tag:blogger.com,1999:blog-25643857049531080372024-03-13T13:45:44.631+00:00CINEROAD ● Crítica de CinemaCinema, Cinema, Cinema, Cinema, Críticas de Cinema, Críticas de Cinema, Blog de CinemaRoberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.comBlogger775125tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-59843265302339110662021-03-30T01:55:00.005+01:002021-03-30T02:00:14.779+01:00De crítico de cinema a escritor<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-qB7_C8qlPg4/YGJz-0AYqmI/AAAAAAAAK6o/DIlB7HvVL1ocrIBpJymjKjXiJBv3M1pyACLcBGAsYHQ/s1464/63FCB8B9-532C-41D2-B7B8-ABAE7A8B6D2F.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1464" data-original-width="1098" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-qB7_C8qlPg4/YGJz-0AYqmI/AAAAAAAAK6o/DIlB7HvVL1ocrIBpJymjKjXiJBv3M1pyACLcBGAsYHQ/s320/63FCB8B9-532C-41D2-B7B8-ABAE7A8B6D2F.jpeg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">Estou prestes a abraçar o meu projecto mais pessoal, ainda anterior à cinefilia, que só agora se concretiza. Sob o pseudónimo <b>Nero</b>, publicarei em breve o meu primeiro livro: um livro de alta fantasia e, ao mesmo tempo, um poema épico. Chama-se <b style="font-style: italic;">Oceano - O Reino das Águas</b>.<b style="font-style: italic;"> </b>Para<b style="font-style: italic;"> </b>todos aqueles que quiserem acompanhar o projecto, fica a informação de que podem segui-lo no instagram @nero.poet, no facebook @nero.poet ou no site oficial <a href="https://neropoet.wixsite.com/poetanero">https://neropoet.wixsite.com/poetanero</a> </div><div style="text-align: center;">(morada temporária).</div><p></p><p style="text-align: center;">Obrigado a todos os que acompanharam as minhas lides cinéfilas (isto não é, apesar de parecer, uma despedida delas). Vemo-nos em breve nas lides literárias!</p><p style="text-align: center;"> </p>Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-72718172655453744762020-01-24T13:12:00.003+00:002020-01-24T13:12:57.094+00:00TOP 10 - Filmes dos Anos 2010<div style="text-align: center;">
<b>TOP 10 - Filmes dos Anos 2010</b> (2010-2019)</div>
<div style="text-align: center;">
- sem nenhuma ordem em particular -<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-YUR77qp6uFo/Xirs5L7KCAI/AAAAAAAAK1w/qK6mgmk0cxAtzfnpk4i0KclufbDlPZ9owCLcBGAsYHQ/s1600/mad-max-fury-road.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="374" data-original-width="900" height="165" src="https://1.bp.blogspot.com/-YUR77qp6uFo/Xirs5L7KCAI/AAAAAAAAK1w/qK6mgmk0cxAtzfnpk4i0KclufbDlPZ9owCLcBGAsYHQ/s400/mad-max-fury-road.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<b>A Árvore da Vida </b>(2011), de Terrence Malick<br />
<b>Mad Max - Estrada da Fúria</b> (2015), de George Miller<br />
<b>Blade Runner 2049</b> (2017), de Denis Villeneuve<br />
<b>O Renascido</b> (2015), de Alejandro Gonzalez Iñarritu<br />
<b>Cloud Atlas</b> (2012), de Tom Tykwer, Andy e Lana Wachowski<br />
<b>O Abraço da Serpente</b> (2015), de Ciro Guerra<br />
<b>A Invenção de Hugo</b> (2011), de Martin Scorsese<br />
<b>Mãe!</b> (2017), de Darren Aronofsky<br />
<b>A Bruxa</b> (2015), de Robert Eggers<br />
<b>Lalaland</b> (2016), de Damien Chazelle<br />
<br />
ex aequo<br />
<b>Os Oito Odiados</b> (2015), de Quentin Tarantino<br />
<br />
Disponíveis neste blogue as críticas a todos estes filmes,<br />
excepto, de momento, a crítica ao filme <b>Lalaland</b>.</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-73027889173819693492020-01-24T12:44:00.001+00:002020-01-24T12:46:16.668+00:00TOP 10 - Filmes dos Anos 2000<div style="text-align: center;">
<b>TOP 10 - Filmes dos Anos 2000</b> (2000-2009)</div>
<div style="text-align: center;">
- sem nenhuma ordem em particular -</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-xQwd0pWxAkI/Xirmh9UdH6I/AAAAAAAAK1k/7ESLg4oHk583RAiKRTzOMNzlZXFj4X5RQCLcBGAsYHQ/s1600/hero.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="436" data-original-width="1024" height="170" src="https://1.bp.blogspot.com/-xQwd0pWxAkI/Xirmh9UdH6I/AAAAAAAAK1k/7ESLg4oHk583RAiKRTzOMNzlZXFj4X5RQCLcBGAsYHQ/s400/hero.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>O Senhor dos Anéis</b> (2001, 2002, 2003) Versões Alargadas, de Peter Jackson</div>
<div style="text-align: center;">
<b>The Fountain - O Último Capítulo</b> (2006), de Darren Aronofsky</div>
<div style="text-align: center;">
<b>The Fall - Um Sonho Encantado</b> (2006), de Tarsem Singh</div>
<div style="text-align: center;">
<b>O Fabuloso Destino de Amélie Poulain</b> (2001), de Jean-Pierre Jeunet</div>
<div style="text-align: center;">
<b>Reino dos Céus</b> (2005) Versão do Realizador, de Ridley Scott</div>
<div style="text-align: center;">
<b>O Aviador</b> (2004), de Martin Scorsese</div>
<div style="text-align: center;">
<b>Moulin Rouge</b> (2001), de Baz Luhrmann</div>
<div style="text-align: center;">
<b>Herói</b> (2002), de Zhang Yimou</div>
<div style="text-align: center;">
<b>Oldboy - Velho Amigo</b> (2003), de Chan-Wook Park</div>
<div style="text-align: center;">
<b>O Lado Selvagem</b> (2007), de Sean Penn</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
ex aequo</div>
<div style="text-align: center;">
<b>Haverá Sangue</b> (2007), de Paul Thomas Anderson<br />
<br />
Disponíveis neste blogue as críticas a todos estes filmes.</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-12717781426642499642018-02-18T18:36:00.002+00:002018-02-18T19:02:10.514+00:00MÃE! (2017)<div style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-v8RXs7QUh0U/WomNtPItU-I/AAAAAAAAKzA/QClaxixyLrosBpOZ3YcOQLwneTFORTvfgCLcBGAs/s1600/mother.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1069" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-v8RXs7QUh0U/WomNtPItU-I/AAAAAAAAKzA/QClaxixyLrosBpOZ3YcOQLwneTFORTvfgCLcBGAs/s200/mother.jpg" width="133" /></a><b>PONTUAÇÃO</b>: EXCELENTE</div>
<span style="color: lime; font-size: small;"><span style="color: #ffcc00;"><span style="font-weight: bold;">★★★★★</span></span></span> </div>
<span style="font-size: x-small;"><span style="color: lime;"><span style="color: orange;"><span style="font-weight: bold;"></span></span></span></span><b>Título Original</b>: Mother!<span style="font-size: 16px;"></span><br />
<b>Realização</b>: Darren Aronofsky<br />
<div style="text-align: justify;">
<b>Principais Actores</b>: Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Ed Harris, Michelle Pfeiffer, Domhnall Gleeson, Brian Gleeson, Kristen Wiig, Stephen McHattie</div>
<br />
<b>Crítica</b>:<br />
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
</div>
<br />
<span style="font-weight: bold;">DO PARAÍSO AO INFERNO:<br />O ETERNO CONTO DA HUMANIDADE </span></div>
<br />
<div style="text-align: right;">
<i>I gave you everything. You gave it all away.</i></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b><i>Mãe!</i></b> é, provavelmente e por variadíssimas razões, o mais audacioso, bizarro e desconcertante filme a ser produzido - em anos - por um grande estúdio de Hollywood. Primeiro que tudo, o <i>trailer</i>: <b><i>Mãe! </i></b>é-nos vendido como um típico filme de terror: estão lá a casa isolada, o sangue e os sons arrepiantes, os estranhos e os aparentes acontecimentos sobrenaturais. Estão lá actores de primeira linha, a chamar o público. Mas está lá também, ou sobretudo, o nome de um artista genial, a assinar aquela que é, porventura, mais uma das suas controversas obras-primas: Darren Aronofsky - o mesmo do poético e transcendente <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2008/09/fountain-o-ltimo-captulo-2006.html"><span style="color: lime;">The Fountain</span></a></i></b>, o mesmo do fantástico e incompreendido <b><i><a href="https://cineroad.blogspot.pt/2017/02/noe-2014.html"><span style="color: lime;">Noé</span></a></i></b>. Estes três títulos, todos cabalísticos, estabelecem entre si um estimulante diálogo, mas nenhum deles é tão brutal e radical como <i style="font-weight: bold;">Mãe!</i><i>. </i>Percebamos porquê.<br />
<br />
<b><i>Mãe!</i></b> é, como se diz, um filme que divide opiniões, polariza posições e não é para menos. Assistir ao filme é uma experiência a que ninguém fica indiferente. Desde que abre, confunde o espectador. A sua forma - aquela que o <i>trailer</i> anunciou - está em constante mutação, as regras do realismo e da narrativa alteram-se a cada cena, como se mergulhássemos no mais perfeito pesadelo, imune à lógica, absolutamente imprevisível e permutável ao absurdo. Eis, pois, o primeiro choque: as quaisquer expectativas que tenhamos criado previamente em relação ao filme são-nos rapidamente goradas e desconstruídas.<br />
<br />
Não há música, apenas sons, excepcionalmente explorados e imersivos, intensificando o <i>suspense</i>. Seguimos a protagonista de perto - uma bondosa e vulnerável Jennifer Lawrence - e simpatizamos com ela de imediato. Aquilo a que assistimos é essencialmente o seu ponto de vista, deambulante pela casa, múltipla em repartições (o <i>design</i> de produção esmerou-se na concepção de um construção incrível, palco de todos os <i>travellings</i>). A câmera acompanha-a sempre (os <i>close-ups</i> chegam a ser intimidatórios, de tão próximos) e encerra-nos numa claustrofobia asfixiante, que só tende a crescer. A soturna fotografia de Matthew Libatique esbarra-nos numa existência solitária, sensível a cada movimento, a cada marcação. A mulher é inteiramente dedicada à casa e ao marido - esquece-se de si própria e entrega-se de alma e coração. Sente a pulsação da construção como se fosse a sua, basta fechar os olhos e sentir (e pelas visões sabemos: a casa está a morrer). Ela e a casa são uma só, um ser vivo que inspira o marido, o qual se alimenta da sua graça e amor para a sua poesia. <i>I wanna make a Paradise</i>, diz ela, com a virginal inocência com que lança o pincel e a tinta às paredes, sonhando um futuro risonho. O marido (o enigmático Javier Bardem) ora está como não está fisicamente em cena, por casa, mas a mulher sente sempre a sua presença. <i>Estaremos agora perante um melodrama?</i>, pensamos,<i> intimista e sobre a relação do casal?</i> Não obstante, quando batem à porta, um estranho entra e depois outros, chegam sem serem convidados, instalam-se e pernoitam sem o consentimento da jovem, contra a sua vontade. O marido como que acolhe e protege os estranhos indiferente à opinião da mulher. E os convidados - ou melhor, os intrusos -, tanto se mostram amistosos como provocadores e abusadores, quais serpentes sibilantes sempre prontas a morder ao mais simples virar de costas. O filme torna-se cada vez mais confuso e uma questão nuclear, sobre tantas outras, assola-nos a consciência: <i>mas que raio de filme estamos afinal a assistir? </i>Não, Aronofsky não está minimamente preocupado em responder a isso. Sempre que a torneira se fecha e a acção abranda, a acalmia reconforta-nos e apazigua-nos mas não tardará a vir uma enxurrada de caos, capaz de invadir e destruir a casa, violentando a mulher e reduzindo-a a cinzas. Quando menos dermos por isso, o filme transforma-se num desaire apocalíptico: alucinante e imparável, impiedoso e infernal. Aí percebemos que o filme só acabará quando mais nada sobrar intacto.<br />
