★★★★
Título Original: Inception
Realização: Christopher Nolan
Principais Actores: Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Marion Cotillard, Ellen Page, Tom Hardy, Ken Watanabe, Dileep Rao, Cillian Murphy, Tom Berenger, Michael Caine, Pete Postlethwaite
Crítica:
O SONHO E A REALIDADE
Our dreams, they feel real while we're in them (...)
Its only when we wake up then we realize that something was actually strange.
Its only when we wake up then we realize that something was actually strange.
O argumento de A Origem (da autoria de Christopher Nolan) é tremendamente engenhoso e complexifica-se na tentativa de penetrar o espectador acordado no universo onírico que, não raras as noites, invade a sua in-/sub-/consciência, numa recriação - ilógica e sem limites - do mundo real. A experiência de sonhar dentro do sonho - num efeito de myse en abyme quase perpétuo - é amplamente explorada. É esta riquíssima dimensão de potencialidades que Nolan transporta para a forma de um empolgante thriller de acção e espionagem.
Leonardo DiCaprio - à frente de um elenco excepcional, mas sem tridimensionalidade de origem - tem uma prestação memorável como Dom Cobb - especialista em extrair, pelos sonhos, os segredos mais preciosos dos seus alvos. Agora, a missão quase impossível de implantar uma ideia, descendo os níveis do inconsciente rumo ao cofre mais profundo, confrontá-lo-á com as memórias mais dolorosas e perigosas da sua existência.
Leonardo DiCaprio - à frente de um elenco excepcional, mas sem tridimensionalidade de origem - tem uma prestação memorável como Dom Cobb - especialista em extrair, pelos sonhos, os segredos mais preciosos dos seus alvos. Agora, a missão quase impossível de implantar uma ideia, descendo os níveis do inconsciente rumo ao cofre mais profundo, confrontá-lo-á com as memórias mais dolorosas e perigosas da sua existência.
What is the most resilient parasite? Bacteria? A virus? An intestinal worm? An idea. Resilient... highly contagious. Once an idea has taken hold of the brain it's almost impossible to eradicate. An idea that is fully formed - fully understood - that sticks; right in there somewhere.
Tecnicamente, o requinte e a sofisticação da fotografia (Wally Pfister), da direcção artística (Guy Hendrix Dyas, Larry Dias, Douglas A. Mowat) e dos efeitos especiais (Chris Corbould, Andrew Lockley, Pete Bebb, Paul J. Franklin) expandem uma criação visionária e espectacular. A composição musical de Hans Zimmer, assim como a exímia montagem de Lee Smith, servem eficazmente os propósitos do ritmo e da condução das emoções, no decorrer dos avanços e recuos da narrativa, do exigente e vertiginoso labirinto. A interessante premissa é elevada a um magnífico pedaço de entretenimento. Memoráveis, a cena em que a cidade se dobra sobre si própria, ou aqueloutra da espantosa luta de Arthur the point man (Joseph Gordon-Levitt) pelo corredor do hotel, em gravidade zero. Brilhante.
O filme, em primeira ou última instância, assume-se como um reflexo do sonho: um estado de inspirada arquitectura e de prodigiosa imaginação, onde as coordenadas espacio-temporais são livremente distorcidas, transportando e absorvendo inteiramente o espectador para a sua plenitude trágica. Para este, afirmar ou distinguir com absoluta certeza o que é, narrativamente, sonho ou realidade constituirá eternamente o maior desafio do filme. Até a última pista aponta para a ambiguidade.
O filme, em primeira ou última instância, assume-se como um reflexo do sonho: um estado de inspirada arquitectura e de prodigiosa imaginação, onde as coordenadas espacio-temporais são livremente distorcidas, transportando e absorvendo inteiramente o espectador para a sua plenitude trágica. Para este, afirmar ou distinguir com absoluta certeza o que é, narrativamente, sonho ou realidade constituirá eternamente o maior desafio do filme. Até a última pista aponta para a ambiguidade.
Acho-o mais que um pedaço de entretenimento mas não é o melhor do ano.
ResponderEliminarAbraço
Frank and Hall's Stuff
Pois, eu também concordo com o Bruno: gostei mais dele do que tu, embora também ache que agora lhe descia a nota ridiculamente alta que lhe dei quando o vi no Verão.
ResponderEliminarÉ um 'blockbuster' em condições e ainda bem que a Warner Bros confiou quase cegamente no Chris Nolan e neste projecto e lhe deu o gigante orçamento que lhe permitiu fazer isto.
E sim não é o melhor do ano, mas é uma das melhores ofertas que 2010 nos proporcionou.
Cumprimentos,
Jorge Rodrigues
Dial P For Popcorn
Ora bem, não gostaste do filme... :P
ResponderEliminarBem, estamos em desacordo, considero-o um pedaço de Cinema fascinante e envolvente em todos os sentidos, adorei mesmo.
EXCELENTE para mim.
