★★★★★
Título Original: City LightsRealização: Charles Chaplin
Principais Actores: Charles Chaplin, Virginia Cherrill, Florence Lee, Harry Myers, Al Ernest Garcia, Hank Mann
Crítica:
OU UMA PÉROLA DE TERNURA E ETERNIDADE
Crítica:
Can you see now?
Yes, I can see now.
A COMEDY ROMANCE IN PANTOMIMEYes, I can see now.
OU UMA PÉROLA DE TERNURA E ETERNIDADE
Chapéu de côco, ao alto. Bigodinho discreto, esboçado sobre um sorriso de criança. Bengala giratória, jaqueta engravatada, sapatos exageradamente grandes... De tão icónica descrição bastaria que lhe vislumbrássemos a silhueta para que - imediatamente - identificássemos o maior palhaço de todos os tempos: Charlot, the tramp, a lendária personagem de Charles Chaplin, muda por natureza mas com a linguagem corporal mais extraordinária alguma vez vista em cinema: uma prodigiosa mímica de corpo e alma.
O que acontece, pois, quando... o palhaço encontra o amor? A resposta, ainda que revestida com a maior simplicidade, inscreve em si substância e contornos inequivocamente geniais... Luzes da Cidade é a história de um meio urbano em evolução e expansão, que se movimenta a alta velocidade e em segundo plano. No entanto, o foco do espectáculo está direccionado para o vagabundo, aquele que encontra uma deslumbrante florista, cega por infortúnio, e se apaixona perdidamente. Um mal-entendido faz com que, até ao final, seja tomado por um homem rico, capaz de a ajudar a superar as dificuldades do mal fadado destino. No mesmo dia, Charlot evita que um excêntrico milionário se suicide nos meandros da embrieguez. Ficam logo amigos, ele e o bêbedo, mas a nova amizade custar-lhe-ia a prisão, mais tarde. No entanto e apesar de tudo, o caricato protagonista nunca desfaz os seus equívocos. Primeiro, fazendo-se mais do que é, angaria com esforço o dinheiro suficiente para a renda e cirurgia da mulher-anjo. Depois, em farrapos e vergonha, procura-a sem saber, na verdade de uma rua cruel. Os episódios sucedem-se, plenos de um humor puro e inocente, longe de qualquer carácter obsceno: cenas como a da abertura (na qual o vagabundo atrapalha a inauguração da estátua), a da luta de boxe (de extraordinária encenação), ou a do prato de esparguete e serpentina - entre tantas, tantas outras - são divertidíssimas, completamente inesquecíveis. E os instantes da anagnorisis, em que a florista reconhece o miserável Charlot são, lágrimas aparte, de uma beleza tão... indescritível. Tão apaixonante. Luzes da Cidade concentra em si, por isso, toda uma série de peripécias hilariantes e comoventes, perfeitamente equilibradas entre a comédia e o pathos.
Apesar de ser ter sido produzido numa altura em que vingavam já os filmes sonoros, Chaplin insistiu no estilo único e fascinante do seu cinema mudo, que o público - até hoje - não parou de aplaudir. Chaplin chega mesmo a parodiar o cinema sonoro nesta incontornável obra: tanto com os sons grosseiros e indecifráveis que aparentam sair da boca daquela mulher da palestra como com assobios de um apito que, por mais que se tente, não se quer expulso da garganta do cómico. Destaque-se, por fim, a magnífica composição musical, também ela a cargo do versátil e completo artista, que emana, com assombrosa estranheza, um perfume nostálgico que vem e fica... e fica...
A fabulosa criação de Charles Chaplin não corresponde, evidentemente, à figura mais convencional e tradicional do palhaço. O certo é que Chaplin foi beber inspiração ao palhaço e que, pelo seu genial legado performativo, marcou e inspirou, de uma forma ou de outra, as talentosas gerações de palhaços que depois dele viriam a animar plateias inteiras. Aqui, em contra-cena com o aclamado talento de Chaplin, temos uma tão natural quanto radiosa Virginia Cherrill. E que bem que jogam os dois, um com o outro.
Enfim... um filme belíssimo. Permitam-me o trocadilho, mas Luzes da Cidade não é senão um mimo de filme. Absolutamente magistral. E essencial.
