sábado, 4 de setembro de 2010

RAN - OS SENHORES DA GUERRA (1985)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Ran
Realização: Akira Kurosawa


Principais Actores: Tatsuya Nakadai, Akira Terao, Jinpachi Nezu, Daisuke Ryu, Mieko Harada, Yoshiko Miyazaki, Hisashi Igawa
Crítica:

A FAMÍLIA,
O REINO E A GUERRA

O Homem nasce a chorar. Morre, quando já chorou tudo.

Podemos não ter paciência de oriental para seguir como gostaríamos a lenta narrativa de Kurosawa... mas é certo que, ultrapassando uma certa barreira inicial, as oponentes desvanecem-se que nem nuvens na imensidão dos céus. Quero com isto dizer que não é difícil ficarmos rendidos às qualidades artísticas de tão magnífica obra, que nos entra pelo subconsciente por meio de poderosíssimas imagens... que jamais esqueceremos.

Visualmente espectacular e arrebatador, Ran - Os Senhores da Guerra pinta belíssimos frescos em cada frame. A cinematografia (em muito graças aos constantes jogos de luzes e cores, que se estabelecem entre guarda-roupa e cenários) é um autêntico primor, impressionante. Depois, a espectacularidade do épico de Kurosawa abraça uma carga dramática singular, quando parece emanar teatro a cada cena, a cada investida de representação... Isso nota-se tanto pela presença shakespeariana nas entrelinhas da narrativa como pelas técnicas teatrais (Kabuki) habilmente utilizadas e manifestamente interiorizadas nas sublimes prestações dos actores. Refira-se, a propósito, o memorável desempenho de Tatsuya Nakadai e a excelente direcção de actores (graças à qual todos os actores têm espaço que baste para intensificar os seus papéis). O argumento, escrito a três mãos, enche-se de frases memoráveis, nesta viagem de grande envergadura aos confins de um Japão feudal com alma poética, repleta de confrontos morais e acção bélica. E na decadência daquela família vemos espelhadas tantas outras famílias...

Ran - Os Senhores da Guerra é, por tudo isto, um grande filme, tematicamente universal porque nos toca a todos, pai e senhor de uma herança artística intemporal, legada às gerações seguintes e sublimemente continuada, por exemplo, por um Yimou Zhang.

18 comentários:

  1. Eu tenho-o em DVD(dica do meu pai, que me deu a conhecer Kurosawa, sendo este aliás o único título que dele vi) e só o vi uma vezita, e já ensonado na parte final:P.

    Mas gostei muito. É um trabalho marcante, especialmente pela fotografia e guarda-roupa e, claro, pela magnífica realização de Akira.

    Um épico oriental !

    P.S.-Aliás, até te digo mais: acabaste de me dar vontade para rever o filme. Vou tentar fazê-lo este fim de semana! :p

    Abraço ;)

    ResponderEliminar
  2. Concordo, é um grande filme. Não é o meu preferido (Madadayo ocupa esse cargo), mas é um dos grandes filmes de Kurosawa.

    PS: Só uma observação quanto a este parágrafo: "... legada às gerações seguintes e sublimemente continuada, por exemplo, por um Ang Lee ou por um Yimou Zhang." Convém referir que Kurosawa era japonês enquanto que Ang Lee é tailandês e Zhang Yimou é chinês. Realmente são todos asiáticos, mas de países diferentes. E acho que Ang Lee é um cineasta completamente diferente, em todos os aspectos, a Kurosawa.

    ResponderEliminar
  3. Excelente filme. Kurosawa atinge a grandiosidade, épico belissimo, sensivel e genial.

    De aplaudir de pé.

    ResponderEliminar
  4. JACKIE BROWN: Ainda bem, espero que o vejas! Uma das mais felizes consequências de andarmos de blogue em blogue é a vontade com que ficamos, tantas vezes, de (re)visitar certas e determinadas obras! Bom filme! Se quiseres passa depois por aqui para testemunhares as tuas novas impressões ;)

    ÁLVARO MARTINS: Dou-te razão, Ang Lee e Kurosawa são bastante diferentes; Zhang Yimou, esse sim, foi beber a Kurosawa e a Ang Lee. Rectificarei o texto. No entanto, não houve qualquer confusão com nacionalidades, sempre falei em cinema oriental. Nunca vi MADADAYO, talvez em breve.

