★★★★★
Título Original: C'era una volta il West / Once Upon A Time in the West
Realização: Sergio Leone
Principais Actores: Henry Fonda, Claudia Cardinale, Jason Robards, Charles Bronson, Gabriele Ferzetti, Woody Strode
Crítica:
Mais do que um western, Aconteceu no Oeste faz a antologia do próprio género, convocando, homenageando e criticando referências e resumindo toda uma mitologia com o mais profundo sentido artístico. Entre o calor e a poeira, entre a cavalgada e o disparo, entre a espera e o derradeiro compasso da morte, Aconteceu no Oeste vive, por isso, uma essência marcadamente estilizada, ganhando uma dimensão operática e imortalizando-se sob a aura imaculada de obra-prima.
Rendamo-nos aos factos: Sergio Leone reuniu uma equipa de genial talento. A partir da história que o próprio escreveu, em conjunto com Dario Argento e Bernardo Bertolucci, o mundo de pistoleiros justiceiros e foras-da-lei foi recriado com incrível verossilhança, assaz realismo e especial atenção ao detalhe. Os decórs (a cargo de Carlo Simi, Rafael Ferri e Carlo Leva) ou o guarda-roupa (Antonella Pompei, Carlo Simi) são a prova disso. A fotografia de Tonino Delli Colli é de uma beleza tal que nos extasia, sensível tanto aos planos criteriosos e mais ambiciosos como aos close-ups sobre os actores, tanto à imediatez do primeiro plano como aos enquadramentos e pormenores dos backgrounds. Sensível, tantas vezes, às deslumbrantes panorâmicas sobre uma América interior e vermelha, de paisagens irregulares, mas únicas e absolutamente inconfundíveis.
O filme é, todo ele, repleto de magistrais sequências de tensão e suspense, para as quais se revelam fundamentais o trabalho de montagem (Nino Baragli) e o tratamento dos efeitos sonoros: o perfeito exemplo disso é a memorável cena de abertura, onde os sons se assumem como um genuíno e arriscado tema musical, resultando, indiscutivelmente, numa das melhores cenas de abertura de todos os tempos. Mas temas magníficos são coisa que não falta, ou não fosse o compositor o lendário Ennio Morricone. Cada personagem principal tem o seu próprio tema: Harmonica, semblante da coragem e do mistério (Charles Bronson), a provocante e sensual Jill (Claudia Cardinale), central na história, o arguto Frank (Henry Fonda) ou o gracioso Cheyenne (Jason Robards). O elenco irradia, aliás, uma excelência inequívoca, denotando a qualidade intrínseca a toda a direcção de actores. O trabalho de encenação é brilhante e são muitas as cenas que se destacam pelo seu arrojo e arquitectura. A preparação daquele flashback final é, simplesmente, qualquer coisa de extraordinário... No seu todo, eis, pois, uma simbiose esteticamente triunfal, sob a inspirada e irrepreensível orquestração de Sergio Leone.
Até à chegada do Cavalo de Ferro à vila em construção, o tempo passa e a história acontece... ao ritmo próprio a que o realizador nos acostumou... E nós temos então a certeza de que experienciamos uma obra de arte no mais imperioso sentido da expressão. Bertolucci diz, a respeito, que Leone deu uma nova identidade ao western*. Não poderia estar mais de acordo. Tal como o comboio, a obra veio, ficou e revolucionou.
UMA DANÇA DE MORTE
Mais do que um western, Aconteceu no Oeste faz a antologia do próprio género, convocando, homenageando e criticando referências e resumindo toda uma mitologia com o mais profundo sentido artístico. Entre o calor e a poeira, entre a cavalgada e o disparo, entre a espera e o derradeiro compasso da morte, Aconteceu no Oeste vive, por isso, uma essência marcadamente estilizada, ganhando uma dimensão operática e imortalizando-se sob a aura imaculada de obra-prima.
Rendamo-nos aos factos: Sergio Leone reuniu uma equipa de genial talento. A partir da história que o próprio escreveu, em conjunto com Dario Argento e Bernardo Bertolucci, o mundo de pistoleiros justiceiros e foras-da-lei foi recriado com incrível verossilhança, assaz realismo e especial atenção ao detalhe. Os decórs (a cargo de Carlo Simi, Rafael Ferri e Carlo Leva) ou o guarda-roupa (Antonella Pompei, Carlo Simi) são a prova disso. A fotografia de Tonino Delli Colli é de uma beleza tal que nos extasia, sensível tanto aos planos criteriosos e mais ambiciosos como aos close-ups sobre os actores, tanto à imediatez do primeiro plano como aos enquadramentos e pormenores dos backgrounds. Sensível, tantas vezes, às deslumbrantes panorâmicas sobre uma América interior e vermelha, de paisagens irregulares, mas únicas e absolutamente inconfundíveis.
