★★★★★
Título Original: The FallRealização: Tarsem Singh
Principais Actores: Lee Pace, Catinca Untaru, Justine Waddell, Robin Smith, Kim Uylenbroek, Aiden Lithgow, Sean Gilder, Ronald France, Andrew Roussouw, Michael Huff, Marcus Wesley, Ketut Rina
Crítica:
A QUEDA
Crítica:
A QUEDA
Why are you making everyone die?
Because... everything dies.
A perfeição existe. Visualmente espectacular e delírio orgíaco de cores e sensações, Um Sonho Encantado é a obra-prima perfeita. E a perfeição está lá, no todo e em cada uma das partes, em cada frame: em cada palavra, em cada som e em cada imagem. Os planos são ousados, meticulosos, de uma beleza deslumbrante e invulgar, assombrosa e sedutora. A encenação é detalhada e polida. Um Sonho Encantado brilha em toda a sua magnificência, fascinante, ao ponto de a perfeição parecer a coisa mais simples de todas. Não há onde apontar o dedo; é irrepreensível. Tarsem é um génio, um génio maior, pois a sua arte é feita não só pelo seu profundo sentido estético e criativo como pelo maior agente de todos: o tempo. Um Sonho Encantado é mais do que um marco na história do cinema. É um marco na história da arte. Desde que há Homem. É Dalí em movimento; a influência é logo declarada pelo poster, Mae West. É um dos melhores filmes de sempre, no mais imperioso sentido da expressão, a constar obrigatoriamente nos tops mundiais dos melhores filmes de todos os tempos. Isto é a minha convicta profecia; perante uma obra destas ou nos rendemos ou...
O argumento condensa em si e na mistificada simbologia da imagem toda a História da Humanidade. Mascara-se de inocência, mas revela-se nos meandros, como acontece em todas as grandes obras. Na inocência encontramos o prazer único de contar uma história, o deleite infantil de a ouvirmos e de a imaginarmos com base na nossa memória e na nossa experiência. Nos meandros, fantásticos e profundamente poéticos, encontramos a verdade sobre nós próprios. Pois Um Sonho Encantado é, também, um filme alegórico. Muitas são as cenas-chave que abrem para outros campos de significação. Eis, em vislumbres oníricos, a mais bela viagem pelo mundo e pelo tempo. Eis, sublime, a Odisseia do Homem, a Evolução do Homem, a Evolução da Sua Sociedade, no caminho para a derradeira Queda, a que estamos todos sujeitos: a Morte. É a ordem natural das coisas (...) Todas as coisas têm que morrer, diz Roy, quando Darwin e Wallace falecem.
São as ideias de Darwin que libertam os homens do isolamento da ilha. Que metáfora encantadora. Otta Benga não é senão a sinédoque de toda a escravatura e símbolo da sua abolição e permanente luta pela liberdade. Mystic não é senão sinédoque das civilizações indígenas destruídas pelos descobridores (arda a árvore como símbolo dessa destruição, à chegada à nova terra) ou mapa que os aventurará para o Novo Mundo. O explosive expert, sinédoque da guerra. O governador Odious não terá esse nome por acaso. Nem por acaso os seus guardas ladrarão que nem cães e morrerão que nem bestas. Heróis e antagonistas são as sinédoques dos mais variados sentimentos humanos e seres humanos no tempo. É nesta leitura escondida e difícil que Um Sonho Encantado revela a sua essência genuína e perfumada.
Na cinematografia de Colin Watkinson é impossível encontrar um defeito. Seja no deserto das dunas-laranja, na cidade azul, nas infindáveis paisagens ou na exuberância arquitectónica que ornamenta o filme, a fotografia é de uma excelência que julgava inalcançável. Um autêntico oásis de pureza. O guarda-roupa, os cenários ou a decoração estão no mesmo patamar: o da sublimidade. A montagem é magnífica e a banda sonora o coração impulsionador de toda a emoção, tanto nas etéreas melodias de Krishna Levy como nas sonantes e omnipotentes composições de Beethoven. A pequena Catinca Untaru, com ou sem dentes, é das belezas maiores da obra, tão bem dirigida que foi pelo realizador. Lidera, com olhos de anjo, um elenco todo ele formidável. Lee Pace, talentoso, dá corpo e alma ao eterno duplo que conseguiu, desta vez por fim, ser protagonista. E a imaginativa viagem acaba numa das maiores homenagens ao cinema: o cinema como representação e como espelho de si próprio. Nos últimos instantes, a voz doce de Alexandria personifica o cinema e dirige-se, de entre múltiplas possibilidades, ao espectador: Muito, muito obrigada.
