sexta-feira, 22 de julho de 2011

HARRY POTTER E A CÂMARA DOS SEGREDOS (2002)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Harry Potter and the Chamber of Secrets
Realização: Chris Columbus
Principais Actores: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Richard Harris, Kenneth Branagh, Maggie Smith, Robbie Coltrane, Alan Rickman, Tom Felton, Jason Isaacs, Christian Coulson

Crítica:


MISTÉRIOS ANCESTRAIS

Enemies of the Heir, Beware.

Entre serpentes, aranhas e carros voadores, eis que Harry Potter e a Câmara dos Segredos se impõe como um capítulo ainda mais espectacular. O regresso de Chris Columbus a Hogwarts faz-se, sem sombra de dúvida, com outra imaginação e desenvoltura: o realizador está mais ousado, servindo-se exemplarmente dos elevados valores de produção que tem ao seu dispôr. Por outro lado, encontramos maiores economia e coesão ao longo de toda a adaptação narrativa (J. K. Rowling e Steve Kloves), o que permite, por si só, um filme organicamente mais fluído, consistente e aprofundado e mais livre para a exploração da linguagem cinematográfica. Estes foram, claramente - a realização e o argumento -, os dois pontos fracos que apontei no primeiro filme da saga e que aqui vejo irrepreensivelmente superados.

O elenco, em alto nível, serve-nos um leque de personagens memoráveis. O suspense envolve e aprisiona o espectador, progressivamente, e as maravilhosas sequências de acção tornam a aventura absolutamente excitante e assustadora. Note-se, a propósito, a sofisticação dos sempre presentes efeitos especiais (Jim Mitchell, Nick Davis, John Richardson e Bill George). Dobby, o elfo doméstico, afirma-se, aqui, como um dos feitos mais desafiantes levados a cabo pela equipa. O requinte do design de produção, dos cenários, da decoração e dos figurinos e o esplendor que emana a cada fotograma, como que numa tentativa de contínuo deslumbramento visual, decidem a excelência da obra. Roger Pratt, à frente da iluminação e da fotografia, tem para esse efeito um papel determinante. Os estimados valores técnicos estendem-se finalmente tanto à banda sonora como à minuciosa combinação dos sons.

Fantástica adaptação. Entretenimento incrivelmente divertido e emocionante, moralmente pertinente, a ver e rever.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL (2001)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: Harry Potter and the Sorcerer's Stone
Realização: Chris Columbus
Principais Actores: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Tom Felton, Richard Harris, Maggie Smith, Robbie Coltrane, Alan Rickman, Ian Hart, John Cleese, John Hurt

Crítica:

O RAPAZ QUE SOBREVIVEU

It's true then, what they're saying on the train.
Harry Potter has come to Hogwarts.

Expansão do imaginário, fusão e recriação fantástica de mitos e mitologias ou aventura meramente escapista: o fenómeno Harry Potter justifica-se à luz de um sem fim de atributos e méritos próprios. Creio que um factor determinante para o sucesso da saga foi o de, livro após livro, filme após filme, a história acompanhar o crescimento da criança que se fez homem e que perdeu a inocência, ao mesmo tempo que acompanhava toda uma geração (mundo fora), que fazia exactamente o mesmo percurso. Harry Potter fez a ponte entre o real e o imaginário, entre o quotidiano londrino dos finais do século XX/século XXI, quase que radicalmente despido de crenças e superstições sobrenaturais, e uma idade como que parada no tempo, algures entre o antigamente e o tempo onde a magia é possível. E é mesmo isso que Harry Potter representa: o regresso da magia. Com Harry Potter e A Pedra Filosofal, a magia torna ao grande ecrã e a fantasia resulta - coisa rara em cinema - triunfalmente, com doses certas de coerência, verosimilhança e imaginação.

