segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

8 1/2 (1963)

PONTUAÇÃO: EXCELENTE
★★★★★
Título Original: 8 1/2
Realização
: Federico Fellini

Principais Actores: Marcello Mastroianni, Claudia Cardinale, Anouk Aimée

Crítica:


O REAL,
O RECORDADO E O INVENTADO

8 1/2 é, simplesmente, um dos filmes mais geniais alguma vez feitos.
Para Fellini, o cinema é liberdade. A objectiva de uma câmera não se limita à escravidão da realidade física. É possível, pois, subverter as noções do real, converter a ficção em muito mais do que mera representação. É possível confluir o sonho, o imaginário e o real num só espaço, num só tempo: na incomensurável dimensão artística. O conceito de 8 1/2 é, por isso, não só moderno como completamente revolucionário. Para uma arte com poucas décadas de existência, tantas vezes considerada em atraso relativamente às outras, este foi um passo triunfal e assaz significativo.

Há que entender, de uma vez por todas, que na arte as coisas não têm necessariamente que fazer sentido. É por isso que num filme como 8 1/2, o mais importante não é perceber, mas sim sentir. Ainda para mais numa obra (e, já agora, filmografia) na qual há tendência para enfatizar as imagens e não as ideias. Guido (Mastroianni, excepcional) acabou recentemente o seu último filme e caiu num profundo marasmo de inspiração. Para o realizador, a recordação e a fantasia são um autêntico escape às pressões da equipa e de todos quantos estão à sua volta, constantemente a bombardeá-lo com questões e dúvidas sobre o seu próximo projecto. É como se um mundo inteiro dependesse dele, opressivo e sufocante. A personagem da deslumbrante Claudia Cardinale é a única que lhe traz apaziguamento. Ao mesmo tempo, essa constante alternância entre verossimilhança e inverossimilhança, que percorre toda a obra, dá-nos conta da confusão interior da mente criativa do realizador (alegoria do próprio Fellini, denunciada aliás pelo título) e, claro, do seu fascínio infinito por mulheres.

8 1/2 é tecnicamente irrepreensível: conta com um trabalho de fotografia e iluminação absolutamente magnífico (Gianni Di Venanzo), uma brilhante cadência de montagem (excelência de Leo Cattozzo) e uma direcção artística que é de um arrojo e primor puros (Piero Gherardi, Vito Anzalone). Nino Rota assume-se, uma vez mais, à frente de uma composição sublime e original; isto quando não soa, imponente e magistral, a aura eterna de Wagner. A realização, essa, é tão multifacetada e perfeita que nos deixa abismados...

O veredicto é unânime: 8 1/2 é uma obra-prima ímpar e um dos melhores filmes de sempre. A prova concreta de que é na imaginação que se fazem os maiores e mais extraordinários pedaços de cinema.

21 comentários:

  1. Por acaso também será o próximo do Fellini que verei, muito em breve! Bom filme! :)

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  2. Fellini 8 e ½ é uma das mais fantásticas obras do Cinema. A confirmação de um cineasta genial, único e competente, que resulta num dos mais inspirados filmes da História do Cinema. Uma obra-prima!

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  3. FLÁVIO GONÇALVES: ;D Já dizes que é um bom filme sem o teres visto! O nome Fellini já é uma garantia para ti ;) Este 8 1/2 é uma completa obra-prima!

    TIAGO RAMOS: Subscrevo-te palavra a palavra. Só não consigo usar esse título português, detesto-o. Habitualmente uso os títulos portugueses, por vezes bem pecaminosos. Mas não gosto de incorporar o nome do realizador no título da obra ;) Desta vez não usarei o título português.

    Cumps.
    Roberto Simões
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  4. Fellini foi um génio sem sombra de dúvida. Para mim este e o Satyricon são os seus melhores filmes embora o meu preferido dele seja o Amarcord porque foi o primeiro filme dele que vi (na mesma altura que vi o Rocco do Visconti).

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  5. ÁLVARO MARTINS: Até agora, também AMARCORD é o meu favorito e curiosamente também foi o primeiro filme que vi dele. Ainda não vi SATYRICON, quero muito ver. Só não gostei especialmente de A DOCE VIDA. De resto e o que vi, sem dúvida: é genial.

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    Roberto Simões
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  6. Também é o filme dele (dos que vi) que menos gosto, mas não deixa de ser um bom filme. Aconselho-te a veres o Satyricon, o Roma, La Strada, Il Bidone e o E la nave va.

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  7. Genial é certamente uma palavra apta a descrever essa obra.

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  8. ÁLVARO MARTINS: Obrigado pelas recomendações! ;)

    GUSTAVO HR: Absolutamente!

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    Roberto Simões
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  9. É o meu preferido de Fellini e um dos meus preferidos de sempre!
    Adoro esta obra-prima!

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  10. WALLY: Veja, creio que vai delirar com o universo de Fellini!

    NEUROTICON: Ao lado de AMARCORD, o meu preferido do realizador. Genial!