O que acontece, pois, quando... o palhaço encontra o amor? A resposta, ainda que revestida com a maior simplicidade, inscreve em si substância e contornos inequivocamente geniais... Luzes da Cidade é a história de um meio urbano em evolução e expansão, que se movimenta a alta velocidade e em segundo plano. No entanto, o foco do espectáculo está direccionado para o vagabundo, aquele que encontra uma deslumbrante florista, cega por infortúnio, e se apaixona perdidamente. Um mal-entendido faz com que, até ao final, seja tomado por um homem rico, capaz de a ajudar a superar as dificuldades do mal fadado destino. No mesmo dia, Charlot evita que um excêntrico milionário se suicide nos meandros da embrieguez. Ficam logo amigos, ele e o bêbedo, mas a nova amizade custar-lhe-ia a prisão, mais tarde. No entanto e apesar de tudo, o caricato protagonista nunca desfaz os seus equívocos. Primeiro, fazendo-se mais do que é, angaria com esforço o dinheiro suficiente para a renda e cirurgia da mulher-anjo. Depois, em farrapos e vergonha, procura-a sem saber, na verdade de uma rua cruel. Os episódios sucedem-se, plenos de um humor puro e inocente, longe de qualquer carácter obsceno: cenas como a da abertura (na qual o vagabundo atrapalha a inauguração da estátua), a da luta de boxe (de extraordinária encenação), ou a do prato de esparguete e serpentina - entre tantas, tantas outras - são divertidíssimas, completamente inesquecíveis. E os instantes da anagnorisis, em que a florista reconhece o miserável Charlot são, lágrimas aparte, de uma beleza tão... indescritível. Tão apaixonante. Luzes da Cidade concentra em si, por isso, toda uma série de peripécias hilariantes e comoventes, perfeitamente equilibradas entre a comédia e o pathos.
Apesar de ser ter sido produzido numa altura em que vingavam já os filmes sonoros, Chaplin insistiu no estilo único e fascinante do seu cinema mudo, que o público - até hoje - não parou de aplaudir. Chaplin chega mesmo a parodiar o cinema sonoro nesta incontornável obra: tanto com os sons grosseiros e indecifráveis que aparentam sair da boca daquela mulher da palestra como com assobios de um apito que, por mais que se tente, não se quer expulso da garganta do cómico. Destaque-se, por fim, a magnífica composição musical, também ela a cargo do versátil e completo artista, que emana, com assombrosa estranheza, um perfume nostálgico que vem e fica... e fica...
A fabulosa criação de Charles Chaplin não corresponde, evidentemente, à figura mais convencional e tradicional do palhaço. O certo é que Chaplin foi beber inspiração ao palhaço e que, pelo seu genial legado performativo, marcou e inspirou, de uma forma ou de outra, as talentosas gerações de palhaços que depois dele viriam a animar plateias inteiras. Aqui, em contra-cena com o aclamado talento de Chaplin, temos uma tão natural quanto radiosa Virginia Cherrill. E que bem que jogam os dois, um com o outro.
Enfim... um filme belíssimo. Permitam-me o trocadilho, mas Luzes da Cidade não é senão um mimo de filme. Absolutamente magistral. E essencial.
Não espero menos que excelente!
ResponderEliminarUm filme belíssimo! Para mim, o melhor de Charlie Chaplin.
ResponderEliminarAbraço
Um dos filmes que mais me marcou! Por ser uma história tão ternurenta. Pela força com que Chaplin transmitia emoções apenas com imagens, sem som. Apaixonante.
ResponderEliminarObra-prima, mas para mim o melhor filme do Chaplin é o Modern Times.
ResponderEliminarEscrevi há pouco tempo sobre este clássico no blog.
ResponderEliminarUma das grandes obras de Chaplin.
Abraço
Penso que é neste que tem a maravilhosa cena de boce filmada sem cortes! Belíssimo!
ResponderEliminarAbraço
Cinema as my World
Do Chaplin só vi os Tempos Modernos. Algo curiosa neste momento quanto a este...
ResponderEliminarFLÁVIO GONÇALVES: Ups... ;D Um filme muito bom, sem dúvida!
ResponderEliminarALEX SUPERTRAMP: Ainda me falta ver muito do espólio dele. E de que maneira! Ainda não poderei, por isso, dizer se é ou não o melhor dele, mas lá que é belíssimo e magistral, isso é! Sem sombra de dúvida.
RICARDO VIEIRA: Sim, bastante ternurenta mesmo. Apaixonante, indubitavelmente.
ÁLVARO MARTINS: Não sei se será... talvez, porventura. Um clássico absoluto e digno das maiores referências. Ainda terei que ver TEMPOS MODERNOS.
HUGO: Ai sim? Passarei por lá então. Filme fabuloso, sim!