Após mais um entediante e sofrido Verão em casa dos tios muggles, eis que chega a sua data de aniversário e o início da maior aventura da sua vida: Harry descobrirá as suas origens, a sua própria identidade e um mundo completamente inacreditável, onde a luz e as trevas andarão sempre lado a lado. Após um violento confronto, aquele cujo nome não deve ser pronunciado deixou-lhe uma cicatriz na testa, passou-lhe infindáveis poderes e o mistério da sua orfandade. Seria inimaginável pensar este encantatório, perigoso e derradeiramente arrebatador mundo de Harry Potter sem as infinitas potencialidades dos efeitos digitais. Da edificação dos cenários à composição da atmosfera, da concepção das mais variadas e maravilhosas criaturas e bruxarias à captação do verdadeiro espírito do livro, os efeitos digitais (cada vez mais sofisticados) elevam significativamente a experiência. Fale-se da monumental direcção artística de Stuart Craig, tão ambiciosamente empenhada em dar vida ao mundo de J. K. Rowling, da plataforma 9 3/4 às ruas da Diagon Alley e às imponentes galerias e escadarias de Hogwarts. Fale-se da fotografia de John Seale, ainda que por vezes excessivamente escura. Fale-se da icónica e emblemática banda sonora de John Williams - o seu Hedwig's Theme tornou-se instantaneamente um clássico e sinónimo de sétima arte. Fale-se desse elenco de carismáticas e prometedoras crianças-actores: Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson - como Harry Potter, Ron e Hermione, respectivamente - que mais tarde se viriam a revelar escolhas mais do que acertadas. Fale-se desse fundamental leque de actores seniores - grandes actores, em extraordinários desempenhos: Richard Harris como Albus Dumbledore (que me desculpe Michael Gambon, mas para mim Richard Harris será sempre um melhor Dumbledore), Alan Rickman como Severus Snape (uma das mais enigmáticas, ricas e fascinantes personagens da saga), Maggie Smith como Minerva McGonagall ou Robbie Coltrane como Rubeus Hagrid.

É certo que Chris Columbus, na realização, nunca é tão extraordinário como o próprio universo que Harry Potter nos dá a descobrir, mas é igualmente certo que assegura a aventura e o entretenimento familiar, num tom marcadamente infantil, com uma eficácia mais ou menos assegurada. Encontro na excessiva colagem à narrativa do livro, contudo, o ponto mais negativo do filme. A adaptação, quem sabe se excessivamente supervisionada pela autora da obra, tenta condensar demasiada informação em pouco tempo, prejudicando uma desejável fluidez do ritmo e o amadurecimento dos episódios; tarefa árdua, admitamos, na apresentação ao mundo de tão complexa história, tão recheada de detalhes. Apesar disso, eis um tomo absolutamente fascinante e plausível. Quem resistiria, afinal, a apanhar o comboio para Hogwarts?

sexta-feira, 8 de julho de 2011

NEW YORK, NEW YORK (1977)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: New York, New York
Realização: Martin Scorsese
Principais Actores: Liza Minnelli, Robert De Niro, Lionel Stander, Barry Primus, Mary Kay Place, Georgie Auld, George Memmoli, Dick Miller, Murray Moston, Lenny Gaines, Clarence Clemons, Kathi McGinnis

Crítica:


If I can make it there
I'll make it anywhere
...


AMAR EM NOVA IORQUE

It's up to you
New York, New York!

Entre a vida e o artifício, New York, New York, de Martin Scorsese, é puro espectáculo, puro requinte. É um elogio ao amor sobre a guerra, à cidade que nunca dorme e uma homenagem maior aos musicais de estúdio que, outrora, consagraram Hollywood. Essa aura especial é, aliás, perfeitamente recriada. A obra concretiza - através da tempestuosa relação de Jimmy e Francine Evans - uma autêntica e contínua antologia de inspiradíssimos diálogos e cenas, tantos deles improvisados, absolutamente memoráveis. Scorsese, sempre dotado de elevada sensibilidade estética, conduz a trama com apreço pelos fait-divers e perde-se neles; perde-se no sentido demora-se, maravilhado e encantado. E nós perdemo-nos com ele.
 
