★★★★
Título Original: Gake no ue no PonyoRealização: Hayao Miyazaki
Filme de Animação
Crítica:
A MENINA DO MAR
A vida é misteriosa e maravilhosa - diz Lisa, a mãe de Sosuke - e assim é a animação de Hayao Miyazaki. Ponyo à Beira-Mar é um autêntico delírio visual - mais um, cheio de cores e magia, misturando com extraordinária imaginação e criatividade universos tão distintos como o real e o imaginário. Num tom mais infantil, o japonês revisita valores clássicos como a beleza, a pureza, a inocência, a bondade e o amor num filme absolutamente refrescante na sua filmografia.
A obra abre, ainda antes dos créditos iniciais, com uma sequência de slumbrante e quase inebriante nas profundezas do oceano. Depois, até ao final, somos envolvidos num mundo fabuloso e irresistível, imerso em mitologias e superstições, à deriva em sonhos, mas a salvo em humanidade. Não devemos julgar os outros pelo aspecto. A minha cena favorita é aquela em que o Sosuke e a mãe comunicam com o pai em alto mar, por meio da luz cintilante. É tão bonita, tão tocante... E é claro, outras tantas inesquecíveis como aquela em que a jovem se transforma em humana e corre as águas e os peixes, ou aqueloutra em que a Deusa do Mar aparece entre o luar e brilhos dourados, na surreal agitação das ondas.
A narrativa é linear e mais simples do que noutros títulos do autor, é certo, mas n ão é por isso que abandona, por completo, o carácter metafórico e ambíguo que é habitual. O filme conta com uma grande componente auto-biográfica (Sosuke representa, por exemplo, o filho do próprio realizador e a velha rezingona Toki a sua mãe), com alegorias e significados muito pessoais, e ainda com a crítica à poluição dos mares e à caça abusiva: por outras palavras, os excessos do Homem e as suas destrutivas consequências para a Natureza - Os seres humanos são nojentos! - tópico aliás recorrente, note-se a obra Princesa Mononoke. Implícita está ainda a capacidade de a Natureza, ela própria, se vingar pelas catástrofes e procurar, desse modo, o equilíbrio primordial.
Quando as cheias devastam a cidade portuária e Sosuke e Ponyo partem à proc ura da mãe do rapaz naquele barco enfeitiçado, há um confronto com a morte, atenuado pela poesia da animação. Aquela bolha no fundo do mar, que acolheu a gente do lar de idosos, não é senão uma metáfora do Paraíso. Quando, fugindo à maldição de Fujimoto, Sosuke cai nos braços da velhota da cadeira de rodas, dá-se o encontro simbólico entre o filho e a mãe de Miyazaki, entre o ser-se velho e ser-se criança: o estado priveligiado do próprio Miyazaki, capaz de abraçar a morte, na poesia do adeus, e de atingir, pela arte, a imortalidade.
Naquela bolha marítima, há milagres e magia e tudo é possível... É possivel transcender a morte, ultrapassar os desígnios naturais que uma intempérie daquelas causaria. É possível regressar à superfície, onde o amor triunfará. Na arte tudo é possível. Não há limites. E assim é o cinema de Miyazaki. Enquanto crianças, poderemos ficar-nos sempre pela simplicidade de uma primeira leitura. E, da mesma forma, perder-nos-emos na fantasia... e na infinitude dos sonhos.
Irrepreensível no desenho e na pintura e dotado ainda de uma magnífica e cristalina banda sonora (Joe Hisaishi), eis, pois, um filme totalmente delicioso.
A MENINA DO MAR
A vida é misteriosa e maravilhosa - diz Lisa, a mãe de Sosuke - e assim é a animação de Hayao Miyazaki. Ponyo à Beira-Mar é um autêntico delírio visual - mais um, cheio de cores e magia, misturando com extraordinária imaginação e criatividade universos tão distintos como o real e o imaginário. Num tom mais infantil, o japonês revisita valores clássicos como a beleza, a pureza, a inocência, a bondade e o amor num filme absolutamente refrescante na sua filmografia.
A obra abre, ainda antes dos créditos iniciais, com uma sequência de slumbrante e quase inebriante nas profundezas do oceano. Depois, até ao final, somos envolvidos num mundo fabuloso e irresistível, imerso em mitologias e superstições, à deriva em sonhos, mas a salvo em humanidade. Não devemos julgar os outros pelo aspecto. A minha cena favorita é aquela em que o Sosuke e a mãe comunicam com o pai em alto mar, por meio da luz cintilante. É tão bonita, tão tocante... E é claro, outras tantas inesquecíveis como aquela em que a jovem se transforma em humana e corre as águas e os peixes, ou aqueloutra em que a Deusa do Mar aparece entre o luar e brilhos dourados, na surreal agitação das ondas.
