★★★★
Título Original: Match PointRealização: Woody Allen
Principais Actores: Jonathan Rhys-Meyers, Scarlett Johansson, Emily Mortimer, Matthew Goode, Brian Cox, Penelope Wilton, Miranda Raison, James Nesbitt, Alexander Armstrong, Paul Kaye, Rupert Penry-Jones, Rose Keegan
Crítica:
CRIME SEM CASTIGO?
There are moments in a match when the ball hits the top of the net,
and for a split second, it can either go forward or fall back.
O acaso escreve o destino. Se há filme que fundamenta exemplarmente essa máxima é este brilhante Match Point, assente num exercício de escrita verdadeiramente prodigioso. Fosse Woody Allen tão extraordinário realizador quanto o é argumentista e Match Point resplandeceria, muito provavelmente, com o fulgor inequívoco de uma incontornável obra-prima.
Falemos do elenco: as escolhas de Jonathan Rhys-Meyers e Scarlett Johansson para protagonistas não podiam, quanto a mim, ser mais acertadas. São ambos extremamente charmosos, de uma beleza tão sedutora quanto inebriante, tal é a química dos seus olhares. Estão os dois em cena, magistralmente dirigidos por Allen, e há desejo. Sentimo-lo perfeitamente. Todavia, em cena há também uma outra mulher. E se pela primeira há paixão e desejo carnal, pela segunda há fascínio pelo seu estilo de vida e pelas possibilidades do seu mundo (estabilidade, segurança, prestígio social e dinheiro). Chris - a personagem de Rhys-Meyers - vive, pois, um dilema, que se intensifica cada vez mais: tem que optar por uma delas, mas não consegue. Aqui não há, pois, romantismo. Há um ser humano como todos os outros: com as suas fraquezas e tentações... E que fraquezas. E que tentações. Cair em tamanho marasmo é como viver uma ilusão para si mesmo e uma cruel hipocrisia para tantos quantos estão à sua volta. Cada dia sem enfrentar a verdade é como um passo em falso e em crescendo para a tragédia. Repentinamente, transfiguramo-nos pelo medo e somos capazes das piores atrocidades. Se nesse momento ao espelho nos reflectirmos, não nos reconheceremos. Empurramo-nos para o precipício e não há como voltar atrás. Não será esse o match point, mas sim um ponto sem retorno. Se Édipo não furar então os olhos, é puro golpe de sorte. E a sorte existe, nós sabemos.
O que também existe - sempre - é castigo para qualquer que seja o crime. O twist da obra pode evitá-lo aos olhos de todos, mas a pior punição é a que nos corrói a alma. Caia a bola para que lado da rede cair, o remorso e o arrependimento são a pena capital. Errar é humano. Mas não cegar a consciência nem por sombras é condão divino. Grande filme.
Falemos do elenco: as escolhas de Jonathan Rhys-Meyers e Scarlett Johansson para protagonistas não podiam, quanto a mim, ser mais acertadas. São ambos extremamente charmosos, de uma beleza tão sedutora quanto inebriante, tal é a química dos seus olhares. Estão os dois em cena, magistralmente dirigidos por Allen, e há desejo. Sentimo-lo perfeitamente. Todavia, em cena há também uma outra mulher. E se pela primeira há paixão e desejo carnal, pela segunda há fascínio pelo seu estilo de vida e pelas possibilidades do seu mundo (estabilidade, segurança, prestígio social e dinheiro). Chris - a personagem de Rhys-Meyers - vive, pois, um dilema, que se intensifica cada vez mais: tem que optar por uma delas, mas não consegue. Aqui não há, pois, romantismo. Há um ser humano como todos os outros: com as suas fraquezas e tentações... E que fraquezas. E que tentações. Cair em tamanho marasmo é como viver uma ilusão para si mesmo e uma cruel hipocrisia para tantos quantos estão à sua volta. Cada dia sem enfrentar a verdade é como um passo em falso e em crescendo para a tragédia. Repentinamente, transfiguramo-nos pelo medo e somos capazes das piores atrocidades. Se nesse momento ao espelho nos reflectirmos, não nos reconheceremos. Empurramo-nos para o precipício e não há como voltar atrás. Não será esse o match point, mas sim um ponto sem retorno. Se Édipo não furar então os olhos, é puro golpe de sorte. E a sorte existe, nós sabemos.
