domingo, 27 de fevereiro de 2011

ACONTECEU NO OESTE (1968)

PONTUAÇÃO: EXCELENTE
★★★★★
Título Original: C'era una volta il West / Once Upon A Time in the West
Realização: Sergio Leone
Principais Actores: Henry Fonda, Claudia Cardinale, Jason Robards, Charles Bronson, Gabriele Ferzetti, Woody Strode

Crítica:

UMA DANÇA DE MORTE

Mais do que um western, Aconteceu no Oeste faz a antologia do próprio género, convocando, homenageando e criticando referências e resumindo toda uma mitologia com o mais profundo sentido artístico. Entre o calor e a poeira, entre a cavalgada e o disparo, entre a espera e o derradeiro compasso da morte, Aconteceu no Oeste vive, por isso, uma essência marcadamente estilizada, ganhando uma dimensão operática e imortalizando-se sob a aura imaculada de obra-prima.

Rendamo-nos aos factos: Sergio Leone reuniu uma equipa de genial talento. A partir da história que o próprio escreveu, em conjunto com Dario Argento e Bernardo Bertolucci, o mundo de pistoleiros justiceiros e foras-da-lei foi recriado com incrível verossilhança, assaz realismo e especial atenção ao detalhe. Os decórs (a cargo de Carlo Simi, Rafael Ferri e Carlo Leva) ou o guarda-roupa (Antonella Pompei, Carlo Simi) são a prova disso. A fotografia de Tonino Delli Colli é de uma beleza tal que nos extasia, sensível tanto aos planos criteriosos e mais ambiciosos como aos close-ups sobre os actores, tanto à imediatez do primeiro plano como aos enquadramentos e pormenores dos backgrounds. Sensível, tantas vezes, às deslumbrantes panorâmicas sobre uma América interior e vermelha, de paisagens irregulares, mas únicas e absolutamente inconfundíveis.

O filme é, todo ele, repleto de magistrais sequências de tensão e suspense, para as quais se revelam fundamentais o trabalho de montagem (Nino Baragli) e o tratamento dos efeitos sonoros: o perfeito exemplo disso é a memorável cena de abertura, onde os sons se assumem como um genuíno e arriscado tema musical, resultando, indiscutivelmente, numa das melhores cenas de abertura de todos os tempos. Mas temas magníficos são coisa que não falta, ou não fosse o compositor o lendário Ennio Morricone. Cada personagem principal tem o seu próprio tema: Harmonica, semblante da coragem e do mistério (Charles Bronson), a provocante e sensual Jill (Claudia Cardinale), central na história, o arguto Frank (Henry Fonda) ou o gracioso Cheyenne (Jason Robards). O elenco irradia, aliás, uma excelência inequívoca, denotando a qualidade intrínseca a toda a direcção de actores. O trabalho de encenação é brilhante e são muitas as cenas que se destacam pelo seu arrojo e arquitectura. A preparação daquele flashback final é, simplesmente, qualquer coisa de extraordinário... No seu todo, eis, pois, uma simbiose esteticamente triunfal, sob a inspirada e irrepreensível orquestração de Sergio Leone.

Até à chegada do Cavalo de Ferro à vila em construção, o tempo passa e a história acontece... ao ritmo próprio a que o realizador nos acostumou... E nós temos então a certeza de que experienciamos uma obra de arte no mais imperioso sentido da expressão. Bertolucci diz, a respeito, que Leone deu uma nova identidade ao western*. Não poderia estar mais de acordo. Tal como o comboio, a obra veio, ficou e revolucionou.


_________________________________________
Nota especial para péssima escolha do título português.
*Di-lo Bernardo Bertolucci num dos documentários da Edição de Coleccionador, em DVD.

22 comentários:

  1. Melhor Western Spaghetti de todos os tempos.

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  2. Dúvidas entre este e O Bom, O Mau e O Vilão... no entanto, acho que prefiro este... pelo menos hoje, prefiro ;)

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  3. É uma ironia esta obra que na minha opinião está os 5 melhores westerns de todos os tempos, ter sido dirigido por um italiano. Por sinal, Leone deixou uma obra pequena em quantidade, mas gigante em qualidade.
    A "Trilogia dos Dólares" e a "Trilogia da América" a qual este é o primeiro filme, resultam em seis obras obrigatórias para todos os cinéfilos,

    Abraço

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  4. ÁLVARO MARTINS: Provavelmente. É uma obra magnífica. Agora estou ansioso para ver ERA UMA VEZ NA AMÉRICA, que está para breve.

    NEUROTICON: O BOM, O MAU E O VILÃO também está para breve ;) Bem-vindo ao CINEROAD! Volta sempre.

    HUGO: A Europa viveu bastante a cultura 'western', nomeadamente pela televisão. Ainda me faltam títulos sonantes do realizador, mas a qualidade é muito evidente. Aos dois outros títulos referidos acima, não resistirei durante muito mais tempo.

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

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  5. Nunca assisti ao filme. Devo procurá-lo em alguma locadora o mais breve possível.

    Deixei um presente adiantado de Natal para ti lá no blog. Abraço!

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  6. Mítico, intemporal...
    Um dos poucos western que visionei...
    Mesmo muito bom...


    Abraço
    http://nekascw.blogspot.com/

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  7. IT WAS RED: Então procure por ele, vale mesmo a pena. É imperdível.

    O HOMEM QUE SABIA DEMASIADO: Absolutamente ;)

    NEKAS: Sem dúvida. Há mais uns quantos 'westerns' memoráveis. Os mais recentes, que 2007 nos trouxe, são formidáveis.

