Realização: Clint Eastwood
Principais Actores: Clint Eastwood, Hilary Swank, Morgan Freeman, Anthony Mackie, Margo Martindale, Brian F O`Byrne
Crítica:
Em Million Dollar Baby, de Clint Eastwood, o boxe é a metáfora perfeita da vida: it's the magic of fighting battles beyond endurance, beyond cracked ribs, ruptured kidneys and detached retinas. It's the magic of risking everything for a dream that nobody sees but you. Negro, sombrio e tão íntimo, o esboço da condição humana faz-se, essencialmente, por meio da palavra e do sentimento.
O argumento, a cargo de Paul Haggis, flui sereno, inspirado e, no momento certo, assertivo, espelhando, de forma intensa, a tragédia das relações humanas e o poder inesperado e irreversível da fatalidade. As prestações do elenco, preciosamente escolhido, irradiam excelência. Frankie e Scrap, interpretados respectiva e brilhantemente por Eastwood e Freeman, há muito que se retiraram da luta. São uns vencidos da vida, mas cujas feridas do passado estão longe de sarar, definitivamente. O primeiro afunda a solidão na dificuldade do gaélico e na facilidade de, no dia-a-dia, não correr riscos. Não tem família, não tem Deus, não tem esperança. O amor paternal que desenvolverá por Maggie será a sua última oportunidade para a redenção. O segundo parece limpar o ginásio em permanente contemplação, como se na inércia de não comprar, por exemplo, umas meias novas ou na determinação de lavar o chão com uma boa lixívia apaziguasse a dor da memória. A verdade é que, quando intervém, irónico e de bom humor, as suas sentenças revelam-se genuinamente certeiras e memoráveis. Para não falar da sua narração que, omnisciente, concretiza as surpreendentes cadências do argumento. Maggie Fitzgerald (Hilary Swank, num papel de transfiguração e entrega total) vive a sua pobreza em constante poupança para alimentar o sonho, para poder continuar a fazer aquilo que mais prazer lhe dá - o pugilismo - e para, quem sabe um dia, conseguir dar uma vida melhor à família e a si mesma. Nunca desiste e insiste em encontrar força nos momentos de maior fraqueza (que são tantos) para vencer. A luta é o seu destino: I was born two pounds, one-and-a-half ounces. Daddy used to tell me I'd fight my way into this world, and I'd fight my way out. A sua história é, no fim de contas, derradeiramente comovente e inspiradora.
Million Dollar Baby prova, ao mesmo tempo, a importância soberana de, em cinema, contar uma boa história, com boas performances dos actores. Clint Eastwood, realizador, fá-lo de forma magistral, com simplicidade e grande contenção: reduzida banda sonora, subtil trabalho de montagem e grande cuidado na iluminação. Fá-lo, afinal e acima de tudo, com palavra e sentimento.
Clássico absoluto.
TUDO POR UM SONHO
Em Million Dollar Baby, de Clint Eastwood, o boxe é a metáfora perfeita da vida: it's the magic of fighting battles beyond endurance, beyond cracked ribs, ruptured kidneys and detached retinas. It's the magic of risking everything for a dream that nobody sees but you. Negro, sombrio e tão íntimo, o esboço da condição humana faz-se, essencialmente, por meio da palavra e do sentimento.
O argumento, a cargo de Paul Haggis, flui sereno, inspirado e, no momento certo, assertivo, espelhando, de forma intensa, a tragédia das relações humanas e o poder inesperado e irreversível da fatalidade. As prestações do elenco, preciosamente escolhido, irradiam excelência. Frankie e Scrap, interpretados respectiva e brilhantemente por Eastwood e Freeman, há muito que se retiraram da luta. São uns vencidos da vida, mas cujas feridas do passado estão longe de sarar, definitivamente. O primeiro afunda a solidão na dificuldade do gaélico e na facilidade de, no dia-a-dia, não correr riscos. Não tem família, não tem Deus, não tem esperança. O amor paternal que desenvolverá por Maggie será a sua última oportunidade para a redenção. O segundo parece limpar o ginásio em permanente contemplação, como se na inércia de não comprar, por exemplo, umas meias novas ou na determinação de lavar o chão com uma boa lixívia apaziguasse a dor da memória. A verdade é que, quando intervém, irónico e de bom humor, as suas sentenças revelam-se genuinamente certeiras e memoráveis. Para não falar da sua narração que, omnisciente, concretiza as surpreendentes cadências do argumento. Maggie Fitzgerald (Hilary Swank, num papel de transfiguração e entrega total) vive a sua pobreza em constante poupança para alimentar o sonho, para poder continuar a fazer aquilo que mais prazer lhe dá - o pugilismo - e para, quem sabe um dia, conseguir dar uma vida melhor à família e a si mesma. Nunca desiste e insiste em encontrar força nos momentos de maior fraqueza (que são tantos) para vencer. A luta é o seu destino: I was born two pounds, one-and-a-half ounces. Daddy used to tell me I'd fight my way into this world, and I'd fight my way out. A sua história é, no fim de contas, derradeiramente comovente e inspiradora.