Abraço ;)
Compreendo o que dizes sobre ser "um bom pedaço de entretenimento" e, lendo o resto da crítica, facilmente se percebe que não o estás a reduzir a isso, já que enalteces devidamente todos os seus méritos narrativos e estéticos. É um filme muito bom, que conjuga muito bem as directrizes das grandes produtoras com um produto original, interessante, envolvente, que vale a pena rever. Ser dos melhores do ano ou não, depende do número de "melhores" que estivermos a abarcar ;)
ResponderEliminarEstamos sim de acordo Roberto, uma vez mais :)
ResponderEliminarBRUNO CUNHA: Também o considero um tanto mais do que entretenimento. Mas é sobretudo isso, sem qualquer desprestígio.
ResponderEliminarJORGE RODRIGUES: Por acaso, dado o frenesim à sua volta, até esperava encontrar um quebra-cabeças daqueles. É labiríntico, mas tão-pouco é genial, aparte uma ou outra ideia que foi muito bem desenvolvida para o ecrã.
RUI FRANCISCO PEREIRA: Tendo em conta que o avaliei como "BOM" custa-me a crer como é que tenhas concluído que não gostei do filme. Por acaso até gostei bastante. Mas não é nenhuma obra-prima, longe disso. "Fascinante e envolvente" sem dúvida.
DIOGO F: Não o reduzo a isso, efectivamente. É um exercício narrativo assaz estimulante e gostei. Um dos melhores do ano, sem dúvida.
FLÁVIO GONÇALVES: É verdade ;)
Roberto Simões
CINEROAD
Para mim mais que um pedaço de entretenimento, achei o filme excelente, deslumbrante. Um dos melhores filmes que já vi da actualidade ;)
ResponderEliminarBjks
Bom, não tenho como não ficar um pouco desapontado, embora tenhas gostado, mas claramente não tanto como eu. A sensação depois de o visionar pela primeira (e segunda) vez foi tal que não me lembro assim de repente de muitos mais filmes que o conseguiram de forma tão viciante e emocionante.
ResponderEliminarDe resto estou de acordo com a crítica e considero aqui o argumento como valor por excelência em relação a tudo o mais. Também partilho da tua opinião em relação às prestações, nomeadamente a de DiCaprio, actor muito subvalorizado. Fica acima de tudo o entretenimento avassalador como inquestionável em ambas (nossas) opiniões.
Do Nolan este Inception é mesmo o que prefiro (por hoje), seguido de Memento, The Dark Knight e The Prestige.
abraço
GEMA: Não iria tão longe, mas quer dizer - é só a minha opinião. O filme não me transcendeu a esse ponto. Compreendo o porquê do sucesso tremendo que teve. Não compreendo, isso sim, que o considerem excelente (com o mesmo valor que eu emprego à palavra) e uma obra-prima.
ResponderEliminarJORGE: Não há porque ficar desapontado ;) Gostei bastante do filme, é uma obra com originalidade e com um argumento muito bom. Tem qualidades que nunca mais acabam e é filme para rever ao longo da vida ;)
Roberto Simões
CINEROAD
Inception...Dele digo o mesmo que diria do Shutter Island: o deslumbre com que saí da sala de cinema supera qualquer detalhe que, lembrado a posteriori, tenha falhado.
ResponderEliminarUma história única, original e uma mão cheia de actores talentosos. Já revi e mantenho a minha posição: o melhor do ano (ou, enquadrando, o melhor dos 10 nomeados - que vi e, alguns, revi)
Uma nova obra prima. Diversão e entretenimento com inteligência e originalidade.
ResponderEliminarNolan superou as minhas expectativas depois de The Dark Knight.
Abraços
Rodrigo
Roberto, fico satisfeito por ler a tua aprovação a INCEPTION.
ResponderEliminarJOÃO MARECOS: Sem dúvida um dos melhores de 2010, tendo a concordar com o resto do testemunho. Volte sempre!
ResponderEliminarRODRIGO MENDES: Não creio. Mas é tudo isso que disse na frase: "Diversão e entretenimento com inteligência e originalidade".
SAM: Porquê?
Roberto Simões
CINEROAD
Roberto, para além do que escrevi no meu blog e que recentemente comentaste, porque também o achei um dos melhores de 2010 e, apesar de só estarmos no seu início, desta década.
ResponderEliminarPara mim, é um blockbuster como todos os blockbusters deveriam ser: desafia e entretém o espectador sem o insultar.
Talvez não seja totalmente original, mas a sua concretização é, no mínimo, arrojada.
Inception é um grande filme de entretenimento em modo blockbuster de acção que não deixa de lado a componente, de ser também ele um filme inteligente e desafiante.
ResponderEliminarInception atinge níveis interessantíssimos de complexidade. Complexidade essa que é tão exaustivamente explicada durante o filme, que o filme passa a desfilar á nossa frente sem qualquer esforço sequer.
O Inception arrebata por introduzir as camadas de sonhos dentro de sonhos e as noções de diferentes velocidades, que faz o tempo triplicar a cada nova camada de sonho mais profunda (conduzindo no final aos vários climax simultãneos do filme a passarem-se durante a genial cena da carrinha a cair).
