segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O SILÊNCIO DOS INOCENTES (1991)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: The Silence of the LambsRealização: Jonathan Demme
Principais Actores: Jodie Foster, Anthony Hopkins, Scott Glenn, Ted Levine, Anthony Heald, Kasi Lemmons, Frankie Faison, Brooke Smith, Diane Baker, Charles Napier, Danny Darst


Comentário: Grande realização e montagem, de Demme e de Craig McKay, respectivamente. O olhar directo sobre a câmara é uma opção triunfal. Boas prestações de Jodie Foster e de Hopkins. Magnífico argumento de Ted Tally.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

SWEENEY TODD - O TERRÍVEL BARBEIRO DE FLEET STREET (2007)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Sweeney Todd - The Demon Barber of Fleet Street
Realização: Tim Burton
Principais Actores: Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Timothy Spall, Sacha Baron Cohen, Laura Michelle Kelly, Jamie Campbell Bowen, Ed Sanders

Crítica: Do melhor que Tim Burton alguma vez concebeu e uma grande obra do cinema musical. Johnny Depp e Helena Bonham Carter, dois dos ícones (justamente) maiores do panorama cinematográfico americano, estão sublimes, à frente de um elenco singular. O argumento de John Logan (argumentista de O Aviador, O Último Samurai ou Gladiador) está elegantemente bem escrito - por que a boa escrita revela sempre uma enorme elegância. O cenários de Dante Ferretti (O Aviador, Cold Mountain) dão vida a um mundo também «burtoniano» com uma enorme competência, o que nem sempre, a meu ver, acontece com as obras do realizador. A fotografia de Dariusz Wolski está brilhante. A recriação primorosa de um ambiente assustadoramente mórbido e o humor negro são os grandes trunfos de um filme tecnicamente irrepreensível e irreprensível em tudo o resto. Um clássico instantâneo.

sábado, 13 de setembro de 2008

FILADÉLFIA (1993)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Philadelphia
Realização: Jonathan Demme
Principais Actores: Tom Hanks, Denzel Washington, Antonio Banderas, Joanne Woodward, Jason Robards, Robert Ridgely, Mary Steenburgen

Crítica: Tom Hanks tem aqui uma interpretação excelente; para mim, uma das melhores interpretações de sempre. A sua performance é assombrosa. Alguns dos efeitos de transição de cenas são, porém, imperdoáveis. Os planos aproximados ou com olhar directo sobre a câmara da realização de Jonathan Demme estão triunfais. O argumento de Ron Nyswaner é prodigioso, muito bem escrito, e, aliado à tocante e envolvente banda sonora de Howard Shore (trilogia O Senhor dos Anéis), faz deste filme um acontecimento subtilmente deslumbrante. E marcante. 

domingo, 7 de setembro de 2008

O CASTELO ANDANTE (2004)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
★★★★ 
Título Original: Hauru no ugoku shiro
Realização: Hayao Miyazaki
Vozes: Chieko Baisho, Daijiro Harada, Akio Ôtsuka, Yo Oizumi, Mitsunori Isaki, Ryunosuke Kamiki, Tatsuya Gashuin, Akihiro Miwa, Takuya Kimura, Haruko Kato, Ken Yasuda, Shigeyuki Totsugi

Crítica:

O FEITIÇO DO AMOR 

 O coração é um fardo pesado.

Prepare-se para ser enfeitiçado. Desengane-se se pensa que O Castelo Andante é um filme para crianças. É, absolutamente, para as crianças que já fomos e para os adultos que, mais ou menos envelhecidos, ainda somos e ainda seremos enquanto os nossos olhos conseguirem enxergar a beleza. As aparências iludem e o filme não é o que parece. Parte numa direcção e revela-se noutra. É todo ele sobre as aparências - nele tudo se disfarça, tudo se transfigura, tudo se transforma. Daí o risco de assistir a'O Castelo Andante munido de preconceitos ou expectativas. É que o que o mestre Hayao Myiazaki desta vez propõe é bem mais complexo e menos evidente do que seria de esperar, mesmo até para quem se maravilhou com os meandros surreais e fantásticos de A Viagem de Chihiro.

