terça-feira, 16 de novembro de 2010

VELVET GOLDMINE (1998)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Velvet Goldmine
Realização: Todd Haynes
Principais Actores: Christian Bale, Jonathan Rhys-Meyers, Ewan McGregor, Toni Collette, Eddie Izzard, Emily Woof, Michael Feast, Janet McTeer

Crítica:

UMA ESTRELA CADENTE

Elegance walking arm in arm with... a lie.

Velvet Goldmine é, em poucas palavras, como que uma espirituosa e melancólica ode à liberdade. Uma explosão de música electrizante, inebriante e que irradia fascínio. Uma construção ficcional de impressionante, irreverente e desconcertante transfiguração artística, com a única e inconfundível assinatura de Todd Haynes. É sobre a nostalgia dos anos 70, quando por oposição a um flower power de paz e amor emergiu em Inglaterra um movimento assumidamente andrógino, exibicionista e provocatório, de um corte e costura espampanante e extravagante, cheio - dos pés à cabeça - de cor e brilho. Foram os tempos do Glam Rock, aqui homenageados e idolatrados, revisitados e recriados, nesta verdadeira e delirante orgia de estética cinematográfica.

The world is changed because you are made of ivory and gold.
The curves of your lips rewrite history.

De geração em geração é passado o transcendental amuleto, com o intuito primeiro de inspirar e revolucionar a identidade sexual dos Homens. I want to be a pop idol. (...) There is suffering at the birth of a child just as there is suffering at the birth of a star. Ser uma estrela não é senão a forma de acelerar a libertação a uma grande escala. Veja-se como a incumbência de Oscar Wilde impulsionou o futuro para a Verdade, como dele se espelha o reflexo num Jack Fairy. Veja-se como Brian Slade (magnífico Jonathan Rhys-Meyers) admirou o despudor queer do dandy, assim como o seduziu a presença sensacional de Curt Wild. Veja-se, por fim, como Arthur Stuart descobriu a homossexualidade pela aura e magnetismo do seu ídolo... como hoje, interiorizada a liberdade natural das coisas, se extingue a vergonha e se silencia o preconceito, na afirmação conscienciosa de quem realmente somos. A música, como tudo o resto, é um meio para a libertação e o excesso marca presença assídua nas primeiras linhas de qualquer revolução: é uma ficção, uma mentira, um artifício...

Man is least himself when he talks in his own person...
Give him a mask and he'll tell you the truth.

Numa mescla de experimentalismo, maturidade e criatividade sem limites, Velvet Goldmine atinge a expressão máxima dos traços autorais de Todd Haynes. A realização conflui o drama com um biopic travestido, baseado em acontecimentos verídicos cuja génese é ficcionalmente recriada: film à clef. O título do filme, aliás, é o título de uma canção de David Bowie. Obra camaleónica, assume, por vezes, um formato de videoclip. Outras tantas, assemelha-se a um documentário, cuja diegese evolui que nem um puzzle, consoante as revelações dos entrevistados (é notória e deliberada a influência de O Mundo a Seus Pés). O argumento, também desnvolvido pelo realizador, estrutura-se numa confusão onírica que, aos poucos, se descodifica e se resolve. A lenda vive e a história de Velvet Goldmine centra-se na lenda. No final, pouco sabemos sobre o que realmente aconteceu a Brian Slade após a mediática encenação do seu homicídio. Quer dizer, temos conhecimento da alegada conclusão de Arthur, mas o filme em si não decreta fim à ambiguidade e ao mistério.

Mergulhado em canções enérgicas e envolventes, com um elenco portentoso (talentos igualmente notáveis de Ewan McGregor, Toni Collete e Christian Bale) e um trabalho de montagem prodigioso (James Lyons), assim como uma fotografia belíssima (Maryse Alberti) e um guarda-roupa à altura dos mais audazes devaneios estéticos (Sandy Powell), Velvet Goldmine impõe-se como uma obra singular, irrepreensível e obrigatória.

