★★★★★
Título Original: The Wild BunchRealização: Sam Peckinpah
Principais Actores: William Holden, Ernest Borgnine, Robert Ryan, Edmond O'Brien, Warren Oates, Jaime Sánchez, Ben Johnson, Emilio Fernández, Strother Martin, L.Q. Jones, Albert Dekker, Bo Hopkins, Dub Taylor, Paul Harper, Jorge Russek, Alfonso Arau, Chano Urueta
Crítica:
OS PISTOLEIROS DO ENTARDECER
If they move, kill 'em!
Numa das primeiras imagens de A Quadrilha Selvagem, um escorpião vê-se cercado e vencido por um exército de formigas. Metáfora e sinédoque de todo o filme, a aclamada obra de Peckinpah supera a criatividade dos créditos de abertura com uma das mais brilhantes sequências de todo a obra. Nela, as grandes marcas do cinema do realizador e especialmente dos seus westerns - género pelo qual, aliás, se consagrou com irreverência: a acção desenfreada e explosiva (dos tiroteios), o humor e a crueza radical da tremenda exploração da violência no ecrã e a acutilância da montagem (Louis Lombardo) que, dando continuidade às várias linhas da cena num elegante slow motion, conferem à obra uma linguagem extremamente dinâmica, ritmada e prazerosa de se assistir.
A Quadrilha Selvagem trata o fim do oeste americano ou pelo menos o fim e a queda daquele oeste americano que o cinema tanto ajudou a mitificar. As primeiras décadas do século XX trouxeram a mudança dos tempos e novos modelos sociais, culturais e, por conseguinte, civilizacionais. A violência passou das mãos de justiceiros e noutros casos ladrões e assassinos detentores de um prezado código de honra, para as mãos de capitalistas ganaciosos e amorais, somente sedentos de poder. Peckinpah passa o filme inteiro a humanizar a quadrilha. Nos olhos de Pike (William Holden) e de Deke (Robert Ryan) - outrora amigos, pelo que sugerem alguns dos inúmeros flashbacks que povoam a obra - é espelhada a angústia interior de um grupo de cowboys que não soube fazer mais nada, ao longo da vida, senão perseguir, fugir ou disparar uma arma e que, meditando a sua existência, entende que se tiver que voltar a matar, que o fará por um motivo digno. Peckinpah contrapõe perfeitamente o companheirismo e a união destes bandidos pelos quais acabamos por empatizar à desumanidade e ao despudor com que o general Mapache e os seus guerrilheiros mexicanos disfrutam das mulheres e dos prazeres da vida, do carro, da metralhadora e da alta tecnologia dos armamentos americanos, à margem da lei negociados. Note-se, a propósito, a forma leviana e doentia com que os experimentam, indiscriminadamente sobre a população, sempre embebidos em álcool e em música. Há, portanto, um claro e evidente choque geracional que transfigura a paisagem e os valores, ao qual Pike e companhia jamais se rendem. Preferem sacrificar-se e aceitar a morte, que a Pike chega ironica, tragica e simbolicamente pelas mãos de uma criança. Qual escorpião cercado pelas formigas.
A Quadrilha Selvagem trata o fim do oeste americano ou pelo menos o fim e a queda daquele oeste americano que o cinema tanto ajudou a mitificar. As primeiras décadas do século XX trouxeram a mudança dos tempos e novos modelos sociais, culturais e, por conseguinte, civilizacionais. A violência passou das mãos de justiceiros e noutros casos ladrões e assassinos detentores de um prezado código de honra, para as mãos de capitalistas ganaciosos e amorais, somente sedentos de poder. Peckinpah passa o filme inteiro a humanizar a quadrilha. Nos olhos de Pike (William Holden) e de Deke (Robert Ryan) - outrora amigos, pelo que sugerem alguns dos inúmeros flashbacks que povoam a obra - é espelhada a angústia interior de um grupo de cowboys que não soube fazer mais nada, ao longo da vida, senão perseguir, fugir ou disparar uma arma e que, meditando a sua existência, entende que se tiver que voltar a matar, que o fará por um motivo digno. Peckinpah contrapõe perfeitamente o companheirismo e a união destes bandidos pelos quais acabamos por empatizar à desumanidade e ao despudor com que o general Mapache e os seus guerrilheiros mexicanos disfrutam das mulheres e dos prazeres da vida, do carro, da metralhadora e da alta tecnologia dos armamentos americanos, à margem da lei negociados. Note-se, a propósito, a forma leviana e doentia com que os experimentam, indiscriminadamente sobre a população, sempre embebidos em álcool e em música. Há, portanto, um claro e evidente choque geracional que transfigura a paisagem e os valores, ao qual Pike e companhia jamais se rendem. Preferem sacrificar-se e aceitar a morte, que a Pike chega ironica, tragica e simbolicamente pelas mãos de uma criança. Qual escorpião cercado pelas formigas.
