segunda-feira, 30 de agosto de 2010

METROPOLIS (1927)

PONTUAÇÃO: EXCELENTE
★★★★★
Título Original: Metropolis
Realização
: Fritz Lang

Principais Actores: Alfred Abel, Gustav Fröhlich, Brigitte Helm, Rudolf Klein-Rogge, Fritz Rasp, Theodor Loos, Erwin Biswanger, Heinrich George

Crítica:

A TORRE DE BABEL

Mittler zwischen Hirn und Haenden...
muss das Herz sein.

De Metropolis (Fritz Lang, 1927) houve, durante décadas, segmentos perdidos no tempo. Julgava-se que para sempre. Felizmente, em 2008 e na Argentina, foram encontrados os 30 minutos da bem-aventurada metragem, até então em falta, e que a restored version de 2010 já inclui, perfazendo agora um total de 145 minutos. Aquilo que o tempo nos legou é um tesouro absoluto. Uma extraordinária obra-prima.

Se a vida imita ou não a arte, para mim não há dúvidas. Apenas evidências. E se a arte se imita a si própria, continuamente, também não tenho dúvidas. É rara a obra de ficção científica, posterior a Metropolis, que não convoque directa ou indirectamente o seu prodigioso e criativo imaginário.

Visionário, Lang edifica, por entre cenários grandiosos e prodigiosos esboços futuristas, uma cidade verdadeiramente gloriosa, economicamente afortunada, repleta de arranha-céus (de design vanguardista) e de tráfego intenso (seja ele automóvel, ferroviário ou aéreo). A cidade é comandada por Joh Fredersen (Alfred Abel), um autocrata dominador, destituído de valores humanos e que concentra, na sua pessoa apenas, todo o poder económico e político da cidade. À superfície de um submundo de maquinaria esclavagista, escondido nas profundezas da terra, prosperam os ricos, entre luxos e tecnologias modernas, com uma vida idílica e plena de lazer. Têm auditórios, bibliotecas, teatros e estádios... Divertem-se, faustosamente trajados, por entre jardins magnificentes - die Ewigen Gärten -, onde cintilam cristalinas fontes, abunda a vegetação e desfilam majestosos pavões, graciosas garças. Aber... Tief unter der Erde lag die Stadt der Arbeiten. Escondido no subsolo, quebra-se o segredo de uma sociedade perfeita que, afinal, não existe. Enquanto os ricos vivem os prazeres e a felicidade, num futuro de sonho, todo um universo de operários oprimidos trabalha quantas horas um dia tem, no mais real dos pesadelos. Imersos em fumos e condenados à ditadura das máquinas, sincronizados e automatizados aos ritmos febris da tecnologia, são escravos de um sistema monstruoso. Metáfora melhor do capitalismo?

Freder (Gustav Frölich, numa interpretação magistral), filho de Joh Fredersen, é o legítimo herdeiro desse projecto quase divino. Vive na ilusão e na ingenuidade dessa Utopia, sem preocupações maiores, até ao dia em que Maria (Brigitte Helm, numa dupla prestação memorável) surge inadvertidamente nos Grandes Jardins, rodeada pelos filhos dos operários. A troca de olhares entre os dois, Freder e Maria, é não só intensa (há amor à primeira vista) como inquietante. Freder apercebe-se, de imediato, que aquela jovem e encantadora mulher e todas aquelas crianças não pertencem ao seu mundo... Há ali qualquer coisa que não faz sentido. Seht! - diz Maria às crianças. - Das sind Eure Brüder! Quando a jovem torna com os pequenos ao interior das enormes portadas, Freder sente-se tentado a desvendar aquele mistério e segue-a. É então que se confronta com a dura e inacreditável realidade das profundezas: as máquinas aparecem-lhe como faraónicas esfinges, devoradoras de homens e de humanidade. Toda uma classe é subjugada e sacrificada em prol de uma dita sociedade desenvolvida e civilizada, que vive às suas custas.