What is true about music is true about life:
that beauty reveals everything because it expresses nothing.


12 comentários:

  1. Um filme que catapultou Rhys-Meyers, e que conta com uma grande interpretação do mesmo! Muito bom!

    Abraço

    ResponderEliminar
  2. FAR FROM HEAVEN é tão bom, melhor que I'M NOT THERE - preciso ver esse filme mais antigo do Haynes.

    ResponderEliminar
  3. JACKSON: Sim, estou de acordo. Aliás, todo o elenco é memorável! Muito bom mesmo, uma pérola de filme. Obrigatório.

    GUSTAVO: Ainda não vi, com muita pena minha, FAR FROM HEAVEN. Tenho grandes expectativas, claro, ou não fosse um filme de Todd Haynes. Verei um dia destes, certamente.
    De I'M NOT THERE gosto imenso, igualmente!

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

    ResponderEliminar
  4. Ah, já agora, e Far From Heaven é muito bom mesmo, aposta nele.

    Abraço

    ResponderEliminar
  5. Quando ainda havia um ciclo de cinema LGBT no Porto penso que exibiram este e não o pude ver, infelizmente. Estou, por acaso, muito curioso. Em breve o verei e direi se concordo contigo! :)

    ResponderEliminar
  6. FLÁVIO GONÇALVES: Basta encontrar o DVD do FAR FROM HEAVEN e comprá-lo-ei logo! Quanto a este VELVET GOLDMINE pensava que já tinhas visto! Acho que vais gostar imenso.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

    ResponderEliminar
  7. Roberto, lembras-te de uma "discussão" que tivemos sobre o Milk já nem sei em que blog? Uma em que tu disseste que o meu grande problema era ser um filme sobre gays?
    Pois bem, este Velvet Goldmine é a prova de como esse não é o meu grande problema (mesmo eu sendo hetero). Porque este é o meu filme preferido do Todd Haynes (note-se que ainda não vi o I'm Not There - shame on me). E é acima de tudo um filme sobre uma época, sobre o nascimento e crescimento do glam rock, sobre o estrelato, sobre o efeito que essa época teve naquela geração, sobre a nostalgia (como bem referiste), sobre o impulsionamento que o glam rock teve na sexualidade de muita gente. Sei lá, é sobre tanta coisa. Não é nenhuma obra-prima mas é um grande filme com uma grande banda sonora.
    Gostei da crítica ;)

    ResponderEliminar
  8. ÁLVARO MARTINS: Obrigado ;) Por acaso não me recordo já muito bem, mas acredito que sim. É de facto um filme maravilhoso, este VELVET GOLDMINE. Quanto ao I'M NOT THERE, recomendo-to vivamente.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

    ResponderEliminar
  9. Tendo a concordar inteiramente com a tua crítica, e que bela crítica! Olha que me vou basear nela para fazer a minha! :)

    Acabei mesmo agora de ver o filme e o primeiro impulso foi vir aqui onde já tinha lido a crítica e pela sua razão vi o filme. O filme é, de todo, espantoso. Assume um registo variado, complexo e vibrante assim como nos habituamos de Haynes. Só referir que Velvet Goldmine é um verdadeiro ode à liberdade!

    Abraço
    Cinema as my World

    ResponderEliminar
  10. NEKAS: Ai já viste? ;) Que bom que gostaste (da crítica e do filme)! O filme é mesmo maravilhoso.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

    ResponderEliminar
  11. é um bom filme com uma (quase) grande banda sonora. inspirou uma carrada de kids mais ou menos indie e mais ou menos revivalistas no final dos 90, princípios de 2000,

    o que, embora pequeno, foi bonito de viver :)

    ResponderEliminar
  12. J...: Inspirou? Como assim? Desconhecia. O filme é, quanto a mim, muito bom.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

    ResponderEliminar

Comente e participe. O seu testemunho enriquece este encontro de opiniões.

Volte sempre e confira as respostas dadas aos seus comentários.

Obrigado.


<br>


CINEROAD ©2020 de Roberto Simões