    FOTOGRAMA DIGITAL: Subscrevo ;)

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

    ResponderEliminar
  5. Rei LEar oriental, grande filme de um mestre do cinema. Nunca a cena da batalha, com música ao fundo foi tão copiada - Platoon, Saving Private Ryan, etc... Boa escolha

    ResponderEliminar
  6. Tenho este filme para ver ainda... e já vi que me espera um grande filme.
    Bjs

    ResponderEliminar
  7. Um enorme filme. Um épico sem paralelo tanto na parte bélica como numa grande tensão que acompanha permanentemente as personagens. É o meu preferido de Kurosawa.

    Abraço.

    ResponderEliminar
  8. JACQUES: Bem-vindo ao CINEROAD! Foi tão copiada como assim? Pode fundamentar melhor? Gostaria de contar com seu testemunho.

    GEMA: Tudo leva a crer que sim! ;)

    RED DUST: Sem paralelo, de certa forma. Há tantos bons épicos, nas batalhas como nas personagens...
    Bem, nas personagens talvez não tanto como neste RAN - OS SENHORES DA GUERRA ;)

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

    ResponderEliminar
  9. Ran é um filme espectacular. É um épico com imagens belíssimas que combina na perfeição a história do Japão, a trama de Shakespeare e a visão de Kurosawa sobre a sabedoria da vida.

    ResponderEliminar
  10. MANUELA COELHO: E eu gosto imenso da combinação de Shakespeare com aquela tragédia familiar tão intensa! É uma obra sublime, pois!

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

    ResponderEliminar
  11. De pleno acordo - "um grande filme". Basta!

    ResponderEliminar
  12. É o meu preferido de Kurosawa, se bem que o Rashomon esteja quase a par. Adorei a parte cenográfica, teatral em cada cena, prolongando o diálogo, a reflexão e a contemplação. É preciso entrar no espírito, mas quando se entra é deliciar-mo-nos com cada actuação, com cada frame, com cada trecho musical ou com a criatividade e fluidez do realizador. A minha cena favorita é a da batalha, sensivelmente a meio, conduzida ao som da banda sonora - magistral, genial!

    abraço

    ResponderEliminar
  13. JORGE: Acho que prefiro o RASHOMON, entre os poucos a que assisti ainda do cineasta. As cores do filme são inflamatórias, não? Visualmente incendiário, este filme, de uma profundidade dramatúrgica assinalável.

    Roberto Simões
    CINEROAD

    ResponderEliminar
  14. Grande crítica :). Os meus parabéns pelo blog,já o acompanho há algum tempo mas este é mesmo o meu primeiro comentário.
    Para mim, este "Ran" a par do Rashomon, são os melhores do Kurosawa. Este filme tem partes sublimes, de absoluta poesia, e que tanto influenciou e ainda influencia cineastas actuais. Um filme com F, ou melhor com K de Kurosawa :P eheh

    Ah e concordo em especial com o comentário do Jorge :P (sou irmão do Jorge, portanto sou suspeito lol)

    Abraço e continuação de bom trabalho

    ResponderEliminar
  15. PEDRO D. M. TEIXEIRA: Bem-vindo ao CINEROAD. Mal vi o teu nome a assinar o comentário (ainda antes de ler o próprio comentário) ocorreu-me imediatamente que fosses quem és. Obrigado pelo elogio, é muito gratificante receber esse tipo de feedback. RAN é mesmo um filme magistral. Já viste o KAGEMUSHA? Em alguns aspectos é bastante semelhante com este RAN.
    Volta sempre e, por favor, sente-te em casa, comentando todos ou qualquer um dos filmes que te apetecer ;) Obrigado.

    Roberto Simões
    CINEROAD

    ResponderEliminar
  16. Por acaso ainda não vi o KAGEMUSHA (e fiquei ainda mais curioso :)), mas já aqui está bem perto de mim para um dia destes ver. Este e outros do Kurosawa.. e do Ford.. e do Bergman.. e do Rosselini.. e do Renoir.. e do Ozu.. e do Mizoguchi.. e do Griffith.. :P. Tanto por onde aprofundar e descobrir e que tanto prazer e satisfação me dá!
    E claro que comentarei mais filmes aqui no CINEROAD, a minha estrada aqui me trouxe e por aqui vai passar muitas vezes no futuro :)

    Abraço

    ResponderEliminar
  17. PEDRO D. M. TEIXEIRA: Obrigado ;) Contamos então contigo. A estrada é tão longa (e sem fim à vista), que temos todos um longo percurso a percorrer.

    Roberto Simões
    » CINEROAD «

    ResponderEliminar

Comente e participe. O seu testemunho enriquece este encontro de opiniões.

Volte sempre e confira as respostas dadas aos seus comentários.

Obrigado.


<br>


CINEROAD ©2020 de Roberto Simões