★★★★★
Título Original: IrréversibleRealização: Gaspar Noé
Principais Actores: Monica Bellucci, Vincent Cassel, Albert Dupontel, Jo Prestia, Philippe Nahon, Stéphane Drouot, Jean-Louis Costes, Michel Gondoin, Mourad Khima
Crítica:
Chocante e atordoante, incómodo e inconveniente, maculado e doentio, desiludido, sem esperança. Irreversível é assim: uma experiência ultra-sensorial que nos prende por inteiro e que nos transporta, sob uma cadência hipnótica, do mais inquietante dos pesadelos ao absoluto apaziguamento existencial.
Do fim para o princípio, a desconstrução da narrativa e das personagens não só surpreende como se revela um autêntico processo de reconstrução, por meio do qual nos apercebemos da forma implacável e aleatória de como o caos escreve os nossos destinos. Há duas sequências absolutamente brilhantes: a descida infernal, de atmosfera nevrótica, repugnante e violenta, ao antro da perversão homossexual (note-se o requinte intencional: a combinação perfeita de planos rodopiantes com a repetição obsessiva de sons baixos e graves, de frequência de 28 Hz, de modo a provocar o sentimento de náusea e tontura no próprio espectador) e a dolorosa, brutal e revoltante violação no túnel vermelho (plano estático, ângulo de irrepreensível enquadramento).
Inspiradamente iluminado, fotografado e montado e genialmente realizado (Gaspar Noé transforma uma simples história de vingança numa original, revigorante e marcante obra de arte, desconfortavelmente sublime), Irreversível conta ainda com fortíssimos desempenhos, imbuídos no poder soberano da narrativa: Vicent Cassel, Monica Bellucci e Albert Dupontel. O trio protagoniza, frontalmente e sem tabus, esta tão interessante quão curiosa abordagem sobre o amor e a sexualidade.
No final, perturbados pela crueldade do futuro e pela viagem que assumímos, somos levados para um salto no infinito, pela inspiração assumida de Kubrick e de Beethoven. A imagem cede ao turbilhão de emoções, desvanece no branco e perde-se na confluência de sons e de luzes estroboscópicas. A nossa consciência eleva-se, então, ao éter da arte. O tempo destrói tudo, inevitavelmente, irreversivelmente. Não valerá a pena, ainda assim, este nosso intervalo no curso eterno da transcendência?
O FIM E O COMEÇO
Le temps détruit tout.
Chocante e atordoante, incómodo e inconveniente, maculado e doentio, desiludido, sem esperança. Irreversível é assim: uma experiência ultra-sensorial que nos prende por inteiro e que nos transporta, sob uma cadência hipnótica, do mais inquietante dos pesadelos ao absoluto apaziguamento existencial.
Do fim para o princípio, a desconstrução da narrativa e das personagens não só surpreende como se revela um autêntico processo de reconstrução, por meio do qual nos apercebemos da forma implacável e aleatória de como o caos escreve os nossos destinos. Há duas sequências absolutamente brilhantes: a descida infernal, de atmosfera nevrótica, repugnante e violenta, ao antro da perversão homossexual (note-se o requinte intencional: a combinação perfeita de planos rodopiantes com a repetição obsessiva de sons baixos e graves, de frequência de 28 Hz, de modo a provocar o sentimento de náusea e tontura no próprio espectador) e a dolorosa, brutal e revoltante violação no túnel vermelho (plano estático, ângulo de irrepreensível enquadramento).
Inspiradamente iluminado, fotografado e montado e genialmente realizado (Gaspar Noé transforma uma simples história de vingança numa original, revigorante e marcante obra de arte, desconfortavelmente sublime), Irreversível conta ainda com fortíssimos desempenhos, imbuídos no poder soberano da narrativa: Vicent Cassel, Monica Bellucci e Albert Dupontel. O trio protagoniza, frontalmente e sem tabus, esta tão interessante quão curiosa abordagem sobre o amor e a sexualidade.
No final, perturbados pela crueldade do futuro e pela viagem que assumímos, somos levados para um salto no infinito, pela inspiração assumida de Kubrick e de Beethoven. A imagem cede ao turbilhão de emoções, desvanece no branco e perde-se na confluência de sons e de luzes estroboscópicas. A nossa consciência eleva-se, então, ao éter da arte. O tempo destrói tudo, inevitavelmente, irreversivelmente. Não valerá a pena, ainda assim, este nosso intervalo no curso eterno da transcendência?