Desde o primeiro momento, a orquestração musical de Joe Hisaishi e Yumi Kimura, na sua sonante excelência, envolve-nos, abraça-nos e emociona-nos. O esplendor visual de O Castelo Andante inebria-nos a cada instante: o seu desenho, pintura e expressão em movimento atingem uma sublimidade inquestionável, naquele que é, provavelmente, o expoente máximo do requinte imagético na filmografia do cineasta. A música, aliada à imagem, têm um poder imenso num filme como este. Nada que não esperássemos já de um filme de Myiazaki - só que se por um lado O Castelo Andante nos atrai e maravilha os sentidos, num golpe de asa, por outro estimula-nos o intelecto como nenhum outro filme seu até então.

Sophie trabalha numa chapelaria e transforma o aspecto das pessoas. Quando é enfeitiçada pela Bruxa do Nada, ganha a aparência de uma velha curvada e rugosa. Howl, o feiticeiro sem coração, é refém da aparência - o aspecto para ele é tudo e ornamenta-se com imensos acessórios. Os seus aposentos revelarão o quão obcecado e maníaco é por jóias e objectos e bens materiais. Markl, a criança do castelo que praticamente metaforiza a essência infantil (ainda existente) de Howl, mascara-se de anão barbudo para receber os seus clientes. Calcifer, hilariante demónio de fogo, tem uma natureza secreta que só mais tarde descobriremos. O espantalho cabeça-de-nabo é muito mais do que um guia saltitão e inexpressivo. Até a Bruxa do Nada é muito mais do que uma malvada egoísta - a magia tornou-a um monstro e, assim que fica sem poderes, a sua exuberância derrete e revela a sua verdade. A Bruxa do Nada representa tudo aquilo em que Howl se poderá tornar se se deixar consumir completamente pela magia. Até o castelo, essa parafernália e amálgama de ferro, madeira, casas e fumos, com pernas de galinha e língua e olhos à semelhança dos Homens, é um agente em constante mutação, espelhando o estado do seu senhor. Calcifer é o coração daquela edificação ambulante e simultaneamente - literalmente - o coração de Howl. A magia é antiga e resultou numa maldição. Howl refugia-se do mundo num castelo andante capaz de desaparecer nas nuvens e na distância. Reza o mito que o feiticeiro anda de terra em terra a conquistar os corações de jovens raparigas, mas Howl foge é de si mesmo. Cada vez que se arranja, escapa. Não podemos julgá-lo por se refugiar no superficial - afinal, na essência, não tem coração.

Beleza vs. feiura, juventude vs. velhice... Note-se como Sophie - quando dorme, sonha, se mostra apaixonada ou genuinamente se aceita como é - quebra parcialmente o feitiço, tornando à beleza da juventude, como se também ela fosse uma bruxa e tivesse poderes (na verdade, no livro de Diana Wynne Jones no qual Myiazaki se baseia, a protagonista é efectivamente uma feiticeira). Não obstante - e também aí reside muito da beleza da proposta - as personagens cedem ao amor e apaixonam-se verdadeiramente por aquilo que são, não por aquilo que aparentam. Sobre qualquer magia ou maldição, o amor... essa misteriosa força capaz vencer qualquer batalha, qualquer guerra. Sophie personifica o amor e é pelo amor que consegue falar ao coração de Howl, Calcifer, e interferir tão eficaz e surpreendentemente na trajectória do gigante castelo e no rumo da história.