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    Roberto Simões
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  11. Aqui estamos em total sintonia, Roberto, quer sobre o filme quer sobre o Cinema de Fellini (apesar de filmes menos conseguidos, como o "Roma", "Ginger e Fred" ou "La Nave Va", por exemplo). Não entendo porém o teres subvalorizado "La Dolce Vita" (o primeiro filme que vi dele, ainda na década de sessenta), que considero ao mesmo nível deste "Oito e Meio". Comprei há tempos o "Satyricon" mas ainda o não revi. Curiosamente foi um dos filmes que me fez em 1973 ir a Londres. Já nessa altura era um apaixonado pelo mundo do Cinema, mas infelizmente havia em Portugal uma coisa chamada censura que não nos deixava sonhar. Resultado: fui de propósito passar uma semana a Londres só para poder ver os filmes que na altura nos estavam interditos. Penso que pertencerás a uma geração mais nova do que a minha e que por isso talvez estas histórias antigas não tenham grande significado para ti. Mas acredita que era uma frustração muito grande para os estudantes daqueles tempos, que não tinham acesso ao que só através de ecos lhes chegavam lá de fora (já para não falar nos inúmeros cortes feitos nos filmes que conseguiam furar a "malha"). Resultado: foram sete dias de sessões contínuas diárias que me encheram a alma e cuja memória perdura até hoje.
    Mas voltando ao Fellini, os meus filmes preferidos, os que me "tocam cá mais dentro" fazem ainda parte da fase neo-realista: "A Estrada" e "Noites de Cabíria". Não sei se já os viste, mas és capaz de ter uma agradável surpresa, devido ao facto da narrativa fílmica não ter nada a ver com esta fase mais conhecida do cineasta.

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  12. RATO: Na ficha do filme A DOCE VIDA argumento a minha opinião, a respeito. A propósito de 8 1/2 estamos, ao que parece, completamente de acordo. Ainda não vi o SATYRICON, fica a recomendação que desde já agradeço. Inevitavelmente pertenço a outra geração, essa realidade não faz, de todo, parte da minha experiência pessoal. De modo algum substimo ou desvalorizo este tipo de histórias, muito pelo contrário. Esta partilha pelas conversas, serenas e com respeito, é algo não só raro como enriquecedor. Para todos.
    O máximo que posso fazer é imaginar qual seria a sensação de ter que ir ao estrangeiro para assistir a um produto proibido e como tal factor enriquecia, de forma marcante, a experiência de assistir a um filme.
    Vou tentar assistir ao filme nos próximos meses.

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    Roberto Simões
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  13. Confesso que do Fellini só vi o "Amarcord" e este "8 1/2" e apesar de achar este último algo confuso, eu gostei bastante. É um filme fabuloso realizado com toda a mestria do Fellini, aconselho sem dúvida!

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  14. TIAGO VITÓRIA: O AMARCORD foi o primeiro filme que vi dele e é um dos meus favoritos. Uma das minhas comédias de eleição, igualmente. Este 8 1/2 é confuso, pois claro, entre o real e o imaginário, o portal está aberto à criatividade. Uma obra-prima, é a minha convicção.
    Agradeço o comentário ;)

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    Roberto Simões
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  15. Filme estonteante, brilhante. Como é que alguém um dia conseguiu fazer isto ? Não é o meu favorito porque tenho um carinho especial por La Dolce Vita (talvez por ter sido o meu primeiro de Fellini), mas este é, provavelmente, o seu melhor filme. E um dos melhores filmes de todos os tempos. Excelente texto, como de costume.

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  16. Não comungo da reverência ao Fellini, gosto de alguns dos seus filmes, gosto deste, mas não o considero uma obra-prima, não simpatizo nada com os excessos formais que foram tomando conta da obra de Fellini, e que aqui já comandam tudo. O "I vitelloni", na sua simplicidade, é bastante superior; é um grandesíssimo filme (e a sua obra-prima). OK, o "Amarcord" também é muito bom.

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  17. Grande filme. Original e único na verdadeira essência da palavra. Gostei bastante, posso até dizer que o meu primeiro contacto com Fellini foi fascinante. Do início ao fim foi deveras uma experiência muito agradável. E o curioso é que o filme sem si, a sua narrativa, não me parece do melhor já visto, nem com coerência e excelência por aí além. Acho que a película prima pela imagem, pelas sensações e pela componente sonora e musical. Tal como dizes na crítica. Belíssimo, sem dúvida.

    A história não me preenche totalmente as medidas, mas a experiência no global foi arrebatadora. E o cinema também pode ser só isso.

    abraço

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  18. DIOGO F: Obrigado ;) Por acaso, não tenho especial apreço pelo A DOCE VIDA. Quanto a 8 1/2, é sem dúvida brilhante. Genial.

    JORGE: Se há adjectivo que definirá aquilo que procuras num filme, enquanto cinéfilo, será porventura "arrebatador". Procuras o êxtase dos sentidos na experiência cinematográfica. 8 1/2 é sem dúvida um filme ideal para isso.

    Cumps.
    Roberto Simões
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  19. Não vi ainda 8 e 1/2, embora de nome o conheça desde os anos oitenta.

    Confraternizo-me com o Rato Cinéfilo: por força da censura militar, foram exibidos mutilados no Brasil, até 1979: Tommy, Laranja Mecânica, O exorcista e diversos filmes "políticos" italianos.

    E la nave va foi um filme de grande acolhida no seu ano de lançamento entre o público brasileiro.

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  20. ENALDO: É essencial, pelo que recomendo vivamente ;)

    Roberto Simões
    CINEROAD

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