<br />
Interpretando o filme à letra - para todos aqueles incapazes de reconhecer os símbolos, de seguir as pistas e de descodificar os significados ocultos - julgo que <i><b>Mãe!</b></i> se revelará um frustrante e insignificante pedaço de cinema. Identificar o duplo sentido da uma história e segui-la à luz da alegoria é um sinal de inteligência e não é para todos. Muitos espectadores não estão habilitados ou simplesmente não querem ser intervenientes activos na interpretação de uma história. Procuram tudo explicado, tudo tem que ser lógico ou fazer sentido imediato. São os mesmos que, muitas vezes, são incapazes de adorar uma fantasia. Ou um musical. Muitos espectadores assistirão a <i style="font-weight: bold;">Mãe!</i>, pois, e no final, se não tiverem desistido pelo meio, detestá-lo-ão categoricamente. Pela ignorância é fácil apelidá-lo de idiota, presunçoso ou pedante. <b><i>Mãe!</i></b> não é esse filme superficial. Qual <i>iceberg</i>, é nas camadas invisíveis que esconde a sua essência hermética. E a sua dualidade torna-o um objecto rico e simultaneamente enriquecedor, pois outros espectadores, perplexos com a complexidade e incomodados com o seu mistério esmagador, assistirão o filme uma e outra vez, procurarão respostas e explicações pela <i>internet</i>. Aí, quando se depararem com as descobertas, com o quebrar dos enigmas, dificilmente não o adorarão. <b><i>Mãe! </i></b>é um poço fundo e inesgotável de entendimentos. Ninguém sairá do filme absolutamente iluminado, antes intrigado e motivado para seu o estudo e para o seu culto.<br />
<br />
Eis, pois, o retrato da decadência da Humanidade, da alegoria bíblica à mais gritante e urgente metáfora ecológica. Lawrence é a Criação e Bardem o Criador, Deus, que olha a casa do alto das escadas como quem vislumbra a Terra das alturas. É ele o poeta, o autor do <b><i>Génesis</i></b> e de todo o <b><i>Antigo Testamento</i></b>, as sagradas escrituras que os homens adoram. Por isso o idolatram. A casa simboliza, inicialmente, o Jardim do Éden, o paraíso onde reina a paz e a perfeição. Ed Harris é Adão (note-se a ferida nas costas, pela qual terá sido extraída a costela) e Michelle Pfeiffer é Eva (que se perde na limonada como quem prova o fruto proibido). Ambas as personagens conferem, às tantas, uma nova tonalidade, como se o filme abraçasse a comédia negra. Têm dois filhos e os irmãos Gleeson representam-nos: Caim e Abel, que lutam entre ciúmes mortais. Com a primeira morte provocada, abre-se uma ferida na casa, semelhante a uma vagina menstruada, que jamais se fechará, como que manchando para sempre o destino dos Homens. Os mais variados pecados se cumulam em cena. Lawrence assiste ao desenrolar dos acontecimentos, impotente e esperançada. O sapo anuncia a praga que virá e a vinda dos demónios. O dilúvio pode acontecer à escala de uma inundação, caso rebente um cano ou dois. Um dia, Lawrence engravida e o bebé, que será comido pelos ávidos e fundamentalistas seguidores da fé, é Jesus. Quando a criança nasce e chora e tudo se silencia, lembramos o milagre do distópico e magistral <a href="http://cineroad.blogspot.pt/2010/12/os-filhos-do-homem-2006.html"><span style="color: lime;"><b><i>Os</i></b> <i style="font-weight: bold;">Filhos do Homem</i></span></a>, de Alfonso Cuarón, num cenário não muito diferente. É o nascimento que inspira o poeta a novas escrituras; alusão ao <b style="font-style: italic;">Novo Testamento</b>, que por sua vez desencadeia uma nova e fanática invasão, ainda mais forte; alusão ao cristianismo. É a partir daí que Lawrence se transfigura, física e emocionalmente, levando a sua revolta imperiosa e implacável a todos os que a ignoraram e magoaram, inclusive contra Deus, que acusa de se ter aproveitado do seu amor incondicional. O cristal de poderes regeneradores, de acordo com tradição gnóstica, simboliza o amor, deixado pela amante ao demiurgo na esperança de que um dia também ele aprenda a amar. Pela alegoria bíblica, é a devoção religiosa, cega, descontrolada e extremista, a causadora da destruição. A devoção dos Homens, egoístas e obcecados, feitos à imagem de Deus.<br />
<br />
Pela alegoria ecológica, a causadora do fim é a negligência - igualmente cega, descontrolada e extremista. O despertar da mulher no eterno recomeço chama a atenção do espectador: <i>acorda! </i>para a mensagem que se segue. A mulher e a casa representam o planeta terra, o nosso lar. Imaculada, a mãe natureza põe todos os recursos ao nosso dispor. Ocupamo-la, consumimo-la, poluimo-la e devastamo-la. No caminho, destruimo-nos uns aos outros. Destruimo-nos a nós próprios. Que falta de consideração, que vergonha. Vejamos cada personagem, tão egoísta. A falta de respeito conduz ao ódio e à guerra. A todo o instante histórico, temos a opção de escolha: de mudar, de fazer diferente, de inverter a destruição massiva, de nos purificarmos e, sob um efeito catártico, de salvarmos o mundo e a Humanidade. No entanto, não nos unimos para inverter a maré. O inferno vem de fora para dentro, mas o paraíso vem de dentro para fora! Cada um de nós tem em potência, no seu interior, a possibilidade de mudar o mundo, de torná-lo um lugar melhor para nós e para os nossos filhos. Não podemos ignorar a nossa Mãe, infligindo-lhe tamanha dor, sendo tão assustadoramente irresponsáveis. Esta mensagem faz especial sentido num tempo em que vivemos sob a ameaça do aquecimento global e da guerra nuclear. O poderosíssimo final, tão surreal e premonitório, assombra-se-nos como algo horrivelmente possível e próximo. Neste sentido, <b><i>Mãe!</i></b> formula-se como a mais desencantada e alarmante tragédia, que poderá facilmente saltar da tela para a nossa realidade.<br />
<br />
Por tudo isto, <b style="font-style: italic;">Mãe!</b> é um filme muito pessoal, muito peculiar. Arriscadíssimo, pois as possibilidades de retorno financeiro para um projecto tão divisivo dificilmente seriam estrondosas. <b><i>Mãe!</i></b> é tão ou mais obsessivo do que qualquer uma das outras obras de Aronofsky, à data, mas possui uma irreverência e uma pulsão joviais que por vezes só explodem em obras em início de carreira, antes da maturidade. O impacto é comparável ao de um <i><b><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2008/09/clube-de-combate-1999.html"><span style="color: lime;">Clube de Combate</span></a></b></i>. Não deixa de ser, por isso, insólito e inesperado que do artista brote tamanha efervescência numa altura em que a sua carreira se cimenta e consolida no firmamento dos maiores cineastas da actualidade. Que Aronofsky teremos daqui para a frente?<br />
<br />
Facilmente, o melhor filme de 2017, a par de <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2018/02/blade-runner-2049-2017.html"><span style="color: lime;">Blade Runner 2049</span></a></i></b>, de Denis Velleneuve.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/--XcSBhtGZG8/WomN_RT-1zI/AAAAAAAAKzE/SxbhTsuN9doU_j6jg1kOPpwHve6rEVD2ACLcBGAs/s1600/tmp_Y1XXtj_80a53f477952456f_House%2B2%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="566" data-original-width="1600" height="141" src="https://3.bp.blogspot.com/--XcSBhtGZG8/WomN_RT-1zI/AAAAAAAAKzE/SxbhTsuN9doU_j6jg1kOPpwHve6rEVD2ACLcBGAs/s400/tmp_Y1XXtj_80a53f477952456f_House%2B2%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-33553051720934987332018-02-09T00:36:00.000+00:002018-02-18T18:37:30.509+00:00BLADE RUNNER 2049 (2017)<div style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-0oRBPLy0qCY/WnzB8yjUOTI/AAAAAAAAKyQ/K6wIGlhIwTouAoL9F9UngbvZv0X-EGO0ACLcBGAs/s1600/blade-runner-2049-poster-ryan-gosling.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1080" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-0oRBPLy0qCY/WnzB8yjUOTI/AAAAAAAAKyQ/K6wIGlhIwTouAoL9F9UngbvZv0X-EGO0ACLcBGAs/s200/blade-runner-2049-poster-ryan-gosling.jpeg" width="134" /></a><b>PONTUAÇÃO</b>: EXCELENTE</div>
<span style="color: lime; font-size: small;"><span style="color: #ffcc00;"><span style="font-weight: bold;">★★★★★</span></span></span> </div>
<span style="font-size: x-small;"><span style="color: lime;"><span style="color: orange;"><span style="font-weight: bold;"></span></span></span></span><b>Título Original</b>: Blade Runner 2049<span style="font-size: 16px;"></span><br />
<b>Realização</b>: Denis Villeneuve<br />
<div style="text-align: justify;">
<b>Principais Actores</b>: Ryan Gosling, Harrison Ford, Ana de Armas, Jared Leto, Sylvia Hoeks, Robin Wright, Dave Bautista, Mackenzie Davis, Hiam Abbass, Carla Juri, Lennie James, Barkhad Abdi, Edward James Olmos, David Dastmalchian</div>
<br />
<b>Crítica</b>:<br />
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
</div>
<br />
<span style="font-weight: bold;">O MILAGRE DO FUTURO</span><br />
<span style="font-weight: bold;"><br /></span><span style="font-weight: bold;"></span></div>
<div style="text-align: right;">
<i> </i><i>Dying for the right cause. <br />It's the most human thing we can do.</i></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Quem disse que uma sequela não pode ousar rivalizar com a obra original? <b><i>Blade Runner 2049</i></b> fá-lo a cada <i>frame</i>, destruindo<i> </i>categoricamente esse preconceito; tais são os seus níveis de ambição e de imersão na criação e expansão de um universo distópico que, mais do que nunca, nos parece tão possível e... tão real. Tal como o prodigioso filme de Ridley Scott, <i><b>2049</b></i> é o fruto de uma produção artística magnânima, assustadoramente visionária e rica em detalhes, e de uma projecção filosófica que não só aprofunda as questões do capítulo anterior como as leva mais longe, desafiando os limites da ética e da nossa imaginação. Só um louco arriscaria o seu nome, pegando num clássico que sonhou, num golpe de asa e de profecia, muito do futuro que é hoje o nosso presente.<b><i> <a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/01/blade-runner-perigo-iminente-1982.html"><span style="color: lime;">Blade Runner</span></a> </i></b>revolucionou ainda a linguagem estética da ficção científica e tornou-se num dos mais influentes e canónicos filmes do género. Na sua aura mística, ganhou um estatuto de obra-prima intocável, à qual até o próprio Scott se privou de voltar, temendo o fracasso; o que, por si só, mesmo ignorando o seu percurso anterior, faz de Denis Villeneuve um sério nome a ter em conta. Ou louco, ou ultra-confiante ou um genial cineasta a considerar.<br />