Ao seu terceiro castelo (Cagliostro era uma fortaleza medieval, bem enraizada na terra, e Laputa um lendário paraíso flutuante - cf. O Castelo no Céu), Myiazaki encontra o equilíbrio entre os prados verdejantes e os céus e também, mais do que nunca, maior liberdade narrativa. Este seu castelo tem, entre muitas outras, uma porta mágica que abre para locais diferentes. Até para um tempo diferente. É possível, pois, num simples abrir de porta, mudar o espaço e o tempo. Alterando, com tão aparente facilidade, as coordenadas essenciais para a compreensão da acção, não admira que, numa primeira visualização, O Castelo Andante pareça um filme por demais difícil, confuso e intrincado, ou até mesmo narrativamente mal gerido e desconexo. A respeito, escrevi num comentário de 2008: no fim, um argumento um tanto ou quanto mais complexo do que à partida se esperava; o que nos deixa com a sensação de que ou não percebemos a história ou a história em si mesma não se percebeu. Mas O Castelo Andante não é, seguramente, um filme para se assistir uma só vez e, garanto-vos, não se esgotará tão simplesmente numa segunda investida. A cada visualização, é como se abríssemos também nós uma porta para um novo lugar, para uma nova descoberta, para um novo entendimento. A narrativa escapa à linearidade como se de um sonho se tratasse e é fácil perdermo-nos, se não nos guiarmos pelos tantos símbolos e subtilezas. Por isso resulta tão bizarro e cativante.

E como é bom sonhar acordado...

TRAFFIC - NINGUÉM SAI ILESO (2000)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: Traffic
Realização: Steven Soderbergh

Principais Actores: Michael Douglas, Benicio Del Toro, Catherine Zeta-Jones, Don Cheadle, Luis Guzman, Dennis Quaid, Tomas Milian, Steven Bauer, Erika Christensen


Crítica:

PRESOS NAS MALHAS DA DROGA

If there is a war on drugs,
then many of our family members are the enemy.

And I don't know how you wage war on your own family.

Steven Soderbergh serve-se de u
ma imparável e trémula câmera à mão para tentar captar com o maior realismo possível o universo da droga e as suas consequências nas relações sócio-políticas entre o México e os Estados Unidos da América e nas relações dos seus concidadãos.

Desde o tráfico de droga ao consumo (às tantas, a obra mais parece um manual de aprendizagem do "como drogar-se em 3 tempos"), da dependência à difícil e sofrida desintoxicação e da alienação dos jovens à crescente superficialidade das relações, o retrato é profundamente crítico, pertinente e importante. Aliás,
Traffic - Ninguém Sai Ileso dá primazia à sua mensagem profunda e alarmante e raramente prescinde dela para efeitos artísticos. O filme conta com uma sóbria realização e com um trabalho de montagem verdadeiramente sublime. Na fotografia contamos com planos pouco calculados, espontâneos, e com uma oscilação dos tons saturados que é, todavia, de difícil justificação (ainda que pinte um mosaico agradável à vista). No campo das interpretações, os destaques vão para Benicio Del Toro, Tomas Milian e Erika Christensen.

Em suma:
Traffic - Ninguém Sai Ileso não é, de todo, uma obra-prima, mas é um inegável e brilhante triunfo dentro do género.

TITANIC (1997)

PONTUAÇÃO: EXCELENTE
★★★★★
Título Original: Titanic
Realização: James Cameron

Principais Actores: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Billy Zane, Kathy Bates, Frances Fisher, Gloria Stuart, Bill Paxton, Bernard Hill, David Warner, Victor Garber, Jonathan Hyde, Suzy Amis

Crítica: É... uma obra-prima. Nunca filme algum conseguiu transportar para a grande tela mágica o infindável poder do amor (o amor-paixão), capaz de ultrapassar todas as barreiras e até a própria imensidão da morte, como este filme. Titanic é uma obra colossal, um feito espectacular e sem igual. Resultado da reunião de ingredientes perfeitos, temos em Titanic um elenco com performances extraordinárias, a começar pelos eternos Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, que se imortalizaram com este navio de sonho e tragédia. Tecnicamente irrepreensível, seja dos cenários à fotografia ou do guarda-roupa à banda sonora, o filme revolucionou toda a história dos efeitos especiais. A realização e argumento, a cargo de James Cameron, aliam-se genialmente. Titanic é um triunfo sem precedentes, emocionante em cada lágrima que não conseguimos ou não queremos conter.