O filme é, todo ele, repleto de magistrais sequências de tensão e suspense, para as quais se revelam fundamentais o trabalho de montagem (Nino Baragli) e o tratamento dos efeitos sonoros: o perfeito exemplo disso é a memorável cena de abertura, onde os sons se assumem como um genuíno e arriscado tema musical, resultando, indiscutivelmente, numa das melhores cenas de abertura de todos os tempos. Mas temas magníficos são coisa que não falta, ou não fosse o compositor o lendário Ennio Morricone. Cada personagem principal tem o seu próprio tema: Harmonica, semblante da coragem e do mistério (Charles Bronson), a provocante e sensual Jill (Claudia Cardinale), central na história, o arguto Frank (Henry Fonda) ou o gracioso Cheyenne (Jason Robards). O elenco irradia, aliás, uma excelência inequívoca, denotando a qualidade intrínseca a toda a direcção de actores. O trabalho de encenação é brilhante e são muitas as cenas que se destacam pelo seu arrojo e arquitectura. A preparação daquele flashback final é, simplesmente, qualquer coisa de extraordinário... No seu todo, eis, pois, uma simbiose esteticamente triunfal, sob a inspirada e irrepreensível orquestração de Sergio Leone.
Até à chegada do Cavalo de Ferro à vila em construção, o tempo passa e a história acontece... ao ritmo próprio a que o realizador nos acostumou... E nós temos então a certeza de que experienciamos uma obra de arte no mais imperioso sentido da expressão. Bertolucci diz, a respeito, que Leone deu uma nova identidade ao western*. Não poderia estar mais de acordo. Tal como o comboio, a obra veio, ficou e revolucionou.
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Nota especial para péssima escolha do título português.
*Di-lo Bernardo Bertolucci num dos documentários da Edição de Coleccionador, em DVD.
*Di-lo Bernardo Bertolucci num dos documentários da Edição de Coleccionador, em DVD.
Melhor Western Spaghetti de todos os tempos.
ResponderEliminarDúvidas entre este e O Bom, O Mau e O Vilão... no entanto, acho que prefiro este... pelo menos hoje, prefiro ;)
ResponderEliminarÉ uma ironia esta obra que na minha opinião está os 5 melhores westerns de todos os tempos, ter sido dirigido por um italiano. Por sinal, Leone deixou uma obra pequena em quantidade, mas gigante em qualidade.
ResponderEliminarA "Trilogia dos Dólares" e a "Trilogia da América" a qual este é o primeiro filme, resultam em seis obras obrigatórias para todos os cinéfilos,
Abraço
ÁLVARO MARTINS: Provavelmente. É uma obra magnífica. Agora estou ansioso para ver ERA UMA VEZ NA AMÉRICA, que está para breve.
ResponderEliminarNEUROTICON: O BOM, O MAU E O VILÃO também está para breve ;) Bem-vindo ao CINEROAD! Volta sempre.
HUGO: A Europa viveu bastante a cultura 'western', nomeadamente pela televisão. Ainda me faltam títulos sonantes do realizador, mas a qualidade é muito evidente. Aos dois outros títulos referidos acima, não resistirei durante muito mais tempo.
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Nunca assisti ao filme. Devo procurá-lo em alguma locadora o mais breve possível.
ResponderEliminarDeixei um presente adiantado de Natal para ti lá no blog. Abraço!
Um western imortal.
ResponderEliminarMítico, intemporal...
ResponderEliminarUm dos poucos western que visionei...
Mesmo muito bom...
Abraço
http://nekascw.blogspot.com/
IT WAS RED: Então procure por ele, vale mesmo a pena. É imperdível.
ResponderEliminarO HOMEM QUE SABIA DEMASIADO: Absolutamente ;)
NEKAS: Sem dúvida. Há mais uns quantos 'westerns' memoráveis. Os mais recentes, que 2007 nos trouxe, são formidáveis.
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Fico-me pelo muito bom. Reconheço-lhe todo o valor mas não me conquistou por completo. Gostei particularmente de Bronson e Cardinale.
ResponderEliminarExcelente texto como sempre.
Abraço
FILIPE COUTINHO: Obrigado ;) A mim, conquistou-me em absoluto!
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Veja ERA UMA VEZ NA AMÉRICA. É mais uma obra-prima do Leone!!!
ResponderEliminarRoberto,
ResponderEliminarrevi este filme faz pouco tempo, e para mim é uma das obras primas do cinema. Ótimo roteiro, fotografia, músicas inesquecíveis e atuações de gala.
Tenho saudades do bom e velho Western, onde os homens eram homens de verdade!
Abraços!