Desesperadamente, Freder procura o pai e as devidas explicações, no cimo de uma nova Torre de Babel, palácio maior do multimilionário. Alerta-o de que há homens a morrerem lá em baixo, na sequência de tremendos acidentes laborais... como se o Sr. Fredersen, seu pai, fosse um perfeito inocente em toda a história... Não há mais como esconder a verdade: antevendo que o filho se tornará um incómodo, o Sr. Fredersen coloca espiões no seu encalço. Entretanto, Grot (Heinrich George), guardião da máquina-coração de toda aquela indústria, entrega ao patrão enigmáticos e suspeitos mapas que encontrara na posse dos operários. Irado por todos os incidentes que se hão repentinamente sucedido, o Sr. Fredersen culpabiliza o conselheiro Josaphat e despede-o. Freder, sentindo-se culpado pelo despedimento do pobre homem e sabendo agora que um qualquer despedimento por parte do senhor seu pai significa uma vida de submissão total ao calor do trabalho, promete contratá-lo em seu nome. Primeiro, todavia, sente que tem de descer novamente aos infernos, encontrar lindíssima Maria e tentar compreender toda aquela existência de agonia e terror. Para isso, troca de vida com um magro e infeliz operário de um relógio mecânico e assim se enturma entre os miseráveis.

Numa casa velha da cidade, praticamente esquecida, o inventor C. A. Rotwang (Rudolf Klein-Rogge) recebe a visita do Sr. Fredersen. O inventor acaba de lhe mostrar o Homem do Futuro, o Homem-Máquina que tão-genialmente concebera, como que numa tentativa de dar vida à mulher amada que falecera, quando o magnata lhe mostra os mapas e lhe ordena que os descodifique. Rotwang diz-lhe que os mapas dizem respeito às milenares catacumbas, que abaixo do nível das indústrias se encobrem, mesmo antes de o guiar até aos confins da terra. É lá que, de uma galeria superior, assistem a uma reunião secreta, liderada por Maria, que motiva os trabalhadores, entre os quais Freder, para a fé e para a esperança da liberdade; ideias bem perigosas e capazes de desencadear a revolta contra o sistema. Maria conta-lhes, nomeadamente, a lenda da Torre de Babel - Gross ist die Welt und ihr Schöpfer und gross ist der Mensch - onde as pessoas, apesar de falarem a mesma língua, não se entendiam e onde os senhores, ansiosos por atingir o céu, se serviam da força dos escravos, cruelmente. Há mesmo um filme dentro do filme, distintamente emoldurado, que recria a fábula. Aliás, o filme está, todo ele, povoado de referências bíblicas, sendo esta uma das principais e mais poderosas, até pelo jogo de espelhos e de metáforas evidente.

Freder depreende facilmente, a partir das palavras da oradora, que desempenhará um papel determinante na luta pela libertação dos escravos. Ele será o intermediário entre dois mundos, qual coração entre a cabeça e as mãos. Entre o pensador, seu pai, e a mão-de-obra, os trabalhadores. No fim da reunião, Freder e Maria ficam sós. Há amor entre eles, trocam beijos apaixonados. Combinam encontrar-se na catedral, à superfície. Mas a acção maléfica do Sr. Fredersen e do inventor jamais permitirá o encontro. Maria é capturada e clonada pelo cientista, por forma a dar vida ao robot - o Homem-Máquina; ou melhor, a Mulher-Máquina. A transformação concretiza-se visualmente impressionante, por meio de efeitos especiais espantosos. Através do robot, Rotwang incitará os operários à rebelião, contrariando as ordens do patrão de Metropolis, pondo em marcha o seu próprio plano, impondo a sua própria autoridade e revelando as suas mais doentias paixões. Afinal, manipulando a ciência e a tecnologia, ele sim, mais do que ninguém, tem o mundo nas mãos!

Freder cai em delírio e sonha uma Maria prostituta, dançante e provocadora de homens. A montagem revela-se genial, com a exposição múltipla a construir imagens oníricas belíssimas. Todo o trabalho de fotografia é verdadeiramente assombroso. A sobreposição de planos, por exemplo, possibilita alucinantes imagens surreais. A realidade, contudo, não era muito diferente do sonho. Quando acorda, Freder depara-se com uma nova Maria, uma outra Maria, a subverter a moral e os ideais dos homens, iniciando a insurreição: Tod den Maschinen! Os operários galgam as grades e todas as barreiras, liderados pela robot. Com a invasão da máquina principal, a central eléctrica explode em curto circuito. A cidade, outrora iluminada, apaga-se.

