★★★★
Título Original: The Last Samurai
Realização: Edward Zwick
Principais Actores: Tom Cruise, Ken Watanabe, Tony Goldwyn, Timothy Spall, Koyuki, Hiroyuki Sanada, Billy Connolly, Shichinosuke Nakamura
Crítica:
Visualmente arrebatador e emocionalmente poderoso, O Último Samurai é uma espectacular viagem ao Japão da última metade do século XIX, numa altura em que a cultura samurai conhecia os seus últimos dias. Com a crescente influência ocidental e com a crise identitária da nação, é despoletada uma guerra civil que estrilhaça o império e que acentua o choque cultural, confrontando um passado de valores genuínos e de tradições ancestrais com um futuro capitalista e industrializado, estrangeiro mas absolutamente fascinante.
Ainda traumatizado pelos horrores do conflito travado entre as tropas americanas (das quais fez parte) e os índios nativos do continente americano, o Capitão Nathan Algren (Tom Cruise, numa interpretação memorável) é enviado para o extremo oriente de forma a empreender mais um extermínio. You want me to kill THE ENEMIES of Jappos, I'll kill THE ENEMIES of Jappos... Rebs, or Sioux, or Cheyenne... For 500 bucks a month I'll kill whoever you want. Todavia, que nem um John Dunbar em Danças com Lobos, acaba feito prisioneiro do inimigo... e a prisão acaba por revelar-se um verdadeiro processo de desconstrução de preconceitos e um descoberta deveras enriquecedora. Por meio dele, assim sendo, aventuramo-nos pelas calmaria das montanhas e dos costumes samurai e embrenhamo-nos na filosofia inerente ao Bushido, o código de honra, honestidade e cavalheirismo partilhado por todos os guerreiros - destemidos guerreiros para quem a espada era uma extensão deles próprios e por meio da qual atingiriam a morte e a paz de espírito. What does it mean to be Samurai? To devote yourself utterly to a set of moral principles. To seek a stillness of your mind. And to master the way of the sword. É com Katsumoto, o líder da aldeia (excepcional performance de Ken Watanabe), que o americano se apercebe desta apaziguadora forma de vida, qual ataraxia, e do prazer de uma boa conversa.
Por fim, quando os exércitos do imperador chegam às fronteiras dos samurais e a guerra atinge o seu expoente máximo, despoletando uma impressionante batalha ao jeito de Braveheart - O Desafio do Guerreiro, Nathan Algren não tem muitas dúvidas acerca do lado pelo qual vai optar e pelo qual vai lutar. É pena que, por vezes, seja necessário chegar a condições extremas para conseguirmos ver um pouco mais além: My ancestors have ruled Japan for 2,000 years. And for all that time we have slept. During my sleep I have dreamed. I dreamed of a unified Japan. Of a country strong and independent and modern... And now we are awake. We have railroads and cannon, Western clothing. But we cannot forget who we are. Or where we come from.
O Último Samurai constitui, no seu todo, um feito tecnicamente prodigioso e irrepreensível. A fotografia de John Toll, magistral, confere ao filme um tom belíssimo. O arrojo da restante produção é notável, da arquitetura da mise-en-scène à direcção artística, do guarda-roupa (Ngila Dickson) às coreografias, à montagem de som e à magnífica banda sonora de Hans Zimmer. Só no departamento de efeitos especiais o CGI deixa, por vezes, um pouco a desejar.
O argumento é um trabalho dramatúrgico competente e assinalável, muito bem construído e emocionalmente equilibrado. Porém, a abordagem à cultura samurai é algo didáctica e romanceada, carecendo de autenticidade. Dá a ideia de que quiseram fazer um filme sobre samurais e que, com essa ideia em mente, partiram de modelos narrativos já existentes e testados e os adaptaram à realidade oriental - o que se traduz numa história consistente mas onde a sensação de déjà-vu nos invade algumas vezes. Aqui reside o primeiro aspecto menos positivo da obra. O segundo aspecto menos positivo prende-se com a realização: encontrei uma obra bem conseguida e filmada, mas onde falta, na maior parte das cenas, a inspirada mestria que permitiria classificar esta obra como algo derradeiramente sublime.