<br />
Creio que, mais do que em qualquer outro filme, os <i><b>Blade Runner </b></i>espelham um colossal trabalho de equipa e não só a visão artística do realizador. Não quero com este comentário, de todo, menosprezar o talento e o mérito de Villeneuve (que é absolutamente magistral em toda a encenação), mas julgo que aqui é por demais evidente. Em primeiro lugar, estamos perante um extraordinário trabalho de escrita, a partir da obra de Philip K. Dick. Regressa Hampton Fancher ao argumento e à frente daquele que é, também e tanto, o seu mundo criativo. Foram consultados cientistas e engenheiros de topo para o desenvolvimento das ideias e para a concepção dos mastodônticos cenários, carros voadores, armas e demais tecnologias e hologramas (produção artística de Dennis Gassner e Alessandra Querzola). O já lendário director de fotografia Roger Deakins juntou-se ao realizador, previamente, para meses e meses de estudo e preparação de cada <i>frame -</i> da iluminação ao extraordinário uso das cores e às indissociáveis repercussões na cenografia. <b><i>2049</i></b> é, pois e a todos os níveis, um portentoso assombro visual - é do magnético poder das suas imagens que provém muita da sua magia e encantamento. Por mais que <b><i>2049</i></b> se esforce e invista em construir cenários e artefactos reais, escapando tanto quanto possível ao ecrã verde e às infinitas possibilidades do digital - o que se traduz num realismo deveras apreciável - é claro que um filme como este vive e muito dos extraordinários e estonteantes efeitos visuais (John Nelson, Gerd Nefzer, Paul Lambert e Richard R. Hoover). <b><i>Blade Runner 2049</i></b> chega aos nossos olhos como um esmagador colosso. E cada dólar gasto é perfeitamente detectável, a cada instante.<br />
<br />
Não obstante, não só os olhos saem maravilhados da tremenda experiência sensorial que é uma obra desta amplitude e envergadura. A qualidade sonora de <b><i>2049</i></b> é absolutamente estrondosa, em todos os seus efeitos e mistura. E até nos seus silêncios, assegurando uma viagem exótica e memorável, empolgante nas mais variadas sequências de acção e nas outras tantas, plenas de <i>suspense </i>e de surpreendentes revelações. Benjamin Wallfisch e Hans Zimmer unem-se para recuperar a toada de Vangelis e, às tantas, partirem para uma sonoridade própria e estranha, que nos perturba e inquieta, que suscita em nós uma espécie de desconforto e que condiz com a demanda de K (Ryan Gosling, o novo caçador de replicantes, também ele um replicante) pela urbe poluída e sobrepovoada ou pela paisagem mais inóspita e deserta, condenada pela radioactividade.<br />
<br />
Gosling é o homem perfeito para o papel: uma interpretação mais circunspecta, mais interior, uma rudeza de carácter aparente que se esbate num olhar profundo e sentido, tão humano. É a cabeça de cartaz de uma nova geração de personagens, assumidas por irrepreensíveis escolhas de <i>casting</i>. Ana de Armas como Joi, o holograma da mulher perfeita: sensual, amiga e companheira. É com ela que Gosling partilha aquelas que serão, provavelmente, das mais belas e românticas cenas dos últimos anos, entre as quais o beijo à chuva, na noite e no topo do edifício, e os preliminares daquela que se depreende ser uma prometedora noite de sexo (a dois ou a três, não sei bem como classificá-la). Temos Robin Wright à frente das forças policiais e de investigação, temos Sylvia Hoeks como vilã implacável, temos Jared Leto como o cego Wallace, senhor da indústria de andróides e senhor do mundo. De regresso, a curta aparição do Gaff de Edward James Olmos e de mais um dos seus origamis e claro... o saudoso Harrison Ford como Rick Deckard, a assegurar a ligação com o filme anterior e a sua honrosa continuação. As cenas em Las Vegas são lindíssimas, todas sem excepção, mas aquele tiroteio e duelo de pancadaria em pleno salão do casino, com direito a espetáculo de Elvis, Marilyn Monroe e bailarinas aparições entre um espectacular <i>show</i> de luzes é qualquer coisa de sublime.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b>Deckard</b>: <i>I like this song. We could keep at this or we could get a drink. </i></div>
<div style="text-align: center;">
<b>K</b>: <i>I'll take the drink.</i></div>
<br />
Enquanto <b><i>Blade Runner</i></b> se debruçava sobre os sonhos, <b><i>2049</i></b> debruça-se sobre as memórias. São as memórias aquilo que nos torna humanos? A partir de quando pode um andróide ou qualquer criação com inteligência artificial ser considerado natural? Ou ser considerado mais ou menos digno do que um ser humano? Se um replicante for capaz de criar ou procriar, isso faz dos humanos deuses? Que legitimidade tem o criador de se achar superior, em termos de direitos, à sua criação? Qual é o lugar de um ser criado à semelhança do Homem no mundo? Tem ele direito à liberdade? Porá em causa, essa liberdade, a sobrevivência do criador? A discussão não se esgota por aqui. São muitas as questões e tão poucas ou tão dúbias as respostas. Uma coisa é certa: a reflexão é em 2017 muito mais urgente e significativa do que em 1982. Os destinos do mundo parecem encaminhar-se, de uma maneira ou de outra, para a concretização da ficção científica. O que hoje é sonhado, amanhã poderá ser realidade. Há impossíveis? O primeiro <b><i>Blade Runner </i></b>ensinou-nos que não e este novo poderá aproximar-nos ainda mais do milagre.<br />
<br />
O melhor filme de 2017, a par de <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2018/02/mae-2017.html"><span style="color: lime;">Mãe!</span></a></i></b>, de Darren Aronofsky.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-YZbGLwQ5pok/WnzCEave_WI/AAAAAAAAKyU/z6nEniyfbyQ3OZY4Pz1Afv4U1xRgiGZjgCLcBGAs/s1600/bladerunner08maio-03%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="588" data-original-width="1600" height="143" src="https://1.bp.blogspot.com/-YZbGLwQ5pok/WnzCEave_WI/AAAAAAAAKyU/z6nEniyfbyQ3OZY4Pz1Afv4U1xRgiGZjgCLcBGAs/s400/bladerunner08maio-03%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-68268372978468522542018-02-08T16:07:00.000+00:002018-02-16T22:11:04.804+00:00CHAMA-ME PELO TEU NOME (2017)<div style="text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-jyIQ_gUCZyk/Wnu9qTmCwkI/AAAAAAAAKx4/KU5QTdtBtTQYTimYb_mz5QLWSlkByZqaQCLcBGAs/s1600/callme.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="707" data-original-width="500" height="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-jyIQ_gUCZyk/Wnu9qTmCwkI/AAAAAAAAKx4/KU5QTdtBtTQYTimYb_mz5QLWSlkByZqaQCLcBGAs/s200/callme.png" width="140" /></a><b>PONTUAÇÃO</b>: MUITO BOM<br />
<span style="font-size: small;"><span style="color: lime; font-weight: bold;">★★★★★</span></span></div>
<b>Título Original</b>: Call Me By Your Name<br />
<b>Realização</b>: Luca Guadagnino<br />
<div style="text-align: justify;">
<b>Principais Actores</b>: Timothée Chalamet, Armie Hammer, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel, Victoire Du Bois, Vanda Capriolo, Antonio Rimoldi, André Aciman, Peter Spears, Marco Sgrosso</div>
<br />
<b>Crítica</b>:<br />
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<span style="font-weight: bold;">O SABOR DO PÊSSEGO</span></div>
<div style="text-align: right;">
<br />
<i><i> </i>Nature has cunning ways of finding our weakest spot.</i></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Provar o fruto do amor é, porventura, das melhores sensações de estar vivo e descobrir a sexualidade e os prazeres da carne uma das fases mais belas e vibrantes da vida de qualquer pessoa. <b><i>Chama-me Pelo Teu Nome</i></b> é sobre essa descoberta. Elio tem 17 anos. São as férias de 1983, algures pela pasmaceira rural do nordeste italiano onde tão pouco se faz, onde tão pouco acontece. Lê-se, toca-se piano ou guitarra, anda-se de bicicleta pelos campos verdejantes e cheios de vida, transpira-se ou mergulha-se na natureza. As árvores estão cheias de frutos e os sumos são o saboroso néctar dos deuses, prontos a beber a qualquer altura do dia. Luca Guadagnino, aliás, jamais se priva de mostrar esse Jardim do Éden, onde as personagens respiram e existem. A fertilidade do meio invade a narrativa e a natureza fala-nos através das imagens e dos sons, intoxicando-nos.<br />
<br />
Elio é um privilegiado: é um estrangeiro numa casa de campo, a casa de férias na Europa, cheia de empregados locais. Vive com os pais, uma tradutora (Amira Casar) e um arqueólogo amante da antiguidade clássica (brilhante Michael Stuhlbarg), ambos presentes, atentos e cultos. Certo dia, chega à herdade o radioso e sete-anos-mais-velho Oliver, assistente contratado do pai para aquele verão e que passará a pernoitar no quarto do jovem, partilhando ambos a mesma casa de banho. Às vezes grosseiro mas sempre misterioso, Oliver começa por ter uma presença que, primeiramente, incomoda Elio e que depois o desconforta, irrita, magnetiza, desconcentra e por fim o atrai assolapadamente. A primeira metade do filme é lenta: sucede-se o dia-a-dia e quase nada acontece (o retrato do quotidiano é imperioso), a não ser que sejamos activos na interpretação dos mais pequenos e significantes sinais. A cada ausência, o pensamento, a dúvida, a inquietação. O escape do adolescente por meio da aventura heterossexual com uma amiga - a experimentação e mais uma descoberta. Às tantas, o desejo domina-o, atando-lhe os pés e as mãos, e a entrega é inevitável, felizmente correspondida, ainda que há luz do secretismo. O fruto proibido, a ser provado, somente nos mais recônditos recantos do Jardim, a quilómetros e quilómetros de distância da vila e de casa, num esconderijo só dos dois. Selam-se os lábios, inaugura-se o beijo, dá-se o toque e o pulsante tesão. Depois, a paixão cresce e extrapola. O quarto torna-se o leito do amor: apalpar-se-ão as texturas, saborear-se-ão os líquidos. E, logo à primeira união, a preocupação: não da descoberta - a pedofilia não é aqui assunto e, como disse, os pais de Elio são cultos. Têm mentes abertas e um coração cheio de amor para dar. Desejam o melhor para o filho e gostam inclusive de Oliver para genro. Se dúvidas houvesse, um dos diálogos finais entre pai e filho põe clara a sublime parentalidade do arqueólogo. Que urgente filme de família <b><i>Chama-me</i></b> se torna naquele momento:<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<i>We rip out so much of ourselves to be cured of things faster than we should that we go bankrupt by the age of thirty and have less to offer each time we start with someone new. But to feel nothing so as not to feel anything - what a waste!
