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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O MASCARILHA (2013)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: The Lone Ranger
Realização: Gore Verbinski
Principais Actores: Johnny Depp, Armie Hammer, William Fichtner, Tom Wilkinson, Helena Bonham Carter, Ruth Wilson, James Badge Dale, Barry Pepper, Saginaw Grant, W. Earl Brown, Harry Treadaway

Crítica:

O VELHO OESTE SELVAGEM

- If these men represent the Law, I'd rather be an Outlaw.
- That is why you wear the mask.

O Mascarilha invoca e glorifica, em toda a sua grandeza e esplendor, o velho e mítico Oeste Selvagem que o cinema americano, durante décadas, honrou e imortalizou. Povoa todo esse imaginário coletivo - de índios, cherifes e cowboys, soldados e mineiros, de cavalgadas pela vingança ou pela justiça, de bons, feios e vilões, de pequenas cidades perdidas entre o sol e a poeira, de saloons e casas de meninas, de furiosos comboios e intermináveis linhas férreas que desbravam cegamente as terras virgens - imaginário que lembramos desde crianças, o mesmo que os nossos pais ou avós partilharam tão entusiasticamente no passado.

O Mascarilha não inventa - não foi tudo inventado? -, tão-pouco reinventa, antes reinterpreta. A ambiciosa e arrojada produção recolhe as melhores influências e oferece um refrescante e prazeroso espetáculo sem precedentes: de ação desenfreada e de cortar a respiração, que se transcende em emoções e diversão - aqui podemos encontrar a melhor cena de perseguição de comboios de todos os tempos -, de arrebatadores grandes planos onde a paisagem a perder de vista se confunde com o horizonte longínquo, do imperioso silêncio de desertos e rochedos, sobre todos o silêncio do imponente e incontornável Monument Valley, tão contrastante que é com a grandiosa e triunfante banda sonora de Hans Zimmer. 

Em O Mascarilha dá-se, pois, o tão aguardado reencontro do western ressuscitado com as grandes massas; pena que o desempenho do filme nas bilheteiras invalide, em parte e incompreensivelmente, este meu argumento. O índio Tonto, de rosto pintado e corvo morto na cabeça - excêntrica e hilariante criação de Johnny Depp - tem mesmo razão: por estes dias, nature is definitely... out of balance.

Para as filmagens, construiram-se, de raiz, quilómetros de caminhos de ferro e três modelos de comboios, que se pretendia que fossem como personagens. Os atores percorreram mesmo o cimo de carruagens em movimento, por uma questão de realismo. É claro que há muitas maravilhas do digital ao longo do filme, mas tantas há que são reais e verdadeiras e que, por serem feitos raros nos dias de hoje, passam por artificiais. A produção da Disney e de Jerry Bruckheimer (que prime, como sabemos, o seu selo nalguns dos maiores blockbusters de Hollywood) combina habilmente - e certamente por mérito da visão e intervenção artística de Gore Verbinski - a sofisticação digital em pouco mais do que o indispensável, tanto quanto permita o budget (também esse épico, neste caso), com a melhor utilização possível dos recursos fisicos e clássicos de filmagem. O certo é que, indepentemente de todos os processos, depois da luz e do enquadramento, o requinte de cada cena, frame by frame, é imprescindível. A fotografia de Bojan Bazelli é, por isso, um feito de exímia beleza.

