★★★★★
Título Original: Paths of GloryRealização: Stanley Kubrick
Principais Actores: Kirk Douglas, Ralph Meeker, Adolphe Menjou, George Macready, Wayne Morris, Richard Anderson, Christiane Kubrick, Joe Turkel
Crítica:
A TERRA DE NINGUÉM
Too much has happened. Someone's got to be hurt.
The only question is who.
The only question is who.
Um olhar perfeccionista e implacável, sobre o inferno das trincheiras e a monstruosidade do ser humano. Um preto e branco imaculado, na sublimação visual da elegância - afinal, a fotografia de Horizontes de Glória, a cargo de Georg Krause, concretiza a excelência visionária e todo o potencial da mise-en-scène. Zooms, travellings, planos-sequência de cortar a respiração e de detalhes preci(o)sos, sublimes enquadramentos em deep focus, uma arte de filmar que gere de forma irrepreensível a poderosa carga de emoções que a história e as performances dos actores elevam, consistentemente.
O argumento, a partir do romance de Humphrey Cobb e adaptado a três mãos (entre Kubrick, Calder Willingham e Jik Thompson), é dotado de uma prodigiosa economia narrativa, fazendo evoluir a diegese - cena a cena - com uma coesão notável. E a cada cena, mais magistral do que a anterior, os diálogos memoráveis arrebatam-nos e fazem-nos tomar consciência do quão prazeroso é assistir ao filme. As cadências premeditadas da montagem (Eva Kroll) são imprescindíveis para o sucesso narrativo. Sublimes, as interpretações de Adolphe Menjou (general George Broulard), Ralph Meeker (capitão Philippe Paris) e do destemido Kirk Douglas, o coronel Dax que primeiramente acata as ordens superiores sem as questionar e que depois afrontará todas as autoridades na defesa dos soldados injustamente acusados pela missão fracassada e convertida num impiedoso e sangrento massacre.
O tom irónico e corrosivo das melhores obras do realizador está sempre presente, como um fio condutor ou marca de estilo, denunciando e ridicularizando a cegueira e a arrogância, o abuso de poder e a injustiça; em suma, a falta de humanidade que parece abundar entre a frieza e o cinismo, a hipocrisia e a loucura do lado da guerra. A prepotência do general Paul Mireau (George Macready), que cruelmente vinga a indisciplina e a insubordinação contra as suas ordens ambiciosas e suicidas, expõe a vergonha do ser humano. There are few things more fundamentally encouraging and stimulating than seeing someone else die. Em tempo de guerra, os inimigos estão inclusivé na hierarquia que delibera a nossa patente.
Tecnicamente, Horizontes de Glória mostra-se perfeitamente executado. Note-se o som e excepcional montagem dos seus efeitos, note-se a sensível aplicação da música e dos silêncios ou todo o brilhantismo da direcção artística, seja no campo de guerra como no glamour do baile. A cena final, onde a música se revela como linguagem universal, vem preencher de compaixão e sentimento todo o humanismo reclamado ao longo da obra e personificado, na primeira pessoa, pelo coronel Dax. Sem dúvida, um dos melhores filmes de guerra jamais feitos. Absolutamente marcante. A excelência da obra é tal que não me admirarei se, no futuro, vier a considerá-la uma incontestável obra-prima.
O argumento, a partir do romance de Humphrey Cobb e adaptado a três mãos (entre Kubrick, Calder Willingham e Jik Thompson), é dotado de uma prodigiosa economia narrativa, fazendo evoluir a diegese - cena a cena - com uma coesão notável. E a cada cena, mais magistral do que a anterior, os diálogos memoráveis arrebatam-nos e fazem-nos tomar consciência do quão prazeroso é assistir ao filme. As cadências premeditadas da montagem (Eva Kroll) são imprescindíveis para o sucesso narrativo. Sublimes, as interpretações de Adolphe Menjou (general George Broulard), Ralph Meeker (capitão Philippe Paris) e do destemido Kirk Douglas, o coronel Dax que primeiramente acata as ordens superiores sem as questionar e que depois afrontará todas as autoridades na defesa dos soldados injustamente acusados pela missão fracassada e convertida num impiedoso e sangrento massacre.