O filme é tanto mais do que eles, mas é igualmente compreensível dizer que Roberto DeNiro e Liza Minelli são o filme. Transbordando talento e dedicação, a química entre os dois transcende facilmente a tão pouca convencionalidade do romance.
Jimmy, um saxofonista egoísta e possessivo, machista e conflituoso quanto baste. Francine, uma graciosa cantora, que se deixar seduzir pela lata do fanfarrão. Têm em comum a ambição e a música. Amam-se, mas são incompatíveis - isso percebe-se logo desde o início. A espaços, lembramos Minnie and Moskowitz, de Cassavetes, e a sua improvável e atribulada relação. No final, a sós, cada um encontra o sucesso profissional e os sonhos de ambos tornam-se realidade. É incrível como apenas separados, à distância, conseguem triunfar. Os opostos atraem-se, mas destroem-se mutuamente. Nem um filho os consegue unir.


O tema New York, New York - que o filme (e mais tarde Frank Sinatra) eternizou - cresce ao ritmo da sua relação, dos créditos iniciais ao grande desfecho. Minneli interpreta vorazmente outros tantos temas poderosos ou essencialmente espirituosos: There Goes the Ball Game, The Man I Love, mas sobretudo But the World Goes 'Round. A excelência da música é comum aos mais variados departamentos técnicos: László Kovács, à frente da direcção de fotografia, capta a atmosfera da noite nova-iorquina e dos bares onde flui o jazz e o blues, fundindo habilmente as cores, os brilhos e as luzes. A direcção de figurinos (Theadora Van Runkle) e a artística (Boris Leven, Harry Kemm, Robert De Veste e Ruby R. Levitt) esmeram-se claramente no mesmo sentido, em cada decór, dos interiores aos exteriores fabricados e aos esplendorosos palcos da Broadway; gloriosa, a recuperada sequência Happy Endings, onde Minneli e figurantes cintilam vermelhos no mais excêntrico guarda-roupa.


Um filme em tudo magistral, negligenciado pelo público e pela crítica aquando da estreia, mas merecidamente distinguido entre os melhores, à medida que o tempo lhe faz justiça.


quarta-feira, 6 de julho de 2011

BRISA DE MUDANÇA (2006)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: The Wind That Shakes the Barley
Realização: Ken Loach
Principais Actores: Cillian Murphy, Padraic Delaney, Liam Cunningham, Gerard Kearney, William Ruane

Crítica:


INDEPENDÊNCIA INGLÓRIA



I tried not to get into this war, and did,
now I try to get out, and can't.

Quão vergonhosa pode uma guerra civil ser. Quão revoltante pode a natureza humana ser. Matamo-nos a nós próprios, sem piedade, apesar da dor. Aquela relação de irmãos - entre Damien (Cillian Murphy) e Teddy (Padraic Delaney) - sinedoquiza, passe o necessário neologismo, toda a história da Irlanda que Loach tão tensa e intensamente abraça representar. Até que ponto a defesa de um ideal nos separa, traindo o coração e o nosso próprio sangue.

Strange creatures we are, even to ourselves...

Brisa de Mudança
grita o socialismo e a liberdade patriótica, entre a natureza
verdejante (sublimemente fotografada por Barry Ackroyd) e o intimismo familiar. O argumento (Paul Laverty), associado de raiz ao retrato histórico e à leitura política, encontra a sua força na autenticidade da tragédia, longe do melodrama ou da romantização. Há aqui um realismo austero, que intensifica os sacrifícios dos homens, e para o qual contribui decisivamente a direcção artística e o guarda-roupa. O jovem elenco está ao nível das exigências dramáticas, sobretudo a dupla acima referida, que protagoniza a trama.


Horror, medo, esperança. Brisa de Mudança é um filme de todos estes sentimentos, sobre a génese da rebelião. Grande filme.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O CREPÚSCULO DOS DEUSES (1950)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Sunset Boulevard
Realização: Billy Wilder
Principais Actores: William Holden, Gloria Swanson, Erich von Stroheim, Nancy Olson, Cecil B. DeMille, Franklyn Farnum, Jack Webb, Lloyd Gough, Fred Clark, Larry J. Blake, Buster Keaton

Crítica:


A GRANDE ILUSÃO

No-one ever leaves a star.
That's what makes one a star...