</i></div>
<br />
O problema é... o fim do verão. Inicia-se uma relação que, à partida, está imediatamente condenada por um prazo. E essa dor pressentida transparece logo no olhar de Elio - brilhante Timothée Chalamet, tão verdadeiro na sua entrega. Julgo que este é um daqueles casos em que a excelente condução de actores extraiu o que de melhor há, em potência, de um tão jovem e promissor talento. <span style="text-align: start;">Armie Hammer, como o confiante e ligeiramente arrogante Oliver, que finalmente se rende à mais doce vulnerabilidade, tem um papel surpreendente e de uma química indesmentível para com Chalamet. A história de ambos é representada, aliás, de forma tão intensa e genuína, que julgo ser essa uma das principais virtudes do filme; todo ele, já de si, tão despojado de lugares-comuns.</span><span style="text-align: start;"> </span><br />
<br />
O que mais gosto no filme? Sinceramente? É tudo o que não é dito, tudo o que não é mostrado. James Ivory é especialmente feliz na adaptação e <span style="text-align: start;">Guadagnino concretiza-o magistralmente. <i><b>Chama-me Pelo Teu Nome</b></i> ascende, por isso, a um nível de pureza e beleza absolutamente notável. É tanto mais aquilo que depreendemos e que só mais tarde nos é confirmado ou não. Um olhar, um toque, um silêncio, uma ausência... simples coisas dizem tanto sobre as personagens, sobre o que aconteceu, acontece ou poderá vir a acontecer. Em <b><i>Chama-me</i></b> tudo floresce naturalmente, ao sabor do tempo. </span><span style="text-align: start;">E o tempo tem o seu tempo, sem pressas. No campo, aliás, o tempo é mais tempo.</span><span style="text-align: start;"> <b><i>Chama-me</i></b> </span><span style="text-align: start;">é um filme de uma simplicidade desarmante, sem artifícios maiores. Até a banda sonora, ora mais clássica ora na forma das mais oportunas e singelas canções, nos parece despir e nos fazer focar no essencial, sentindo-o. Como o amor é bonito e como é bonito sermos francos connosco próprios. Sermos o que somos. </span><br />
<span style="text-align: start;"><br /></span>
<span style="text-align: start;">A cena do pêssego - a mais polémica e ridicularizada - é, no meu entender, das mais belas, íntimas e puras cenas do ano. É arriscadíssima, facilmente seria incompreendida ou menosprezada, mas é tão representativa de todo o filme. O pêssego é um símbolo da homossexualidade, tem a forma de um escroto ou das nádegas do homem. Perfurar o pêssego com os dedos ou com o membro é uma alusão à iniciação e à perda da virgindade. Provar o pêssego, pleno de fluídos, é, numa dimensão simbólica, a consumação máxima do amor e a materialização clara do pecado (no contexto bíblico). Ora, não há pecado onde há amor. E o</span><span style="text-align: start;"> amor é uma força da natureza, já dizia a </span><i style="text-align: start;">tagline</i><span style="text-align: start;"> de </span><b style="text-align: start;"><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2008/09/segredo-de-brokeback-mountain-o-2005.html"><span style="color: lime;">Brokeback Mountain</span></a></i></b><span style="text-align: start;">, e tinha toda a razão. O erotismo é contido e o sexo jamais se torna explícito ou dominante. A última cena prolonga-se pelos créditos finais adentro e assistimos à comoção de Chalamet sem nos levantarmos, expectantes que o telefone toque ou que alguma coisa ainda aconteça e o reconforte. Que final.<br /><br />Por tudo isto, que delícia de filme. Tão raro e delicado, tão precioso quanto o amor verdadeiro.</span><br />
<span style="text-align: start;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-Lek8nb0O3eM/WodW6RNsiFI/AAAAAAAAKyw/htM5asI9zz0avdYLY4Slua0wzsAkI4pogCLcBGAs/s1600/callme2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="459" data-original-width="1280" height="142" src="https://2.bp.blogspot.com/-Lek8nb0O3eM/WodW6RNsiFI/AAAAAAAAKyw/htM5asI9zz0avdYLY4Slua0wzsAkI4pogCLcBGAs/s400/callme2.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-79034437847522279282018-02-08T02:32:00.001+00:002018-02-08T02:49:01.611+00:00MEMÓRIAS DE MARNIE (2014)<div style="text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-HxMIh4HQUos/WnuRAJUxbaI/AAAAAAAAKxc/2R4RCT37rlonEoHlb1g71CDWOAQjFoPwACLcBGAs/s1600/When-Marnie-Was-There-secondposter.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="718" data-original-width="500" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-HxMIh4HQUos/WnuRAJUxbaI/AAAAAAAAKxc/2R4RCT37rlonEoHlb1g71CDWOAQjFoPwACLcBGAs/s200/When-Marnie-Was-There-secondposter.jpg" width="139" /></a><b>PONTUAÇÃO</b>: MUITO BOM<br />
<span style="font-size: small;"><span style="color: lime; font-weight: bold;">★★★★★</span></span></div>
<b>Título Original</b>: Omoide no Mânî<span style="font-size: 16px;"></span><br />
<b>Realização</b>: Hiromasa Yonebayashi<br />
<div style="text-align: justify;">
<b>Vozes</b>: Sara Takatsuki, Kasumi Arimura, Nanako Matsushima, Susumu Terajima, Toshie Negishi, Hana Sugisaki, Hitomi Kuroki, Ken Yasuda, Yûko Kaida, Shigeyuki Totsugi, Kazuko Yoshiyuki, Ryôko Moriyama</div>
<br />
<b>Crítica</b>:<br />
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
</div>
<br />
<span style="font-weight: bold;">A CASA DO PÂNTANO </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<i style="font-weight: bold;"><span style="font-style: normal; font-weight: 400;">Falou-se, por altura da estreia, que </span><b style="font-style: normal;"><i>Memórias de Marnie </i></b><span style="font-style: normal; font-weight: 400;">arrastava consigo o saudosismo dos Estúdios Ghibli, por se tratar do adeus definitivo da marca. Até poderia ser, no entanto julgo o comentário bastante facilitista e redutor, como que a tentar apagar a inspirada e fértil natureza artística de </span><span style="font-style: normal; font-weight: 400;">Hiromasa Yonebayashi e da demais equipa na concretização de tão fabuloso e meritório projecto, a partir do romance de Joan G. Robinson. O anúncio do fim dos Ghibli faz sempre lembrar o fundador, o lendário e genial cineasta Miyazaki, que, a cada obra que lança, também anuncia sempre a sua retirada, a sua despedida. Que proveitoso passe de <i>marketing</i>, por mais verdadeira que seja a sua intenção. Não, não, </span><i>Memórias de Marnie </i><span style="font-style: normal; font-weight: 400;">não se esvazia num mero exercício de estilo, numa bela mas infecunda aguarela, sem conteúdo, alma ou coração. Pelo contrário. No fim de contas, este não foi o último filme Ghibli e mesmo que um dia haja um último, filmes como este conquistarão a eternidade e o esplendor dos estúdios jamais se extinguirá.</span></i><br />
<i style="font-weight: bold;"><br /></i>
<i style="font-weight: bold;">Memórias de Marnie </i>começa e atravessa-nos um repentino sopro melancólico, que nos esfria e gela, como o vento que surge e nos anuncia o fim do verão. Uma brisa que nos chama, em profundo sofrimento, como que gritando por socorro. Desde a primeira imagem, Anna, o mundo e o espelho da mais desoladora solidão. A jovem vive numa abismal existência interior, comunicando muito pouco, exteriorizando-se tão pouco. Não tem amigos, acha-se feia, detestável e irremediavelmente inadaptada. Sabe que é adoptada e é, sem querer, tão injusta para com a mãe adoptiva, a quem chama simplesmente <i>tia</i>. Desconhece o seu passado e sente-se mal-amada, abandonada pelos pais originais. Por isso, não os perdoa. E enquanto não os perdoar, jamais poderá sair do assustador estado depressivo em que se encontra mergulhada - sobretudo assustador se pensarmos que se trata de uma quase menina, de doze anos apenas e tão ciente da sua dor.<br />
<br />
Eis, pois, um conto, de um belíssimo conto, narrativamente tão poderoso e enternecedor. E tão pouco infantil. <i style="font-weight: bold;"><span style="font-style: normal; font-weight: 400;">Yonebayashi é contido no movimento de câmera e deixa a</span></i> narrativa fluir ao sabor dos misteriosos acontecimentos e das apaixonantes personagens, numa cadência pausada, plena de silêncios, mas também de música. E, musicalmente, <b><i>Memórias</i></b> é uma obra tão emocional e sentimental. Takatsugu Muramatsu e o seu prodigioso piano guiam-nos da cidade ao campo (sempre verdejante e cheio de vida) e daquela praia de suaves marés à Casa do Pântano, tão perfeitamente integrada na paisagem, no quadro e nos mais recônditos lugares da memória. A sensibilidade de cada nota e melodia envolvem-nos e abraçam-nos, como naquela dança ao luar entre Marnie e Anna.<br />
<br />
O filme balança-nos entre o real e um universo invisível, que não percebemos se é imaginário ou sobrenatural, e jamais cessa de nos maravilhar. Atrai-nos, seduz-nos, confunde-nos. Às tantas, já não queremos saber. Entregamo-nos, qual Anna, à verdade das sensações e à magia dos acontecimentos. No final, porém, a narrativa equilibra-se e equilibra-nos, sobre o fio da lógica: o inverosímil torna-se verosímil, o invisível torna-se visível. E quão espantoso pode ser tudo isso.<br />
<br />
<b><i>Memórias</i></b> propõe, na sua dimensão encantatória, onírica e quase fantasmagórica, a viagem catártica, transformadora e, por fim, reveladora. Um caminho de auto-descoberta, de auto-aceitação, de confrontação de medos, angústias e do passado mal resolvido, cujos resquícios assombram a protagonista, sem saber, povoando a sua imaginação. A amizade surge como substituta real desses demónios a exorcizar. Marnie é tudo o que Anna não é e sonha ser: linda, risonha, de cabelos compridos e sempre com vestidos, destemida e... com uma família. É em Marnie que Anna encontrará ou descobrirá, finalmente, o amor. Curioso que, com o convívio, Anna absorva todas as características da amiga, esvaziando-lhe os encantos. Trata-se de um processo expiatório e curativo, capaz de absolvê-la de culpas que não tem e de livrá-la de um eventual suicídio... A relação das entre Anna e Marnie não é senão um ritual de crescimento e amadurecimento e Marnie uma ponte para o futuro: um futuro de desejados bem-estar e felicidade.<br />
<br />
É impossível terminar de assistir ao filme e não sentir um rombo no coração. É provável, inclusive, que a lágrima escorra. Afinal, as últimas revelações são absolutamente arrebatadoras e estamos perante uma obra que se alicerça em sentimentos genuínos, que se nos abre de coração cheio e que nos convoca um equiparável nível de entrega. <i style="font-weight: bold;">Memórias de Marnie </i>é, por tudo isto,<i style="font-weight: bold;"> </i>magistral pedaço de cinema, com os traços e a aura Ghibli mas com identidade própria. Uma pérola visualmente deslumbrante, desenhada e pintada com excelência, cujas cores vívidas e marcantes dificilmente se apagarão da memória do espectador.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-m72xNveo_tY/WnuRLhYybAI/AAAAAAAAKxk/StY2tQJVFqsmujAcMm6Dr1LFSwNU5BiqwCLcBGAs/s1600/marniee%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="482" data-original-width="1280" height="150" src="https://1.bp.blogspot.com/-m72xNveo_tY/WnuRLhYybAI/AAAAAAAAKxk/StY2tQJVFqsmujAcMm6Dr1LFSwNU5BiqwCLcBGAs/s400/marniee%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-64135528629695853692018-02-05T12:53:00.002+00:002018-02-08T02:38:32.535+00:00PORCO ROSSO - O PORQUINHO VOADOR (1992)<div style="text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-G-YDL_T4_-0/WnhEJHz0tAI/AAAAAAAAKxM/06pCE-1qrVYpygP5wXhhAeIvaxmswyAFgCLcBGAs/s1600/porco.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="583" data-original-width="411" height="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-G-YDL_T4_-0/WnhEJHz0tAI/AAAAAAAAKxM/06pCE-1qrVYpygP5wXhhAeIvaxmswyAFgCLcBGAs/s200/porco.jpg" width="140" /></a><b>PONTUAÇÃO</b>: MUITO BOM<br />
<span style="font-size: small;"><span style="color: lime; font-weight: bold;">★★★★★</span></span></div>
<b>Título Original</b>: Kurenai no buta<span style="font-size: 16px;"></span><br />
<b>Realização</b>: Hayao Miyazaki<br />
<div style="text-align: justify;">
<b>Vozes</b>: Shûichirô Moriyama, Tokiko Katô, Bunshi Katsura Vi, Tsunehiko Kamijô, Akemi Okamura, Akio Ôtsuka, Hiroko Seki, Reizô Nomoto, Osamu Saka, Yu Shimaka</div>
<br />
<b>Crítica</b>:<br />
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
</div>
<br />
<span style="font-weight: bold;">OS PIRATAS DOS CÉUS </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<b><i>Porco Rosso</i></b> é tanto mais do que um prodígio visual da tradicional animação de Miyazaki e dos estúdios Ghibli.<br />
<br />