NEKAS: Por acaso não me recordo se tem algum corte ou não, mas será provavelmente.
CLÁUDIA GAMEIRO: Pois, esse será o que se segue na filmografia dele, aqui para os meus lados ;)
JOÃO GONÇALVES: Provavelmente, provavelmente...
Obrigado a todos pelos comentários!
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Um filme muito interessante de facto, e um mimo é verdade. O universo Chaplin é tão envolvente e tão único que é impossível não nos deixarmos levar e gostar. Contudo acho que prefiro outros seus filmes que já vi, menos romanceados, que me parecem mais conseguidos. Este é, em detrimento de outros, mais sugestivo, mais metafórico, o que induz a uma capacidade menor de entretenimento, pelo menos isso aconteceu comigo.
ResponderEliminarPor exemplo, dos que vi gosto bem mais do The Gold Rush, e ainda me falta o tão falado por aqui Modern Times.
Destacaria neste City Lights as interpretações dos protagonistas e o argumento, algo incisivo e irónico, tal como dizes, para com o cinema sonoro.
abraço
Desta vez faço minhas as tuas palavras, Roberto: é sacrilégio puro não atribuir a "City Lights" a pontuação máxima.
ResponderEliminarNum blogue em que "por dá cá aquela palha" se conotam filmes medianos com "obras-primas", quando elas realmente têm direito por mérito próprio a essa distinção, não são reconhecidas como tal.
Algo anda mal no reino da Dinamarca...
O Rato Cinéfilo
JORGE: Ainda assim, é um filme de que gosto imenso. Conto para o ano trazer mais obras do Chaplin para este espaço.
ResponderEliminarRATO: Creio que não entendi o teu comentário. Podias ser mais claro, por favor? ;)
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Acho que fui bastante claro, mas repito: "City Lights" é uma obra-prima absoluta do cinema. E no entanto não lhe atribuis essa distinção ao considerá-lo apenas de "muito bom".
ResponderEliminarPor outro lado consideras "excelentes" produtos menores como "Matrix", "Pocahontas", "O último Imperador", "O Piano", "Donnie Darko", "Cidade de Deus", "Moulin Rouge", enfim... a lista é longa...
Era apenas a esta tremenda injustiça que eu me queria referir, mais nada.
O Rato Cinéfilo
RATO: Nesse caso, o teu primeiro comentário revela-se não só arrogante como ofensivo. Nem todos poderão partilhar sempre as minhas opiniões como eu não partilharei sempre, certamente, as opiniões dos outros. O que considero arrogante e ofensivo não é a discordância - a essa temos todos direito - é o tom como te diriges à minha pessoa e ao meu blogue. Comentários como "um blogue em que "por dá cá aquela palha" se conotam filmes medianos com "obras-primas"" e "algo anda mal no reino da Dinamarca..." são claras interpelações à ofensa e à difamação e nunca argumentos válidos para a discussão do que aqui se trata: cinema. A natureza de tais afirmações não prestigia o debate e tão-pouco o respeito.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Roberto:
ResponderEliminarSe leres com atenção os meus comentários verás que não encontras neles qualquer arrogância e muito menos intencionalidade ofensiva ou difamatória (sic). Trata-se apenas de um desabafo, tout court, sem querer melindrar quem quer que seja.
Mas se quiseres interpretar de outro modo é lá contigo.
O Rato Cinéfilo
RATO: De forma alguma ;) Prefiro pensar que conceber um espaço diário para muitos dos meus leitores me habilita a levar, de quando em vez, com os desabafos de cada um.
ResponderEliminarQuanto ao filme, considero-o um feito verdadeiramente magistral. Mas não reconheci nele o génio que o catapultaria para uma classificação superior. É a minha posição, não quer dizer que no futuro não venha a mudar de opinião, mas de momento são as considerações que considero justas, dada a minha apreciação.
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Atenção que o tema musical preponderante de "City Lights", intitulado "La Violetera" não é da autoria de Chaplin mas sim de José Padilla, como tive ocasião de referir quando me debrucei sobre este genial filme. Aqui
ResponderEliminarO Rato Cinéfilo
RATO: E que belo e nostálgico tema, esse.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Sim, belissimo, sem qualquer dúvida. E usado mais tarde também naquele pungente melodrama da Sarita Montiel, intitulado precisamente "La Violetera" - um filme kitsch por natureza, mas que felizmente nos faz lembrar que nem só de "obras-primas" se alimenta o cinéfilo.
ResponderEliminarO Rato Cinéfilo