OS SONHADORES (2003)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: The Dreamers
Realização: Bernardo Bertolucci
Principais Actores: Michael Pitt, Eva Green, Louis Garrel, Anna Chancellor, Robin Renucci, Jean-Pierre Kalfon

Crítica: Tão ousado quanto irresistível, Os Sonhadores é um filme fascinante. Sob a sóbria e sempre inspirada realizaç
ão de Bernardo Bertolucci, e homenageando o cinema e a arte como poucos, esta obra detentora de um elenco e encenação notáveis, canta o idealismo, a paixão e a auto-descoberta de um grupo de adolescentes alienados. Eva Green está magnífica à frente desta rara e estimulante, ao mesmo tempo perversa, ingressão pela sétima arte. Grande filme.

AS QUATRO PENAS BRANCAS (2002)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: The Four Feathers
Realização: Shekar Kapur

Principais Actores: Heath Ledger, Wes Bentley, Djimon Hounsou, Michael Sheen, Kris Marshall, Rupert Penry-Jones, Tim Piggot-Smith

Comentário: Um remake competente e bastante emocionante. A destacar a batalha no deserto e, claro, o grande final. A banda sonora de James Horner é maravilhosa e Djimon Hounsou tem aqui um dos melhores papéis da sua carreira. Heath Ledger e Wes Bentley prestam, também, excelentes prestações.

PIRATAS DAS CARAÍBAS - NOS CONFINS DO MUNDO (2007)

PONTUAÇÃO: RAZOÁVEL
Título Original: Pirates of the Caribbean - At World's End
Realização: Gore Verbinski

Principais Actores: Johnny Depp, Orlando Bloom, Keira Knightley, Geoffrey Rush, Chow Yun-Fat, Bill Nighy, Jonathan Pryce, Jack Davenport, Stellan Skarsgard, Naomie Harris, Tom Hollander, Kevin McNally


Comentário: O navio afundou. Até Johnny Depp andou perdido na mediocridade do argumento.

O PIANO (1993)

PONTUAÇÃO: EXCELENTE
★★★★★
Título Original: The Piano
Realização: Jane Campion
Principais Actores: Holly Hunter, Harvey Keitel, Sam Neill, Anna Paquin


Crítica: De uma beleza inconfundível. Profundamente poético e tremendamente bem feito. Michael Nyman é perfeito, assim como o argumento... tão subtil, tão bem escrito. O elenco está todo ele formidável, seja Holly Hunter, Anna Paquin ou Harvey Keitel. Pontuação máxima para a fotografia (que pinta verdadeiros quadros naturalistas), guarda-roupa e cenários e decoração. Eis, pois, uma obra-prima absoluta, magnificamente realizada por Jane Campion, repleta de grande sensibilidade e erotismo. Que clássico.

PIRATAS DAS CARAÍBAS - O COFRE DO HOMEM MORTO (2006)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: Pirates of the Caribbean - Dead Man's Chest
Realização: Gore Verbinski

Principais Actores: Johnny Depp, Orlando Bloom, Keira Knightley, Bill Nighy, Stellan Skarsgård, Jack Davenport, Kevin McNally, Naomie Harris, Jonathan Pryce, Tom Hollander, Lee Arenberg, Mackenzie Crook, David Bailie, Martin Klebba


Crítica: Johnny Depp está fenomenal. E o argumento ajudou-o, digno das melhores e mais divertidas histórias da Disney. O início do filme é inesperado e bastante agradável, e, até ao fim, as peripécias sucedem-se consistentemente, umas atrás das outras. É impossível parar de rir, sobretudo na parte da ilha. O final é emocionante e até a surpresa depois dos créditos finais faz esboçar o sorriso mais resistente. A banda sonora de Hans Zimmer é um cofre de boas surpresas. Esta segunda parte da saga é um bom exemplo de um cinema de entretenimento competente.