É uma divertidíssima comédia, onde se multiplicam as situações mais caricatas e onde brotam as personagens mais espontâneas e inesperadas (recordo, por exemplo, as quinze pequenas meninas raptadas pelos piratas dos céus, logo na abertura, de coragem e inocência desarmantes). É um filme de acção, no qual se superam as perseguições da maquinaria e as manobras mais alucinantes, rasgando as nuvens e as alturas. É uma história de aventuras, com bons e maus a partilharem acontecimentos extraordinários e que fazem tréguas somente no bar da Gina, para beber uns copos, fumar uns cigarros e desfrutar dos prazeres da vida. É um romance adiado, entre a famosa cantora da ilha e o aviador enfeitiçado: há uma eternidade que a charmosa mulher o espera nos seus jardins, mas o porco tem vergonha da sua aparência e não se acha digno dos seus encantos e atenções. Surge também Fio, a jovem engenheira, que depressa se torna o motor da história, capaz de alavancar as mais resistentes engrenagens. <i><b>Porco Rosso</b></i> assume-se, não raras as vezes, aliás, como uma ode ao feminino, desempenhando as mulheres os papéis mais maduros e destemidos, face às agruras das circunstâncias e à infantilidade dos homens, que se entretêm entre competições e lutas absurdas. A possibilidade do amor é inebriada pela sombra da tragédia - o passado tem um peso decisivo no desenrolar dos acontecimentos presentes e, por isso, os <i>flashbacks </i>revelam-se essenciais para o aprofundamento da história e das personagens. Num desses<i> flashbacks</i>, absolutamente fantástico e belo, transgridem-se as fronteiras da metafísica e a obra abre portas a um entendimento mais filosófico.<br />
<br />
A história original de Miyazaki, ao passar-se num espaço e tempo específicos - o Mediterrâneo dos anos 30, no intervalo entre guerras - inscreve-se ainda no retrato histórico. Porco sabe-se um desertor desonrado, sente-se um mercenário hediondo e não o bravo herói que todos reconhecem nele. O outrora Marco sabe perfeitamente: a guerra transforma os homens em porcos. E a sua aparência mágica não é senão a materialização de um castigo superior. A aparência original e, com ela, a redenção, julga-as de todo impossíveis. As boas acções podem quebrar o feitiço. E o amor genuíno e o beijo, qual <b><i>Princesa e o Sapo</i></b>. A inspiração da fábula está lá, mas<b><i> Porco Rosso</i></b> não chega a sê-lo propriamente. O filme enche-se de liberdades artísticas, típicas da animação, porém jamais se distancia por aí além do real. Da fábula tem apenas apontamentos e, por fim, a solução.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<i>- Qual é a diferença entre lutar numa guerra e ser um mercenário?</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>- Só os desonestos ganham dinheiro com uma guerra. Mas só os idiotas não ganham dinheiro como mercenários.</i></div>
<br />
A cada género ou sub-género que o filme sobrevoa, destila-se uma paixão fervorosa pela aviação, que a eclética banda sonora de Joe Hisaishi acompanha com todo o carinho e entrega. Aliás, as proporções tanto dramáticas quanto oníricas que <b><i>Porco Rosso</i></b> atinge devem-se essencialmente à mágica relação das pinturas em movimento, sempre deslumbrantes, com as envolventes músicas do compositor. As notas do seu piano são um autêntico milagre.<br />
<br />
<b><i>Porco Rosso</i></b> tanto é um adorável filme para crianças como salta para um doloroso filme de adultos, cheio de conotações, leituras e lições históricas, políticas e sociais. É sobretudo, diria, um filme profundamente humano. E, talvez por isso, um dos meus preferidos do mestre Miyazaki.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-BSoQIoEaZCw/WnhEOvP296I/AAAAAAAAKxQ/r_iXMxx9Gb4EgMQ5tecFeNqRciCkSo3AgCLcBGAs/s1600/Porco-Rosso-porco-rosso-29177263-2560-1369%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="1600" height="138" src="https://1.bp.blogspot.com/-BSoQIoEaZCw/WnhEOvP296I/AAAAAAAAKxQ/r_iXMxx9Gb4EgMQ5tecFeNqRciCkSo3AgCLcBGAs/s400/Porco-Rosso-porco-rosso-29177263-2560-1369%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-37844126753014672602018-02-02T22:47:00.000+00:002018-02-04T12:30:36.390+00:00DUNKIRK (2017)<div style="text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-quU2U70yf5w/WnTM155lQ5I/AAAAAAAAKww/caV8gHye_QozkZ7Edmg0u5V0OwcAeZB9ACLcBGAs/s1600/dunkirk.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="910" data-original-width="600" height="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-quU2U70yf5w/WnTM155lQ5I/AAAAAAAAKww/caV8gHye_QozkZ7Edmg0u5V0OwcAeZB9ACLcBGAs/s200/dunkirk.jpg" width="131" /></a><b>PONTUAÇÃO</b>: MUITO BOM<br />
<span style="font-size: small;"><span style="color: lime; font-weight: bold;">★★★★★</span></span></div>
<b>Título Original</b>: Dunkirk<br />
<b>Realização</b>: Christopher Nolan<br />
<div style="text-align: justify;">
<b>Principais Actores</b>: Fionn Whitehead, Mark Rylance, Harry Styles, Tom Hardy, Kenneth Branagh, Cillian Murphy, James D'Arcy, Aneurin Barnard, Jack Lowden, Tom Glynn-Carney, Barry Keoghan</div>
<br />
<b>Crítica</b>:<br />
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<span style="font-weight: bold;">A TENSÃO DO RESGATE</span></div>
<div style="text-align: right;">
<br />
<i><i> </i>Well done, lads. Well done.</i></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Depois de explorar os limites do cosmos e da ficção científica com o fascinante e espectacular <b><i><a href="https://cineroad.blogspot.pt/2017/04/interstellar-2014.html"><span style="color: lime;">Interstellar</span></a></i></b>, Christopher Nolan sentiu necessidade de reduzir a escala, de se centrar num episódio da história recente da sua pátria e de mergulhar no mais gritante realismo, como quem regressa a casa após a mais delirante das viagens, assentando os pés na terra e despindo-se de artifícios. Porém, a opção revelou-se-lhe tudo menos confortável, antes plenamente ambiciosa, absolutamente desafiante.<br />
<br />
Como qualquer filme de Nolan, <b><i>Dunkirk</i></b> é sofisticado na fórmula que investe no espectador. Tripartindo o argumento e a acção, eis a evacuação de Dunquerque pela terra, pelo mar e pelo ar. Cada um dos três pontos de vista se entrelaça a um tempo diferente: respectivamente uma semana, um dia e uma hora. Na prática, a aparente complexidade desta decisão formal não resulta propriamente num quebra-cabeças, uma vez que cada linha diegética colide aqui e ali por meio de espaços, personagens ou meios de transporte (aviões ou barcos), dirimindo essa dificuldade e guiando o espectador por entre o labirinto. Recusando facilitismos do digital, Nolan exigiu uma produção à moda antiga, com uma épica coordenação de duplos, tiros e efeitos explosivos, potenciando a imersão do espectador pela imersão da equipa técnica nas águas. As dificuldades físicas para filmar as cenas foram as mais variadas. Nolan levou a cabo uma verosímil reconstituição dos reais acontecimentos no cenário real onde tudo aconteceu. Há poucas cenas de diálogos (às tantas mais parece que assistimos a um impiedoso filme mudo, embora repleto de poderosos e impactantes efeitos sonoros), o colectivo assume o papel protagonista (embora esteja por lá Tom Hardy, atrás da máscara, Kenneth Branagh e Mark Rylance) e <b><i>Dunkirk</i></b> revela-se essencialmente um filme de acção, deslumbrantemente coreografado e fotografado (belíssimo embora dificílimo trabalho de Hoyte Van Hoytema). É uma verdadeira lição de cinema, um brutal exercício de forma e de exibição técnica, quase na totalidade filmado com pesadas câmeras IMAX, a assegurar o mais espetacular enquadramento para o desaire e infortúnio de quatrocentos mil soldados, encostados pelo inimigo à mais inóspita praia da morte. E apesar da paisagem aberta, na maior parte dos casos, Nolan constrói um cada vez mais intenso e sufocante <i>thriller</i> de sobrevivência, assustadoramente claustrofóbico seja no interior de aviões que se afundam no canal, seja das embarcações que ascendem com a maré, seja no meio da multidão que se ajoelha e rebaixa do perigo em pleno pontão, sucumbindo à desolação e à tragédia. O contra-relógio da sobrevivência ouve-se a cada passo que se corre, a cada bater do coração, a cada bombardeamento: Hans Zimmer é exímio, fenomenal e implacável na escalada do <i>suspense</i>. A sua banda sonora é, em tudo, singular, e perfeitamente indissociável do ritmo da montagem (Lee Smith) e do próprio filme. Partilham, pois, o mesmo código genético e estão perfeitamente intrincados.<br />
<br />
<b><i>Dunkirk</i></b> é uma experiência sensorial e profundamente cerebral - porventura, o mais cerebral de todos os filmes de Nolan, à data -, ainda que a emoção seja convocada pela frieza das circunstâncias e pelo gesto humano que, a jeito de milagre, resolve e decide, às tantas, o desenrolar da guerra e o destino do mundo. Ainda assim, <b><i>Dunkirk</i></b> gela-me o sangue. Nolan torna a surpreender, torna a afirmar-se. Ao mesmo tempo que desbrava novos caminhos, solidifica-se enquanto autor e cineasta. O que faz é indesmentivelmente estimulante e único. O cinema agradece e nós também.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-QXNHCDxiwgg/WnTOog_voGI/AAAAAAAAKxA/6RXVUZ_70OEjqi2HZ0KHte65kE2d-MF5wCLcBGAs/s1600/Dunkirk-02%2B%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="575" data-original-width="1600" height="143" src="https://1.bp.blogspot.com/-QXNHCDxiwgg/WnTOog_voGI/AAAAAAAAKxA/6RXVUZ_70OEjqi2HZ0KHte65kE2d-MF5wCLcBGAs/s400/Dunkirk-02%2B%25282%2529.jpg" width="400" /></a></div>
</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-16189269523526969172018-01-21T21:15:00.001+00:002018-01-21T21:15:09.355+00:00INVENCÍVEL (2014)<div style="text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-5QwTDAzE5cg/WmTi_K1EPaI/AAAAAAAAKwY/yEXUnTQDLfkbPRclmn0lYyaVi72BBkzggCLcBGAs/s1600/unbroken.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1090" height="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-5QwTDAzE5cg/WmTi_K1EPaI/AAAAAAAAKwY/yEXUnTQDLfkbPRclmn0lYyaVi72BBkzggCLcBGAs/s200/unbroken.jpg" width="135" /></a><b>PONTUAÇÃO</b>: MUITO BOM<br />
<span style="font-size: small;"><span style="color: lime; font-weight: bold;">★★★★★</span></span></div>
<b>Título Original</b>: Unbroken<br />
<b>Realização</b>: Angelina Jolie<br />
<div style="text-align: justify;">
<b>Principais Actores</b>: Jack O'Connell, Domhnall Gleeson, Finn Wittrock, Miyavi, Garrett Hedlund, Jai Courtney, Maddalena Ischiale, Vincenzo Amato, Alex Russell, C.J. Valleroy</div>
<br />
<b>Crítica</b>:<br />
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<span style="font-weight: bold;">O PRISIONEIRO RESILIENTE</span></div>
<div style="text-align: right;">
<br />
<i><i> </i>If you can take it, you can make it.</i></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b><i>Invencível</i></b> foi um dos melhores filmes de 2014. Angelina Jolie entrega-nos um trabalho de realização absolutamente seguro e surpreendente, capaz de desfazer qualquer dúvida sobre o seu talento artístico. Não deve ser fácil ser mulher num mundo de homens (refiro-me à indústria cinematográfica mas podia estender-me, facilmente, a outros horizontes), filha do actor Jon Voight, ainda para mais sendo considerada uma das mulheres mais bonitas - e por isso mais invejadas - do planeta, então casada com a igualmente super-estrela Brad Pitt, relação que alimentava os tablóides do social, diariamente, por todo o globo. Mas <b><i>Invencível</i></b> não é sobre Angelina Jolie, a celebridade. É preciso abraçar o filme livre de preconceitos. Quando muito será sobre a sua visão da história e sobre a forma como decidiu abordá-la, na mesma medida em que qualquer filme reflete a alma do seu criador, do seu autor. <b><i>Invencível</i></b> está mais próximo de David Lean ou de Steven Spielberg do que qualquer filme meramente competente e sem assinatura, realizado pelo capricho de uma actriz ególatra ou bacoca. E isto é dizer muito a respeito da qualidade de <b><i>Invencível</i></b>.<br />
<br />
