sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

MINNIE AND MOSKOWITZ - TEMPO DE AMAR (1971)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Minne and Moskowitz
Realização: John Cassavetes
Principais Actores: Gena Rowlands, Seymour Cassel, Val Avery, Timothy Carey, Katherine Cassavetes, Elizabeth Deering, Elsie Ames, Lady Rowlands, Holly Near, Judith Roberts, Jack Danskin, Eleanor Zee, Santos Morales, Kathleen O'Malley, Jimmy Joyce, Chuck Wells, Sean Joyce, David Rowlands

Crítica:

O AMOR ACONTECE

They're just crazy.

Tentem imaginar o casal mais improvável. Já está? Conseguiram? Pois bem... Minnie Moore e Seymour Moskowitz formam-no, sem tirar nem pôr, nesta brilhante e melodramática comédia de John Cassavetes. Ela é loira, bem arranjada e sabe estar, trabalha num museu, mas mais parece uma estrela de Hollywood, com os seus óculos-de-sol da moda. Gena Rowlands é soberba, à frente do papel principal. Já ele é loiro, mas loiro até ao meio das costas, tem um bigode descomunal e é bruto que nem um boi. Tem como profissão arrumar carros e figurará, certamente, entre os hippies mais intempestivos do cinema americano. Seymour Cassel concebe uma personagem tão convincente quanto hilariante. Ela é amante de um homem casado, ele lá vai tendo as suas relações fortuitas... os anos passam, as suas relações não vingam e e vêem-se como que irremediavelmente frustrados, cada um à sua maneira.

Num dos melhores diálogos do filme - e o argumento de Cassavetes é, todo ele, um grande exercício de escrita -, Minnie e Florence (uma amiga mais velha, interpretada por Elsie Ames) dissertam sobre o amor e a solidão. Tudo isto depois da sessão de Casablanca e acompanhadas de um bom vinho:

Minnie: Florence, are you still romantic?
Florence: I sure am!
Minnie: I mean, I never know when someone reaches your age whether they still have a real need to be loved.
Florence: I sure do!
Minnie: Do you still... do it?
Florence: Yes!
Minnie: Yeah? I... I'm sorry, it's a terrible question, but I really did want to know. Does it diminish, Florence? Does it go away?
Florence: Sometimes... and I get very frustrated... and (drinks some more) I don't know whether it's the sex thing or whether it is being alone that makes me so frustrated! After a while I just don't know.
Minnie: You know with me, it just seems like I get more so... I get more aroused, more willing to give of myself. You know the world is just full of silly asses that just want you body... I mean not just your body... your soul, your heart your mind, everything, they can't live until they get it. And then they get it... and they don't really want it.

No final da cena, Minnie culpa os filmes:

You know in movie's its never like that. You know I think movies are a conspiracy?! (...) They set you up from the time you are a little kid! (...) They set you up to believe in... ideals and strength and good guys and romance and... and of course... love. Love, Florence (...) So, you believe it, right? (...) There's no Charles Boyer in my life (...) I never even met a Charles Boyer. I never met Clark Gable. I never met Humphrey Bogart. I’ve never met any of them. You know who I mean. I mean, they don’t exist, Florence. That’s the truth. But movies, they set you up...

Também Moskowitz vai ao cinema e também ele é fã de Bogart. No filme, eles nunca se apercebem desse gosto em comum, mas o espectador sabe dessa coincidência. Talvez por isso torça pelos dois, ainda que contrariando o bom senso das coisas. Mas que razão poderia, afinal, contrariar o bom senso, senão a razão do coração? Minnie and Moskowitz acaba por fazer o elogio do amor - o amor contraria qualquer lógica.

Um dia, cruzam-se. Tanto ele como ela são uns românticos inveterados. Só que ela vive o romance como nos filmes, transportando-o para a vida do dia-a-dia. Ele sonha com a sua musa, mas esquece-se de olhar ao espelho e de perceber que não condiz com o perfil de galã. Quando se esforça para sê-lo, sai-lhe qualquer coisa como: I think about you so much, I forget to go to the bathroom! É claro que com tamanhos versos não conquista a sua princesa e não há romantismo que resista. De imprevisível a sórdido, não se esgotam os adjectivos para caracterizar o seu início de relação. Quando as mães de ambos - as comadres - se conhecem num primeiro jantar, precisamente a quatro dias do primeiro encontro e no final do filme, a mãe de Moskowitz não podia ser mais directa, para espanto ou choque de todos:

An Albert Einstein he's not (...) Pretty he's not. Look at that face. A future he doesn't have; he parks cars for a living.

A cidade é o pano de fundo - as luzes, o trânsito, os restaurantes, etc. - mas invade o espaço íntimo, nomeadamente pelo som. Cassavetes filma magistralmente, centrando a acção e a câmera, na maior parte das vezes, não no protagonista da cena ou do diálogo, que profere as linhas, mas na face do outro. Os movimentos são simples, tantas vezes subtis, mas sempre fundamentais para a estética de Cassavetes: mostrar o visível pelo invisível.

Enfim, Minnie and Moskowitz não é senão um modelo de comédia humana por excelência - não vive de piadas, a piada está na autenticidade com que os actores soltam as emoções. Grande filme.

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