Gentlemen of the court, there are times that I'm ashamed to be a member of the human race and this is one such occasion.
O tom irónico e corrosivo das melhores obras do realizador está sempre presente, como um fio condutor ou marca de estilo, denunciando e ridicularizando a cegueira e a arrogância, o abuso de poder e a injustiça; em suma, a falta de humanidade que parece abundar entre a frieza e o cinismo, a hipocrisia e a loucura do lado da guerra. A prepotência do general Paul Mireau (George Macready), que cruelmente vinga a indisciplina e a insubordinação contra as suas ordens ambiciosas e suicidas, expõe a vergonha do ser humano. There are few things more fundamentally encouraging and stimulating than seeing someone else die. Em tempo de guerra, os inimigos estão inclusivé na hierarquia que delibera a nossa patente.
Tecnicamente, Horizontes de Glória mostra-se perfeitamente executado. Note-se o som e excepcional montagem dos seus efeitos, note-se a sensível aplicação da música e dos silêncios ou todo o brilhantismo da direcção artística, seja no campo de guerra como no glamour do baile. A cena final, onde a música se revela como linguagem universal, vem preencher de compaixão e sentimento todo o humanismo reclamado ao longo da obra e personificado, na primeira pessoa, pelo coronel Dax. Sem dúvida, um dos melhores filmes de guerra jamais feitos. Absolutamente marcante. A excelência da obra é tal que não me admirarei se, no futuro, vier a considerá-la uma incontestável obra-prima.
Também adorei este filme, se bem que tive uma opinião diferente em relação a vários aspectos. A minha opinião está aqui.
ResponderEliminarCumps cinéfilos do Baú-dos Livros e
Ósum Pósume
LUÍS AZEVEDO: Gostei bem mais do que tu, pelos vistos. Considero-o um autêntico colosso, entre os melhores filmes de Kubrick. Filmes como este não me importava de levar a vida a assistir e estou certo de que quando morrer, se a memória sobreviver, hei-de ter muitas saudades destes "horizontes".
ResponderEliminarRoberto Simões
CINEROAD
Pelos vistos sim! Gostei muito do filme, mas está a anos-luz de 2001, Full Metal Jacket ou Dr. Strangelove...
ResponderEliminarLUÍS AZEVEDO: Para mim estará sempre a anos luz de um 2001 (não sei se haverá filme capaz de o rivalizar), mas à altura de um DR. ESTRANHO AMOR ou de um NASCIDOS PARA MATAR penso que está facilmente, superando-os até. Enfim, é a minha opinião.
ResponderEliminarRoberto Simões
CINEROAD
De acordo, para mim é mesmo um dos meus filmes favoritas do génio Kubrick. E grande análise diga-se de passagem.
ResponderEliminarUm filme que deambula entre a ironia e a compaixão, onde a montagem e a realização são absolutamente sublimes. O próprio argumento é de um primor ímpar, até diria de uma particularidade desconcertante. Destaco ainda uma grande interpretação de Kirk Douglas, que ao contrário de Spartacus, desempenha aqui um excelente coronel Dax.
abraço
JORGE: De acordo, o Kirk Douglas de HORIZONTES DE GLÓRIA nada tem a ver, em termos de entrega e intensidade, com o de SPARTACUS. Enfim, é sabida a relação entre o actor e o realizador, no épico que viriam a concretizar 3 anos depois.
ResponderEliminarUm aparte, só para referir uma consideração sem importância: como Michael Douglas é semelhante ao pai, tanto fisicamente, como na voz.. é impressionante, não?
Roberto Simões
CINEROAD
Também já tinha reparado nisso, são muito semelhantes de facto, e ambos com carreiras dignas e muito honrosas.
ResponderEliminarabraço
É um dos poucos Kubrick de que não tinha notícias. Vou-lhe atrás.
ResponderEliminarENALDO: E valerá a pena. É um pedaço de arte impressionante.
ResponderEliminarRoberto Simões
CINEROAD