Não é, apesar disso, um objecto artístico dispensável - muito pelo contrário. É um bom filme, um dos melhores de Edward Zwick, com um dos melhores papéis de Tom Cruise.
Realização: Edward Zwick
Principais Actores: Tom Cruise, Ken Watanabe, Tony Goldwyn, Timothy Spall, Koyuki, Hiroyuki Sanada, Billy Connolly, Shichinosuke Nakamura
Crítica:
O CREPÚSCULO A ORIENTE
They say Japan was made by a sword. They say the old gods dipped a coral blade into the ocean, and when they pulled it out four perfect drops fell back into the sea, and those drops became the islands of Japan. I say, Japan was made by a handful of brave men. Warriors, willing to give their lives for what seems to have become a forgotten word: honor.
Visualmente arrebatador e emocionalmente poderoso, O Último Samurai é uma espectacular viagem ao Japão da última metade do século XIX, numa altura em que a cultura samurai conhecia os seus últimos dias. Com a crescente influência ocidental e com a crise identitária da nação, é despoletada uma guerra civil que estrilhaça o império e que acentua o choque cultural, confrontando um passado de valores genuínos e de tradições ancestrais com um futuro capitalista e industrializado, estrangeiro mas absolutamente fascinante.
Ainda traumatizado pelos horrores do conflito travado entre as tropas americanas (das quais fez parte) e os índios nativos do continente americano, o Capitão Nathan Algren (Tom Cruise, numa interpretação memorável) é enviado para o extremo oriente de forma a empreender mais um extermínio. You want me to kill THE ENEMIES of Jappos, I'll kill THE ENEMIES of Jappos... Rebs, or Sioux, or Cheyenne... For 500 bucks a month I'll kill whoever you want. Todavia, que nem um John Dunbar em Danças com Lobos, acaba feito prisioneiro do inimigo... e a prisão acaba por revelar-se um verdadeiro processo de desconstrução de preconceitos e um descoberta deveras enriquecedora. Por meio dele, assim sendo, aventuramo-nos pelas calmaria das montanhas e dos costumes samurai e embrenhamo-nos na filosofia inerente ao Bushido, o código de honra, honestidade e cavalheirismo partilhado por todos os guerreiros - destemidos guerreiros para quem a espada era uma extensão deles próprios e por meio da qual atingiriam a morte e a paz de espírito. What does it mean to be Samurai? To devote yourself utterly to a set of moral principles. To seek a stillness of your mind. And to master the way of the sword. É com Katsumoto, o líder da aldeia (excepcional performance de Ken Watanabe), que o americano se apercebe desta apaziguadora forma de vida, qual ataraxia, e do prazer de uma boa conversa.
Winter, 1877. They are an intriguing people. From the moment they wake they devote themselves to the perfection of whatever they pursue. I have never seem such discipline. I am surprised to learn that the word Samurai means, 'to serve', and that Katsumoto believes his rebellion to be in the service of the Emperor.
Spring, 1877. This marks the longest I've stayed in one place since I left the farm at 17. There is so much here I will never understand. I've never been a church going man, and what I've seen on the field of battle has led me to question God's purpose. But there is indeed something spiritual in this place. And though it may forever be obscure to me, I cannot but be aware of its power. I do know that it is here that I've known my first untroubled sleep in many years.
Spring, 1877. This marks the longest I've stayed in one place since I left the farm at 17. There is so much here I will never understand. I've never been a church going man, and what I've seen on the field of battle has led me to question God's purpose. But there is indeed something spiritual in this place. And though it may forever be obscure to me, I cannot but be aware of its power. I do know that it is here that I've known my first untroubled sleep in many years.