A narrativa é sempre muito fluída, ficcionando entre os meandros da História e alguns anacronismos intencionais que não devem senão à comédia. Os argumentistas Justin Haythe e a dupla Ted Elliott e Terry Rossio (estes últimos também da equipa Piratas das Caraíbas) concebem um filme dinâmico e pleno de ritmo, não-linear porém deveras consistente e bem construído, alicerçado no cómico de situação, no cómico de personagem e na improvável amizade entre um nativo comanche, de valores e ideias bem vincados mas perfeitamente idiota na sua ação e um recém-advogado de valores e ideias igualmente vincados (se bem que outros, radicalmente distintos) e pouco ajeitado com os tiros. O primeiro conta os minutos para vingar a pior troca que alguma vez fez na vida, que lhe ardeu a inocência e que decidiu o destino de muitos dos seus. O segundo, sabe da vida a lei suprema e teórica e tão-pouco sobre a ganância voraz, que pela fraqueza dos homens segue praticamente imune aos ideais da justiça. Num tempo em que os rangers já foram, John Reid (carismático e circunscrito herói, assumido com charme e refino por Armie Hammer), ousa lutar pela estrela ao peito. Salvo da morte pelo cavalo mais lunático de que há memória, parte na companhia do índio pelo oeste, de enorme chapéu branco ao alto, usando a icónica máscara preta, defrontando os adversários que a coragem ou a sorte decidem. Ao longo da odisseia, a esperta Red de perna de marfim (Helena Bonham Carter), o temível Butch Cavendish (William Fichtner), a bela Rebecca (Ruth Wilson), amada adiada, e o ávido e enganoso capitalista Latham Cole (Tom Wilkinson), senhor dos comboios:

From the time of Alexander the Great, no man could travel faster than a horse that carried him. Not anymore. Imagine; time and space, under the mastery of man, power makes emperors and kings... look like fools. Whoever controls this, controls the future. 

Alter-ego de Jack Sparrow, Tonto assume o protagonismo em todos os seus trejeitos e maneirismos, mas também porque é dele o ponto de vista. Lembremos o noble sauvage em exposição na feira de S. Francisco, anos 30, que conta à criança e ao espetador o porquê do cavaleiro usar uma máscara, a necessidade de também um herói poder assaltar um banco. A revisita começa aí e termina já nos créditos finais, de regresso a casa, às derradeiras origens. Deliciosa e memorável personagem, a desse camaleão maior que é Johnny Depp.

Grande filme, grande entretenimento, grande western. O tempo fará justiça a este O Mascarilha.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

HOMEM DE AÇO (2013)

PONTUAÇÃO: BOM
★★
Título Original: Man of Steel
Realização: Zack Snyder
Principais Actores: Henry Cavill, Russell Crowe, Michael Shannon, Amy Adams, Diane Lane, Ayelet Zurer, Harry Lennix, Kevin Costner, Christopher Meloni, Antje Traue, Laurence Fishburne, Richard Schiff

Crítica:

SUPER-HOMEM - A ORIGEM

You're the answer to are we alone in the universe?

Hollywood adora fogo e destruição e o aguardado reboot do super-herói mais poderoso de todos os tempos, pelas mãos de Znyder, ostenta destruição em massa. É violento, explosivo e brutal. A um ritmo tão alucinante quanto as lutas super-sónicas dos protagonistas, flui uma ação sem limites, de cortar a respiração - a montagem ultra-rápida pode dificultar a perceção, mas contribui decisivamente para o efeito -, atingindo-se as desejadas proporções épicas, as mesmas que a apoteótica e empolgante banda sonora de Hans Zimmer reclama a todo o instante.

Homem de Aço é um blockbuster sofisticadíssimo, o último grito dos efeitos especiais - a necessidade de responder ao hype era tremenda - e que convoca e perpetua as mais variadas referências do género: de Bay (Armageddon, Transformers) a Emmerich (Dia da Independência, Dia Depois de Amanhã), passando pela manga japonesa (a saga Dragon Ball, entre tantas outras) e por Matrix ou mesmo pelo Avatar de Cameron. Dos céus, Krypton não parece senão Pandora. Até a memória do 11 de Setembro assombra o filme; quem não revê a tragédia na facilidade com que se desmoronam arranha-ceús sobre um chão de poeira e escombros. You are not alone. A catástrofe é global, mas o centro da ação é a América, como sempre. A América da origem. A câmera de Znyder treme e oscila sobre o frenesim. Os zooms multiplicam-se. Tudo é espetáculo que o 3D amplia a uma escala que transcende e maravilha o espetador. Não todo o espetador, mas certamente o espetador deste tipo de ação.

