★★★★★
Realização: Michael Curtiz
Crítica:
Em plena 2ª Guerra Mundial, o Inferno alastra-se a Paris. Para milhares de pessoas, a fuga afigura-se como a melhor a solução e Casablanca como um ponto crucial na rota da Salvação. Todavia, não só de sorte se faz o destino e, perante o infortúnio, todos os refúgios do mundo se podem transformar numa prisão. É o caso do Rick's Café Américain; oásis de libertação e, simultaneamente, palco de uma trama fascinante, repleta de intriga, mistério e perigo.
Casablanca não tem nem assume nunca um género específico. É romance, é drama, é melodrama, é policial... e conflui magistralmente todos esses registos. Está repleto de frases e diálogos memoráveis e é rico em personagens maravilhosas. O argumento (da autoria dos irmãos Epstein e de Howard Koch), apesar de construído e concluído no decorrer das filmagens, constitui um grande exercício dramatúrgico, brilhante na subtileza e humor com que enaltece certas passagens. O capitão Renault é, porventura, o expoente máximo da ironia e da inteligência com que nos presentearam os argumentistas; a personagem de Claude Rains é, aliás, a minha favorita deste clássico de Michael Curtiz. Depois segue-se o icónico casal romântico Rick e Ilsa, claro. Humphrey Bogart e Ingrid Bergman estão magníficos nos seus papéis. O primeiro cheio de charme e carisma, a segunda com um brilho nos olhos intenso e comovente.
Casablanca é considerado um dos filmes mais românticos de todos os tempos, mas é pertinente e interessante perceber como o próprio rompe com o cânone e arrisca um final tão pouco romântico. Afinal, o par não acaba junto e feliz para sempre. Há um amor maior, maduro e consciente das suas possibilidades, que escapa ao egoísmo e assume um papel determinante na escolha: é a decisão de Rick que proporciona aquele surpreendente e inesquecível twist final. Há valores que, para serem preservados, merecem sacrifícios; e aí reside a maior moral da obra. O próprio triângulo amoroso entre Rick, Ilsa e Victor é tudo menos desputado. Todos amam, mas todos têm o maior respeito entre si e pelo que cada um sente. Vêem-se vértices de um injuntiçado triângulo e tentam-se fazer as melhores opções para minimizar as consequências... Outrora, já Ilsa tomara uma opção difícil, tentando o melhor para Rick e para o marido. Victor sabe do amor entre a mulher e o proprietário do café, mas é incapaz de forçar o destino. E Rick, talvez mais do que todos os outros, demonstra a nobreza e a integridade do seu carácter. You have to think for both of us. For all of us.
Principais Actores: Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Claude Rains, Paul Henreid, Peter Lorre
AMOR...
AS TIME GOES BY
AS TIME GOES BY
Em plena 2ª Guerra Mundial, o Inferno alastra-se a Paris. Para milhares de pessoas, a fuga afigura-se como a melhor a solução e Casablanca como um ponto crucial na rota da Salvação. Todavia, não só de sorte se faz o destino e, perante o infortúnio, todos os refúgios do mundo se podem transformar numa prisão. É o caso do Rick's Café Américain; oásis de libertação e, simultaneamente, palco de uma trama fascinante, repleta de intriga, mistério e perigo.
Casablanca não tem nem assume nunca um género específico. É romance, é drama, é melodrama, é policial... e conflui magistralmente todos esses registos. Está repleto de frases e diálogos memoráveis e é rico em personagens maravilhosas. O argumento (da autoria dos irmãos Epstein e de Howard Koch), apesar de construído e concluído no decorrer das filmagens, constitui um grande exercício dramatúrgico, brilhante na subtileza e humor com que enaltece certas passagens. O capitão Renault é, porventura, o expoente máximo da ironia e da inteligência com que nos presentearam os argumentistas; a personagem de Claude Rains é, aliás, a minha favorita deste clássico de Michael Curtiz. Depois segue-se o icónico casal romântico Rick e Ilsa, claro. Humphrey Bogart e Ingrid Bergman estão magníficos nos seus papéis. O primeiro cheio de charme e carisma, a segunda com um brilho nos olhos intenso e comovente.