A narrativa é linear e mais simples do que noutros títulos do autor, é certo, mas n ão é por isso que abandona, por completo, o carácter metafórico e ambíguo que é habitual. O filme conta com uma grande componente auto-biográfica (Sosuke representa, por exemplo, o filho do próprio realizador e a velha rezingona Toki a sua mãe), com alegorias e significados muito pessoais, e ainda com a crítica à poluição dos mares e à caça abusiva: por outras palavras, os excessos do Homem e as suas destrutivas consequências para a Natureza - Os seres humanos são nojentos! - tópico aliás recorrente, note-se a obra Princesa Mononoke. Implícita está ainda a capacidade de a Natureza, ela própria, se vingar pelas catástrofes e procurar, desse modo, o equilíbrio primordial.
Quando as cheias devastam a cidade portuária e Sosuke e Ponyo partem à proc ura da mãe do rapaz naquele barco enfeitiçado, há um confronto com a morte, atenuado pela poesia da animação. Aquela bolha no fundo do mar, que acolheu a gente do lar de idosos, não é senão uma metáfora do Paraíso. Quando, fugindo à maldição de Fujimoto, Sosuke cai nos braços da velhota da cadeira de rodas, dá-se o encontro simbólico entre o filho e a mãe de Miyazaki, entre o ser-se velho e ser-se criança: o estado priveligiado do próprio Miyazaki, capaz de abraçar a morte, na poesia do adeus, e de atingir, pela arte, a imortalidade.
Naquela bolha marítima, há milagres e magia e tudo é possível... É possivel transcender a morte, ultrapassar os desígnios naturais que uma intempérie daquelas causaria. É possível regressar à superfície, onde o amor triunfará. Na arte tudo é possível. Não há limites. E assim é o cinema de Miyazaki. Enquanto crianças, poderemos ficar-nos sempre pela simplicidade de uma primeira leitura. E, da mesma forma, perder-nos-emos na fantasia... e na infinitude dos sonhos.
Irrepreensível no desenho e na pintura e dotado ainda de uma magnífica e cristalina banda sonora (Joe Hisaishi), eis, pois, um filme totalmente delicioso.
Gostarás certamente. Adivinho que darás o MUITO BOM.
ResponderEliminarPessoalmente, não o achei nada de especial.
Abraço
Adoro este :P
ResponderEliminarJá assisti! Mais uma obra-prima do Miyazaki! Mas nada supera Chihiro!
ResponderEliminarJACKIE BROWN: Por acaso ou não, falhaste ;) É um bom filme, uns furos abaixo de algumas das mais emblemáticas obras de Miyazaki.
ResponderEliminarFLÁVIO GONÇALVES: É um mimo de filme. Também gosto bastante.
FELIPE GUIMARÃES: Não supera A VIAGEM DE CHIHIRO, de facto, mas não creio que seja uma obra-prima. Não exageremos, nem banalizemos tais classificações. Contudo, poderá tratar-se de uma questão de gosto pessoal, evidentemente.
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Precisamente como dizes, é absolutamente delicioso. É tão bonito e tocante. É impossível para mim resistir.
ResponderEliminarTIAGO RAMOS: Delicioso e irresistível, pois ;) É o mínimo que se poderá dizer!
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Independentemente de ser ou não inferior ou superior ao que ele tenha feito ao longo destes anos todos, acho que uma coisa é óbvia: é o filme mais adorável e encantador desde Totoro. Já o vi 3 vezes, comprei o DVD recentemente, e cada vez gosto mais dele :)
ResponderEliminarPEDRO PONTE: Em primeiro lugar, bem-vindo ao CINEROAD. "Adorável" é sem dúvida um adjectivo que se lhe cola perfeitamente. Também gosto cada vez mais do filme. Adoro Miyazaki.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Mas que delícia de filme, mais um do cineasta, que desde Totoro não nos oferecia uma experiência igual. É menos complexo à primeira vista, sendo que se revela um portento a todos os níveis, desde a banda sonora às personagens. Em suma, não lhe resisto, gostei mesmo bastante, equiparo-o a um Castelo no Céu ou ao já referido Totoro. Aí não estarei totalmente de acordo contigo.
ResponderEliminarMas no fundo o que interessa é que lhe reconhecemos o seu devido valor.
abraço
JORGE: Por acaso estou para rever esta pérola da animação mais recente do mestre japonês, quem sabe se para breve.
ResponderEliminarRoberto Simões
CINEROAD
Nunca tinha ouvido falar. Apenas o ser de Miyazaki já me faz muito querer vê-lo.
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