★★★★★
Título Original: Ugetsu monogatariRealização: Kenji Mizoguchi
Principais Actores: Masayuki Mori, Machiko Kyô, Kinuyo Tanaka, Eitarô Ozawa, Ikio Sawamura
Crítica:
O PREÇO DA AMBIÇÃO
Quem tudo quer, tudo perde, já diz o ditado, e a Os Contos da Lua Vaga, aclamado filme de Mizoguchi, poucas máximas lhe poderiam assentar tão perfeitamente. Pese o acentuado travo de moral e tragédia que, em crescendo, configura o retrato, eis a perdição do Homem que, sem valorizar os seus pilares fundamentais - já adquiridos - condena-se a si próprio à destruição. Menosprezando a família, irresponsavelmente, desprezando-a até e abandonando-a à sorte na cega esperança de um dia cumprir os seus desígnios, avançam os tolos para o precipício. Numa perspectiva cristã, pisariam o Paraíso sedentos da posse de glória e atravessariam o Purgatório, pleno de espectros sedutores e amaldiçoados, rumo ao Inferno irreversível.
Genjûro (Masayuki Mori) e Tobei (Eitarô Ozawa) são vizinhos, manuseiam a arte e a terra. O primeiro sonha ser rico, o segundo sonha ser guerreiro samurai, ambos de fama e reputação considerável. Insatisfeitos com o baixo reconhecimento da sua condição social, acabam por deixar a família, a casa e a terra, abraçando a ilusão. A guerra civil bate-lhes à porta, sem piedade, anunciando o infortúnio.
Às tantas, a aparente ascendência do percurso obsessivo sai da sombra e a queda mostra-se profundamente cruel e sentensiosa. Separados pelo destino, cada marido e cada mulher acolhe a desgraça. As almas de outrora, penadas, cantam o adeus e a memória. O final de Tobei e da mulher Ohama acaba por confrontá-los com a dureza das circunstâncias e com a inevitabilidade da vida - profundamente irónico, o reencontro no bordel -, mas sobretudo o poético e transcendente desfecho de Genjûro e da esposa Miyagi, entre as ruínas de Kutsuki e o filho adormecido, vem alertar para as derradeiras consequências do egoísmo e do orgulho, da traição, da inveja e da vaidade: a dor da solidão e o vazio existencial. O verdadeiro ouro esteve sempre ali... e foi posto em causa por tão levianos devaneios.
Certamente, um clássico absoluto e intemporal.
Genjûro (Masayuki Mori) e Tobei (Eitarô Ozawa) são vizinhos, manuseiam a arte e a terra. O primeiro sonha ser rico, o segundo sonha ser guerreiro samurai, ambos de fama e reputação considerável. Insatisfeitos com o baixo reconhecimento da sua condição social, acabam por deixar a família, a casa e a terra, abraçando a ilusão. A guerra civil bate-lhes à porta, sem piedade, anunciando o infortúnio.
Quem só procura a glória,
faz sofrer os que o rodeiam.
Do estilo de Mizoguchi denota-se um imenso e apurado sentido visual (deslumbrante e encantatória, a fotografia de Kazuo Miyagawa, tão escura quanto cintilante em todas as nuances da iluminação. Há quadros belíssimos, por entre a fluidez dos planos-sequência). A montagem e a extraordinária orquestração de música (Fumio Hayasaka, Tamekichi Mochizuki, Ichirô Saitô) e sons conferem à obra uma dimensão fantasmagórica e espiritual, bem antes da natureza sobrenatural ou mística de algumas das personagens. O argumento, misto das ideias de vários criadores, desenvolve a trama com um doseamento equilibrado do mistério e da revelação.faz sofrer os que o rodeiam.
Às tantas, a aparente ascendência do percurso obsessivo sai da sombra e a queda mostra-se profundamente cruel e sentensiosa. Separados pelo destino, cada marido e cada mulher acolhe a desgraça. As almas de outrora, penadas, cantam o adeus e a memória. O final de Tobei e da mulher Ohama acaba por confrontá-los com a dureza das circunstâncias e com a inevitabilidade da vida - profundamente irónico, o reencontro no bordel -, mas sobretudo o poético e transcendente desfecho de Genjûro e da esposa Miyagi, entre as ruínas de Kutsuki e o filho adormecido, vem alertar para as derradeiras consequências do egoísmo e do orgulho, da traição, da inveja e da vaidade: a dor da solidão e o vazio existencial. O verdadeiro ouro esteve sempre ali... e foi posto em causa por tão levianos devaneios.
Certamente, um clássico absoluto e intemporal.
Monumental, grandioso.
ResponderEliminarBela prosa sobre um filme genial do meu realizador de cabeceira. Um exemplo formidável da arte modular de Mizoguchi.
ResponderEliminarÁLVARO MARTINS: Sim, isso tudo.
ResponderEliminarRUI GONÇALVES: Obrigado ;) É claramente um realizador a descobrir por estas paradas. Recomendações?
Roberto Simões
CINEROAD
«Recomendações?»
ResponderEliminarAcima de todos, «Os Amantes Crucificados» que existe numa cópia imaculada - restaurada - em DVD lançado recentemente. Ou então, entre outros tão bons ou quase, «O Intendente Sansho», «A Imperatriz Yang Kwei-Fei», «A Vida de O'Haru», «Contos dos Crisântemos Tardios» e «A Rua da Vergonha». qualquer deles é, quanto a mim, uma obra-prima absoluta. Com excepção dos Crisântemos, que também já teve lançamento em DVD, encontrá-los disponíveis é que não vai ser nada fácil...
RUI GONÇALVES: Obrigado pelas recomendações. A crítica a'OS AMANTES CRUCIFICADOS chegará em breve ao CINEROAD.
ResponderEliminarRoberto Simões
CINEROAD
E mais uma obra-prima do japão :). Mizoguchi proporciona-nos uma deliciosa e monumental viagem ao século XVI, recheada de cenas e diálogos inesquecíveis. Se o argumento é muito bom, a realização é do outro mundo.
ResponderEliminarA 7ª arte no seu melhor!