A montagem é um recurso essencial, capaz de determinar a própria natureza de um objecto cinematográfico.
Na verdade, três modos distintos de montar um filme correspondem - respectivamente - a três diferentes concepções de cinema.
1. A Montagem Invisível e o Cinema da Ilusão da Realidade
É o chamado "cinema da transparência", no qual a montagem é subtil e esconde os procedimentos da filmagem, suaviza toda a artificialidade do objecto artístico, com a preocupação máxima da mimesis: simular uma realidade, falsear uma realidade por forma a facilitar a identificação do espectador com a representação, por forma a que o espectador entre no filme, viva o filme - é esse o seu objectivo.
É o tipo de montagem e o tipo de cinema mais praticado em Hollywood e em todo o mundo.
Ex. E Tudo o Vento Levou, Cinema Paraíso, Reino dos Céus,
A Vida é Bela, etc.
2. A Montagem Visível e o Cinema da Montagem Soberana
O sentido do filme provém da montagem, que não camufla o artifício mas sim assume o objecto como artifício, como construção. É precisamente o oposto da Montagem Invisível e do cinema que daí resulta.
Ex. O Homem da Câmera de Filmar, 21 Gramas, Código Desconhecido, O Mundo a Seus Pés, etc.
3. A Montagem Proibida e o Cinema do Plano-Sequência
Por forma a não fragmentar a realidade representada, alguns cineastas optam por não recorrer à montagem e por construir os chamados long taking, os planos-sequência. Dessa forma, garantem a continuidade da acção, a unidade espacio-temporal e a ausência maior de artifícios (exceptuando os artifícios de filmagem, imprescindíveis).
Ex. A Corda, Empire, A Arca Russa, Expiação (recurso parcial), etc.
Muitos filmes, hoje em dia, confluem os vários modos de montagem numa só obra. É o caso do filme de Joe Wright, acima citado.
1. A Montagem Invisível e o Cinema da Ilusão da Realidade
É o chamado "cinema da transparência", no qual a montagem é subtil e esconde os procedimentos da filmagem, suaviza toda a artificialidade do objecto artístico, com a preocupação máxima da mimesis: simular uma realidade, falsear uma realidade por forma a facilitar a identificação do espectador com a representação, por forma a que o espectador entre no filme, viva o filme - é esse o seu objectivo.
É o tipo de montagem e o tipo de cinema mais praticado em Hollywood e em todo o mundo.
Ex. E Tudo o Vento Levou, Cinema Paraíso, Reino dos Céus,
A Vida é Bela, etc.
2. A Montagem Visível e o Cinema da Montagem Soberana
O sentido do filme provém da montagem, que não camufla o artifício mas sim assume o objecto como artifício, como construção. É precisamente o oposto da Montagem Invisível e do cinema que daí resulta.
Ex. O Homem da Câmera de Filmar, 21 Gramas, Código Desconhecido, O Mundo a Seus Pés, etc.
3. A Montagem Proibida e o Cinema do Plano-Sequência
Por forma a não fragmentar a realidade representada, alguns cineastas optam por não recorrer à montagem e por construir os chamados long taking, os planos-sequência. Dessa forma, garantem a continuidade da acção, a unidade espacio-temporal e a ausência maior de artifícios (exceptuando os artifícios de filmagem, imprescindíveis).
Ex. A Corda, Empire, A Arca Russa, Expiação (recurso parcial), etc.
Muitos filmes, hoje em dia, confluem os vários modos de montagem numa só obra. É o caso do filme de Joe Wright, acima citado.
Excelente análise. Mais uma lição de cinema, pelo menos no meu caso :P
ResponderEliminarEngraçado na altura não reparei nesses aspectos em Expiação, o que é normal, já foi há um tempo. Onde me passavam essas coisas completamente ao lado.
A propósito grande sugestão da semana. Vou tentar seguir o teu conselho e ver nos próximos dias. Já estou há umas semanas para o ver...
abraço
Gostei do texto, é sempre bom saber um pouco sobre a teoria cinematográfica!
ResponderEliminarabraço
volverumfilme.blogspot.com
JORGE: Não é uma análise, são breves considerações/recapitulações teóricas. Mas obrigado, agradeço! ;)
ResponderEliminarEXPIAÇÃO é, de facto, uma obra magistral e uma magnífica recomendação para qualquer altura. Revê. Também tenho que o rever, um dia destes, depois tecer-lhe-ei uma crítica conveniente.
