sábado, 22 de janeiro de 2011

O MEU VIZINHO TOTORO (1988)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Tonari no Totoro
Realização: Hayao Miyazaki

Filme de Animação


Crítica:

A MAGIA DE SER CRIANÇA


Se há obra sobre a infância e durante a qual me vejo a regressar nostalgicamente ao passado, essa obra é O Meu Vizinho Totoro, realizada por Hayao Miyazaki. Creio, francamente, que o aclamado mestre da animação japonesa concebeu, ao longo da sua carreira, obras tecnicamente superiores a esta; veja-se, por exemplo, O Castelo no Céu, Princesa Mononoke ou A Viagem de Chihiro; cada título mais belo do que o outro. No entanto, acredito que a virtude maior de Totoro é o seu âmago narrativo, deveras especial, pelo qual se distingue dos demais. Aqui não há vilões, não há maldade, não há intriga ou trama propriamente dita ou uma história com princípio, meio e fim, no sentido convencional da expressão. A aquarela, de um esplendor visual arrebatador e absolutamente fascinante, floresce, a um ritmo tão calmo, a partir das situações do dia-a-dia, da espontaneidade das circunstâncias, até que ganha riqueza e complexidade semântica e interpretativa com a fertilidade do imaginário infantil.

A história de
O Meu Vizinho Totoro inicia-se com a mudança da família Kusakabe para o campo, entre prados verdejantes, águas cristalinas e uma floresta misteriosa, por causa da recente hospitalização da mãe na proximidade. As irmãs Mei (a mais nova) e Satsuki (a mais velha) viajam com o pai, muito animadas, até que chegam a uma casa aparentemente assombrada e a sua criativa imaginação desperta. Fantasmas, acreditam. A exploração da casa e dos arredores torna-se facilmente uma aventura, onde a magia despontará até das bolinhas pretas da fuligem: espíritos da floresta, místicos rituais, um gato-autocarro, e um trio de animais tão fofinhos quanto monstruosos, que facilmente poderia comparar a bonecas russas, caso estas mudassem de forma. Entre eles, o gigante e caricato Totoro. Só as crianças podem ver estas incríveis maravilhas - as crianças são, afinal, seres privilegiados. A possível morte da mãe e necessidade de assumir responsabilidades (inerentes ao crescimento) são os únicos factores que põem à prova a alegria e a união da família; a família que, ela própria, nos é apresentada como um elemento fundamental na vida e no equilíbrio dos homens. Notável, aquela simples cena em que pai e filhas tomam banho nus com a maior naturalidade do mundo. Quem se lembraria de inventar uma cena destas para um filme tão marcadamente infantil? Lá está, que pureza. E que delicadeza, aquela que Miyazaki aplica no manejar das emoções entre as personagens. Que sensibilidade.

O deslumbramento do espectador faz-se frame a frame e cada frame é, com o devido primor e requinte, pintado à mão. A banda sonora de Joe Hisaishi é qualquer coisa de extraordinário: há melodias divertidas, outras emocionantes e envolventes, umas emanam saudade... todas emanam vitalidade. Magistrais composições.

No seu todo, O Meu Vizinho Totoro não é senão o regresso à pureza original, onde há bondade e segurança ao virar das esquina, e à verdadeira idade da inocência, onde abunda a felicidade plena. Um milagre de filme. Fabuloso.

7 comentários:

  1. É o filme mais "japonês" do Miyazaki, muito querido por esse povo. Entendo perfeitamente porquê. É "um milagre de filme", sem dúvida, lindo e inesquecível.

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  2. Já disse a Ana e depois de ter lido o teu texto, tenho mesmo de arranjar tempo para ver este filme... adoro Miyazaki e penso que é o unico dele que ainda não vi :S

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  3. Bem, espero, de algum modo, ter contribuído para o seu visionamento :)

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  4. FLÁVIO GONÇALVES: Porventura ;) Estamos totalmente de acordo.

    GEMA: A qual Ana? ;) É um belíssimo filme. Penso que vais gostar imenso.

    ANA ALEXANDRE: Por acaso foi coincidência, ter visto o filme justamente agora que na iniciativa AS INCONTESTÁVEIS escolheste TOTORO como obra-prima incontestável. Estava num dos sítios do costume e deparei-me com o seu lançamento. Foi compra inevitável. Grande filme.

    Cumps.
    Roberto Simões
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  5. MUITO MÁGICO!!! PURA FANTASIA!!! QUE BOM SER CRIANÇA :) TOTORO, AMIGO PARA SEMPRE!!! SEMPRE VOAREMOS NOS NOSSOS GUARDAS CHUVA!!!

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  6. De acordo, que delícia de filme. É um pouco diferente na abordagem (menos complexa) e na atmosfera, relativamente aos mais recentes do realizador que vi, mas não deixa de ter um encanto muito especial. Aliás em certa medida é mesmo o que prefiro, a sua simplicidade e envolvência são por demais emocionantes.

    A banda sonora mais uma vez é do melhor, transportando-nos facilmente para essa inocência e nostalgia. O argumento é um primor, enquadrado por frames pintados à mão belíssimos. Adorei. Miyazaki oferece-nos, geralmente, histórias um pouco mais complexas, mas como gosto desta sua vertente! é bom ficar a saber que também executa, e bem, outros argumentos.

    Fica-me a certeza cada vez mais, que este senhor da animação é um génio e um dos melhores de sempre no seio da animação.

    abraço

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  7. ANÓNIMO: Tanto entusiasmo!

    JORGE: Concordo na íntegra. A propósito de outras vertentes, assisti ontem ao seu NAUSICAÄ DO VALE DO VENTO e é, longo das maravilhas técnicas que fez depois, porventura um dos seus melhores e mais poderosos argumentos. Nausicaä é talvez a personagem do seu universo mágico mais forte e determinada, com o seu carácter mais vincado. O filme é belo, pleno de acção e longe da complexidade e transcendência dos seus últimos filmes. É um muito bom filme também, que recomendo vivamente. Em termos de ecologia, é dos melhores filmes que conheço. Este TOTORO é uma pérola autêntica e muito sui generis. Adorável.

    Roberto Simões
    CINEROAD

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