domingo, 14 de novembro de 2010

O WRESTLER (2008)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
★★★★★
Título Original: The Wrestler
Realização
: Darren Aronofsky
Principais Actores: Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood, Ernest Miller, Gregg Bello, Todd Barry

Crítica:

A PAIXÃO DE RANDY

Em O Wrestler, Aronofsky desce do intocável éter da genialidade e filma com excepcional mestria as feridas da alma de um homem solitário, que viu no Wrestling o escape ideal para a sua dificuldade extrema em manter relações. The world don't give a shit about me. É um registo que se confunde com as técnicas do documentário, longe das experiências alucinantes de um A Vida Não É Um Sonho ou de um The Fountain - O Último Capítulo. Se, por um lado, provém de uma natureza menos ambiciosa, jamais se poderá dizer que constitui, de todo, uma experiência decepcionante. Revela, isso sim, outra maturidade e, porventura, a procura de experiências menos arriscadas, dentro de moldes mais convencionais e realistas.

É triste, profundamente triste, sair de um hospital, depois de ter estado às portas da morte, e não ter ninguém. É esse o desespero de Randy. Apesar de habituado aos murros, ao sangue e a toda a brutalidade do espectáculo, são as mágoas e os erros do passado que lhe corroem o espírito e o angustiam com pesar. Impõem-se as questões: haverá possibilidade para reatar a relação com a filha? Para encontrar o amor? Para a tão esperada redenção, pondo fim à agonia e ao sufoco da solidão? Ou haverá caminhos que, a partir de certo ponto, são de todo irreversíveis?

When you live hard and you play hard and burn the candle at both ends... in this life, you can lose everything you love, everything that loves you. Alot of people told me that I'd never wrestle again, they said "he's washed up", "he's finished" , "he's a loser", "he's all through". You know what? The only ones gonna tell me when I'm through doing my thing, is you people here. You people here... you people here. You're my family.

O Wrestler é, sobretudo, um filme muito bem filmado. Aronofsky segue as suas personagens e nós, espectadores, assumimos mais do que nunca o seu ponto de vista. A montagem é não só brilhante como um dos mais prodigiosos trabalhos de toda a obra; responsabilidade de Andrew Weisblum. Mas claro, aquilo que mais nos arrebata é a visceral interpretação de Mickey Rourke. Grande, grande performance. Tanto física como emocionalmente. Marisa Tomei, mas especialmente Evan Rachel Wood completam o elenco de absoluto e inquestionável talento. É magistral, a direcção de actores. Depois, há todo um conjunto de idealizações que resulta na perfeição: as cenas de cariz mais violento e de difícil digestão, as analepses e os jogos temporais que brincam com a evolução linear da narrativa ou a entrada no supermercado com aquela notável montagem de som, estabelecendo um paralelo imediato com os tempos áureos dos ringues. Enfim, articulações estéticas que se demarcam como alguns dos mais saborosos atributos da obra.

Apesar de não contar com o Aronofsky que prefiro e que reconheço como um dos mais geniais realizadores da actualidade, estamos perante um filme irrepreensivelmente bem feito. De um realismo incrível.

22 comentários:

  1. Não gosto deste. Pura e simplesmente não me agradou. Reconheço a boa interpretação (não está ao nível do minimamente desejável?), mas a história não é, sem dúvida, das melhores. Bem, não sei, desiludiu-me. Porque o realizador é um mestre, sabemo-lo. É mesmo daqueles casos que falta a argumentação para defender uma posição contrária à onda de boas críticas que andam em redor deste filme.

    Abraço

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  2. FLÁVIO GONÇALVES: O realizador não é só um mestre, é um génio. E o que fez aqui foi claramente um trabalho de mestre. Compreendo que te tenha desiludido, talvez esperasses mais de Aronofsky, não? Talvez não me tenha desiludido por não estar com nenhumas expectativas. A história não é nada que já não tivessemos visto, reconheço, mas gostei do tratamento que teve, apesar de tudo. Não é o meu tipo de filmes preferidos, mas reconheço-lhe inegáveis qualidades.