O que também existe - sempre - é castigo para qualquer que seja o crime. O twist da obra pode evitá-lo aos olhos de todos, mas a pior punição é a que nos corrói a alma. Caia a bola para que lado da rede cair, o remorso e o arrependimento são a pena capital. Errar é humano. Mas não cegar a consciência nem por sombras é condão divino. Grande filme.
With a little luck, it goes forward, and you win.
Or maybe it doesn't, and you lose.
Or maybe it doesn't, and you lose.
Um argumento poderoso, uma Johansson deliciosa e um Meyers delirante!
ResponderEliminarBOM, só? Não concordo nada mesmo... Mas mesmo nada! :P
ResponderEliminarSó o ritmo desiquilibrado me impediu de lhe atribuir a nota máxima.
Abraço
Os problemas de ritmo são o maior desconsolo do filme. Não deixa contudo de ser um óptimo filme, um dos melhores dos últimos anos. Mas curiosamente é um filme que precisar amadurecer no pensamento do cinéfilo. Quando o filme acabou, deixou-me sem saber o que achei... é um filme que nos fica a remoer na cabeça e... é óptimo.
ResponderEliminarJACKSON: Sem dúvida. O argumento é mesmo o melhor do filme!
ResponderEliminarJACKIE BROWN: Não lhe reconheço qualquer ritmo desiquilibrado.
TIAGO RAMOS: É óptimo, sem dúvida. Grande, grande filme. Curiosamente, e como disse ao Jackie, não lhe reconheço qualquer problema no ritmo. Acho que a narrativa se desenvolve a um ritmo fluído, até.
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
grande filme, grande crítica e fica por perceber o bom...
ResponderEliminarpodes fundamentar melhor?:)
abraço
JACKIE BROWN: Claro, com certeza.
ResponderEliminarA nota prende-se com o facto de apenas reconhecer o argumento como algo de verdadeiramente extraordinário no filme. As próprias das interpretações são boas, mas nunca extraordinárias.
Tanto a montagem, como a banda sonora, como a fotografia confluem acima da média mas sem nunca revelarem grande grau de excepcionalidade. Penso que me entendes: são competentes, de modo algum prejudicam o todo, muito pelo contrário. Mas nem por isso revelam grande criatividade e grande profundidade artística.
Essa profundidade e criatividade só as vejo mesmo no argumento. E não só de argumento vive um filme. Um grande argumento é certamente o que diferencia os filmes banais dos bons filmes. Mas para ser um filme muito bom, para mim um argumento só não basta.
Enquanto realizador, Woody Allen conduz a trama com uma sobriedade notável, mas nunca é extraordinário.
Não sei se te fui suficientemente claro, creio que sim. Qualquer questão, não hesites.
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Adoro esse filme. É o marco da "volta" de Allen. O cineasta - e meu ídolo maior no cinema - voltou a fazer bons filmes depois de um período bem fraco.
ResponderEliminarGostei da crítica.
Abraço.
Ainda que lhe confira algum mérito na realização, só vi o filme uma vez, posso estar enganada. Concordo contigo na questão do argumento, surpreendeu-me, o que já começa a ser raro nos tempos que correm.
ResponderEliminarMATEUS, O INDOLENTE: O seu maior ídolo do cinema? A sério?... Eu não acho Woody Allen um grande grande realizador de cinema. É mais um excelente argumentista que filma com competência as suas histórias, com uma excepcional direcção de actores.
ResponderEliminarCLÁUDIA GAMEIRO: Podes estar enganada em relação ao quê? O argumento é sem dúvida surpreendente e está muito bem escrito.
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Bem...dás a noção no teu comentário que na realização deixa muito a desejar. Pessoalmente, gostei de algumas abordagens em determinadas cenas. Enfim, também não percebo muito de realização :P Quanto ao argumento, concordo em tudo o que dizes, muito bom mesmo.
ResponderEliminarEu só acho que o ritmo é algo desequilibrado, onde temos um um início precipitado, e uma história algo lenta para depois culminar nuns intensos 15 minutos finais.
ResponderEliminarOnde é que achas que a realização falha?
Abraço
Aqui voltamos a estar em desacordo. Se concordo no que ao argumento diz respeito, o mesmo não poderei dizer quando te referes à realização de WA. Eu considero que ele filma tão bem quanto escreve. E esta é uma das suas obras maiores.
ResponderEliminarConsidero mesmo as interpretações excelentes, sobretudo no que toca à intensidade de Meyers, seja na simplicidade de processos, seja no realismo que imprime à sua personagem.