O <i>biopic</i> abre nos céus, sob o olhar poético de Roger Deakins: o <i>take</i> é aberto e de uma beleza paradisíaca e redentora. Todavia, Jolie não tardará a condenar os seus rapazes e o espectador à claustrofobia do B-24, quando as alturas se encherem de estrondos, de balas e de morte. A brilhante sonoplastia conferir-lhe-á uma ferocidade por demais realista. Eis, então, o mote: uma geração de bravos homens é entregue ao inferno, tão longe da pátria que juraram defender. Ali, no fim do mundo, a luta pela sobrevivência faz-se de improviso, ao sabor dos acontecimentos, à medida do que é possível. Os limites - físicos, psíquicos, espirituais - são postos à prova e a superação acontece. Homens comuns tornam-se maiores, capazes das atitudes mais nobres e inspiradoras, e também menores, capazes das maiores e mais desprezíveis atrocidades. Louie Zamperini (fabuloso Jack O'Connell) poderia ter sido simplesmente mais um ser humano, em nada extraordinário, porventura até entregue ao álcool e aos caminhos menos virtuosos, como apresenta o argumento dos irmãos Coen (e companhia, a partir do livro de Laura Hillenbrand) na primeira analepse. Encorajado pelo irmão Pete, o jovem ganha auto-confiança, torna-se um atleta e a destreza levá-lo-á às Olimpíadas de Berlim de 1936 e ao reconhecimento internacional. Longe estaria de imaginar que o seu verdadeiro desafio ainda estaria por chegar: escapar a tiroteios, enfrentar a morte dos companheiros mais próximos, sobreviver à queda do bombardeiro em pleno oceano, resistir, à deriva, a semanas e semanas de insolações, fome e sede em pleno Pacífico e depois, como se tudo isso já não bastasse, a meses e meses de torturas e trabalhos pesados nos campos de prisioneiros japoneses. Não gosto do título <b><i>Invencível</i></b> porque sugere uma natureza poética para a história de superação de Louie. Esta história é tudo menos poética. É absolutamente cruel. A resiliência do sobrevivente, somente alimentada de esperança (de voltar para casa e para os seus ou inclusive de fazer justiça pelas próprias mãos, caso a oportunidade surgisse), não é heróica, é simplesmente humana e esmagadoramente desarmante, por isso. <i>A moment of pain is worth a lifetime of glory. You remember that</i>. O conselho é do irmão, na despedida para a guerra, e certamente que terá ecoado na mente de Louie durante as mais terríveis adversidades.<br />
<br />
A narrativa flui progressivamente tensa, apesar dos avanços e recuos. Miyavi, com o seu Pássaro, tem uma estreia impressionante. O seu general, para lá de sádico e abusivo, é monstruoso. O <i>underacting</i> do actor, naquele seu tom suave e olhar doentio, causa calafrios e revolta. O seu confronto com Louie, no terceiro e último acto do filme, revitaliza o drama humano e eleva-o a uma dimensão excepcional, assustadoramente trágica. Tememos o pior, a cada murro ou chibatada. A cada olhar. É mais uma das pérolas do notável <i>casting</i>, no qual se incluem o egrégio Domhnall Gleeson e o carismático Garrett Hedlund.<br /><br />Por tudo isto, é de esperar o melhor de Angeline Jolie enquanto cineasta, doravante.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-SHSjLoPmlBs/WmTjDxFpBfI/AAAAAAAAKwc/M_wB6M0WKOIF1SZe79KFph768qMyUvnfgCLcBGAs/s1600/unbroken-movie2%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="514" data-original-width="1600" height="127" src="https://1.bp.blogspot.com/-SHSjLoPmlBs/WmTjDxFpBfI/AAAAAAAAKwc/M_wB6M0WKOIF1SZe79KFph768qMyUvnfgCLcBGAs/s400/unbroken-movie2%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-34736830549329950112018-01-20T23:54:00.000+00:002018-01-21T11:19:13.284+00:00A FANTÁSTICA AVENTURA DO BARÃO (1988)<div style="text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-gikhlmom6fQ/WmM2i2ZK8AI/AAAAAAAAKvw/HOmoOaNsKKo2XQfqw-QlZCIauM4FPmDugCLcBGAs/s1600/the-adventures-of-baron-munchausen-movie-poster-1989-1020196474.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="773" data-original-width="520" height="200" src="https://2.bp.blogspot.com/-gikhlmom6fQ/WmM2i2ZK8AI/AAAAAAAAKvw/HOmoOaNsKKo2XQfqw-QlZCIauM4FPmDugCLcBGAs/s200/the-adventures-of-baron-munchausen-movie-poster-1989-1020196474.jpg" width="134" /></a><b>PONTUAÇÃO</b>: MUITO BOM<br />
<span style="font-size: small;"><span style="color: lime; font-weight: bold;">★★★★★</span></span></div>
<b>Título Original</b>: The Adventures of Baron Munchausen<br />
<b>Realização</b>: Terry Gilliam<br />
<div style="text-align: justify;">
<b>Principais Actores</b>: John Neville, Sarah Polley, Eric Idle, Jack Purvis, Charles McKeown, Winston Dennis, Jonathan Pryce, Uma Thurman, Oliver Reed, Robin Williams, Valentina Cortese, Bill Paterson, Alison Steadman, Peter Jeffrey, Jonathan Pryce</div>
<br />
<b>Crítica</b>:<br />
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<span style="font-weight: bold;">O CIRCO DO ABSURDO</span></div>
<div style="text-align: right;">
<br />
<i><i> </i>I always feel rejuvenated by a touch of adventure.</i></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Tente imaginar a série de aventuras mais absurda e tresloucada, a fantasia mais fecunda e imaginativa e a comédia mais disparatada de que há ou poderá haver memória: tudo numa só obra. Sim, esse filme existe, é de 1988 e chama-se <b><i>A Fantástica Aventura do Barão</i></b>. Já existiam versões anteriores, mas esta é inteiramente original na abordagem... e não só. É como embarcar num autêntico quadro surrealista em movimento, pleno de personagens quixotescas, rico em plurais paisagens, <i>decórs</i> e artefactos, colorido nas mais delirantes propostas visuais. Seja agarrado a uma bala de canhão voadora ou rasgando os céus num navio de roupa-interior insuflada, seja mergulhando nas escaldantes profundezas do inferno ou nas mais inesperadas e exóticas maravilhas, eis uma autêntica e mágica viagem ao mundo em duas horas, ou pouco mais, e que vira o mundo ao contrário, se preciso for. Absolutamente descomprometida. Hilariante em todos os seus excessos. É, provavelmente, o melhor filme de Terry Gilliam e uma das melhores fantasias a que tive o prazer de assistir.<br />
<br />
Não sei como filmes sólidos como rochedos e audazes como heróis podem algum dia cair no esquecimento. Talvez pelo desastre anunciado (que se veio a comprovar por entre guerras de produtores e temerárias convicções artísticas, gestão danosa e custos avultados que não raras as vezes passaram a perna ao génio criativo) e que se manteve qual fantasma após a estreia do filme. Essa aura negativa traduziu-se na falta de confiança dos investidores no seu produto e, por sua vez, num lançamento miserável, catastrófico e desonroso. O filme tornou-se pouco falado e reconhecido, apesar de cada dólar (mesmo os tantos milhões que superaram o orçamento inicial) se verem na tela, a todo o instante.<br />
<br />
Apesar do pesadelo das filmagens e de todos os problemas de produção, <i style="font-weight: bold;">A Fantástica Aventura do Barão</i> chega-nos como um monumento de liberdade, coragem e de poder inventivo. Bizarro, grotesco e excêntrico, qual protagonista: o memorável Barão Munchausen (brilhante John Neville), sempre acompanhado da sua extraordinária trupe (o Berthold de Erci Idle, o homem mais veloz do mundo, o Albrecht de Winston Dennis, o homem mais forte do mundo, o Adolphus de Charles McKeown, o homem com a visão mais apurada do mundo e o Gustavus de Jack Purvis, o anão com o sopro mais potente do mundo), à qual se junta o incontornável motor de toda a trama: a pequena e ajuizada Sally Salt de Sarah Polley, sempre tão curiosa e destemida, despoletando com um simples sorriso ou com uma mera dúvida a imaginação e a loucura do velho aristocrata, que todos julgam não passar de um pomposo lunático ou de um reles mentiroso. Acontece que... as suas histórias são demasiado fabulosas e inverosímeis para merecerem o respeito das pessoas. Nunca poderão ter acontecido... A verdade é que a cidade está cercada pelos turcos. A guerra traz a fome, a miséria e a destruição ao dia-a-dia das pessoas. Essa é a verdade. Não é tempo de histórias... A fala do lógico e racional Sr. Jackson (Jonathan Pryce) é, por isso e às tantas, por demais simbólica e representativa:<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<i>There are rules in life! We cannot fly to the moon. We cannot defy death. <br />We must face facts, not folly. You don't live in the real world.</i></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
A fantasia é sempre ingrata quando a verdade é tão cruel e sangrenta. Mas por isso mesmo o escape que a fantasia proporciona não se iguala a nenhum outro! Ir à lua do sempre rei Robin Williams, onde giram cabeças, ou descer ao purgatório do telúrico Oliver Reed, correr ao harém do sultão, repleto de nudez, tesouros e eunucos e num salto dançar e flutuar com a Vénus de Botticelli, saída da concha, ao som da mais sonante valsa... Isso é que é viver, viver o sonho! É esse o poder da imaginação, das histórias, do cinema! Para Sally, descortinar o mistério e constatar os factos é fundamental e o percurso entre o real e o imaginário - como será para a Alexandria de <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/07/sonho-encantado-um-2006.html"><span style="color: lime;">Um Sonho Encantado</span></a></i></b> - revelar-se-á uma enriquecedora e inesquecível experiência, que a fará certamente manter viva a criança que há dentro dela, por mais anos que passem. <b style="font-style: italic;">A Fantástica Aventura do Barão </b>não é, seguramente, um filme para crianças - às vezes pela complexidade do texto e das cenas, outras pela ironia ou sátira das piadas, às vezes pela violência gráfica ou pelas irreverentes alusões sexuais ou até pelas muitas referências mitológicas ou políticas - mas é seguramente um filme para todos os espectadores que mantêm viva, dentro deles, a criança que um dia foram. Só assim se deslumbrarão com os cenários mais artificiosos (a direcção artística é dos hoje lendários Dante Ferretti e Francesca Lo Schiavo), se encantarão pelas situações menos verosímeis e se entregarão, de coração, ao ridículo, refastelando-se nele, deliciando-se nele. <b style="font-style: italic;">A Fantástica Aventura do Barão</b> é como um festim, que nos despe e nos banqueteia. A cada volta e reviravolta, uma pândega, uma farra e um circo, faustoso e extravagante. Puro gáudio, puro génio artístico. Gilliam é senhor da câmera, visionário, sempre eclético, fluído e inspirado, à frente de uma equipa de excelência. A beleza da fotografia (Giuseppe Rotunno) equipara-se-lhe, transcendente, e a música de Michael Kamen espelha-a, claramente, ao mais alto nível.<br />
<br />
<b><i>A Fantástica Aventura do Barão </i></b>é-me, pois, um filme perfeitamente incansável, até nas suas apaixonantes imperfeições. O elogio parece cair no exagero, temo, mas cada visualização vem não só confirmá-lo como reforçá-lo indelevelmente. Por mais vezes que o veja, divirto-me sempre a potes, com os mesmos júbilo e excitação com que assistia aos desenhos animados em criança. É tão alucinado, tão contagiante. Julgo que terá o condão de colocar qualquer pessoa bem-disposta, transformado-lhe o dia. É como que um cruzamento entre as mais delirantes viagens de Gulliver, ao Centro da Terra, ao Mundo em 80 dias e as 20 mil léguas de <i>nonsense</i> dos Monty Python. E, verdade seja dita, quanto mais idiota melhor. Um triunfo sem limites. Apetece bradar, com fôlego romântico: isto é que é uma história de verdade! E já como vendia o <i>trailer</i>, nas imediações da estreia e cheio de graça, trata-se efectivamente de <i>a true story - we've got the film to prove it</i>.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-AEDVEMOq4r0/WmM3HvXxOOI/AAAAAAAAKv4/HNbytIshhzIivvNLVlQ0JLxN8-jzdlwOgCLcBGAs/s1600/terry-gilliam-przygody-barona-munchausena-1988%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="417" data-original-width="1200" height="137" src="https://2.bp.blogspot.com/-AEDVEMOq4r0/WmM3HvXxOOI/AAAAAAAAKv4/HNbytIshhzIivvNLVlQ0JLxN8-jzdlwOgCLcBGAs/s400/terry-gilliam-przygody-barona-munchausena-1988%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-79235079897234607242017-12-03T21:41:00.000+00:002017-12-03T21:41:24.045+00:00SILÊNCIO (2016)<div style="text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-nblZOuHp2BA/WiRbkiizkyI/AAAAAAAAKvc/T4hn2ayPOMUKV6rtoA9QtbJe9suVvNsNwCLcBGAs/s1600/silence-poster.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1026" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-nblZOuHp2BA/WiRbkiizkyI/AAAAAAAAKvc/T4hn2ayPOMUKV6rtoA9QtbJe9suVvNsNwCLcBGAs/s200/silence-poster.jpg" width="128" /></a><b>PONTUAÇÃO</b>: MUITO BOM<br />
<span style="font-size: small;"><span style="color: lime; font-weight: bold;">★★★★★</span></span></div>
<b>Título Original</b>: Silence<br />
<b>Realização</b>: Martin Scorsese<br />
<div style="text-align: justify;">
<b>Principais Actores</b>: Andrew Garfield, Adam Driver, Issei Ogata, Yôsuke Kubozuka, Liam Neeson, Ciarán Hinds, Tadanobu Asano, Shinya Tsukamoto, Yoshi Oida </div>
<br />
<b>Crítica</b>:<br />
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<span style="font-weight: bold;">O ÚLTIMO PADRE NO INFERNO</span><br />
<span style="font-weight: bold;"><br /></span>
<span style="font-weight: bold;"></span></div>
<div style="text-align: right;">
<i> </i><i><i>Mountains and rivers can be moved</i></i><br />