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

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  3. Não me comove. O Wrestler é um filme inspirado na sua realização, menos agraciado no seu argumento, que vive das interpretações e do realismo das câmaras. Mas nada mais. Altamente sobrevalorizado, mas mesmo assim dou-lhe 3,5*

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  4. Dirigido com paixão, escrito com sentimento e atuado com muita dedicação. Um primor de filme.

    [*****]

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  5. Não achei, de todo, um grande filme.
    É uma história banal, que se perde algures entre o semi-biográfico e quase road-movie.
    E Rourke só é grande quando está com Rachel-Wood.
    E aquele final...

    Abraço

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  6. Ora bem, é um bom filme, muito bom filme. Na construcção narrativa, das personagens, nas interpretações, na realização de Aronofsky que é de mestre. É um filme que trata da solidão, trata da vida, das escolhas de um homem. Melancólico. É um filme menor de Aronofsky, não chega à excelência de um Requiem for a Dream ou do PI mas mesmo assim é um grande filme. Prova de que também há bom mainstream, pouco é verdade, mas ainda há.

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  7. TIAGO RAMOS: A mim comoveu-me bastante. É muito tocante, o filme. Poderá não ser uma obra-prima, mas lá que é um filme muito bom, é. E não consigo dizer o contrário. Estamos, pois, em desacordo.

    WALLY: Subscrevo-o inteiramente ;) Grande filme.

    JACKIE BROWN: Não estamos de acordo, então. Aquele final deixa-nos em suspenso... Pessoalmente, adorei.

    ÁLVARO MARTINS: Com excepção da tua última frase, com a qual não me identifico inteiramente, subscrevo-te palavra-a-palavra. A mim, o filme deixou-me K.O.
    Só ainda não vi o PI e quero colmatar essa falha assim que tiver oportunidade. Aronofsky é para mim um dos mais estimulantes realizadores em actividade.

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

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  8. Sou um bocado mais radical do que o Flávio. O Wrestler só podia ter sido uma private joke do realizador: Requiem For a Dream, The Fountain, e depois esta verdadeira anedota? Um drama de puxar lágrima aos académicos, uma intepretação que além de ladrar, pouco expressa os sentimentos da personagem (não falo só do rafeiro Rourke, mas desde quando é que Marisa Tomei merece uma nomeação a Óscar? Pelo seu papel de telenovela?) e uma realização, que em tentativa de grunge camera, deixa-se pela filmagem desmazelada de qualquer reconhecimento estético. Credo, este O Wrestler não poderia ser o exemplo mais intenso da queda de um cineasta. Principalmente quando já realizou, pelo menos que eu tenha visto, duas grandes obras-primas!

    Abraço

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  9. JACKSON: Não concordo. Percebo que te tenhas desiludido, afinal O WRESTLER tem uma natureza radicalmente diferente de um A VIDA NÃO É UM SONHO ou de um THE FOUNTAIN. A forma agressiva como o tratas talvez denote, sobre todas as coisas, alguma desilusão em relação ao filme, que não consegues conter. Digo isto porque usualmente não é esse o tom das tuas intervenções.
    De facto, chamá-lo de «anedota» penso que é um exagero dos grandes. É um drama tocante, magistralmente filmado e interpretado. "Queda" de Aronofsky? Penso que estás claramente num registo hiperbólico. Talvez se o visualizasses uma 2ª vez, te apercebesses da sua serenidade e qualidade. Em todo o caso, estamos em radical desacordo.

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

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  10. Não sei o que esperar deste filme!
    Tenho as expectativas razoavelmente acima da média, presumindo existir uma média mas há sempre opiniões que me puxam para trás, pode ser que veja e depois digo-te o que achar...