SAULO S.: Pois, de vez em quando é bom rever a matéria ;) Obrigado ;)
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Sim tens razão são mais considerações, breves apontamentos. De qualquer modo para mim são excelentes. Em poucas palavras aprende-se muito.
ResponderEliminarEm relação à sugestão da semana referia-me a E TUDO O VENTO LEVOU. Ainda tenho de descobrir. Com o teu destaque despertou-me e irei certamente vê-lo nos próximos dias.
Depois passo por aqui como não podia deixar de ser.
Mas claro EXPIAÇÃO é também para rever, qualquer dia.
abraço
JORGE: Ah. E TUDO O VENTO LEVOU surpreendeu-me bastante. Acabei de assisti-lo e foi um daqueles casos em que me interroguei: mas como é que não vi este filme antes? É de uma grandiloquência tão requintada, tão magnífica. Vais gostar.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Sou apaixonadíssimo por planos sequência... Penso que exaltam uma "sinceridade" tão forte e uma vivência tão una das coisas que tornam a obra ainda mais espectacular.
ResponderEliminarBom artigo ;)
Quase me passava este artigo... (Isto de ver montes de feeds e não só).
ResponderEliminarOlha só... mais outro artigo dedicado ás técnicas. É curioso como consegues ser imensamente pedagógico com curtas explicações.
Importante esta série de artigos. E ainda se chama a esta época a silly-season...
Força! Força!!!
Mencionava eu o filme "A Corda", no artigo anterior desta rubrica e ele surge logo aqui como matéria para outro exemplo, onde se usa a montagem discreta apenas para unir takes longuíssimos (o caso deste filme citado, e tal como em muitos outros semelhantes) onde as técnicas de realização e encenação são utilizadas para substituir a própria montagem.
Nem sabia que tinha um nome a técnica (ora bem, faria sentido ter um nome obviamente), o que só demonstra ausências minhas a este nível técnico. "Montagem proibida" está bom sim senhor. Foi Hitchcock quem me fascinou por esta técnica, posso já dizer e ele usou-a imensas vezes, sendo a Corda um filme feito por ele só para usar a técnica ao máximo (todo o filme em pouco takes)
Muitas das vezes dizemos mal de um filme sem pensar no realizador. Outras vezes, desconsidera-se um certo tipo de cinema de realizador-autor, muito porque tudo isto passa invisivel e a técnica, o savoir-faire, nos passa ao lado.
Hitchcock e Kubrik, por exemplo, eram dos que se notava mais usarem a sua imensa arte para poderem contar a história. Arte que sobressaia na manipulação de todas as técnicas (e as que inventaram para poderem "realizar" o que imaginavam).
Ás vezes é por aqui, por muitos de nós sermos mais leigos nestes assuntos e técnicas, que não se consegue ver a magnificência da obra toda para além da narrativa e dos actores.
Estás a contribuir para um maior alargamento na apreciação cinéfila. Well done!
FLÁVIO GONÇALVES: Já sabia da tua admiração pelos planos-sequências. Também a partilho.
ResponderEliminarThanks.
ARM PAULO FERREIRA: "Silly season" para os outros, mas não para mim! :D Ahahah Eu gosto disto.
Na verdade, quando vi o teu comentário ao DOC'1 pensei que te tivesses enganado e quisesses comentar este DOC'2 ;) Já vi que não. Pois, na verdade aquilo a que inicialmente te referiste nesse teu comentário não tem tanto a ver com movimentos de câmera mas sim com um modo de montagem. Aquilo a que aludi neste DOC'2.
Obrigado pela cortesia das tuas palavras. Partilho apenas algumas das minhas aprendizagens, creio que pode suscitar um interessante e estimulante debate, uma troca de ideias, de conhecimentos. É esta, também, a estrada que proponho. Obrigado ;)
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Mais uma vez uma análise interessante e útil.
ResponderEliminarAbraço
Cinema as my World
NEKAS: Não é nenhuma análise, mas obrigado! ;)
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Acho que o melhor exemplo deste terceiro ponto é a filmografia de Bela Tarr.
ResponderEliminarVejam este vídeo para perceber porquê:
http://www.youtube.com/watch?v=q8DOQFccj00