Escapando ao aprisionamento do inventor, a verdadeira Maria corre para as indústrias e depara-se com a catástrofe: uma avassaladora inundação, provocada pelos estragos da explosão, põe em perigo as crianças. Maria ajuda a resgatá-las, salvando-as da morte, mas no subsolo os pais dos pequenos desesperam com a possibilidade da tragédia. Grot confronta-os: afinal, enfeitiçados pelos planos maquiavélicos da bruxa, a robot, destruiram as máquinas sabendo que a cidade não resistiria sem elas, pondo em perigo não só as suas vidas como as vidas dos seus próprios filhos. Apercebendo-se do seu erro fatal, a multidão insurge-se em direcção à superfície, ansiosa por vingar-se da bruxa. Mas ao chegar à superfície, quem encontram é a verdadeira Maria. Não sabendo do engodo, perseguem-na, e Maria foge, tentando sobreviver ao ódio dos desgraçados. Felizmente, a perseguição cruza-se com o boémio desfile da Mulher-Máquina e a terrível invenção arde na fogueira (curiosa a inclusão de evocações medievais na visão futurista da obra). Freder depara-se com o cenário e nem quer acreditar, desgostoso, que perdeu o seu amor. Maria, contudo, encontrada por Rotwang à porta da catedral, desaparece pelo interior do edifício, subindo até às alturas. Suspensa no pêndulo do grande sino, atrai a atenção da turba. Freder vê-a então, viva mas em perigo, a correr por entre as gárgulas do telhado, e corre para salvá-la.

O Sr. Fredersen chega ao local e nem quer acreditar que tem a vida do filho por um fio. Os rebentos dos trabalhadores estão a salvo, mas o seu ainda não - ainda luta, sem cessar, contra o cientista louco. Para o Sr. Fredersen, o feitiço virou-se, por fim... e, agora, poderá pagar um preço demasiado alto pela ambição cega do seu projecto chamado Metropolis. A Torre desmorona-se. Faltou-lhe coração, desde sempre. Sem coração não há progresso, verdadeiro progresso.

Mittler zwischen Hirn und Haenden... muss das Herz sein.

Eis, imponente e monumental, uma derradeiras maravilhas do expressionismo alemão, uma das maiores obras-primas da História do Cinema. Um marco fundamental e completamente obrigatório.


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Nota especial para a composição musical que acompanha a obra. O restauro de 2002 da Fundação Murnau - a versão a que primeiramente assisti - recria a banda sonora original, composta por Gottfried Huppertz para a lendária estreia de 1927. É interpretada pela Rundsfunksinfonieorchester Saabrücken. Magnífica.

22 comentários:

  1. Ele há mesmo coincidências. Acabei há pouco de ver um filme deste mesmo Fritz Lang, "You Only Live Once" (1937), com o Henry Fonda e Sylvia Sydney, considerado por muitos como o antecessor dos "Filhos da Noite", do Nicholas Ray e do "Bonnie & Clyde" do Arthur Penn.
    Quanto ao "Metropolis", trata-se de uma das obras fundamentais (e mais festejadas) do cinema mudo.
    VIVA O GRANDE CINEMA!

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  2. Fiquei parvo, quando vi. Que universo fantástico, que visionário. Um argumento muito bom, excelente banda sonora, grandes cenários. Muita emoção, à mistura. Uma obra de arte.

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  3. Obra-prima e influência de muito cinema que se fez e se faz hoje em dia.

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  4. RATO: Coincidências ;) Grande filme é dizer pouco... como falar de um autêntico colosso? ;)

    DIOGO F: Também fiquei abismado. Um argumento assombroso! A "banda sonora", aspas aspas ;) Obra de arte? Claro que sim, das maiores!

    ÁLVARO MARTINS: Subscrevo-te totalmente.

    Cumps.
    Roberto Simões
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  5. Uma questão à parte - qual a razão de atrbuir as mesmas 5 estrelas a filmes "excelentes" e a filmes "muito bons"? Faz um pouco de confusão.
    Quanto a este "Metropolis" a classificação só poderá ser unânime: 5 estrelas em 5 estrelas!

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  6. NOWHEREMAN: As questões à parte são colocadas no Fórum do blogue ou via e-mail. Se quiseres aprofundar a discussão, fá-lo-ei com todo o gosto, mas por um desses meios, próprios para o efeito. Seja como for, sugiro-te que consultes as Condições do blogue (disponível no final da página), onde falo sobre as classificações e os critérios de avaliação. Avanço-te que tanto os filmes muito bons e excelentes são avaliadas com 5 estrelas porque 5 estrelas é uma avaliação única. O "excelente" é só um distintivo, por pessoalmente sentir a necessidade de distinguir certas e determinadas obras. É assim que deve ser encarado. Mas como te disse, poderei discutir o assunto mais profundamente, se te aprouver, no Fórum ou por e-mail, se te aprouver.
    Quanto a METROPOLIS - sobre o qual este espaço se deve debruçar - é de facto 5 estrelas em 5 estrelas. De acordo. Um filme assombroso e genial. A ver se, o quanto antes, tomo contacto com os 25 minutos que foram adicionados na última versão, que ainda desconheço.

