Flávio Gonçalves, O Sétimo Continente
Não é, de todo, tarefa fácil discernir aquilo que faz do épico de D. W. Griffith, a sua primeira longa-metragem (e a primeira alguma vez produzida), um grande filme e, evitando cair num evidente paradoxo, um filme menor.
Resultará, pois, se o olhar adoptado pelo espectador contemporâneo, relativamente ao norte-americano The Birth of a Nation, for, primeira e puramente, de interesse histórico e estético. Este é, sem sombra para hesitações, um dos maiores e mais importantes marcos do Cinema: pioneiro em avanço técnico, utilização de inovadoras sequências e estratégias de narrativa do realizador que são revisitadas (os grandes planos, os desvanecimentos, etc.), em produção (e subsequente custo financeiro – 110 mil dólares amealhados com dificuldade), em duração (mais de três horas), há que, necessariamente, reconhecer o valor deste trabalho pela enorme influência na procedente realização de mais (e sinceramente melhores) obras de arte.
Assim sendo, a substância d’O Nascimento resta-se à ambiciosíssima tarefa de elevar e homenagear a História dos Estados Unidos da América, debruçando-se, para consegui-lo, nas desavenças de duas famílias, de lados adversos, na época da Guerra Civil Americana. É com elevado grau de dramaticidade que Griffith se propõe a retratar a batalha, os tumultos ou o assassinato de Lincoln, em paralelo com uma recta final que faz, inevitavelmente, com que este se mantenha como um dos mais controversos filmes feitos. O racismo inerente ao sacrifício de vida protagonizado por Lillian Gish, que prefere matar-se a cair na “selvajaria” do negro que a persegue, é, por todos nós e no actual pensamento ocidental, motivo suficiente para que rejeitemos, com a devida força (mais ainda na época em que o filme foi feito, em que a comunidade negra lutava para consolidar os seus direitos), esta história. E não nos esqueçamos da exaltação do Ku Klux Klan (liderado pelo amante da virgem que acaba por se suicidar) e do menosprezo tido pela libertação dos escravos. Mas todas estas são razões ideológicas que nos afastam do melodrama, pelo seu carácter exageradamente patriótico e racista, que também se arrasta com algumas sequências longas e desnecessárias.
Não obstante, este épico deve ser visto, principalmente, por aqueles que se interessam pelas origens da arte do cinema, pela técnica que nos envolve na actualidade e pela mestria da realização de D. W. Griffith.
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Resultará, pois, se o olhar adoptado pelo espectador contemporâneo, relativamente ao norte-americano The Birth of a Nation, for, primeira e puramente, de interesse histórico e estético. Este é, sem sombra para hesitações, um dos maiores e mais importantes marcos do Cinema: pioneiro em avanço técnico, utilização de inovadoras sequências e estratégias de narrativa do realizador que são revisitadas (os grandes planos, os desvanecimentos, etc.), em produção (e subsequente custo financeiro – 110 mil dólares amealhados com dificuldade), em duração (mais de três horas), há que, necessariamente, reconhecer o valor deste trabalho pela enorme influência na procedente realização de mais (e sinceramente melhores) obras de arte.
Assim sendo, a substância d’O Nascimento resta-se à ambiciosíssima tarefa de elevar e homenagear a História dos Estados Unidos da América, debruçando-se, para consegui-lo, nas desavenças de duas famílias, de lados adversos, na época da Guerra Civil Americana. É com elevado grau de dramaticidade que Griffith se propõe a retratar a batalha, os tumultos ou o assassinato de Lincoln, em paralelo com uma recta final que faz, inevitavelmente, com que este se mantenha como um dos mais controversos filmes feitos. O racismo inerente ao sacrifício de vida protagonizado por Lillian Gish, que prefere matar-se a cair na “selvajaria” do negro que a persegue, é, por todos nós e no actual pensamento ocidental, motivo suficiente para que rejeitemos, com a devida força (mais ainda na época em que o filme foi feito, em que a comunidade negra lutava para consolidar os seus direitos), esta história. E não nos esqueçamos da exaltação do Ku Klux Klan (liderado pelo amante da virgem que acaba por se suicidar) e do menosprezo tido pela libertação dos escravos. Mas todas estas são razões ideológicas que nos afastam do melodrama, pelo seu carácter exageradamente patriótico e racista, que também se arrasta com algumas sequências longas e desnecessárias.
Não obstante, este épico deve ser visto, principalmente, por aqueles que se interessam pelas origens da arte do cinema, pela técnica que nos envolve na actualidade e pela mestria da realização de D. W. Griffith.
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"Não obstante, este épico deve ser visto, principalmente, por aqueles que se interessam pelas origens da arte do cinema, pela técnica que nos envolve na actualidade e pela mestria da realização de D. W. Griffith."
ResponderEliminarIsto é que interessa, o resto são balelas Flávio.
E o que mais me impressiona é que o mainstream americano, e não só, continua a trabalhar nesta lógica de montagem e dramaturgia. O Avatar e o Inception, por todas as suas inovações, são sucedâneaos de Griffith. Quase todos os blockbusters são Griffith batido e repescado, academismo barato e hoje em dia interessa-me muito mais quem corrompe a tendência. E, já agora, relembro aqui o que disse o Luís Miguel Oliveira a propósito de inovações e "superações" em Cinema na sua crítica ao último Toy Story:
ResponderEliminar"O cinema tem certamente uma história tecnológica mas não se reduz a ela nem a uma sucessão de “marcos” progressivamente “superados”, e que, antes pelo contrário, o que interessa nele são os objectos únicos, que por o serem resistem à camisa de forças da “evolução” e excluem a necessidade, ou a possibilidade, de serem “superados”? Como explicar, em suma, que qualquer random Griffith dos anos dez permanece… “insuperado”? "
O meu Griffith preferido é o Broken Blossoms, mas este é insuperável como "qualquer random Griffith dos anos dez"
Subescrevo, afinal foi aqui o princípio de tudo. E que vale um argumento, ou partes dele, face à arte do Cinema? Pouco, ou muito pouco. O Cinema não é literatura ou história, transcende ambas. Por isso é que obras menores em papel viram pérolas quando tratadas por mãos de mestre, sendo o inverso também verdadeiro.
ResponderEliminar"Birth of a Nation", mesmo exaltando doutrinas racistas e xenófobas, será sempre um grande tratado de Cinema.
Obrigado a todos pelos comentários!
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - Há 2 Anos na Estrada do Cinema «
Nunca vi o filme, mas o meu interesse resume-se precisamente a isso que referiste: curiosidade pela história do cinema e pela evolução dos métodos artísticos e narrativos de fazer filmes. O conteúdo pouco me cativa. O aspecto racista, apesar de não ser algo que aplauda, é algo que também me cativa, por uma questão de análise de mentalidades e afins. Interessante.
ResponderEliminarBom texto.
DIOGO F: Também ainda não vi o filme, mas fica aqui uma encorajadora recomendação, sem dúvida ;)
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - Há 2 Anos na Estrada do Cinema «