sábado, 24 de abril de 2010

24 HOUR PARTY PEOPLE (2002)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: 24 Hour Party People
Realização: Michael Winterbottom


Principais Actores: Steve Coogan, Paddy Considine, Keith Allen, Rob Brydon, Enzo Cilenti, Ron Cook, Lennie James, Andy Serkis, Kevin Baker

Crítica:

SEX, DRUGS & ROCK 'N' ROLL

And tonight something equally epoch-making is taking place. See? They're applauding the DJ. Not the music, not the musician, not the creator, but the medium. This is it. The birth of rave culture. The beatification of the beat. The dance age. This is the moment when even the white man starts dancing. Welcome to Manchester.

Quando Dédalo concebeu as asas de cera, bem que avisou o filho para que não se aproximasse demasiado do sol ou as asas derreteriam e a queda seria fatal. A cena de abertura de 24 Hour Party People joga, afinal, com esse mito: Is it a bird? Is it a plane? No... Tony Wilson traça a metáfora com o falhado vôo de asa-delta, rematando: You're going to see a lot more of that sort of thing in the picture. I don't want to say too much, don't want to spoil it. I'll just say one word: 'Icarus'. If you get it, great. If you don't, that's fine too. But you should probably read more. Os créditos avançam e assim começa uma vibrante e alucinada viagem à cena de Manchester, entre os finais dos anos 70 e os inícios dos anos 90, quando bandas como Sex Pistols, Joy Division, New Order ou Happy Mondays fizeram furor e ascenderam da garagem ao estrelado e à idolatria de milhares de fãs. Contudo, tal como as asas de Ícaro, a música é um universo bastante susceptível e volátil. Tão depressa se está no auge como no abismo. A filosofia do mendigo denota assaz sabedoria:

It's my belief that history is a wheel. 'Inconsistency is my very essence' - says the wheel - 'Rise up on my spokes if you like, but don't complain when you are cast back down into the depths. Good times pass away, but then so do the bad. Mutability is our tragedy, but it is also our hope. The worst of times, like the best, are always passing away'.

Tony Wilson (fantástico Steve Coogan) assume o protagonismo e a narração. E é enquanto narrador que se revela mais interessante, pois interrompe a acção para falar directamente ao espectador, para antecipar informação (He will go on tosleep with my wife (...) Later on he will try to kill me) ou para simplesmente mentir e efabular sobre os factos históricos que o filme se esmera por reconstituir: I agree with John Ford: when you have to choose between the truth and the legend, print the legend.

O argumento (Frank Cottrell Boyce) confere ao filme uma energia e vitalidade fundamental para fazer com que o espectador reviva as emoções do rock, sentidas à flor da pele naquela musical explosão de ruptura e provocação, sexo e drogas. O filme é baseado na aparente espontaneidade e liberdade de regras, tal e qual a música que nascia sob tão jovial pulsão. A música é, também ela, um agente essencial para a energia e vitalidade da obra. Afinal, 24 Hour Party People é um filme sobre música mas um filme que é, também ele próprio, música. E aos grupos acima anunciados juntam-se temas dos The Clash, dos The Buzzcocks e um remix do tema que dá nome ao filme, por Jon Carter, numa delirante banda sonora.

Para os fãs deste estilo de música, a virtuosa obra de Michael Winterbottom será um puro deleite, certamente. Para os fãs de cinema, fica um irreverente achado de irreverente confluência estética, que se constrói na fusão da comédia com o drama e do biopic com o documentário, num brainstroming musical ímpar. Excepcionalmente montado e dirigido, com momentos de surpreendente criatividade (a cena dos pombos, a título de exemplo), 24 Hour Party People impõe-se como um alien da pop culture, mas ostenta as qualidades necessárias para alimentar um merecido fenómeno de culto.

5 comentários:

  1. Um filme que, sinceramente, me desiludiu. Vale pelo excelente Steve Coogan e pela banda sonora.

    15/20



    Yirien

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  2. YIRIEN: Ai viste o filme? ;) Coogan está realmente muito bom e a banda sonora fala por si. Eu gostei do filme, não tinha expectativas. Não sendo nunca extraordinário, é claramente um filme cheio de qualidades.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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  3. Com a sua saída no Público, devo vê-lo recentemente. Parece-me ser exactamente do meu género :D

    Abraço

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  4. MARCELO PEREIRA: Sim, parece-me que vai ser do teu agrado.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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  5. Não conhecia este filme. Pensava que havia apenas dois filmes sobre a Manchester da gravadora Factory.

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