★★★★★
Título Original: Raging BullRealização: Martin Scorsese
Principais Actores: Robert De Niro, Cathy Moriarty, Joe Pesci, Frank Vincent, Nicholas Colasanto, Theresa Saldana, Mario Gallo, Frank Adonis, Joseph Bono, Frank Topham, Lori Anne Flax, Charles Scorsese, Don Dunphy, Bill Hanrahan, Rita Bennett
Crítica:
Touro Enraivecido terá, porventura, a melhor cena de abertura de todos os tempos. Um ringue enche o ecrã; nele, um só homem: Jake LaMotta, saltando e socando o vazio em slow motion. Que nem um bailado, o tema Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni, eleva o momento à perfeição. A beleza é tal que nos transcende, em absoluto... e enraíza-se na memória.
O argumento da obra de Scorsese desenvolve-se, depois, dentro e fora dos ringues. Dentro, nos sucessivos combates que marcam a carreira do pugilista de pesos-médios; combates, aliás, constantemente identificados e datados; datando, por sua vez, também a acção. Fora, na vida pessoal de Jake LaMotta, num primeiro e num segundo casamento, nas relações amorosas e familiares. Ambas as realidades se regem pela testosterona; e nesse retrato Scorsese é bem claro: dos italianos, LaMotta não herdou apenas o sangue. Herdou toda uma tradição cultural que minimiza e inferioriza o papel da mulher, reduzindo a femme fatale a objecto sexual e a responsável pelas lides domésticas. É um culto machista, de glorificação do homem sobre todas as coisas, alimentado pela honra e pelo orgulho. Não admira, pois, que as mulheres sejam tratadas com violência - violência que o lutador não consegue canalizar estritamente para os combates profissionais; os quais, aliás, põe acima de qualquer relação. LaMotta é, como adianta o título, como um touro enraivecido. É perseguido pelos nervos e perseguidor dos cornos - que nunca existirão. O ciúme doentio e o devaneio da traição enlouquecê-lo-ão, destruindo os seus pilares fundamentais: o casamento, a relação com o irmão e o boxe. Convertido em playboy desrespeitoso, mal amanhado e sozinho, Jake LaMotta há-de confrontar-se a si próprio; e, nesse momento, há-de ver, há-de ver-se como nunca, que nem a parábola bíblica do cego.
Misto de violência, sensualidade e erotismo, Touro Enraivecido é a arte de filmar no seu esplendor máximo. A cada cena, a cadência única e inspirada de Scorsese, a magnífica cinematografia de Michael Chapman ou o extraordinário trabalho de montagem de Thelma Schoonmaker elevam-se em uníssono harmonioso na concepção de arte pura. A mise-en-scène é assaz cuidada e relevante tanto para o enquadramento social como para fins artísticos. A salientar, ainda, determinadas opções estéticas como a original manipulação do som em algumas cenas de combate ou a alternância entre filmagem e fotografia, entre a cor e o preto-e-branco para acelerar e sintetizar o tempo diegético... Por fim, as prestações do elenco: grandes desempenhos de Cathy Moriarty e de Joe Pescy. Robert DeNiro, na sombra do génio, é a tour de force de todo o filme; transfigura-se a si próprio, genuíno, intenso e inesquecível. Que performance magnífica.
Da primeira à última cena, eis, pois, um triunfo sem precedentes. Um dos melhores filmes do mestre, capaz de deixar qualquer um completamente... K.O.!
Crítica:
O RINGUE DA VIDA
If you win, you win. If you lose, you still win.
Touro Enraivecido terá, porventura, a melhor cena de abertura de todos os tempos. Um ringue enche o ecrã; nele, um só homem: Jake LaMotta, saltando e socando o vazio em slow motion. Que nem um bailado, o tema Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni, eleva o momento à perfeição. A beleza é tal que nos transcende, em absoluto... e enraíza-se na memória.