O argumento condensa em si e na mistificada simbologia da imagem toda a História da Humanidade. Mascara-se de inocência, mas revela-se nos meandros, como acontece em todas as grandes obras. Na inocência encontramos o prazer único de contar uma história, o deleite infantil de a ouvirmos e de a imaginarmos com base na nossa memória e na nossa experiência. Nos meandros, fantásticos e profundamente poéticos, encontramos a verdade sobre nós próprios. Pois Um Sonho Encantado é, também, um filme alegórico. Muitas são as cenas-chave que abrem para outros campos de significação. Eis, em vislumbres oníricos, a mais bela viagem pelo mundo e pelo tempo. Eis, sublime, a Odisseia do Homem, a Evolução do Homem, a Evolução da Sua Sociedade, no caminho para a derradeira Queda, a que estamos todos sujeitos: a Morte. É a ordem natural das coisas (...) Todas as coisas têm que morrer, diz Roy, quando Darwin e Wallace falecem.
São as ideias de Darwin que libertam os homens do isolamento da ilha. Que metáfora encantadora. Otta Benga não é senão a sinédoque de toda a escravatura e símbolo da sua abolição e permanente luta pela liberdade. Mystic não é senão sinédoque das civilizações indígenas destruídas pelos descobridores (arda a árvore como símbolo dessa destruição, à chegada à nova terra) ou mapa que os aventurará para o Novo Mundo. O explosive expert, sinédoque da guerra. O governador Odious não terá esse nome por acaso. Nem por acaso os seus guardas ladrarão que nem cães e morrerão que nem bestas. Heróis e antagonistas são as sinédoques dos mais variados sentimentos humanos e seres humanos no tempo. É nesta leitura escondida e difícil que Um Sonho Encantado revela a sua essência genuína e perfumada.
Na cinematografia de Colin Watkinson é impossível encontrar um defeito. Seja no deserto das dunas-laranja, na cidade azul, nas infindáveis paisagens ou na exuberância arquitectónica que ornamenta o filme, a fotografia é de uma excelência que julgava inalcançável. Um autêntico oásis de pureza. O guarda-roupa, os cenários ou a decoração estão no mesmo patamar: o da sublimidade. A montagem é magnífica e a banda sonora o coração impulsionador de toda a emoção, tanto nas etéreas melodias de Krishna Levy como nas sonantes e omnipotentes composições de Beethoven. A pequena Catinca Untaru, com ou sem dentes, é das belezas maiores da obra, tão bem dirigida que foi pelo realizador. Lidera, com olhos de anjo, um elenco todo ele formidável. Lee Pace, talentoso, dá corpo e alma ao eterno duplo que conseguiu, desta vez por fim, ser protagonista. E a imaginativa viagem acaba numa das maiores homenagens ao cinema: o cinema como representação e como espelho de si próprio. Nos últimos instantes, a voz doce de Alexandria personifica o cinema e dirige-se, de entre múltiplas possibilidades, ao espectador: Muito, muito obrigada.
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Nota especial para a infeliz escolha do título português.
Sempre ouvi falar neste filme como um grandioso exercício de estilo, mas nunca tive oportunidade de o ver.
ResponderEliminarEsse é daquele tipo de filme que quando assistimos, necessitamos escrever todas as sensaçoes possiveis e impossiveis. A cada vez que (re)vejo, me impressiono de como um tipo de filme nao foi aos cinemas de todo mundo.
ResponderEliminarOu mais facil, como muitos se preocupam em quebrar cabeças do publico e nao se preocupam e transmitir a arte de fazer cinema (repito CINEMA) novamente. Um dos melhores filmes da decada e sem duvida nenhuma, o melhor filme de 2008
Abraços e nao sumi ... apenas estou sem pc ...
TIAGO RAMOS: É muito mais do que um grandioso e meticuloso exercício de estilo. Por mim, profundamente recomendado.
ResponderEliminarJOHNNY STRANGELOVE: Tem razão, subscrevo-o inteiramente.
Sobre o filme UM SONHO ENCANTADO, recomendo a leitura das inúmeras críticas e artigos, de múltiplas autorias, que ao longo do ano o CINEROAD deu a conhecer. Para aceder, clique AQUI!
Cumps.
Filipe Assis
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Ainda não vi, mas está na "Lista".
ResponderEliminar"UM SONHO ENCANTADO": realmente que grande título, parece títuo de DVD de fundo de prateleira no Clube de Video, o um filme da Disney...
CINE31: Pois, UM SONHO ENCANTADO só está disponível em versão de aluguer. E não é em todos os clubes de vídeo. É um achado do tamanho do mundo.
ResponderEliminarCumps.
Filipe Assis
CINEROAD - A Estrada do Cinema
É bom filme, gostei, mas não é como tu o pintas! Para mim não passa do Bom, um bom filme, mais nada.
ResponderEliminarÁLVARO MARTINS: Cada um terá a sua opinião, não és ninguém para dizer que o filme não é como eu o pinto. Para mim é e ponto. Para ti não é e ponto. Não há porque estar a pôr em causa o que eu digo.