Não considero "Irreversível" um filme excelente, mas o recurso utilizado para contar a forte história, de trás para frente, resulta em uma fita de grande impacto.
ResponderEliminarEstou também para ver, muito em breve! E sei que é uma experiência única! :)
ResponderEliminarAmigo
ResponderEliminarO que irei postar aqui é apenas o enredo do dvd argentino do filme ... pera ai ...
“Irreversivel.
Porque o tempo destroi tudo.
Porque alguns atos são irreparáveis.
Porque o homem é um animal.
Porque o desejo de vingança é um impulso natural.
Porque a maioria dos crimes ficam sem castigo.
Porque a perda do(a) amado(a) destroi como um raio.
Porque o amor é a origem da vida.
Porque toda a história que se escreve com esperma e sangue.
Porque as premonições não modificam o curso dos acontecimentos.
Porque o tempo nos revela … o melhor e o pior.”
Abraços amigo
Quando assisti a esse filme, levei um choque: de maneira interamente crua, as cenas são mostradas, atirando o espectador em meio à violência não-idealizada. A câmera que gira no começo nos remete à mente do personagem, bastante confusa; depois, compeltamente estática, a câmera nos apresenta uma das cenas mais brutais do cinema. O filme também é tem uma excelente narrativa: conhecemos a conclusão antes de ver o desenvolvimento, logo primeiro vemos as consequências para depois conhecer as causas.
ResponderEliminarComo você ainda não escreveu sobre o filme, não posso saber em quais pontos concordarei com e em quais discordareid e você, mas assim que estiver pronta, volto aqui apra opinar (de novo).
Irreversível podia ser chamado também de ESTOMAGO.
ResponderEliminarMuito estomago, além de um aparelho de dvd e uma televisão é o que precisa pra assistir esse filme espetacular!
UAU. Ainda bem então que o viste!!! Depois falamos ;)
ResponderEliminarALEX GONÇALVES: De acordo quanto ao impacto, em perfeito desacordo quanto ao valor desta obra. Genial.
ResponderEliminarTIAGO RAMOS: Sabes? Mas já viste o filme antes? ;) É, indiscutivelmente, uma experiência única.
DR JOHNNY STRANGELOVE: E o breve poema diz tudo ;)
LUÍS: A crítica está aí, conto então com seu comentário. Concordo para já com você. IRREVERSÍVEL conta com duas das melhores cenas da década. E o processo de mostrar as causas depois das consequências revela-se um processo por demais interessante.
LAÍS: Bem-vindo ao CINEROAD! Muito estômago, de facto! Estou totalmente de acordo com você.
FLÁVIO GONÇALVES: Há muito tempo que não recebia uma recomendação com a qual vibrasse tanto. E esta foi feita por ti. Graaande descoberta ;)
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Roberto, posso dizer que eu concordo com tudo o que disse?
ResponderEliminarEu simplesmente não tenho argumentos a acrescentar ao que você escreveu, pois você resumiu com muita precisão aquilo que o filme representa: uma obra de arte.
LUIS ADRIANO: Muito obrigado! Eu esforcei-me para isso ;) Fico contente que tenha gostado. Estamos então de acordo em relação a este filmaço genial.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Parabéns pelo texto, já agora :p
ResponderEliminarFLÁVIO GONÇALVES: Muito obrigado ;)
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Muito, muito difícil de assistir. Reconheço que é um grande filme mas... não consigo recomenda-lo a a ninguém!
ResponderEliminarPEDRO PEREIRA: Porquê? É uma obra-prima! Vejam-no, é pura genialidade! Grande, grande, grande filme. É difícil? Dá um murro no estômago que se estendem por muuuuito tempo? Sim, sim. Mas é ufff... qualquer coisa de extraordinário.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Esse filme é uma loucura, genial!
ResponderEliminarApenas concordo contigo, acho-o excelente!
ALAN RASPANTE: Nesse caso estamos em perfeito acordo ;)
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Gostei muito do texto.
ResponderEliminar"Chocante e atordoante, incómodo e inconveniente, maculado e doentio, desiludido, sem esperança."
Precisamente. Eu acho-o o mesmo aflitivo. É que somos confrontados com uma série de horrores e depois andamos numa irónica caminhada para trás, a ver a vida das personagens tornar-se melhor, sendo que sabemos que o percurso é o inverso, e que a sua vida só vai ficar é destruída. E nada podemos fazer. E o final é um final feliz. Só porque o início de tudo é feliz. Mas o início do filme, esse é o verdadeiro final e é devastador. E nós nada podemos fazer, porque já passou.