    Abraço
    http://nekascw.blogspot.com/

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  11. NEKAS: Pois. É um grande filme, mas a ideia que possas ter de Aronofsky não tem nada ou muito pouco a ver com a autêntica natureza deste filme tão singular. O ideal seria não ter expectativas, mas isso é praticamente impossível perante o filme deste senhor.
    Enfim, assite então. Depois dá-nos o teu testemunho ;)

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

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  12. Eu gostei bastante dessa obra. A princípio, pensei que fosse um daqueles filmes de drama que a Academia tanto adora (e honestamente eu também), mas ao final percebi que o filme trilha por uma subjetividade maior, em cenas menos explícitas, em diálogos mais densos.

    Todo o filme me agradou - seja Rourke, seja Tomei, seja qualquer coadjuvante. Roteiro, fotografia, trilha sonora... tudo em harmonia. Acredito que nesse filme seja dita uma frase simples, porém de conteúdo extremamente forte. Marisa Tomei diz com os olhos marejados ao personagem de Mickey Rourke: "Eu estou aqui. Desta vez, eu estou realmente aqui". Achei lindo isso...

    Certamente é um filme que eu recomendo!

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  13. LUES: É, de facto, um filme soberbo. Denso e magistral, num registo bem diferente para Aronofsky.

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    Roberto Simões
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  14. Eu gostei muito, principalmente do Rourke que há tempos vinha merecendo uma segunda chance de mostrar seu talento (ofuscado por sua escolha catastrófica pelo boxe). E já estou no aguardo do novo do Aronofsky que, pelo que vi no trailer, promete!

    Cultura na web:
    http://culturaexmachina.blogspot.com

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  15. Bom talvez o que gosto mais de Aronofsky à data. O registo é diferente, mais realista, pesado e dramático, e será isso o que mais me agrada. Apesar de tudo, não posso dizer que gostei muito, aliás o que comprova que não alinho com o realizador. Tenho mesmo de rever The Fountain e Requiem for a Dream, porque sinceramente já nem me lembro bem.

    De qualquer modo a fotografia é boa, as interpretações são muito bem conseguidas, e aquela banda sonora...Bruce Springsteen é magnífico com o seu The Wrestler. Ainda que não tenha gostado particularmente do final em aberto.

    abraço

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  16. PSEUDO-AUTOR: É um filme magistral, sim! Com uma grande, grande interpretação de Rourke. Venham mais filmes de Aronofsky, para mim um dos melhores cineastas contemporâneos.

    JORGE: Encara a minha observação com sentido de humor, por favor ;D, mas que dizer... já nem te lembras bem de THE FOUNTAIN ou de REQUIEM FOR A DREAM? Como é que isso é possível?? ;D

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    Roberto Simões
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  17. Ah o sentido de humor é sempre bem vindo, estás à vontade! E é possível é, porque foi há tanto tempo que os vi. E na altura, a minha atenção nos filmes era outra, mais descontraída, e desprovida do que sei hoje. Sobretudo The Fountain que vi logo quando saiu, portanto há quatro anos. Desde então tanta coisa mudou. E se não me falha a memória as circunstâncias também não foram as melhores. Pelos vistos foi uma pena. Já o Requiem lembro-me melhor, mas também acho que precisa de uma revisão para reconhecer qualidades que certamente não detectei e, por isso, não apreciei.

    abraço

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  18. JORGE: Pronto, sempre me tranquilizaste um pouco ;) É que não acredito que a genialidade de ambas as obras te passe indiferente. Certamente redescobrirás obras extraordinárias.

    Cumps.
    Roberto Simões
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  19. Adorei o fgilme. É uma obra tocante e realista e Rourke está perfeito na personagem. E o final é magistral. Reconheço que é o mais fraco do realizador mas é um grande filme, sem dúvida...

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  20. THE MOVIE MAN: Subscrevo inteiramente. O meu favorito dele é o THE FOUNTAIN (só ainda não vi o PI).

    Cumps.
    Roberto Simões
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  21. Eu só gostei de Mickey Rourke em Sin City. Aquele sorrisinho no canto da boca me parece fake.

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