PEARL HARBOR (2001)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Pearl Harbor
Realização: Michael Bay

Principais Actores: Ben Affleck, Josh Hartnett, Kate Beckinsale, Alec Baldwin, Jon Voight, Cuba Gooding Jr., Dan Aykroyd, Tom Sizemore, William Lee Scott, Graham Beckel, Ewen Bremner, Nicholas Farrell, Tomas Arana, Peter Firth, Tom Everett, Michael Shannon, John Diehl, Jaime King, Catherine Kellner, Jennifer Garnerr

Crítica:
ASES PELOS ARES

There's nothing stronger than the heart of a volunteer. 

Michael Bay é internacionalmente conhecido e reconhecido como o realizador das explosões. A fama poderá ser redutora, mas o homem fez por isso. Pearl Harbor entrou, inclusive, para o livro de recordes do Guiness como o filme, até então, em que mais explosivos foram accionados. O surpreendente ataque dos japoneses à base havaiana na manhã de 7 de Dezembro de 1941 é, qual batalha naval, violentamente retratado e simulado. Os números, só para rebentar com os barcos do porto em alguns segundos de exibição, foram astronómicos: qualquer coisa como 700 barras de dinamite, 700 metros de fios e mais de 15 mil litros de gasolina. 
Pearl Harbor é, efectivamente, um filme ambicioso e de acção explosiva. Mas não apenas pelas explosões. Bay conseguiu distanciar-se, aqui - e muito -, do registo meramente comercial a que nos habituara, por exemplo, no meteórico Armageddon. Avaliando a obra no seu todo, o resultado é francamente positivo e a crítica negativa que envolve a obra, desde a sua estreia, creio, tem muito que ver com a demonização do realizador por parte de puristas tão intelectualóides que se se soubessem divertir, de quando em vez, seriam certamente mais felizes.

Os filmes de Bay poderão descurar, na grande parte das vezes, a importância vital do argumento e o desenvolvimento das personagens (julgo, nomeadamente, que o artista piorou nesse aspecto depois deste filme, salvo raras excepções), mas... não tanto aqui. Não alinho na opinião dominante, porque não é isso que vejo e não é isso que sinto a cada vez que assisto ao filme. A eficácia e consistência do argumento acontecem pela variedade de registos que este abraça, privilegiando o romance (identificamos o fôlego e a influência de Titanic) e doseando com equilíbrio o drama e a comédia, a acção e a tragédia. O script, a cargo de Randall Wallace, argumentista de Braveheart, ainda que aqui e ali com o dedo de Bay, prima essencialmente por isso. Baseia-se num acontecimento histórico, que manchou a honra dos Estados Unidos da América e despoletou a 2ª Grande Guerra e não tem quaisquer pretensões de documentário. É uma obra assumidamente ficcional, mas sem uma densidade por aí além: ao mesmo tempo que suscita a reflexão, emociona e faz espairecer a cabeça, enquanto se devora um guloso balde de pipocas. Não há mal nenhum nisso. Fossem todos os blockbusters das terras do tio Sam tão bem conseguidos quanto este. 

Relativamente ao elenco, os secundários são notáveis: Alec Baldwin e o seu destemido e bem-humurado coronel Dolittle, Cuba Gooding Jr. e o seu corajoso e decente Doris Miller, oficial negro num tempo de tão maior preconceito, e Jon Voight e o seu eloquente e emocionante presidente Franklin Roosevelt. Todos inspiradores, todos heróis. A abordagem ao romance, muito cliché e ao género do que se fazia no cinema dos anos quarenta do século XX, leva a personagens sem uma dimensionalidade extraordinária, um pouco como se de personagens-tipo se tratassem. Não penso, por isso, que o casting dos protagonistas ou o desempenho dos próprios ponham o filme em causa. Para os papéis em questão, julgo mesmo que defendem bem as suas personagens. Ben Affleck pode, na sua pouca expressividade, não ir muito além de um jovem viril, bonito e com o seu charme, mas é isso que se espera de um galã dos anos quarenta. Beckinsale é também bonita, uma voz belíssima e no tom certo para dar alento à narração epistolar - quando chega a hora das emoções, não defrauda. E a completar o triângulo, Hartnett: um quebra-corações, que também não falha no seu entusiasmo juvenil.