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

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  8. Fico-me pelo muito bom. Reconheço-lhe todo o valor mas não me conquistou por completo. Gostei particularmente de Bronson e Cardinale.

    Excelente texto como sempre.

    Abraço

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  9. FILIPE COUTINHO: Obrigado ;) A mim, conquistou-me em absoluto!

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

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  10. Veja ERA UMA VEZ NA AMÉRICA. É mais uma obra-prima do Leone!!!

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  11. Roberto,
    revi este filme faz pouco tempo, e para mim é uma das obras primas do cinema. Ótimo roteiro, fotografia, músicas inesquecíveis e atuações de gala.

    Tenho saudades do bom e velho Western, onde os homens eram homens de verdade!

    Abraços!
    André

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  12. PEDRO HENRIQUE: Verei, certamente, nos próximos tempos. Depois darei conta da descoberta. E deste ONCE UPON A TIME IN THE WEST, o que achou?

    ANDRÉ: É, de facto e incontornavelmente, uma das maiores obras-primas de todos os tempos, cinematograficamente falando.
    Só não percebi o que quis dizer ao certo com «homens de verdade». Referia-se a seres - na maior parte dos casos - estúpidos, porcos, machões, despidos de escrúpulos maiores (ou de tão pouca resistência ao tiroteio) e que cospem para o chão? Isso não são «homens de verdade». «Homens de verdade» têm sensibilidade na relação com os outros e com o mundo... e consigo mesmos.

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD – A Estrada do Cinema

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  13. é efectivamente o melhor western que alguma vez vi...muito melhor que o western mais conhecido de Leone com o Clint :)

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  14. Filme brilhante. Como aficionado do western-spaghetti coloco ainda assim "O bom, o mau e o vilão" no topo da minha lista, porque julgo ser mais rico a nível de sequências de acção e definidor no género.

    Se te interessas por este nicho, recomendo-te uma passagem pelo meu blogue:

    http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com/

    Abraço.

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  15. NASP: Também prefiro ACONTECEU NO OESTE a O BOM, O MAU E O VILÃO. Mas não por muito! Quer dizer, também aprecio tanto o filme com esse filme com o Clint que enfim! ;D

    PEDRO PEREIRA: Como disse ao Nasp, prefiro este. Mas O BOM, O MAU E O VILÃO é também tão bom!

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    Roberto Simões
    » CINEROAD – A Estrada do Cinema «

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  16. Ainda não acredito como não comentei este filme...passou-me! :P

    Isto já dá para adivinhar que o adoro, sendo um dos meus filmes preferidos, e talvez a grande descoberta deste ano (embora já o tenha visto à uns meses). Sergio Leone, esse para mim eleva-se, e confirma-se como um enorme realizador e um dos meus favoritos. Dá-me sempre a sensação de que Leone se foi aprimorando e se controlando degrau a degrau desde o Por um Punhado de Dólares até este - obra máxima, sendo que o Bom, o Mau...é igualmente assombroso, preferindo contudo este (de acordo contigo), me parece mais completo, tendo mais drama e emoção, muito por culpa da figura feminina inserida.

    Tudo é de uma beleza transcendental, a fotografia, a montagem, a câmara, o argumento, a banda sonora, enfim um trabalho eterno que ressoa ainda hoje nos meus sentidos.

    É pena é Sergio Leone não se encontrar já entre nós...

    abraço

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  17. JORGE: Pois, estamos perfeitamente - e mais do que nunca - de acordo! Filme genial, genial, genial. O meu preferido de Leone.

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    Roberto Simões
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  18. Uma curiosidade, sabias que este filme foi traduzido desde logo mal do italiano (original) para o inglês e por tabela para o português (embora o título não seja exactamente igual)...deveria se chamar "Era Uma Vez O Oeste", e não no Oeste. Facto que explica o "Aconteceu no Oeste" português, que infelizmente, e agora percebo, se baseou no inglês continuando com o erro.
    O título original "C'era una volta il west", como disse, faz mais sentido para com o argumento, referenciando claramente o fim do Oeste como era conhecido, destruído então pelo progresso.

    O que permaneceu no entanto foi o "...no Oeste", que sempre me pareceu mesmo antes de ver o filme um conto, mais um, passado no Oeste. De qualquer das maneiras não prejudica o grande filme que é, e utilizando o título mais comum digo que Era uma vez uma ou Aconteceu no Oeste uma História e um episódio memoráveis!

    abraço

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  19. JORGE: Sabia. Os títulos são muito importantes, para mim. E tenho pena que hajam traduções/correspondências tão vergonhosas, que ofendem claramente a obra original. É o caso, fizeste muito bem em apontá-lo. ERA UMA VEZ O OESTE é que fazia todo o sentido. A série, menos mal, ganhou o título correspondente de ERA UMA VEZ NO OESTE.
    Vou acrescentar uma nota de rodapé, a propósito do assunto. Creio que é significativo.

    Cumps.
    Roberto Simões
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  20. Estas falhas na tradução são infelizmente demasiado comuns. Muitas vezes fazem mossa - este é um desses casos - mas a verdade é que no western-spaghetti foram cometidas muitas mais e piores atrocidades. Franco Nero por exemplo viu os seus filmes levar "Django" como acréscimo ao titulo. Fossem eles western ou outro qualquer género...

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  21. PEDRO PEREIRA: Não conhecia esse caso, mas são imensas as falhas, infelizmente. Os responsáveis actuais só têm a aprender com os erros do passado. Infelizmente ainda aparece, por vezes, com cada título crasso!

    Cumps.
    Roberto Simões
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