ResponderEliminarPara além disso, da última vez que falaste d'O SONHO ENCANTADO eras muito mais entusiástico. Relembro: «Não há muito para falar sobre esta obra, tem de ser obrigatoriamente vista pois não há palavras que a descrevam. Singh cria uma fábula mágica para nos falar de coragem, de amizade, de ilusão, de depressão, da morte, da ingenuidade infantil e de fantasia. (...) The Fall é um filme belo e fascinante que nos deixa a reflectir na nossa condição humana como resultado das acções realizados pelo Homem enquanto indivíduo numa sociedade recriminadora e sufocadora, ou seja, somos aquilo que fazemos de nós, somos nós que construímos o nosso destino e por muitas vicissitudes que nos sucedam, seja de que natureza for, é o Homem que tem (ou não) força psicológica para aguentar (ou não) e ultrapassar ou desistir dessas adversidades que o invadem» (consulta na íntegra, AQUI). Mas deverá ser confusão minha, não ligeira tendência para a esquizofrenia opinativa da tua parte.
Cumps.
Filipe Assis
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Naquilo que eu disse e tu citaste, onde está a palavra excelente ou obra-prima?
ResponderEliminarÁLVARO MARTINS: Em lado nenhum.
ResponderEliminarCumps.
Filipe Assis
CINEROAD – A Estrada do Cinema
Excelente! Fenomenal! Das melhores películas que já vi. Um hino ao cinema e ao que de melhor se pode fazer com ele, além de ser uma fonte de meditação para a condição humana.
ResponderEliminarUma das obras mais esquecidas dos últimos tempos.
ResponderEliminarO subentendido transcende nas palavras...
Visualmente espectacular...
Abraço
http://nekascw.blogspot.com/
MARTA: Também é das melhores obras que já vi na minha vida. "Um hino ao cinema" e "uma fonte de meditação para a condição humana". Nem mais. Estamos absolutamente de acordo.
ResponderEliminarNEKAS: Creio estarmos em concordância. Só não entendo quando dizes "o subentendido transcende nas palavras..." O que queres dizer ao certo?
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Uma obra-prima!! Pena que quase ninguém se lembre dela...
ResponderEliminarBelíssimo filme que merecia ter sido visto nos cinemas.
ResponderEliminarPelos comments, parece lindo e original. Mas nunca consegui vê-lo, nem foi lançado nos cinemas daqui tb.
ResponderEliminarAcabei de assistir a este filme, no TVCine. Vim procurar mais informação para o que vi. Calhei cair aqui. É tudo o que escreve e mais a nota final - O título em português é muito pobre e não traduz o que senti. Não foi só uma história encantada. Foi mais, muito mais.
ResponderEliminarFique bem.
CLÁUDIA GAMEIRO: Obra-prima, de facto. São mais aqueles que não a conhecem, infelizmente...
ResponderEliminarWALLY: Verdade! É uma experiência surreal! ;)
GUSTAVO H.R.: Mas têm o DVD aí no Brasil. O nome do filme é DUBLÊ DE ANJO, por essas bandas.
GUIDINHA PINTO: Aquilo que sentimos nem o traduz o título português, nem o brasileiro, nem tão-pouco o original! É uma obra-prima que nos transcende, tal é a sua beleza.
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
É de facto uma obra singular no panorama actual...transporta-nos para um mundo cheio de sensações, emoções, acções praticadas pelo homem - objecto aqui de inúmeras reflexões.
ResponderEliminarÀ parte disso, e sendo inegavelmente um bom filme, que gostei, mas que sinceramente me desiludiu...acho-o um pouco arrastado não sei, e não fosse ser do género fantasia não o pontuava tanto acima (:P aqui o meu gosto levou a melhor).
abraço
apesar de tudo, não desmerecendo o filme...sabem aquela sensação: gostei mais do trailer...?
ResponderEliminarJORGE: Não concordo que seja arrastado. Des resto, estamos de acordo ;)
ResponderEliminarCLÁUDIA GAMEIRO: Sei qual é a sensação, mas penso que nem por sombras se aplica aqui. Aliás, não a havias considerado uma obra-prima?
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Sim, claro, a opinião mantém-se. Mas vendo o trailer novamente ficou-me a sensação de que o filme parecia prometer ainda mais...
ResponderEliminarVi este filme há pouquissímo tempo. No MOV salvo erro. E é simplesmente maravilhoso. Figuei agradavelmente surpreendida com o trabalho deste realizador em "A Cela". Só foi pena a actriz principal ser a Jennifer Lopez mas isso são contas de outro rosário. E ele agora está por detrás de uma das novas versões da Branca de Neve, a que não tem a Kristen Stewart. Vou ver. Já viste as primeiras imagens? Uau
ResponderEliminarFILMPUFF: É sem dúvida um filme "maravilhoso", como dizes. Já vi as primeiras imagens, sim, têm muito bom aspecto como seria de esperar. Vamos aguardar pelo conteúdo.
ResponderEliminarRoberto Simões
» CINEROAD «