Bay é de um perfeccionismo e ousadia incríveis no que toca a filmar sequências de acção. Revela-se, em Pearl Harbor - e, provavelmente, mais do que nunca -um prodigioso ás da câmera, verdadeiramente magistral na orquestração dos céus. O seu contributo para o género e para a indústria do entretenimento de massas é, a meu ver, inegável e indesmentível. A fotografia de John Schwartzman deslumbra a cada frameHans Zimmer compõe uma das suas mais belas e emocionantes bandas sonoras, que culmina na redentora canção de Faith Hill e que se alia perfeitamente aos sofisticados efeitos digitais, num espetáculo em tudo vibrante e de cortar a respiração. O poderoso trabalho de sonoplastia (cuja montagem foi premiada pela Academia, naquele que é o único Óscar para um filme do cineasta) proporciona uma experiência absolutamente empolgante e assombrosa. 

Por tudo isto, Pearl Harbor torna-se, para mim e facilmente, o melhor filme do realizador. Uma obra de entretenimento triunfal, bem capaz de inspirar uma nova geração de rapazes a pilotar e a sonhar os céus. Muitas vezes, volto ao filme. E sabe-me tão bem. Já agora: o DVD do filme de Bay partilha a prateleira com Dreyer, Ford e Tati (todos mortos, que é para não sobrarem dúvidas do meu bom gosto cinematográfico).

O PACIENTE INGLÊS (1996)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: The English Patient
Realização: Anthony Minghella

Principais Actores: Ralph Fiennes, Juliette Binoche, Willem Dafoe, Kristin Scott Thomas, Naveen Andrews, Colin Firth, Julian Wadham, Jürgen Prochnow


Crítica:

UM AMOR NO DESERTO

Grande, grande filme. Avassaladoramente poético e romântico, O Paciente Inglês é dotado de uma sensibilidade
e subtileza extraordinárias e ficará para sempre recordado como um dos mais belos filmes a que tive o prazer de assitir.

A banda sonora de Gabriel Yared, desde os temas mais íntimos e tocantes aos mais épicos e poderosos, é absolutamente magnífica e encerra um mistério tão incomensurável como o próprio deserto, muito à s
emelhança da deslumbrante cinematografia de John Seale. O guarda-roupa e o trabalho de cenografia revelam-se essenciais para o triunfo da recriação histórica. As escolhas de casting não podiam ter sido melhores: Ralph Fiennes, Kristin Scott Thomas, Juliette Binoche, Willem Dafoe e Naveen Andrews... todos assombrosos nas suas interpretações.

O Paciente Inglês está ainda repleto de cenas verdadeiramente memoráveis: as cen
as íntimas entre o conde Almásy e Katherine, as jornadas no Sahara, as surpresas românticas de Kip a Hana ou as danças à chuva ao som nostálgico de Cheek to Cheek. Até ao final, cruelmente doloroso e desolador, Anthony Minghella dirige esta obra sobre paixão em tempo de guerra, identidade e memória de forma magistral. Com uma inspiração profunda e erudita, um encanto de mestre (talvez por ser um conhecedor maior da obra de Michael Ondaatje, ou não fosse ele o responsável pela adaptação).

Enfim: O Paciente Inglês é, no seu todo, um feito incontornável e que emana perfeição.
Um clássico absoluto.

OS OUTROS (2001)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: The Others
Realização: Alejandro Aménabar

Principais Actores: Nicole Kidman, Fionnula Flanagan, Alakina Mann, James Bentley, Eric Sykes, Christopher Ecclestone, Elaine Cassidy

Comentário: Nicole Kidman é diferente e perfeita em cada papel. Eis mais um caso. Este filme é uma obra-prima, um clássico do realizador espanhol. Reina o suspense, a excelente iluminação e um argumento brilhante, surpreendente e emocionante.
[Crítica brevemente]

 


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CINEROAD ©2020 de Roberto Simões