O argumento da obra de Scorsese desenvolve-se, depois, dentro e fora dos ringues. Dentro, nos sucessivos combates que marcam a carreira do pugilista de pesos-médios; combates, aliás, constantemente identificados e datados; datando, por sua vez, também a acção. Fora, na vida pessoal de Jake LaMotta, num primeiro e num segundo casamento, nas relações amorosas e familiares. Ambas as realidades se regem pela testosterona; e nesse retrato Scorsese é bem claro: dos italianos, LaMotta não herdou apenas o sangue. Herdou toda uma tradição cultural que minimiza e inferioriza o papel da mulher, reduzindo a femme fatale a objecto sexual e a responsável pelas lides domésticas. É um culto machista, de glorificação do homem sobre todas as coisas, alimentado pela honra e pelo orgulho. Não admira, pois, que as mulheres sejam tratadas com violência - violência que o lutador não consegue canalizar estritamente para os combates profissionais; os quais, aliás, põe acima de qualquer relação. LaMotta é, como adianta o título, como um touro enraivecido. É perseguido pelos nervos e perseguidor dos cornos - que nunca existirão. O ciúme doentio e o devaneio da traição enlouquecê-lo-ão, destruindo os seus pilares fundamentais: o casamento, a relação com o irmão e o boxe. Convertido em playboy desrespeitoso, mal amanhado e sozinho, Jake LaMotta há-de confrontar-se a si próprio; e, nesse momento, há-de ver, há-de ver-se como nunca, que nem a parábola bíblica do cego.
Misto de violência, sensualidade e erotismo, Touro Enraivecido é a arte de filmar no seu esplendor máximo. A cada cena, a cadência única e inspirada de Scorsese, a magnífica cinematografia de Michael Chapman ou o extraordinário trabalho de montagem de Thelma Schoonmaker elevam-se em uníssono harmonioso na concepção de arte pura. A mise-en-scène é assaz cuidada e relevante tanto para o enquadramento social como para fins artísticos. A salientar, ainda, determinadas opções estéticas como a original manipulação do som em algumas cenas de combate ou a alternância entre filmagem e fotografia, entre a cor e o preto-e-branco para acelerar e sintetizar o tempo diegético... Por fim, as prestações do elenco: grandes desempenhos de Cathy Moriarty e de Joe Pescy. Robert DeNiro, na sombra do génio, é a tour de force de todo o filme; transfigura-se a si próprio, genuíno, intenso e inesquecível. Que performance magnífica.
Da primeira à última cena, eis, pois, um triunfo sem precedentes. Um dos melhores filmes do mestre, capaz de deixar qualquer um completamente... K.O.!
Mais uma grande colaboração entre Scorsese e DeNiro, que aqui tem uma das suas mais impressionantes interpretações, tanto emocional como física.
ResponderEliminarGrande clássico.
Abraço
Bem, este filme figura no meu top 10. Ora, para mim terá que ter uma grande importância. E tem. Além de ser uma das obras mais perfeitas a nível técnico e visual que conheço, conta com uma gigante interpretação e uma história de vida fascinante.
ResponderEliminarImperdível para qualquer cinéfilo. Ah, e tem as melhores lutas "in boxing ringue" de sempre.
Abraço
Dos maiores da história.
ResponderEliminarHUGO: Clássico absoluto ;)
ResponderEliminarFIFECO: É, "perfeito" é o melhor adjectivo. Aquela cena de abertura, que acompanha os créditos, é ufff... de me deixar sem palavras...
FOTOGRAMA DIGITAL: Estou de acordo.
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Um filme fantástico. Esmagador na forma como foi filmado. Entusiasmante na história que conta, da glória à penumbra. E um De Niro simplesmente monstruoso. Que actuação!!!!!
ResponderEliminarAbraço.
RED DUST: Não há como não te subscrever ;)
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
CINEROAD – A Estrada do Cinema
Não consigo classificá-lo tão acima, é uma questão de identificação perante a história e a biografia aqui transposta (mais uma vez).
ResponderEliminarReconheço-lhe inegáveis qualidades, como a arte de filmar de Scorsese, que aliás me fez seguir a história mais facilmente, a bela fotografia a preto e branco que acho que funciona, e a montagem.
No entanto, e repito este carácter biográfico que nunca se eleva com a banda sonora (quase ausente durante o filme), acaba por não contactar e balançar o espectador entre momentos frios, crus e silenciosos, com momentos mais tranquilos, fáceis e contrastantes musicalmente, que aqui não existem. Acontece talvez um pouco na relação fora e dentro do ringue, que é bem trabalhada e integrada com a vida do personagem, mas que não enaltece e não balança as emoções, a dinâmico ou o ritmo do filme.
É porventura uma questão de interpretação e de gosto por um argumento que de facto é muito bom, mas que, para mim, não é explorado da melhor forma. De dizer que, sim, a cena inicial é deslumbrante, e mesmo muito boa, o que me fez depois ficar desiludido, pois a banda sonora nunca mais buscou esse papel...no entanto gostei e é um filme marcante acima de tudo.
abraço
JORGE: Pois, não tenho muito a acrescentar à tua intervenção. Penso que é mais a questão de gostos. E Scorsese é, para além de tudo o mais, um dos meus realizadores preferidos. TOURO ENRAIVECIDO é sublime.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
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