<i><i> </i>but men's nature cannot be moved.</i></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>Onde está Deus, no fim do mundo?</i> Esta é a questão que o sofrido padre Rodrigues de Andrew Garfield encontrará, vezes sem conta, no seu mais profundo íntimo. Movido pela sua fé supostamente inabalável, cega e inquestionável, incube-se de uma missão que o distanciará do seu ocidente e o mergulhará num Japão de lama e nevoeiro, onde a inquisição persegue e tortura cristãos e professores da fé até à morte. O motivo é encontrar o desaparecido padre Ferreira (Liam Neeson) e continuar o sequioso plano de evangelização da Igreja Católica. Acompanha-o o colega Garupe (Adam Driver), mas depressa cairá no isolamento e na dúvida. Até que ponto pode a semente do cristianismo plantar a sua verdade no ventre de uma cultura tão distinta, com um imaginário tão mais humano e tão menos divino?<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<i>Our Buddha is a being which man can become. Something greater than himself, if he can overcome all his illusions. But you cling to your illusions and call them faith. </i></div>
<div style="text-align: right;">
Intérprete</div>
<br />
Até que ponto vale a pena rezar em segredo, na sombra do medo, condenando a existência a uma natureza fantasmagórica? Acreditam os aldeões, verdadeiramente, na palavra de Deus e nas suas representações, ou na palavra dos padres como Rodrigues e nas representações mais aproximadas que o seu imaginário permite? Acreditarão, os que proferem e os que ouvem, efectivamente e com exactidão, nas mesmas coisas? <i>Onde está Deus, no fim do mundo</i>, quando se sacrificam vidas e famílias em nome d'Ele? Para que serve o martírio? Garantirá ele o acesso livre ao paraíso? Valerá o paraíso desconhecido mais do que a existência terrestre, a do dia-a-dia? Poderá definir-se um cristão como aquele que, tão-somente, recusa pisar uma imagem ou cuspir na cruz, quando da apostasia resulta a sobrevivência dos que ama? Porque significa a fé dor e sofrimento e não bem-estar e jubilo? Negar é uma fraqueza ou uma força? A fé em Deus, tornando-nos dele dependentes, é em si mesma uma coisa positiva? Uma vantagem numa vida repleta de agruras e obstáculos? No olhar e nas lágrimas de Garfield espelham-se todas estas interrogações, todas estas dúvidas, num <i>crescendo</i> que se intensifica tão imperioso quanto o silêncio de Deus perante os acontecimentos. Poderá o jovem escutar no silêncio a voz divina e obter uma resposta?<br />
<br />
Mais do que uma meditação, Scorsese concretiza um abalo na consciência do crente, adaptando o romance homónimo de Shusaku Endo, naquele que é, seguramente, o seu mais fervoroso ensaio religioso desde a excelência de <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2010/09/kundun-1997.html"><span style="color: lime;">Kundun</span></a></i></b>. Julgo, inclusive, que as duas obras estabelecem, até determinado ponto, um interessante e estimulante debate e diálogo, acerca de duas perspectivas da fé propostas pelo cristianismo e pelo budismo. <b><i>Silêncio</i></b> é, todo ele, uma viagem delicada mas absolutamente densa e imersiva, que desafia, a todo o instante, os limites da fé e que se densifica cada vez mais pela ausência total de música. São os sons da natureza e as vozes dos homens que chegam ao ouvido de quem assiste ao longo dos 160 minutos de exibição. O espectador, perante este quadro, ou se desinteressa e se alheia completamente da história e do filme (o que é fácil de acontecer àquele menos paciente ou treinado) ou se entrega inteiramente no abraço narrativo, porventura perdendo-se quais protagonistas entre aquilo que considerava certo e toda uma nova ou renovada discussão suscitada pelos mais variados suplícios e horríveis provações. A cena da tortura das ondas, contra os crucifixos de carne e osso, é por demais emblemática, a propósito. Até onde vai o fanatismo de uns e o de outros e até que ponto valem a pena? Não será a dita verdade universal um veneno perigoso e letal num mundo assumidamente plural? Porquê a necessidade da conquista, da supremacia, da imposição? Quando os mundos colidem, há um rio de deuses e um oceano de verdades. A verdade... a verdade... a verdade é que o mundo é um só e é de todos. Como podemos conviver, então? Impondo? Ajoelhando? Em última análise, qual a necessidade da fé e o seu contributo em todo o processo? Para crentes ou não crentes, creio, <b><i>Silêncio</i></b> é um cântico de urgente pertinência.<br />
<br />
O elenco é inteiramente extraordinário, dos nomes já mencionados ao suculento e hilariante inquisidor Inoue de Issei Ogata e ao eterno judas de Yôsuke Kubozuka, tão pronto a pecar e por isso mesmo tão humano. A fotografia de Rodrigo Prieto pinta-nos telas de inebriante beleza, em enquadramentos estudados. Às vezes, a violência gráfica é inevitável e o seu impacto acautelado. Dante Ferretti incorpora a viagem no tempo, por meio das suas verosímeis construções, entre a paisagem húmida e verdejante. E Thelma Schoonmaker demora-nos num ritmo pausado e meditativo, por um sempre brilhante trabalho de montagem. Scorsese despe-se de si próprio (de eventuais trejeitos ou imagens de marca, de esperados jogos de câmera) e encontra, meticulosamente, o melhor movimento, a melhor perspectiva e a melhor influência para contar a sua história. Mas quando é que assim não foi? As suas maiores imagens de marca são a qualidade, a sobriedade e a consistência. <b><i>Silêncio</i></b> é, pois, mais um Scorsese em plena forma e mestria. E isto é dizer tanto, sobre um dos maiores cineastas vivos.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-n8UeRBW888w/WiRbqc0DKaI/AAAAAAAAKvg/3XBHugl4QkoT6rvHqQhbOQqkAQf-zgtUwCLcBGAs/s1600/03%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="562" data-original-width="1600" height="140" src="https://3.bp.blogspot.com/-n8UeRBW888w/WiRbqc0DKaI/AAAAAAAAKvg/3XBHugl4QkoT6rvHqQhbOQqkAQf-zgtUwCLcBGAs/s400/03%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-38967616325964134182017-11-16T00:33:00.001+00:002017-11-16T00:38:30.364+00:00OLIVER! (1968)<div style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-f9QON0ATWyw/WgyD2-99dII/AAAAAAAAKvA/sgJ_XH7FHvsSdoPSMMMNGbTYAu71uQRTACLcBGAs/s1600/oliver.P.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="833" data-original-width="560" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-f9QON0ATWyw/WgyD2-99dII/AAAAAAAAKvA/sgJ_XH7FHvsSdoPSMMMNGbTYAu71uQRTACLcBGAs/s200/oliver.P.jpg" width="134" /></a><span style="font-weight: bold;">PONTUAÇÃO:</span> MUITO BOM</div>
<span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime; font-weight: bold;">★</span><span style="color: lime; font-weight: bold;">★</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Título Original: </span>Oliver!</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Realização: </span>Carol Reed</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Principais Actores: </span>Ron Moody, Shani Wallis, Oliver Reed, Harry Secombe, Mark Lester, Jack Wild, Hugh Griffith, Joseph O'Conor, Peggy Mount, Leonard Rossiter, Hylda Baker, Kenneth Cranham, Megs Jenkins </div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">Crítica:</span></span> </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>A FANFARRA DAS RUAS </b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: right;">
<i>The living proof that crime can pay! </i></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Oliver Twist</b></i>, o clássico literário de Charles Dickens, teve e continuará a ter adaptações cinematográficas para todos os gostos, sejam elas anteriores ou posteriores a este magnífico <b><i>Oliver!</i></b>, de Carol Reed. Não só as versões se multiplicam como as influências e referências nos mais variados filmes e séries e até na cultura mundial, em geral. Cingindo-me ao cinema mais recente e só para citar alguns exemplos, Polanski teve <b><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/08/oliver-twist-2005.html"><span style="color: lime;">a sua versão</span></a></b> em 2005, Scorsese foi lá beber inspiração em 2012 para o seu excelso <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2014/02/a-invencao-de-hugo-2011.html"><span style="color: lime;">Hugo</span></a></i></b> e Joe Wright em 2015 para o seu bem-intencionado <i><b>Pan</b></i>. 1968 foi, sem dúvida, um ano de grandes filmes - foi o ano de <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/12/aconteceu-no-oeste-1968.html"><span style="color: lime;">Aconteceu no Oeste</span></a></i></b>, de <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2014/02/o-homem-que-veio-do-futuro-1968_2.html"><span style="color: lime;">Planeta dos Macacos</span></a></i></b> e de, sobre todos, <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/07/2001-odisseia-no-espaco-1968.html"><span style="color: lime;">2001: Odisseia no Espaço</span></a></i></b>. Este <b><i>Oliver!</i></b>, de 68, rapidamente atingiu a graça popular e o sucesso da crítica. É a minha versão preferida e a que me ocorre, sempre que se fala em <b><i>Oliver Twist</i></b>. E não é por acaso.<br />
<br />
A denominada era de ouro dos musicais terá atingido o seu auge com o genial <i><b>Serenata à Chuva</b></i>, de Gene Kelly, em 1952 - na minha opinião, o musical por excelência e uma das maiores obras-primas da História do Cinema. Ainda assim, julgo que cada década dá o seu precioso contributo para o género e os anos sessenta do século XX não foram excepção. Tiveram <i><b>West Side Story</b></i>, tiveram <b style="font-style: italic;">Os Guarda-Chuvas de Cherburgo</b>, na <i>nouvelle vague</i>. E tiveram outros musicais incríveis e por demais espirituosos, plenos de magia ou sentimentalismo - como <b><i><span style="color: lime;"><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2010/12/mary-poppins-1964.html"><span style="color: lime;">Mary Poppins</span></a> </span></i></b>de 64 e<b><i> Música no Coração</i></b> de 65. <b><i>Oliver!</i></b> pertence, inequivocamente, à família destes últimos, daqueles que reconfortam o coração e apaixonam gerações, da mais tenra idade aos mais velhos. Por mais detractores de musicais que possam existir, jamais poderão rivalizar com a qualidade retumbante de uma produção tão sólida como a deste filme de Reed.<br />
<i style="font-weight: bold;"><br /></i>
<i style="font-weight: bold;">Oliver! </i>parte com a ligeireza de uma fanfarra pelas ruas de Londres, entre rufos e tambores, à qual depressa se juntam talhantes, lavadeiras, peixeiras e moços de frete, floristas e limpa-chaminés. Às tantas, gira o <i>carousel</i> e instala-se uma autêntica feira popular, cheia de dança, vida e cor. O retrato de um tempo por entre um desfile esmerado, excepcionalmente bem coreografado (Onna White), de vestes variadas e acessórios enriquecedores (Phyllis Dalton), por entre ruelas impecavelmente construídas (extraordinária produção artística de John Box, Terence Marsh, Vernon Dixon e Ken Muggleston): a populaça, entre o comércio efervescente, os miseráveis e os finórios e as maravilhas da Revolução Industrial. A cena maior desta fervorosa criação é, claro, a crescente arruaça ao som da alegre, sonante e por demais contagiante <i>Consider Yourself</i>. A música, como a imundície, brota a cada instante, desde os corais mais enérgicos como <i>Who Will Buy?</i> ou <i>Oom-Pah Pah</i> aos solos mais tocantes e introspectivos como <i>Where is Love </i>ou<i> As Long As He Needs Me</i>. Os temas de Lionel Bart (aqui sob a condução de Johnny Green), como o filme, impõem-se eternos. Assim como a assombrosa interpretação de Ron Moody como o caricato Fagin, à frente de números e canções absolutamente memoráveis como <i>You've Got to</i> <i>Pick a Pocket Or Two</i> ou <i>Reviewing the Situation</i>. A cena final de Fagin e do Trapaceiro Astuto (talentosíssimo Jack Wild) é, provavelmente, uma das mais belas cenas de saída de personagens de que há memória.<br />
<br />
Há tempo e espaço para o humor, para a maravilha e para a lágrima.<i style="font-weight: bold;"> Oliver! </i>romanceia mas também é franco quando tem que ser, sem pudores de super-proteger o seu público infantil. Não esconde a violência, a dureza e a crueldade das situações e das pessoas. Há os maus e os bons, os maus que são mesmo maus (como o Bill Sikes de Oliver Reed ou o Sr. Bumble de Harry Secombe), os maus que agem mal mas que se revelam bons (como o <i>bull terrier </i>de Sikes), os maus que são bons sem nunca deixarem de ser maus, como Fagin, e os bons que agem mal mas que se revelam sobretudo bons (como a Nancy de Shani Wallis). Mark Lester é bonito, querido e cumpre bem o seu papel do órfão mais conhecido do mundo. Mas o seu Oliver não é mais protagonista do que este fabuloso colectivo de personagens.<br />
<i style="font-weight: bold;"><br /></i>
<i style="font-weight: bold;">Oliver!</i><i style="font-weight: bold;"> </i>é, pois, um musical de grandes personagens e de grandes interpretações. Uma história de poderosíssimas emoções, com poderosíssimos temas musicais. Brilha a encenação e sobriedade na arte de filmar. A fotografia é, no cúmulo, um portento visual. Não há como não estarmos perante um grande, grande filme. Não sei como não o vi mais cedo. Este vai ser para fazer bis, uma e outra vez. <br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<i>Oom-pah-pah! Oom-pah-pah!