Todos invejamos o Super-Homem, todos gostaríamos de ser o Super-Homem. Bonito e atraente, forte e todo-poderoso, capaz de voar os nossos maiores sonhos. Our hopes and dreams travel with you. Compreende-se o fascínio pela personagem. Ele é o escolhido, a última esperança de um povo ou de dois, de quem depende a derradeira salvação do mundo. Pobres Jor-El e Lara Lor-Van, condenados a um destino fatídico... o risco de trair a gestação controlada e artificial de Krypton e de entregar ou abandonar o filho, ainda bebé, ao desconhecido, à imensidão do espaço. O prólogo, que abre a ficção científica, apresenta-nos essas magníficas escolhas de casting que foram Russell Crowe e Ayelet Zure, como pais de Kal. A dor da perda espelha-se intensamente nos olhos da atriz e, às tantas, também nos do ator.

Lara Lor-Van: He will be an outcast. They'll kill him.
Jor-El: How? He'll be a god to them.

Mais tarde conhecemos os desempenhos de Kevin Costner e Diane Lane, como pais adotivos, que asseguram o estrelato e o talento do elenco secundário na Terra, ao longo da educação do jovem. Não deixa de ser curiosa e absolutamente eficaz a estratégia de contar o crescimento de Kal, Clark, através de flashbacks, aprofundando a força dramática da história pelo lado mais intimista da personagem, sem jamais descurar o ritmo da ação principal, mais direcionada para o confronto. É um contraponto necessário que sedimenta a estrutura da obra e a impulsiona, permitindo escapar ao vazio emocional pelo qual pecam muitos semelhantes. Afinal, é por meio dos recuos que sabemos o quão diferente e estranho se sentiu Clark ao longo dos anos, tantas vezes desconfortável com a sua natureza extra-terrestre, com os seus poderes, sobrenaturais para o comum dos seus pares. As dificuldades da adaptação, a crise de identidade, o dilema moral: o poder da escolha entre fazer o bem ou o mal. Nesse aspeto os pais adotivos foram preponderantes, nomeadamente o pai:

Jonathan Kent: You just have to decide what kind of a man you want to grow up to be, Clark; because whoever that man is, good character or bad, he's... He's gonna change the world.

É essa a educação que fará frente, mais tarde, à amoralidade de um General Zod (Michael Shannon, dotado de frieza e atroz tenacidade), que insistirá no genocídio cruel e irrefletido e na terraformação egoísta. A respeito do tom, note-se que o mesmo é dramático do princípio ao fim, pontualmente humorado por breves comic-reliefs que jamais caem na comédia corriqueira. Amy Adams não sobressai especialmente (talvez se exija mais dela em futuras continuações), mas creio que Henry Cavill cumpre com competência este Super-Homem mais humano e moderno, com tantas fraquezas e dúvidas existenciais, provavelmente mais sensual do que nunca.

A história não é nova, somente a roupagem. Mas é bastante eficaz. O mito continua vivo.


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O PROTEGIDO (2000)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Unbreakable
Realização: M. Night Shyamalan
Principais Actores: Bruce Willis, Samuel L. Jackson, Robin Wright Penn, Spencer Treat Clark

Crítica:

HERÓI VS. VILÃO

Nunca o universo dos super-heróis e da banda desenhada ganhou contornos tão humanos ou humanizados como nesta magnífica obra de M. Night Shyamalan. O Protegido revela-se como uma proeza de genuína subtileza, um trabalho de grande contenção e crescente tensão, suportado por um argumento assaz sensível e inspirado.

O que é um super-homem? Existe um super-herói? É interessante a forma como nos é apresentada a personagem de Samuel L. Jackson, Elijah Price, um homem atraiçoado pelos genes que o condicionarão às fragilidades da vida: nós aceitamo-lo como um ser real. Porque não aceitar também, com semelhante facilidade, o oposto do Sr. de Vidro, um homem forte e resistente a doenças e aos azares do destino? A questão é deveras pertinente. E o exercício dramatúrgico confrontar-nos-á tanto com a hipotética origem da mitologia de vilões e super-heróis (numa fronteira praticamente inexistente entre realidade e fantasia) como com a verdade sobre cada um dos protagonistas (essencial para saberem o seu lugar no mundo).