Por fim, quando os exércitos do imperador chegam às fronteiras dos samurais e a guerra atinge o seu expoente máximo, despoletando uma impressionante batalha ao jeito de Braveheart - O Desafio do Guerreiro, Nathan Algren não tem muitas dúvidas acerca do lado pelo qual vai optar e pelo qual vai lutar. É pena que, por vezes, seja necessário chegar a condições extremas para conseguirmos ver um pouco mais além: My ancestors have ruled Japan for 2,000 years. And for all that time we have slept. During my sleep I have dreamed. I dreamed of a unified Japan. Of a country strong and independent and modern... And now we are awake. We have railroads and cannon, Western clothing. But we cannot forget who we are. Or where we come from.
O Último Samurai constitui, no seu todo, um feito tecnicamente prodigioso e irrepreensível. A fotografia de John Toll, magistral, confere ao filme um tom belíssimo. O arrojo da restante produção é notável, da arquitetura da mise-en-scène à direcção artística, do guarda-roupa (Ngila Dickson) às coreografias, à montagem de som e à magnífica banda sonora de Hans Zimmer. Só no departamento de efeitos especiais o CGI deixa, por vezes, um pouco a desejar.
O argumento é um trabalho dramatúrgico competente e assinalável, muito bem construído e emocionalmente equilibrado. Porém, a abordagem à cultura samurai é algo didáctica e romanceada, carecendo de autenticidade. Dá a ideia de que quiseram fazer um filme sobre samurais e que, com essa ideia em mente, partiram de modelos narrativos já existentes e testados e os adaptaram à realidade oriental - o que se traduz numa história consistente mas onde a sensação de déjà-vu nos invade algumas vezes. Aqui reside o primeiro aspecto menos positivo da obra. O segundo aspecto menos positivo prende-se com a realização: encontrei uma obra bem conseguida e filmada, mas onde falta, na maior parte das cenas, a inspirada mestria que permitiria classificar esta obra como algo derradeiramente sublime.
Não é, apesar disso, um objecto artístico dispensável - muito pelo contrário. É um bom filme, um dos melhores de Edward Zwick, com um dos melhores papéis de Tom Cruise.
And so the days of the Samurai had ended. Nations, like men, it is sometimes said, have their own destiny. As for the American Captain, no one knows what became of him. Some say that he died of his wounds. Others, that he returned to his own country. But I like to think he may have at last found some small measure of peace, that we all seek, and few of us ever find.
The perfect blossom is a rare thing.
You could spend your life looking for one, and it would not be a wasted life.
You could spend your life looking for one, and it would not be a wasted life.
A história remete a outros filmes mesmo (como DANCES WITH WOLVES), mas a parte visual é colírio para os olhos.
ResponderEliminarÉ um construção bonita, pois o filme encerra uma emoção forte. E Tom Cruise está à vontade no seu papel.
ResponderEliminar8/10.
Abraço.
Este filme é uma bodega autêntica. Mais do que hollywoodiano, é um produto novelístico, lamechas e mais do que previsível. Além de se parecer com o Dances With Wolves e dimensionalmente querer ser um novo Titanic ou coisa parecida, é claramente um blockbuster oco, igual a tantos outros que se encontram por Hollywood fora.
ResponderEliminarGUSTAVO H.R.: De acordo, inteiramente. É sempre penoso pensar no grande filme que não teria sido este O ÚLTIMO SAMURAI caso as opções do argumento e da história tivessem sido outros. Pisar terrenos pisados deixa-nos sempre com aquela sensação... "é um bom filme, ok, mas e daí?"
ResponderEliminarRED DUST: É bonita, é. Mas é mais do mesmo. E poderia não ser. Nesse caso, mais do que bonita, seria maravilhosa.