Chega a ser cruel, o reflexo e o retrato de Hollywood, magistralmente concretizado por Billy Wilder e equipa neste O Crepúsculo dos Deuses. Eis a sátira à teia de oportunistas que deambula pela Sunset Boulevard, sedentos de celebridade. Na avenida da cidade dos sonhos, a mansão assombrada por Norman Desmond - o grande astro do cinema mudo, estrela agora cadente e decadente face à ascenção do cinema sonoro, perdida entre a excentricidade e a extravagância do seu carácter e da sua carteira. A prodigiosa tour de force de Gloria Swanson confronta-nos com a tragédia, a efemeridade do sucesso e da fama, com o pavor do envelhecimento e do esquecimento, com a sombra por detrás dos holofotes que outrora abrilhantaram e fizeram dela uma aclamada artista. There's nothing tragic about being fifty. Not unless you're trying to be twenty-five. Norma sonha com o regresso - It's a return, a return to the millions of people who have never forgiven me for deserting the screen. - um regresso impossível, potenciado pela ilusão. Afinal, todos lhe mentem - revelar ou ocultar a verdade, ambas as soluções acarretam consequências terríveis.

I am big. It's the pictures that got small.

Norma sonha com o regresso mas há muito que deixou de ser solicitada. Recebe milhares de cartas de fãs, mas são todas escritas pelo mordomo Max; facto que ela desconhece, coitada. Os telefonemas que recebe da Paramount são para lhe alugar o carro, não porque Cecil B. DeMille a queira de volta ou tenha adorado o seu argumento falhado. É por isso que nos enche de compaixão, a cena em que a diva torna aos antigos estúdios e se reencontra com o cineasta dos grandes épicos. Primeiramente, só os velhos técnicos e funcionários se recordam dela - a indústria do presente dispensou-a. Icónica e simbólica, por isso mesmo também, a cena dos Bonecos de Cera, em que os deuses do mudo jogam às cartas no seu empoeirado Olimpo. Buster Keaton, Anna Q. Nilsson e H.B. Warner, os renegados do silêncio. Mais do que aparições, eles representam-se a si próprios, potenciando uma metalinguística incomensurável. O mesmo a dizer de Cecil B. DeMille, que dirigiu Gloria no passado; Gloria que, tal como Norma, foi uma actriz do outrora, cuja personagem no filme de Wilder lhe sentenciou o regresso áureo. Esta dupla leitura entre relações diegéticas e metadiegéticas far-se-á sempre em O Crepúsculo dos Deuses, resultando daí a maior parte do seu fascínio. A propósito, o mordomo Max desempenhará uma personagem-chave em toda a trama. Afinal, também ele se representa, de alguma forma, a si próprio. Max von Mayerling assume-se como o primeiro realizador de Norma e o primeiro dos seus maridos, super-protegendo-a desde sempre e edificando à sua volta um palácio de sonhos e fantasias. Max von Mayerling não é senão o aclamado (e de outros tempos) realizador Erich von Stroheim - a cena a que Norma e Gillis assistem na sala de projecção não é nada mais nada menos do que uma das cenas de A Rainha Kelly, realizado por Erich e estrelado por Gloria Swanson em 1932.


She was the greatest of them all.

O Crepúsculo dos Deuses é também um noir envolvente, uma história de crime narrada a partir da primeira pessoa - uma narrativa póstuma, uma vez que o narrador se assume logo desde início como o morto, vítima de um mistério desvendado analepticamente. Não deixa de ser irónica, a natureza deste narrador (mais tarde recuperada exemplarmente em Beleza Americana, de Sam Mendes). O narrador e o protagonista (ainda que a prestação magnetizante seja sempre a de Gloria Swanson) é Joe Gillis, William Holden, um argumentista falhado, perseguido pelas dívidas, que encontra na rica Norma o remédio para a sua instável situação. Será o único a afrontar a actriz, levando-a ao devaneio final, à insanidade pura e ao crime. Se na cena do baile já tínhamos pena daquela mulher, o que sentir aquando daquela delirante descida pela escadaria, envolta em multidão, completamente refém da ilusão...