Eis, pois, um filme extremamente original, de construção inteligente e performances impressionantes e comovedoras, onde a mestria de Shyamalan emana especialmente em todas as cenas de maior duração, nos premeditados e vagarosos movimentos de câmera, nos planos meticulosos ou no constante jogo entre sons e silêncios. A banda sonora e o tratamento das cores e da cinematografia revelam-se cruciais para a criação do ambiente de suspense. Que assombro de filme.

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Nota especial para a infeliz escolha do título português.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

SIN CITY - A CIDADE DO PECADO (2005)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Sin City
Realização: Frank Miller, Robert Rodriguez e Quentin Tarantino (convidado especial)
Principais Actores: Bruce Willis, Mickey Rourke, Clive Owen, Jessica Alba, Rosario Dawson, Jamie King, Brittany Murphy, Benicio Del Toro, Nick Stahl, Elijah Wood, Michael Clarke Duncan
Crítica:

OS GUARDIÕES DA NOITE

Em Sin City, os quadradinhos de Frank Miller tornam-se frames. O assustador e repugnante mundo da Cidade do Pecado ganha vida naquela que é, sem dúvida, uma das mais estilizadas, violentas e viscerais experiências a que podemos assistir. Nem sempre partilhei desta opinião; na verdade, creio que o estrondoso e inacreditável visual alcançado - de tão extraordinário - me ofuscou e cegou na primeira visualização. Há mais para além das visionárias e deslumbrantes imagens, aperfeiçoadas entre um preto e branco imaculado e a manipulação cromática, há mais para além da ousadia e ambição técnica.

Há três histórias: cruzam-se The Hard Goodbye, The Big Fat Kill e That Yellow Bastard. Cada uma tem os seus protagonistas, mas o ecrã é ganho pelas carismáticas performances de Mickey Rourke (Marv) e de Bruce Willis (Hartigan). Também Benício Del Toro se destaca pelo seu desempenho, notável, entre um elenco de estrelas. Em comum, têm as histórias e as personagens a defesa das mulheres e a cidade da amoralidade, do crime e da corrupção, das putas e dos psicopatas, dos brutamontes e dos heróis (que só o são por uma questão de ponto de vista, narrativo; não passam, afinal, todos de vilões). Não há Bem nem confiança (nem réstia de esperança, há muito perdida), só noite e sangue e morte. Power comes from lying e a sobrevivência é tudo o que ficou.

A acção é explosiva, esteticamente surpreendente e estimulante, resolvendo as tensões do noir ao virar da esquina. O som, a música, pactuam com a irreverente e vertiginosa viagem ao fantástico. O argumento, repleto de humor negro e de narrações memoráveis, sustenta e fundamenta a aparente superficialidade visual, permitindo o trabalho dos actores. Numa só cena, num só filme, confluem-se os estilos inconfundíveis de Miller e Rodriguez. É obra. Sin City - dizem-no e dou-lhes razão - inaugurou um novo e refinado estilo na adaptação de graphic novels ao grande ecrã. Há todo um recente cânone que perpetua o seu estilo e linguagem... Veja-se 300 ou Watchmen. Mas não só. Veja-se, por exemplo, o épico Imortais.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O CAVALEIRO DAS TREVAS (2008)

 PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: The Dark Knight
Realização: Christopher Nolan
Principais Actores: Christian Bale, Heath Ledger, Morgan Freeman, Michael Caine, Gary Oldman, Aaron Eckhart, Maggie Gyllenhaal

Crítica: O Cavaleiro das Trevas é a prova irrefutável de que é possível fazer bons filmes de super-heróis. Com um argumento subtilmente munido de profundo material socio-filosófico, com uma soberba realização de Christopher Nolan, tecnicamente irrepreensível e abrilhantado ainda pela excepcional interpretação de Heath Ledger, meritória das mais gloriosas distinções, o filme revela-se um triunfo absoluto. Só na massacrante poluição sonora (tanto no som como na composição musical) o filme encontra, a meu ver, um defeito maior.


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CINEROAD ©2020 de Roberto Simões