ÁLVARO MARTINS: Compreendo-te perfeitamente, ainda que não tome uma posição tão assertiva. Agora compará-lo com TITANIC não faz sentido nenhum. Só para nós, e a jeito de brincadeira: há aí qualquer espécie de profundo trauma em relação a TITANIC, não há? ;)
RAFHAEL VAZ: Foi sobrestimado, mas creio que hoje já caiu na sua justa estima ;) 4*
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Vinha fazer um comentário quando li os que já aqui estavam. Tenho que concordar. Sabem aquela sensação: lindo, poético, bem realizado, música excepcional...mas acho que já vi três ou quatro iguais? Peca por não ter tentado ir mais longe, na minha opinião.
ResponderEliminarPois eu considero-o um bom filme...é verdade que não acrescenta muita coisa já feita dentro do género, mas tomara que todos os filmes tivessem a competência deste, a sua coerência e a sua capacidade de emocionar...não é de certo obra-prima, isso é certo, mas que se traduz numa história bem contada isso é inegável, com uma prestação do Tome Cruise à altura.
ResponderEliminarDe referir que Edward Zwick também tem outras obras de realçar tal como, o muito bom Blood Diamond, e o não menos bom Glory!
abraço
CLÁUDIA GAMEIRO: Estou absolutamente de acordo contigo. Para se distinguir precisava ser um tanto mais arriscado no argumento e na realização.
ResponderEliminarJORGE: Subscrevo-te. Penso que fizeste um depoimento de muito bom senso.
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Mais um grande texto. Inspirador :)
ResponderEliminarQuanto ao filme estou de acordo, um grande exercício que serve essencialmente para nos emocionar e cativar visualmente. Aí cumpre e traduz-se numa película perfeita a meu ver. Equilibrada no conjunto, com a fotografia, a banda sonora, os cenários e a montagem. Tudo em sintonia.
O argumento também é inspirador, competente e próximo ao espectador, mas fica a sensação de pouca autenticidade, como dizes, no meio deste trabalho técnico impecável. E não é Tom Cruise, que está bem, será a cultura que reclama e que não chega a atingir. Tenta mas não se distingue, não inova. Os olhos são em bico, fala-se aqui e ali noutra língua, retoca um episódio da história do Japão, mas não capta a essência, as vivências. Ficamos somente, e no máximo, a imaginar, fazendo o esforço de perceber aquela cultura. Que não nos chega, apenas sugere. Acomoda-se e cai no normal, no fácil. Diria, contudo, como o fácil pode ser também delicioso e muito competente.
Um bom épico, que já gostei mais (confesso), mas que não desilude os amantes do género, de todo.
abraço
JORGE: Obrigado pelo elogio ;) É sempre gratificante receber um bom feedback.
ResponderEliminarQuanto ao filme, estamos definitivamente de acordo.
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
É um filme que gostei bastante, tinha potencial para mais, e fico com a sensação que muita gente (falo principalmente por pessoas que eu conheço, e os comentários que ouvi e li na altura da estreia) não consegui apreciar as qualidades do filme por causa do preconceito de um Tom Cruise como protagonista. O que é lamentável.
ResponderEliminarCINE31: Por acaso não tenho a noção exacta se foi por preconceito em relação a Tom Cruise. Penso que foi mais pela sensação de dejà vu, sobretudo dadas as semelhanças com DANÇAS COM LOBOS ou pela abordagem algo didáctica à cultura samurai.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Eu achei graça ao filme, mas não gostei tanto como tu, pelo que não posso concordar muito com a crítica ;)
ResponderEliminarFilme bastante eficaz na sua dimensão mas, tal como alguns comentários já aqui enunciados, não o considero uma obra memorável.
ResponderEliminarTalvez esteja a precisar de o rever... :)
Cumps cinéfilos.
Particularmente aprecio essa obra de contornos líricos e convincentes. E vendo que alguns não apreciam seu brilhantismo, não pude deixar de contribuir a favor da balança que elogia a obra. Adoro esse filme independente de suas deficiências irrelevantes. Somente o tempo dirá se é ou não memorável.
ResponderEliminarParabéns pelo blog e pelo texto! Excelente.
abraço
marcelokeiser.blogspot.com.br