Casablanca é considerado um dos filmes mais românticos de todos os tempos, mas é pertinente e interessante perceber como o próprio rompe com o cânone e arrisca um final tão pouco romântico. Afinal, o par não acaba junto e feliz para sempre. Há um amor maior, maduro e consciente das suas possibilidades, que escapa ao egoísmo e assume um papel determinante na escolha: é a decisão de Rick que proporciona aquele surpreendente e inesquecível twist final. Há valores que, para serem preservados, merecem sacrifícios; e aí reside a maior moral da obra. O próprio triângulo amoroso entre Rick, Ilsa e Victor é tudo menos desputado. Todos amam, mas todos têm o maior respeito entre si e pelo que cada um sente. Vêem-se vértices de um injuntiçado triângulo e tentam-se fazer as melhores opções para minimizar as consequências... Outrora, já Ilsa tomara uma opção difícil, tentando o melhor para Rick e para o marido. Victor sabe do amor entre a mulher e o proprietário do café, mas é incapaz de forçar o destino. E Rick, talvez mais do que todos os outros, demonstra a nobreza e a integridade do seu carácter. You have to think for both of us. For all of us.
Play it once, Sam. For old time's sake. A banda sonora de Max Steiner é fabulosa e o que o compositor faz com temas já existentes como As Time Goes By ou La Marseillaise é extraordinário. Aquela cena em que o hino francês da Lirbeté, Igualité et Fraternité abafa o regozijo alemão é simplesmente arrepiante. As próprias variações de certos temas ajustam-se na perfeição ao evoluir das cenas. A direcção artística acompanha a competência e excelência da produção; produção essa, diga-se, cheia de voltas e reviravoltas, que resultou triunfante por uma série de felizes acasos e por uma realização segura e arrojada.
Enfim... ontem, hoje e amanhã... Casablanca é universal. Uma grande lição de amor, verdadeiro amor, que, para sempre, inspirará gerações. Porque há valores eternos.
Enfim... ontem, hoje e amanhã... Casablanca é universal. Uma grande lição de amor, verdadeiro amor, que, para sempre, inspirará gerações. Porque há valores eternos.
Louis, I think this is the beginning
of a beautiful friendship.
fico à espera da crítica... Mas nao aceito menos de 5 estrelas... eheh
ResponderEliminarFaço 'panelinha' com o João. Só pode ser nota máxima. É um belíssimo filme.
ResponderEliminarAbraço.
Obra-prima absoluta!
ResponderEliminarBogart está esplêndido assim como a banda sonora e o fantástico ambiente noir...
Abraço
http://nekascw.blogspot.com/
Um clássico imperdível, muito bom mesmo!
ResponderEliminarPor acaso quando vi o filme ele soube-me a pouco. Uma história já cliché, um final imensamente conhecido, valores que não fazem parte do nosso tempo. Algum tempo depois li um romance que tinha o filme como fundo e, em certa medida, permitiu-me valorizar o filme. Há o arrebatamento do ideal de se perder a vida por algo superior, a libertação feminina que se afirma num mundo dominado por homens, a luta entre o desejo e o dever, ainda que ambos se completem. Em 1942, consigo comprender porque razão o filme teve o seu sucesso, ainda que não considere o casal o mais romãntico do cinema (está nalista, nos lugares cimeiros, mas não será o melhor). Enfim, julgo que é necessário a pessoa colocar-se na época, estar ciente de todo o contexto histórico e social, para verdadeiramente sentir toda a carga sentimental, política e existencial da história. Quem apenas for ver o filme por curiosidade, nunca o conseguirá entender no seu todo.
ResponderEliminarDe resto, concordo bastante contigo. Temas para a eternidade e momentos que figurarão para sempre na história do cinema.
JOÃO BASTOS: Ora aí está a crítica. Parece que não vai haver desavença, o filme é sem dúvida muito bom. Merece as 5 estrelas sem qualquer hesitação!
ResponderEliminarRED DUST: Já me livrei da "panelinha" e nem foi de propósito! ;) Belíssimo, sim, com tiradas de um humor genuíno e inteligente e com frases inesquecíveis, tantas delas já imortalizadas.