Eu atribuiria o Muito Bom ou mesmo o Excelente. Extraordinária esta tragédia.
Abraço
CLÁUDIA GAMEIRO: Pois, mas a minha intenção não era essa ;D Penso que Woody Allen conduz a obra com assaz sobriedade. Não penso que a realização deixe alguma coisa a desejar. O que eu quero dizer é outra coisa: é que Woody Allen não é nenhum Martin Scorsese, nenhum Aronofsky, ou nenhum Fellini, entendes? No que se refere ao domínio, recurso e versatilidade de técnicas, planos e linguagens cinematográficas, Woody Allen não é um realizador extraordinário. E há que saber fazer estas distinções. Para mim, e é esta a minha opinião, Woody Allen limita-se a filmar o seu argumento com um nível de qualidade que transcende a competência. Mas nunca atinge a mestria cinematográfica. Poderei concordar que Woody é mestre em muitas coisas: argumentista, autor, pensador... mas nunca realizador. É um bom realizador, mas não muito bom realizador. É a diferenciação que estabeleço.
ResponderEliminarJACKIE BROWN: Quanto ao ritmo, não estamos portanto de acordo. Acho o ritmo muito próprio e intrínseco da narrativa e dos efeitos que esta pretende criar.
Quanto à realização, não lhe aponto quaisquer falhas! Atenção, eu adorei este MATCH POINT! É também para mim um dos melhores filmes de Woody Allen. Só que para mim a técnica de Woody Allen enquanto realizador não é merecedora de mais do que 4*.
FILIPE COUTINHO: Estamos mesmo em desacordo. Para mim Woody escreve muito, mas muito melhor do que realiza. Ele é um pensador, um filósofo, um excelente encenador e director de actores, mas não um realizador nato. E atenção porque não acho que ele realize mal! Como disse ao Jackie não lhe aponto falhas. Não é uma questão de pôr defeitos. É uma questão de reconhecer as suas limitações enquanto realizador. É bom, que é muito acima da média, mas também não é um realizador que - como disse à Cláudia - que faça pleno domínio, recurso e versatilidade de técnicas, planos e linguagens cinematográficas.
Quanto às interpretações é um pouco a mesma coisa. São boas prestações. Gosto bastante de Rhys-Meyers. Mas lá está, Rhys-Meyers não é um Sean Penn ou um Daniel Day-Lewis...
Como disse também à Cláudia, não é uma questão de pôr apontar defeitos ou subvalorizar injustamente - o filme é fantástico e adorei! - é uma questão de diferenciação.
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Vejo-o, na verdade, como um dos meus preferidos de Woody, senão o como o melhor. É um revisitar a Dostoievski moderno, contado num tom burlesco que destoa do que é habitual num filme do cineasta. E sim, o argumento está muito, muito bem construída - penso apenas, e não que isso prejudique as considerações finais, que os últimos cinco minutos eram dispensáveis. E o ritmo, que apontam como defeito, é perfeito, na minha perspectiva. Enfim, quanto à filmagem, também eu receio entrar em algum desacordo. A forma como tudo é perspectivado é inegavelmente elegante, ainda que contido (o que não é, de todo, defeito), porque Woody Allen não é de excessos, no que toca à realização. É alguém que se propõe a mostrar as coisas tal como elas são. Não vejo como este ponto poderá constituir um problema nos filmes. Porque tudo coadunado - imagem, música, interpretações, argumento - formam Match Point, um clássico a ser, definitivamente, recordado no futuro.
ResponderEliminarAbraços
FLÁVIO GONÇALVES: Também é dos meus favoritos, senão o favorito. Não entro em desacordo com nenhum dos pontos que referiste no teu comentário. Simplesmente não vejo o filme como digno das 5*. Mas é brilhante! No doubt!
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
De qualuqer forma estou plenamente convencido que Meyers foi uma escolha mais inteligente e eficaz do que teria sido Day Lewis ou Penn.
ResponderEliminarFILIPE COUTINHO: Estás tu e estou eu. Não os imagino nem por nada neste MATCH POINT. Não foi nessa linha de raciocínio que referi Day-Lewis ou Penn, evidentemente.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Preciso ver este filme. Até hoje, vi apenas trechos...!
ResponderEliminar@RASPANTE: Assista, gostei imenso. Creio que vai gostar também.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
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