André
PEDRO HENRIQUE: Verei, certamente, nos próximos tempos. Depois darei conta da descoberta. E deste ONCE UPON A TIME IN THE WEST, o que achou?
ResponderEliminarANDRÉ: É, de facto e incontornavelmente, uma das maiores obras-primas de todos os tempos, cinematograficamente falando.
Só não percebi o que quis dizer ao certo com «homens de verdade». Referia-se a seres - na maior parte dos casos - estúpidos, porcos, machões, despidos de escrúpulos maiores (ou de tão pouca resistência ao tiroteio) e que cospem para o chão? Isso não são «homens de verdade». «Homens de verdade» têm sensibilidade na relação com os outros e com o mundo... e consigo mesmos.
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD – A Estrada do Cinema
é efectivamente o melhor western que alguma vez vi...muito melhor que o western mais conhecido de Leone com o Clint :)
ResponderEliminarFilme brilhante. Como aficionado do western-spaghetti coloco ainda assim "O bom, o mau e o vilão" no topo da minha lista, porque julgo ser mais rico a nível de sequências de acção e definidor no género.
ResponderEliminarSe te interessas por este nicho, recomendo-te uma passagem pelo meu blogue:
http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com/
Abraço.
NASP: Também prefiro ACONTECEU NO OESTE a O BOM, O MAU E O VILÃO. Mas não por muito! Quer dizer, também aprecio tanto o filme com esse filme com o Clint que enfim! ;D
ResponderEliminarPEDRO PEREIRA: Como disse ao Nasp, prefiro este. Mas O BOM, O MAU E O VILÃO é também tão bom!
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD – A Estrada do Cinema «
Ainda não acredito como não comentei este filme...passou-me! :P
ResponderEliminarIsto já dá para adivinhar que o adoro, sendo um dos meus filmes preferidos, e talvez a grande descoberta deste ano (embora já o tenha visto à uns meses). Sergio Leone, esse para mim eleva-se, e confirma-se como um enorme realizador e um dos meus favoritos. Dá-me sempre a sensação de que Leone se foi aprimorando e se controlando degrau a degrau desde o Por um Punhado de Dólares até este - obra máxima, sendo que o Bom, o Mau...é igualmente assombroso, preferindo contudo este (de acordo contigo), me parece mais completo, tendo mais drama e emoção, muito por culpa da figura feminina inserida.
Tudo é de uma beleza transcendental, a fotografia, a montagem, a câmara, o argumento, a banda sonora, enfim um trabalho eterno que ressoa ainda hoje nos meus sentidos.
É pena é Sergio Leone não se encontrar já entre nós...
abraço
JORGE: Pois, estamos perfeitamente - e mais do que nunca - de acordo! Filme genial, genial, genial. O meu preferido de Leone.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Uma curiosidade, sabias que este filme foi traduzido desde logo mal do italiano (original) para o inglês e por tabela para o português (embora o título não seja exactamente igual)...deveria se chamar "Era Uma Vez O Oeste", e não no Oeste. Facto que explica o "Aconteceu no Oeste" português, que infelizmente, e agora percebo, se baseou no inglês continuando com o erro.
ResponderEliminarO título original "C'era una volta il west", como disse, faz mais sentido para com o argumento, referenciando claramente o fim do Oeste como era conhecido, destruído então pelo progresso.
O que permaneceu no entanto foi o "...no Oeste", que sempre me pareceu mesmo antes de ver o filme um conto, mais um, passado no Oeste. De qualquer das maneiras não prejudica o grande filme que é, e utilizando o título mais comum digo que Era uma vez uma ou Aconteceu no Oeste uma História e um episódio memoráveis!
abraço
JORGE: Sabia. Os títulos são muito importantes, para mim. E tenho pena que hajam traduções/correspondências tão vergonhosas, que ofendem claramente a obra original. É o caso, fizeste muito bem em apontá-lo. ERA UMA VEZ O OESTE é que fazia todo o sentido. A série, menos mal, ganhou o título correspondente de ERA UMA VEZ NO OESTE.
ResponderEliminarVou acrescentar uma nota de rodapé, a propósito do assunto. Creio que é significativo.
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Estas falhas na tradução são infelizmente demasiado comuns. Muitas vezes fazem mossa - este é um desses casos - mas a verdade é que no western-spaghetti foram cometidas muitas mais e piores atrocidades. Franco Nero por exemplo viu os seus filmes levar "Django" como acréscimo ao titulo. Fossem eles western ou outro qualquer género...
ResponderEliminarPEDRO PEREIRA: Não conhecia esse caso, mas são imensas as falhas, infelizmente. Os responsáveis actuais só têm a aprender com os erros do passado. Infelizmente ainda aparece, por vezes, com cada título crasso!
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
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