quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O CABO DO MEDO (1991)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
★★★★
Título Original: Cape Fear
Realização: Martin Scorsese
Principais Actores: Robert De Niro, Nick Nolte, Jessica Lange, Juliette Lewis, Joe Don Baker, Robert Mitchum, Gregory Peck, Martin Balsam, Illeana Douglas, Fred Dalton Thompson

Crítica:

O PESADELO INFERNAL

Every man... every man has to go
through hell to reach paradise.

O Cabo do Medo é como que Scorsese a brincar a Hitchcock. A sua câmera marca uma presença soberana na condução narrativa - cada um dos seus movimentos tem um papel activo e determinante na construção do suspense, que se intensifica num crescendo sufocante e irreversível à medida que caminhamos para o desfecho brutal. E que exímio exercício de construção e de suspense! Tensão, medo, claustrofobia, todas estas sensações nas doses exactas, nos momentos certos. Qual montagem, sempre ágil, precisa e acutilante, a técnica magnetiza eficazmente as atenções do espectador, manipulando o ritmo. Elmer Bernestein recupera a banda sonora de Bernard Herrmann e potencia uma experiência deveras arrepiante.

Ainda que seja um filme formalmente atípico na carreira do cineasta, encontramos neste remake o mesmo olhar frio e cerebral de sempre, sobre a violência e sobre o mundo do crime; temas recorrentes na filmografia de Scorsese, como sabemos. E encontramos, pois claro, o também recorrente Robert De Niro, numa performance extraordinária, verdadeiramente assombrosa. Provavelmente, uma das suas melhores interpretações de sempre. De Niro é Max Cady, um imprevisível, doentio e repugnante fantasma do passado, um psicopata de sorriso irónico e ameaçador, que procura a vingança junto do seu antigo advogado Sam Bowden (Nick Nolte) e da sua respectiva família (Jessica Lange, Juliette Lewis). Recém-libertado da prisão, passa a perseguir os seus alvos sem cessar, apertando-lhes cada vez mais o cerco. Sam espera, desespera e lança-se em estratagemas menos ortodoxos na tentativa de se livrar do louco, ainda que em vão. Max é extremamente engenhoso, meticuloso e inteligente e ultrapassará todos os limites numa caça sem tréguas.

I ain't no white trash piece of shit. I'm better than you all! I can out-learn you. I can out-read you. I can out-think you. And I can out-philosophize you. And I'm gonna outlast you. You think a couple whacks to my guts is gonna get me down? It's gonna take a hell of a lot more than that, Counselor, to prove you're better than me!
Max Cady

Perante a assustadora vivência, a utilidade do código: seguir o dever e a ética profissional ou a lei moral? O conflito assola a reflexão e a fraqueza da justiça dos Homens é posta em evidência.

Maybe 2000 years ago, we'd have stoned him to death.
I can't operate outside the law. The law is my business.
Sam Bowden

Daí o confronto final ter uma simbologia especial. Perante a ameaça da violência e na luta pela sobrevivência, todas as leis caem por terra. A justiça primitiva é a única possível e a semente do crime pende igualmente para ambos os lados da balança. Todos os homens podem ser culpados e agentes de violência, tenham razões para isso. Desse prisma, as diferenças entre Max e Sam tendem, às tantas, a dissipar-se. As circunstâncias da vida encarregar-se-ão finalmente de os encaminhar para a redenção ou não.

Max Cady: I'm Virgil and I'm guidin' you through the gates of Hell. We are now in the Ninth Circle, the Circle of Traitors. Traitors to country! Traitors to fellow man! Traitors to GOD! You, sir, are charged with betrayin' the principles of all three! Quote for me the American Bar Association's Rules of Professional Conduct, Canon Seven.
Sam Bowden: "A lawyer should represent his client... "
Max Cady: "Should ZEALOUSLY represent his client within the bounds of the law." I find you guilty, counselor! Guilty of betrayin' your fellow man! Guilty of betrayin' your country and abrogatin' your oath! Guilty of judgin' me and sellin' me out! With the power vested in me by the kingdom of God, I sentence you to the Ninth Circle of Hell! Now you will learn about loss! Loss of freedom! Loss of humanity! Now you and I will truly be the same...

Enfim, magistral. Psicologicamente estonteante.

4 comentários:

  1. Estonteante e incrivelmente psicótico são bons adjectivos para qualificar esta obra de Scorcese. Gosto do suspense, de toda a tensão e manipulação com a câmara (a fazer lembrar Hitchcock de facto), do argumento bem construído e pautado nos momentos certos e por fim da interpretação de DeNiro.

    É um dos meus preferidos do realizador mesmo, e posso dizer-te que me surpreendeu quando o vi, pensei que pudesse ser banal no seu todo, e bem pelo contrário prima por competência e criatividade muitas vezes.

    abraço

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  2. Não o acho tão magistral quanto tu mas foi um filme que me despertou para um outro terror possível. E a tagline que tu escreves no início é algo de espantoso.

    Abraço
    Frank and Hall's Stuff

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  3. JORGE: Também me surpreendeu. Tinha-o visto há vários anos e não me tinha apercebido da qualidade da sua narração. É fenomenal.

    BRUNO CUNHA: Não consigo ficar indiferente à elevada execução na filmagem, Scorsese não descura as potencialidades do movimento da câmera nem por um instante.

    Roberto Simões
    » CINEROAD «

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  4. Já o vi há muito tempo. É daqueles filmes inesquecíveis pelo suspense, terror, medo e pavor que provocam. E o Robert de Niro tem um desempenho brutal.

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