quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O LIBERTINO (2004)

PONTUAÇÃO: RAZOÁVEL
Título Original: The Libertine
Realização: Laurence Dunmore

Principais Actores: Johnny Depp, Samantha Morton, John Malkovich, Paul Ritter, Stanley Townsend, Francesca Annis, Rosamund Pike, Tom Hollander, Johnny Vegas, Jack Davenport, Trudi Jackson, Claire Higgins, Freddie Jones, Robert Wilfort


Crítica:

DECADENTE TENTAÇÃO

That would not be appropriate for a man of breeding.

De libertinagem, certamente os dez anos de luxúria que, até ao presente diegético, praticou pelos cantos e recantos da corte e do reino, e a que não assistimos. De libertinagem, agora, talvez somente a fama. O passeio de John Wilmot, excêntrico e escandaloso conde de Rochester, pelo parque numa manhã de nevoeiro convoca, aliás, a recordação de um passado de proveitosos prazeres da carne. Orgias, sodomia, violações, incesto. Perversão, depravação e nojo numa acentuada decadência moral. Um talentoso poeta, consumido pelo álcool e pelo desejo. I am nature.

A viagem no tempo faz-se por meio de uma reconstituição histórica tremendamente exigente, detalhada e autêntica. A direcção artística (Ben van Os, Patrick Rolfe e Robert Wischhusen-Hayes) é de um arrojo notável, assim como o guarda-roupa de Van Dien Straalen e a caracterização. A fotografia (Alexander Melman), tão saturada quanto sublime, conta com um trabalho de iluminação extremamente cuidado e primoroso. Graças, pois, à qualidade técnica de todos estes elementos o filme atinge um esplendor visual considerável, de um realismo soturno mas fascinante. O lendário Michael Nyman assina a composição musical e a montagem de Jill Bilcock cola engenhosamente as várias sequências do filme, com especial destreza na abertura; e que abertura, num monólogo olhos-nos-olhos com o espectador:

Allow me to be frank at the commencement. You will not like me. The gentlemen will be envious and the ladies will be repelled. You will not like me now and you will like me a good deal less as we go on. Ladies, an announcement: I am up for it, all the time. That is not a boast or an opinion, it is bone hard medical fact. I put it round you know. (...) Gentlemen. Do not despair, I am up for that as well. And the same warning applies. Still your cheesy erections till I have had my say. But later when you shag - and later you will shag, I shall expect it of you and I will know if you have let me down - I wish you to shag with my homuncular image rattling in your gonads. (...) That is it. That is my prologue, nothing in rhyme, no protestations of modesty, you were not expecting that I hope. I am John Wilmot, Second Earl of Rochester and I do not want you to like me.

Afinal de contas, concluimos, um prólogo enganoso. Conheceremos as últimas vivências do homem: as suas paixões (tanto pela actriz Elizabeth como pelo teatro), os seus diferendos pessoais e ideológicos com sua majestade o Rei Carlos II (John Malkovich) e a sua doença terminal.

I shall never forgive you for teaching me how to love life.

Nas representações, Johnny Depp, numa performance verdadeiramente assombrosa. Samantha Morton mostra-se magnífica e Rosamund Pike, uma acertada escolha de casting. O filme falha, contudo, no argumento; nem tanto na arte de filmar de Laurence Dunmore que, ainda que em projecto de estreia, não filma franca e propriamente de forma desinteressante e irresponsável. O filme falha, dizia, no argumento de Stephen Jeffreys (a partir da peça do próprio). A história pode não ser a mais extraordinária, mas, aparte os bons diálogos e o seu humor despudorado, é contada a despachar, progressivamente, o que acaba por desequilibrar a narrativa e por pôr em risco a legitimidade e a necessidade da obra. Como repudio, na concretização de um biopic, a mera sucessão de factos e episódios.

Concluindo: eis um filme cujo mérito seria facilmente duplicado, caso tivesse beneficiado de uma construção narrativa fluída e sustentada.

2 comentários:

  1. Vi-o no cinema na altura em que estreou. A temática atraía-me imenso e tinha o Depp.

    O monólogo é excelente sim senhor, grande apresentação.
    Do que me lembro, sim não cumpriu todas as expectativas, mas foi um bom filme.
    Uma cena que me recordo é dos seus tratamentos no final, antes morria-se primeiro da cura do que da doença

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  2. LOOT: No meu entender, faltou solidez narrativa para se afirmar como um bom filme. Mas tem elevados valores de produção, isso sem dúvida. E o elenco mostra-se excepcional, com especial destaque para Depp.

    Cumps.
    Roberto Simões
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