We all dream of being a child again, even the worst of us.
Perhaps the worst most of all.
Perhaps the worst most of all.
Assistir à Quadrilha Selvagem de Peckinpah lembra-me sempre, pese muito embora o anacronismo da questão (que Harold Bloom facilmente fundamentaria) o também magistral Aguenta-te, Canalha, de Sergio Leone. São os dois objectos diferentes, mas com vários pontos em comum, quando muito não seja o espaço e o tempo históricos. Vivem ambos, e tanto, do virtuosismo da arte de filmar e também Aguenta-te, Canalha se inicia com um inglório império de formigas, que Leone rapida e engenhosamente desfaz com o espumante mijo de Rod Steiger (no filme, o hilariante Juan Miranda). Enfim, fica a nota de comparação.
Moral sem alguma vez cair, propriamente, no moralismo e sobretudo excitante e divertido, sem nunca parecer ridículo ou pouco realista, A Quadrilha Selvagem terá porventura contribuído para a estética do cinema de acção como poucos, no legado que se lhe seguiu. Eleva-se à memória como uma verdadeira fonte de inspiração, fotografado pelo suado e empoeirado esplendor de Lucien Ballard.
Moral sem alguma vez cair, propriamente, no moralismo e sobretudo excitante e divertido, sem nunca parecer ridículo ou pouco realista, A Quadrilha Selvagem terá porventura contribuído para a estética do cinema de acção como poucos, no legado que se lhe seguiu. Eleva-se à memória como uma verdadeira fonte de inspiração, fotografado pelo suado e empoeirado esplendor de Lucien Ballard.
Por acaso vi-o recentemente, juntamente com outros westerns. E gostei muito, o seu carácter revolucionário e de cariz mais violento é apelativo e funciona extremamente a favor. Depois tem ainda uma quadrilha de protagonistas densa, com personagens que se desenvolvem ao longo do filme. Peckinpah é também hábil, gostei da realização, tal como da fotografia.
ResponderEliminarEm suma um grande filme, que definiu e marcou uma etapa no western. Para mim ainda assim, e actualmente, talvez não o veja como a grande obra-prima que muitos proclamam, fica só a nota :)
abraço
JORGE: Também não o considero propriamente uma obra-prima, mas vejo nele um filme tecnicamente exemplar e extremamente influente. Nomeadamente no que se refere a esse tratamento estetizado mas frontal da violência. Espantosa, a montagem.
ResponderEliminarRoberto Simões
CINEROAD
É um bom western realista e violento, tal como Peckinpah já tinha feito com MAJOR DUNDEE. O realizador sempre teve muitos problemas com a censura americana porque os seus filmes eram vistos como "violência excessiva"! Este tipo de westerns produzidos nos EUA foram possíveis porque os westerns-spaghetti já tinham explorado a violência extrema e o sadismo. Da mesma forma que é clara a inspiração de Peckinpah nos mestres Sergio Leone e Sergio Corbucci.
ResponderEliminarSergio Leone usou várias referências deste filme no western que realizou a meias com o seu colaborador Tonino Valerii O MEU NOME É NINGUÉM, com Terence Hill e Henry Fonda.
ResponderEliminarEMANUEL NETO: Obrigado pelos testemunhos ;)
ResponderEliminarRoberto Simões
CINEROAD