainda o mito que o tornou popular. É apenas um guerreiro, regressado das Cruzadas, ansioso por descobrir as suas origens e com alguns dos tiques de justiceiro. Ridley Scott abandona as ideias em focar o filme em Nottingham e no domínio do seu xerife e volta as suas atenções para o óbvio: a origem de Robin Hood. Por consequência temos um argumento desinteressante em grande parte do tempo e descurando as personagens secundárias, como Ricardo Coração de Leão e outras. Russel Crowe não tem o carisma necessário para interpretar tal personagem, actua em piloto automático grande parte do tempo e nem a forma física abona a seu favor. Por outro lado, temos uma Cate Blanchett a interpretar uma das personagens mais interessantes e melhor compostas do filme: Lady Marion. A que conhecemos aqui é uma mulher corajosa, feminista, autónoma e independente. É ela que segura grande parte do filme e é precisamente quando se foca nesta personagem que o épico atinge novos contornos. Max von Sydow e Mark Strong complementam o elenco com os seus desempenhos competentes. Robin Hood cumpre a sua função. A reconstituição histórica, desde o guarda-roupa, aos cenários, ao som e à fotografia, atinge um grande nível de competência que lhe poderá garantir algumas nomeações (quem sabe prémios), na próxima temporada. Porém, como ponto negativo existem algumas soluções questionáveis como a contextualização história inicial, altamente cliché, evocando a época medieval, bem como o uso dos close-ups e slow-motions.

Robin Hood apenas não é a desgraça que poderíamos pensar, porque cumpre a sua função de blockbuster de entretenimento e que certamente irá agradar às massas. Mas da ideia e de Ridley Scott esperava-se mais. Muito mais.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

GLADIADOR - Memorando



Excertos de alguns dos melhores momentos
de um épico memorável.

domingo, 5 de setembro de 2010

300 de Zack Snyder, segundo Samuel Andrade

Agradecimento Especial:
Samuel Andrade, Keyzer Soze's Place

300 é o filme que ditou os moldes dos épicos históricos produzidos hoje em dia e para os anos vindouros: visceral, directo e, em última instância, absolutamente emocional.

O seu sucesso artístico define-se, fundamentalmente, por dois motivos:
1) o argumento da banda desenhada assinada por Frank Miller, que ao "fugir" à mera lição de História, introduzindo um ambicioso ambiente surreal a este episódio da Antiga Grécia, permitiu a conservação do teor lendário que a Batalha das Termópilas ostenta e salientou as gigantescas contrariedades suportadas pelo exército espartano;
2) e o inevitável empenho dedicado ao trabalho visual da película mostrou — à época — que o cinema digital chegara para ficar, podia ser usado em função duma narrativa de qualidade e tornou 300 numa obra melhor desfrutada (permitam-me o atrevimento) apenas em grande ecrã.

No cômputo geral, trata-se de um épico no verdadeiro sentido do género: com a grandiosidade da golden age de Hollywood e o melhor dos prodígios visuais que só a Sétima Arte permite.

sábado, 4 de setembro de 2010

BEN-HUR - A Corrida de Quadrigas



Um assombroso pedaço de arte e de entretenimento, não?

BEN-HUR de William Wyler, segundo David Martins

Agradecimento Especial:
David Martins, CINE 31

A terceira adaptação cinematográfica do homónimo romance do general Lew Wallace é um dos mais reconhecidos épicos, um filme multi-premiado, grandioso sem ser pomposo, o relato de Ben-Hur, um abastado judeu injustiçado (interpretado pelo lendário Charlton Heston) e desesperado que enfrenta uma odisseia para conquistar a sua vingança contra a traição de um antigo companheiro, que o lança para a escravidão, longe da amada e da família.

Sobrevivendo a anos de brutais contrariedades, o arruinado mercador que foi forçado a ser escravo e que mais tarde foi adoptado por um cônsul romano, finalmente alcança a vingança na sequência mais memorável da película, a brutal corrida de quadrigas onde vence o seu opressor e descobre o paradeiro da sua mãe e irmã. Simultaneamente a história de Ben-Hur entrelaça-se subtilmente com a de Cristo, inscrevendo-o no subgénero de épico religioso. Apesar de o livro investir mais na vertente religiosa, no filme a figura de Jesus é instrumental para que Ben-Hur e os seus se reúnam em plenitude, depois de purificados pelo martírio do Filho de Deus.

Uma produção colossal criada durante o auge do género, e que contou com uma excelente fotografia e uma imponente banda sonora de Miklós Rózsa, com um belo grupo de actores a vestir a pele das suas personagens, e claro, contando com efeitos e cenários majestosos, milhares de extras para as cenas de multidão, conquistando onze Óscares e quatro Globos de Ouro e impressionando o mundo por décadas com a sua mistura de drama, acção e romance. Sofre de algum excesso de metragem, e talvez pareça lento aos olhos do espectador moderno, mas dá gozo ver um clássico feito de um modo como já não se usa.


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CINEROAD ©2020 de Roberto Simões