I promise you I'll never desert you again because after 'Salome' we'll make another picture and another picture. You see, this is my life! It always will be! Nothing else! Just us, the cameras, and those wonderful people out there in the dark!... All right, Mr. DeMille, I'm ready for my close-up.

Eis, pois, um feito notável no seio da indústria americana. Uma produção corajosa, que privilegia a história e os actores sobre todas as coisas, mas que detém igualmente o mérito de conciliar o primor nas mais variadas catergorias técnicas: exuberante, a direcção artística, em cada cenário, em cada figurino. Imaculada a fotografia, a cargo de John F. Seitz. Sublime, a banda sonora de Franz Waxman, na condução da melancolia trágica. Grande clássico de Billy Wilder.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

EVA (1950)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: All About Eve
Realização: Joseph L. Mankiewicz
Principais Actores: Bette Davis, Anne Baxter, George Sanders, Celeste Holm, Gary Merrill, Hugh Marlowe, Gregory Ratoff, Barbara Bates, Marilyn Monroe, Thelma Ritter

Crítica:


A GUERRA DAS ESTRELAS

Wherever there's magic and
make-believe and an audience, there's theatre.

Teatro. É sobretudo uma questão de teatro e de actores, neste magnetizante Eva. Gloriosas interpretações, magistralmente dirigidas por Joseph L. Mankiewicz. Falo do astro Bette Davis, sobre todos os outros, que ofusca qualquer cena ou contracena; o charme, o carisma e o infindável talento da sua retórica, a expressividade do seu olhar, a graciosidade do seu movimento. Uma performance que só uma grande actriz como Davis poderia alcançar. There never was, and there never will be, another like you. Depois, as qualidades notáveis e os contributos imprecindíveis do restante elenco: a usurpadora Anne Baxter, George Sanders, Celeste Holm, Gary Merrill, etc. A excelência do argumento e dos diálogos, numa realização segura que priveligia a história e as suas personagens.

Funny business, a woman's career - the things you drop on your way up the ladder so you can move faster. You forget you'll need them again when you get back to being a woman. That's one career all females have in common, whether we like it or not: being a woman. Sooner or later, we've got to work at it, no matter how many other careers we've had or wanted. And in the last analysis, nothing's any good unless you can look up just before dinner or turn around in bed, and there he is. Without that, you're not a woman. You're something with a French provincial office or a book full of clippings, but you're not a woman. Slow curtain, the end.
Margo Channing

Um requinte absoluto, que definiu um clássico.

BRUSCAMENTE NO VERÃO PASSADO (1959)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Suddenly, Last Summer
Realização: Joseph L. Mankiewicz

Principais Actores: Elizabeth Taylor, Katharine Hepburn, Montgomery Clift, Albert Dekker, Mercedes McCambridge, Gary Raymond

Crítica:

O SEGREDO

Truth is the bottom of a bottomless well.

Imcompreensível, que se fale tão pouco de um filme como Bruscamente no Verão Passado, na minha opinião um dos melhores de Joseph L. Mankiewicz. Um argumento verdadeiramente monumental, de um engenho literário inegável e impressionante, pelas mãos de Gore Vidal e do próprio Tenessee Williams, que escreveu a peça.

A elevar o argumento à perfeição, a eloquente declamação de Elizabeth Taylor, mas sobretudo a dessa grande - enorme - actriz que foi Katharine Hepburn. Por causa da censura, um argumento cheio de subtilezas, factor que no meu entender confere ainda mais mistério e poder à narrativa, sempre alicerçada no suspense. O preto e branco é imaculado. O movimento de câmera, sempre discreto mas expressivo, enquadra os actores no primor cénico da direcção artística, valorizando as suas performances.