Million Dollar Baby prova, ao mesmo tempo, a importância soberana de, em cinema, contar uma boa história, com boas performances dos actores. Clint Eastwood, realizador, fá-lo de forma magistral, com simplicidade e grande contenção: reduzida banda sonora, subtil trabalho de montagem e grande cuidado na iluminação. Fá-lo, afinal e acima de tudo, com palavra e sentimento.
Clássico absoluto.
Muito bom?
ResponderEliminarNão na minha opinião...
Sobrevalorizadissimo acho eu.
vale por Freeman e pouco mais.
Abraço
Devo começar admitindo que não contraargumento quem diz que Menina de Ouro - é este o título aqui no Brasil - seja um filme supervalorizado. Talvez o seja...
ResponderEliminarO fato é que as atuações são marcantes. Hilary Swank antes me conquistara por Meninos Não Choram e pela segunda vez me fez sentir bastante emoção ao ver sua interpretação. O que dizer de Clint Eastwood? Excelente é um bom adjetivo. Morgan Freeman, num papel secundário, está soberbo e tudo no filme funciona bem.
Foi a primeira obra a me fazer chorar incontrolavelmente. Dentre as que chorei, essa foi a única que me arranca lágrimas TODAS AS VEZES que vejo.
Anseio pela sua resenha, Roberto.
=)
O filme é muito bom de facto, não é o melhor de Clint Eastwood mas de facto pode e consegue ser marcante em alguns pontos, especialmente o seu lema por trás do filme...
ResponderEliminarAbraço
http://nekascw.blogspot.com/
Estava dificil de encontrar alguèm que concordasse comigo! Este é para mim o filme mais sobrevalorizado de sempre... Se quero ver uma história sobre a vida, com o Boxe com pano de fundo fico-me por "Rocky" (esse sim enorme filme) ou "Rocky Balboa".
ResponderEliminarTenho que concordar com os de atrás. É um filme bom, mas sobrevalorizado. Sobre o boxe, há muito melhor.
ResponderEliminarOi Roberto,
ResponderEliminarquero ver sua crítica espero que seja muito positiva, pois esse filme para mim é um dos melhores e mais emocionantes que já vi na vida (pela lição e drama que ele passa)!
Agora só mudaria a classificação que você fez: tem que ser Excelente!!!
ABRAÇO
Viste-o de novo certo? Lembro-me de lhe teres atríbuida uma nota baixa!
ResponderEliminarQuanto à reapreciação tenho de dizer que discordo, é um filme altamente sobrevalorizado que vale apenas pela interpretação de Swank. Eastwood não está um espanto, e Freeman, como sempre, não surpreende na sua comóda interpretação.
JACKIE BROWN: Foi um filme que, admito, não me conquistou nas primeiras vezes a que o assisti. Mas depois revelou-se-me como um diamante bruto de "palavra e sentimento". Grande pedaço de dramaturgia.
ResponderEliminarMas concordarei em parte contigo, porque não o considero a obra-prima que muitos afirmam. Desse ponto de vista, considero-o sobrevalorizado.
LUIS ADRIANO: Sim, talvez, mas não deixa de ser um muito bom filme: de actuações, pois claro, e de argumento.
Nunca me emocionei com este filme, contudo, ao ponto de chorar. A crítica já aí está, disponível!
NEKAS: Também concordo que não é o melhor de Eastwood, realizador. Mas é um grande filme.
JOÃO BASTOS: Sobrevalorizado, como disse e na minha opinião, porque tantos o consideram uma obra-prima. Não lhe atribuo esse estatuto, apesar de tudo o que referi na crítica.
Quanto aos "Rocky", nunca vi nenhum.
FLÁVIO GONÇALVES: Nas minhas respostas anteriores encontrarás resposta ao teu comentário ;)
RICARDO MARTINS: Aí está a crítica, penso que lhe vai agradar ;) Excelente é uma classificação, no entanto, que não lhe poderei atribuir.
JACKSON: Sim, vi-o e reapreciei-o. Havia-lhe atribuído RAZOÁVEL, dada a impressão com que tinha ficado dele, mas mudei radicalmente de ideias.
É importante dizer, a respeito, que não considero nenhuma das minhas classificações ou críticas definitivas.
Quanto aos desempenhos de Eastwood actor e Morgan Freeman, estou, como sempre estive, em profundo desacordo.
Obrigado a todos pelas intervenções!
Voltem Sempre!
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Só vi o final do filme, sensivelmente a partir do momento em que ela vira costas e sofre o acidente. Formei uma opinião, no entanto terei que ver o filme todo para ter a certeza de que a mantenho. Escrevo só para manifestar uma opinião que me atacou assim que soube do filme e que nunca vi ninguém referir: PÉSSIMA tradução do título!!!! Million Dollar Baby por Sonhos Vencidos!!!!!!! Não encontraram nada melhor??? Até se perde a vontade de ver... Falta criatividade à malta do cinema por estas bandas. Estou errada ou mais alguém concorda comigo?
ResponderEliminarUm dos meus preferidos. Só de ouvir a trilha eu me amoleço todo.