NEKAS: Não concordo que seja uma obra-prima. O ambiente é a "preto e branco", mas nem sempre é "noir", só por vezes. Bogart está de facto fenomenal, Bergman também, mas o que mais me surpreendeu foi mesmo Claude Rains ;) Hilariante.
FLÁVIO GONÇALVES: Nem mais. Clássico. E imperdível ;)
CLÁUDIA GAMEIRO: Genericamente, desta vez, estamos em desacordo.
1. "Uma história já cliché"; o cliché fez-se com as obras que o copiaram. Não que CASABLANCA seja de todo original, mas foi o marco inspirador, causador da angústia da influência.
2. Não são de facto o casal mais romântico ;) Até pela sua história. Aqui revejo-me nas tuas palavras, sem dúvida.
3. "julgo que é necessário a pessoa colocar-se na época, estar ciente de todo o contexto histórico e social, para verdadeiramente sentir toda a carga sentimental, política e existencial da história";
É claro que o filme tem uma carga marcadamente política, até pelas circunstâncias históricas em que foi concebido. Mas não creio que seja necessário vivermos naquela época para sentirmos "toda a carga sentimental, política e existencial da história". Teremos certamente sentimentos diferentes, mas isso é como em relação a tudo. O filme é arte, não um manifesto. E a arte é passível de ser sentida em qualquer tempo. Com a História e a Historiografia temos hoje um conhecimento e compreensão notáveis
daquele período; perceber essa carga poderá depender do conhecimento do espectador desse período, mas não da época em que ele próprio vive. Agora sentir... a arte sente-se em qualquer tempo.
Ainda para mais quando se trata de valores universais e intemporais como trata a moral do filme: de que são necessários sacrifícios para preservar valores e para zelar pelo bem-estar daqueles que amamos.
Por isso, penso que é possível perceber o filme, sim. E que a questão é, como se costuma dizer, uma "falsa questão". ;) Opiniões bem distintas ;)
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Concordo contigo, a arte sente-se em qualquer tempo. O que eu quis explicar foi que o verdadeiro impacto do filme, o que explica o seu sucesso, foi o enquadrar de forma tão excelente toda a vivência da época e que é difícil revivê-lo nos tempos que correm. Não sei se me estarei a contradizer... Enfim, só para comentar que estou de acordo com as tuas palavras, mas que realmente vemos o filme de forma diferente.
ResponderEliminarE a cena do Hino francês??? Talvez a melhor cena do cinema...
ResponderEliminarJOÃO BASTOS: Eu falei dessa cena... Assim se apanha o leitor que não lê! ;D
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Por acaso li... eu so voltei a referir porque é para mim a melhor cena que me lembro alguma vez de ter visto num filme! Lindo
ResponderEliminarJOÃO BASTOS: Sem dúvida, é uma grande cena!
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Gostei. E estou de acordo. Mesmo não tendo um grande grande argumento, daqueles inovadores e de reviravoltas emocionantes, tantas vezes hoje necessário (ao que parece). Na minha opinião, é muito bom sim nos diálogos, na forma sublime e ritmada de contar uma história e de a moralidade e a responsabilidade, tantas vezes desprezada, se afirmar. Consciência e realismo diria.
ResponderEliminarDepois com uma boa fotografia e cenografia, assim como excelentes (para não dizer mais) actuações. É impressionante a beleza e a forma como nos cativa instantaneamente Ingrid Bergman. Fiquei fã desta diva :P
Mas é isso gostei do filme, mais...marcou-me profundamente...vai ser com certeza um início de uma longa amizade/revisitas...
abraço
JORGE: Ahah! Agora tiveste graça, gostei do trocadilho. De facto, não podia discordar contigo. É um filmaço!
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Rever este filme é ter presente um dos marcos da história da 7ª arte, por estas e outras razões em que alguns comentaristas já o fizeram e muito bem.
ResponderEliminarFinalmente sem monosprezar o cinema actual, onde está o espírito de que sentar numa sala de cinema era um ritual.....
Deixo os pontinhos para cada um imaginar os quantos momentos de excitação vivemos e que tão pouco nos dizem quase nada hoje em dia, ou seja para bons entendedores " O Cinema de Qualidade " " Q ".
JMAbreu