Eu adorei o filme, que foi visto e revisto, mas deixou-me insatisfeito. Fica a insatisfação por sentir nele uma ausência de ligação "honesta" à realidade, pois o twist final coloca tudo em suspenso.
(O totem de Cobb a rodopiar... questiona todo o filme, conduzindo esta história toatalmente a uma não-história... passa a ser literalmente tudo um sonho!) De tal maneira que o transforma num embuste, um filme traidor e um enorme logro até… que resulta na mais presunçosa obra de Nolan. E não lhe vi nada disso nos filmes anteriores.
E depois ter uma personagem para apenas estar constantemente a fazer perguntas (Ariadne) para as respostas nos indicarem o que fazer a seguir... é um ponto muito triste para o argumento. Parece uma falha e dá a netender que Nolan acha o espectador tão estúpido que não iria compreender a sua obra "superior" (e quanto mais o tempo se afasta menos aprecio o filme).
O filme de Scorcese, o magnifico "Shutter Island" é várias vezes superior como filme. Inception é, isso sim, um bom blockbuster de acção e aventuras, com um nível de conceitos que não é normal encontrar nos tempos actuais num filme de acção e efeitos visuais.
Mais aqui: Cine-review: Inception... deu-me mixed-feelings
SAM: Pode não ser inteiramente original, mas tem originalidade, é inegável. Pelo menos fiquei com a sensação de que experienciava algo de diferente (mais pelo exercício, não tanto pelas técnicas cinematográficas de filmar e montar a acção).
ResponderEliminarARMINDO PAULO FERREIRA: Concordo com tudo o que disseste neste teu comentário. Partilho, inteiramente, desta opinião. Contudo, não penso que o facto de ser uma "não-história" diminua propriamente o filme, depende daquilo que se espera de um filme enquanto espectador, não é?
SHUTTER ISLAND de Scorsese, também o considero superior, mas resisto inteiramente à comparação.
Roberto Simões
CINEROAD
Roberto, o facto de ser uma não-história, na minha maneira de o descodificar (a história da presença ou não da aliança é para mim uma treta que não prova nada também), não diminui nada ao valor que o filme tem. Agora acho sim é que houve falta de humildade de Nolan & Cia a "vender" o filme pois colocaram-no acima de tudo, como se nada mais houvesse de melhor. O hype é tanto que se transformou num lobby que o conduziu a tudo o que é premios como se não tivesse saido melhores obras em 2010. Não dá para comparar ao Shutter Island directamente mas que ambos têm pontos de contacto não dá para negar. O mesmo actor, a história encapuçada, o filme questionador...
ResponderEliminarDirectamente, no Shutter há representação muito mais admirável (o DiCaprio mostra-se um verdadeiro actor e no Inception funciona mais em automático), há muito mais visão artistica no trabalho de camera (recordo-me sempre da cena do "copo invisivel"), e tem um argumento mais recompensador.
Gosto do Inception mas ele não é tanto como se faz crer ser.
Roberto, a tua classificação foi certeira!
É Bom mas nada mais que isso...
Gostei do filme, e o Inception foi provavelmente o blockbuster do ano. A montagem é simplesmente fenomenal! Os efeitos especiais também são irrepreensíveis.
ResponderEliminarO meu maior problema prende-se com o argumento do filme: É uma ideia extremamente interessante e intrigante, mas a forma de como ela foi concebida... Hm. Diria que o grau de complexidade que o Nolan injectou no desenrolar da acção apenas prejudicou a história, tornando-a desnecessariamente «complicada».
Anyway, tirando isso, e alguns dos elementos do elenco, não tenho qualquer problema com o filme :)
Abraço
Continuo sem perceber onde é que o raio do filme é complicado...
ResponderEliminarNolan trata-nos ainda por mais burros que normalmente fazem na América e introduz a personagem para nos guiar por onde ele quer, calando-nos completamente, e vamos apenas visionando o filme sem poder interpretar ou pensar em algo, apenas sentados e levados por onde ele quer...
NUNOB: Eu até gostei do labirinto ;) Pena que não haja espaço para se modelarem as personagens.
ResponderEliminarNEUROTICON: Opiniões ;) Não me revejo especialmente nas tuas palavras, ainda que concorde tendencialmente com "vamos apenas visionando o filme sem poder interpretar ou pensar em algo, apenas sentados e levados por onde ele quer..."
Obrigado a todos pelos comentários!
Roberto Simões
CINEROAD
Fico dividido com relação a Christopher Nolan. Ele tem algo de alguém que se põe a divertir com a maneira MTV de ver filmes. É como se dissesse: pois é, pessoal, já que vocês precisam de tomadas com poucos segundos, dou-lhe o que estão a pedir. Se quiserem reflectir, dou-lhes material, caso não venha a calhar, fiquem com os efeitos especiais.
ResponderEliminarE, então, ponho-me a perguntar: truque ou inteligência?