Que filme magistral, que pedaço de storytelling tão fascinante.

domingo, 3 de julho de 2011

HORIZONTES DE GLÓRIA (1957)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Paths of Glory
Realização: Stanley Kubrick
Principais Actores: Kirk Douglas, Ralph Meeker, Adolphe Menjou, George Macready, Wayne Morris, Richard Anderson, Christiane Kubrick, Joe Turkel

Crítica:


A TERRA DE NINGUÉM

Too much has happened. Someone's got to be hurt.
The only question is who.


Um olhar perfeccionista e implacável, sobre o inferno das trincheiras e a monstruosidade do ser humano. Um preto e branco imaculado, na sublimação visual da elegância - afinal, a fotografia de Horizontes de Glória, a cargo de Georg Krause, concretiza a excelência visionária e todo o potencial da mise-en-scène. Zooms, travellings, planos-sequência de cortar a respiração e de detalhes preci(o)sos, sublimes enquadramentos em deep focus, uma arte de filmar que gere de forma irrepreensível a poderosa carga de emoções que a história e as performances dos actores elevam, consistentemente.

O argumento, a partir do romance de Humphrey Cobb e adaptado a três mãos (entre Kubrick, Calder Willingham e Jik Thompson), é dotado de uma prodigiosa economia narrativa, fazendo evoluir a diegese - cena a cena - com uma coesão notável. E a cada cena, mais magistral do que a anterior, os diálogos memoráveis arrebatam-nos e fazem-nos tomar consciência do quão prazeroso é assistir ao filme. As cadências premeditadas da montagem (Eva Kroll) são imprescindíveis para o sucesso narrativo. Sublimes, as interpretações de Adolphe Menjou (general George Broulard), Ralph Meeker (capitão Philippe Paris) e do destemido Kirk Douglas, o coronel Dax que primeiramente acata as ordens superiores sem as questionar e que depois afrontará todas as autoridades na defesa dos soldados injustamente acusados pela missão fracassada e convertida num impiedoso e sangrento massacre.

Gentlemen of the court, there are times that I'm ashamed to be a member of the human race and this is one such occasion.

O tom irónico e corrosivo das melhores obras do realizador está sempre presente, como um fio condutor ou marca de estilo, denunciando e ridicularizando a cegueira e a arrogância, o abuso de poder e a injustiça; em suma, a falta de humanidade que parece abundar entre a frieza e o cinismo, a hipocrisia e a loucura do lado da guerra. A prepotência do general Paul Mireau (George Macready), que cruelmente vinga a indisciplina e a insubordinação contra as suas ordens ambiciosas e suicidas, expõe a vergonha do ser humano. There are few things more fundamentally encouraging and stimulating than seeing someone else die. Em tempo de guerra, os inimigos estão inclusivé na hierarquia que delibera a nossa patente.

Tecnicamente, Horizontes de Glória mostra-se perfeitamente executado. Note-se o som e excepcional montagem dos seus efeitos, note-se a sensível aplicação da música e dos silêncios ou todo o brilhantismo da direcção artística, seja no campo de guerra como no glamour do baile. A cena final, onde a música se revela como linguagem universal, vem preencher de compaixão e sentimento todo o humanismo reclamado ao longo da obra e personificado, na primeira pessoa, pelo coronel Dax. Sem dúvida, um dos melhores filmes de guerra jamais feitos. Absolutamente marcante. A excelência da obra é tal que não me admirarei se, no futuro, vier a considerá-la uma incontestável obra-prima.

sábado, 2 de julho de 2011

DESCOBRIR FORRESTER (2000)

PONTUAÇÃO: RAZOÁVEL
Título Original: Finding Forrester
Realização: Gus Van Sant
Principais Actores: John Wayne, Sean Connery, Rob Brown, F. Murray Abraham, Anna Paquin, Michael Nouri, Busta Rhymes
 
Breves Considerações: Um argumento com potencial, subaproveitado tanto pela inexpressividade das interpretações como pela realização pouco inspirada.


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CINEROAD ©2020 de Roberto Simões