ResponderEliminarCLÁUDIA GAMEIRO: Muitos serão os que concordam contigo, certamente. Eu nem consegui usar o título português ao longo da crítica! ;)
ResponderEliminarWALLY: Não consegue ser dos meus filmes preferidos, apesar de tudo. E a banda sonora, não sendo nada de especial, não me comove ;)
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD – A Estrada do Cinema
Olá!
ResponderEliminarEstou de acordo com a tua crítica! Foi um filme que me marcou bastante! Eastwood é excelente na realização e na sua interpretação, Hillary Swank e Morgan Freeman também o são; o argumento é sublime e surpreendente!
Gostei de ler a tua crítica; acho a penúltima frase ("...com palavra e sentimento") bastante certeira!
E sim, temos aqui um clássico absoluto!
CATARINA NORTE: Obrigado ;) Estamos então de acordo!
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Seu texto é melhor que o próprio filme!
ResponderEliminarÉ sim um filme supervalorizado.
Não é o melhor trabalho de Clint Eastwood, contudo funciona bastante bem.
Achei exagerado os oscars, talvez o Freeman merecesse, contudo a Hilary Swank foi mais agressiva com seu MENINOS NÃO CHORAM, ali sim foi merecido.
Menina de Ouro/Sonhos vencidos é um filme simples, mas tem cenas que parece ser feita pra arrancar lágrimas. É como se o roteiro e a própria Hilary premeditassem a emoção para puxar a emoção do público e, assim, conseguir mais prêmios! e funcionou, os velinhos da Academia se emocionaram e o filme foi aquilo tudo no Oscar. Um absurdo, já que todos os outros concorrentes eram infinitamente superiores.
Mil vezes Os Imperdoaveis, As pontes de Madson e o novo A Troca.
Eu gosto de Menina de ouro, mas é um filme normal, básico, nada mais que isso.
abs
CRISTIANO CONTREIRAS: Bem, que exagero! ;) Mas obrigado ;)
ResponderEliminarJá concordei com você, em tempos, no que a MILLION DOLLAR BABY diz respeito. Mas já mudei de ideias. Não é nenhuma obra-prima - há sobrevalorização para quem assim o considerar - mas já vejo nele um exemplo de um tipo de cinema muito mais do que básico.
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Até que enfim, vejo que não fui a unica a gostar deste filme.
ResponderEliminarNão é de todo excelente, mas o muito bom que lhe deste esta correctissimo. O filme esta bem feito e Hillary Swank esta perfeita no papel de mulher pugilista ;)
Morgan Freeman e Eastwood tb estão geniais nos seus papéis.
Confesso que não gostei do final LOOOOL mas a vida real nao e sempre com finais felizes.
Bjs
GEMA: Ah, estamos então de acordo em relação à obra. Nem sempre lhe reconheci as qualidades que agora aponto. Mas, por vezes, a maturidade é tudo ;)
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Oi Roberto!
ResponderEliminar"Sonhos vencidos" que aqui se chamou "Menina de ouro" é ótimo tb. Vi recente e fiquei encantada com a trama e a direção perfeita de Clint. MUito boa sua análise. E Hilary S a cada novo filme demonstra o quanto é talentosa, madura e boa atriz,pois sabe escolher seus papeis e consegue nos passar verdade em sua interpretação. Não é a toa que ja tem dois oscars em sua casa. Já Clint E como diretor é fenomenal. O cara é bom e ele sabe muito bem como extrair o melhor de seus atores. E um dos diretores que entrou na minha seleta galeria de "mestres do cinema", ao qual ja faz parte Alfred H, Pedro Almodovar e mais alguns.
Enfim, daqui para frente passarei aqui algumas vezes e sempre que possível deixarei minhas impressões.
Um abraço.
CINTIA CARVALHO: Obrigado ;) Estamos então de acordo. Clint revelou-se, com o tempo, um verdadeiro mestre.
ResponderEliminarVolte sempre!
Cumps.
Roberto Simões
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Acho que a minha opinião relativamente a este filme evoluiu muito como a tua, depois de ter lido os comentários aqui feitos.
ResponderEliminarDe início não me cativou assim muito, até porque aconselharam-me (euforicamente) a ver este filme, e como não podia deixar de ser, com a expectativa na lua, a experiência resultou insatisfatória e algo frustante. Na altura lembro-me salvou-se a banda sonora, e a interpretação de Clint Eastwood, actor.
Agora o filme é outro, após tê-lo visto mais duas vezes, a minha opinião mudou, sou capaz de o classificar quase ao nível de um Mystic River.
Uma experiência deveras comovente, diferente (dado o que foi feito dentro do subgénero - Rocky's, Raging Bull, Cinderella Man, entre outros), e muito bem contada subtilmente.
abraço
JORGE: Estou, uma vez mais, de acordo contigo. Na verdade, achei este filme sobrevalorizadíssimo durante muito tempo. Agora, já o reconheço como um filme muito bom. No entanto e apesar disso, não o considero a obra-prima que tantos apregoam.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
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