    Cumps.
    Roberto Simões
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  7. Eu já reservei na Amazon UK a edição completa do filme em blu-ray (153 min) prevista para o dia 16 de Novembro de 2010. Aqui fica o link:

    http://www.amazon.co.uk/gp/product/B0040QYROK

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  8. Sempre que se fala de Metropolis se fala de uma obra rara. Muito cara ao cinema contemporâneo, portanto ainda apreciada com frescor.

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  9. RATO: Sempre em cima do acontecimento, caro Rato, hein ;) Eles chamam-lhe a 'complete version', mas será mesmo? Já nem me refiro à montagem inicial dos 210 minutos, uma vez que o filme estreou em Berlim com 153 minutos. Só que pelas minhas contas, os cerca de 25 minutos que agora 3m 2008 encontraram, somados aos já conhecidos, não perfazem 153 minutos, exactamente. Será mais qualquer coisa como 145 minutos. Enfim, uma imprecisão que me coloca algumas interrogações. Na página da Amazon que aqui apresentaste, de facto, diz que a duração do filme é 153 minutos. Fica a minha dúvida. Completa, completa, duvido que seja.

    PEDRO HENRIQUE: Lá rara será com certeza ;) Única. Uma preciosidade.

    Cumps.
    Roberto Simões
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  10. Provavelmente a diferença - 8 minutos - será ocupada por um prólogo e um "entre-acte", ambos apenas musicais, que estas edições de luxo de grandes obras do cinema costumam trazer.
    Mas isso, claro, é o que eu penso, também não tenho nada real em que me apoiar.

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  11. RATO: Também pensei logo que fosse por isso, mas também não tenho a certeza...

    Cumps.
    Roberto Simões
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  12. Obra- prima. Filme absolutamnete surpreendente. Fritz Lang era mesmo um visionário.

    Manuela (La Dolce Vita)

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  13. MANUELA COELHO: Estou absolutamente de acordo ;)

    Cumps.
    Roberto Simões
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  14. Excelente análise, Roberto! Vi o filme muito recentemente, tenho que pensar ainda sobre ele. Mas é um caso singular de experiência cinematográfica, de experiência de vida. É essencial, acima de tudo.

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  15. FLÁVIO GONÇALVES: Obrigado, Flávio! ;) É essencial, fundamental, tudo isso. Mas antes de tudo isso, uma tremenda obra de arte, hein? O filme é uff... conquista-nos por completo, não é?

    Cumps.
    Roberto Simões
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  16. ATENÇÃO, ROBERTO, E DEMAIS METROPOLIANOS:
    Foram hoje postas à venda as 3 versões (uma em DVD, duas em BLU-RAY) completas do filme (a minha já virá a caminho).
    Aqui fica o link
    Haverá toda a conveniência em o encomendar na Amazon, quer pelo preço quer pela rapidez (como infelizmente é usual esta edição só aparecerá por aqui bem mais tarde e a um preço bastante mais elevado)

    O Rato Cinéfilo

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  17. RATO: Agradeço a excelente notícia! A ter em conta, de facto, a todos os admiradores desta gloriosa obra-prima.

    Cumps.
    Roberto Simões
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  18. Tornou-se há pouco tempo instantaneamente no meu filme mudo preferido. A sua história, a sua mensagem e a sua envolvência cenográfica e artística é por demais encantadora e fascinante, pelo que não resisti. Delicio-me com todas as cenas no poder da interpretação ou no rasgo criativo de Fritz Lang. Em suma um grande grande filme, obra-prima absoluta e intemporal.

    abraço

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  19. JORGE: Por acaso e agora que falas nisso, creio que nunca pensei em qual será o meu filme mudo favorito. METROPOLIS será certamente um dos meus filmes mudos favoritos. O NOSFERATU do Murnau, não sei se já viste, é também dos meus favoritos. Quanto à obra de Lang, é tudo isso que afirmas.

    Roberto Simões
    CINEROAD

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  20. Ainda não vi Nosferatu, mas está para breve. De Murnau já vi foi o Sunrise ou Aurora em português e fiquei deslumbrado. Se ainda não o viste aconselho vivamente, e fico à espera de uma crítica (aliás do Nosferatu também).

    Metropolis é de facto um feito monumental em toda a história do cinema.

    abraço

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  21. JORGE: São críticas que, certamente, chegarão a seu tempo ;) Outros monumentos.

    Roberto Simões
    CINEROAD

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  22. Assisti-o em 1984, época em que cursava História. Meus colegas trotskistas repudiaram o filme por causa do final "revisionista".....

    É filme obrigatório para todos. 10 com louvor.

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