<br />That's how it goes...
<br />Oom-pah-pah! Oom-pah-pah! </i></div>
</div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<i><i>Ev'ryone knows!</i></i><br />
<i><i><br /></i></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><a href="https://1.bp.blogspot.com/-DWVZzVUEDaE/WgyFnlePuuI/AAAAAAAAKvM/h983n4SUR0guBA5Png-T3LJkirTZ2iQIwCLcBGAs/s1600/oliver%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="285" data-original-width="797" height="142" src="https://1.bp.blogspot.com/-DWVZzVUEDaE/WgyFnlePuuI/AAAAAAAAKvM/h983n4SUR0guBA5Png-T3LJkirTZ2iQIwCLcBGAs/s400/oliver%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></i></div>
<i>
</i>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-88847603707708330052017-10-29T15:50:00.001+00:002017-10-29T21:01:16.152+00:00PIRATAS DAS CARAÍBAS - A MALDIÇÃO DO PÉROLA NEGRA (2003)<div style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-ier-G1ki-E8/WfWmHt98tjI/AAAAAAAAKuU/jTYsB_g8mBUXX9pK9-Xy89KaJusH3PxGgCLcBGAs/s1600/pirates.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="689" data-original-width="500" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-ier-G1ki-E8/WfWmHt98tjI/AAAAAAAAKuU/jTYsB_g8mBUXX9pK9-Xy89KaJusH3PxGgCLcBGAs/s200/pirates.jpeg" width="145" /></a><span style="font-weight: bold;">PONTUAÇÃO:</span> BOM</div>
<span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Título Original: </span>Pirates of Caribbean: The Curse of the Black Pearl</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Realização: </span>Gore Verbinski</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Principais Actores: </span>Johnny Depp, Geoffrey Rush, Keira Knightley, Orlando Bloom, Jonathan Pryce, Kevin McNally, Jack Davenport, Lee Arenberg, Mackenzie Crook, Martin Kleeba, David Bailie </div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">Crítica:</span></span> </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>EM BUSCA DO TESOURO AMALDIÇOADO</b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: right;">
<i>This is the day you will always remember <br />as the day you almost caught Captain Jack Sparrow!</i></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na viragem para o século XXI, muitos géneros ou sub-géneros cinematográficos estavam dados como mortos. Era o caso do <i>western</i>, do musical, dos épicos ou dos filmes de piratas. Talvez por isso, simbolicamente, os vilões deste revigorante filme de piratas nos surjam amaldiçoados, nem vivos o suficiente para desfrutarem dos prazeres da vida nem mortos quanto baste para descansarem eternamente e deixaram os realmente vivos em paz. <b><i>Piratas das Caraíbas</i></b> ressuscita o sub-género regressando à acção e à aventura, mas expandindo a comédia e mergulhando na fantasia e nas infindas potencialidades dos efeitos digitais, enriquecendo um universo mitológico que os parques Disney pelo mundo há muito exploravam e ajudavam a imortalizar.<br />
<br />
A saga de piratas, pelo talento criativo de Gore Verbinski e dos argumentistas Ted Elliott e Terry Rossio, assume aqui proporções épicas. O arrojo da produção artística e da fotografia de Dariusz Wolski garantem o festim visual, escapista e encantatório, ao mesmo tempo que a composição de Klaus Badelt (discípulo de Hans Zimmer, que virá a assumir o cargo nos capítulos sequentes), em sintonia com as mais hilariantes - e milaborantes - sequências de acção, empolgam o espectador e fazem-no vibrar: em cada escape, em cada tiroteio, em cada duelo de espadas. Puro entretenimento, engenhoso nas coreografias, sempre pontuado pelo cómico, seja ele de situação, de linguagem ou de personagem. Por falar em personagens, <i>que criação!,</i> a do talentosíssimo Johnny Depp, o seu Jack Sparrow - perdão: Capitão Jack Sparrow: pleno de trejeitos efeminados, dominado pelo álcool ou pelos seus efeitos delirantes, pleno de suor e de <i>non sense</i>, tão ridículo mas simultaneamente tão inteiro na sua entrega e composição, tão único e tão distinto, tão apaixonante. Cada acessório do seu guarda-roupa, uma janela para o passado, que desconhecemos mas adoraríamos conhecer. Daí as sequelas e a trilogia, de igual forma motivadas pelo retumbante sucesso de bilheteira deste primeiro tomo. Geoffrey Rush entrega um Capitão Barbossa absolutamente incrível, que não só encarna a vilania como rivaliza no charme entre os mais temíveis dos sete mares. Keira Knightley e Orlando Bloom são o par romântico - embora nunca se excedam nas interpretações, destilam o seu carisma funcional e são competentes. Jonathan Price e Jack Davenport, do lado dos oficiais britânicos, e Lee Arenberg e Mackenzie Crook, do lado dos mais tresloucados corsários, compõem o quadro de prestações secundárias, enriquecendo o todo.<br />
<br />
Sempre que se deixa a terra firme (e as brilhantes e inesquecíveis sequências em Port Royal, Tortuga ou nas ilhas desertas) e se parte para o alto-mar, <b><i>A Maldição do Pérola Negra</i></b> descaracteriza-se do cânone do tradicional filme de piratas e revela, porventura, a verdadeira identidade da saga <b><i>Piratas das Caraíbas</i></b>. À carga chegam-nos os efeitos especiais, munidos de algum exibicionismo de algum despropósito fantástico, que certamente atraem o seu público, mas que nem sempre servem a narrativa. Ainda assim, mostram-se geralmente refreados, no peso recomendado, na medida certa. Contra ventos e marés, por mais voltas e reviravoltas com que a história nos brinde, o risco acaba por compensar: o navio não afunda, os cofres da produtora e dos envolvidos recheiam-se de ouro e <b><i>Piratas das Caraíbas</i></b> triunfa mundialmente, conquistando os espectadores, impulsionando as carreiras de Knightley e Bloom e catapultando, decisivamente, Depp para o absoluto estrelato e o seu Sparrow para o panteão das mais célebres e imortais personagens da História do Cinema.<br />
<br />
Assim é <i><b>Piratas das Caraíbas - A Maldição do Pérola Negra</b></i>: completamente alucinado, ligeiro e descomprometido e, sobretudo, bastante divertido. É o raio de uma viagem. Tendo honrado o legado de uma geração, definiu o imaginário de outra. Impôs-se, definitivamente, como a referência do sub-género dos filmes de piratas. E esse é um feito e pêras.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<i>Yo, ho, yo, ho! A pirate's life for me...</i></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-vcEJvVJq11A/WfWntDUmMYI/AAAAAAAAKug/3zDvaswJ-w0f57ntDU2uTb6kmCXy3XGjQCLcBGAs/s1600/jack%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="482" data-original-width="1422" height="132" src="https://3.bp.blogspot.com/-vcEJvVJq11A/WfWntDUmMYI/AAAAAAAAKug/3zDvaswJ-w0f57ntDU2uTb6kmCXy3XGjQCLcBGAs/s400/jack%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
<br /></div>
</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-30170316004353812602017-10-23T23:28:00.000+01:002017-10-23T23:28:03.327+01:00À PROCURA DA TERRA DO NUNCA (2004)<div style="text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/_GYpm2cSb-04/SMebABTPCsI/AAAAAAAAANo/pVUewaj4ask/s1600-h/em-busca-da-terra-do-nunca-poster02.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5244330715747650242" src="https://1.bp.blogspot.com/_GYpm2cSb-04/SMebABTPCsI/AAAAAAAAANo/pVUewaj4ask/s200/em-busca-da-terra-do-nunca-poster02.jpg" style="cursor: pointer; float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px;" /></a><span style="font-family: "arial";"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-family: "verdana";">PONTUAÇÃO:</span></span></span> BOM</div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: small;"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span><span style="color: lime; font-size: x-small;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"></span></span></span></div>
<span style="font-family: "verdana";"><span style="font-weight: bold;">Título Original</span>: Finding Neverland<br /><span style="font-weight: bold;">Realização</span>: Marc Forster</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana";"><span style="font-weight: bold;">Principais Actores</span>: Johnny Depp, Kate Winslet, Freddie Highmore, Radha Mitchell, Julie Christie, Dustin Hoffman, Joe Prospero, Kate Maberly, Kelly MacDonald, Paul Whitehorse, Toby Jones, Mackenzie Crook, Eileen Essell, Luke Spill</span></div>
<span style="font-family: "verdana";"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana";"><span style="font-weight: bold;">Crítica:</span></span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "verdana";"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "verdana";"><span style="font-weight: bold;">A MAGIA DE ACREDITAR</span></span><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-style: italic;">Just believe. </span></div>
</div>
<span style="font-family: "verdana";"><span style="font-weight: bold;"><br /></span>Em<i><b> À Procura da Terra do Nunca</b></i> encontramos aquilo que, entre a gíria da crítica facilmente apelidamos de <i>o típico filme Miramax</i>. A expressão, ainda que munida de alguma intenção depreciativa, tem o seu fundo de verdade. Às tantas na década de 90 e na década seguinte, a produtora dos irmãos Weinstein apoiou ou trouxe à ribalta variadíssimos títulos </span><span style="font-family: verdana;">estrelados por nomes seguros e dirigidos por realizadores competentes, títulos</span><span style="font-family: verdana;"> </span><span style="font-family: verdana;">redondos na forma e no tom, distantes de qualquer linha independente, tecnicamente bonitinhos, com todo o primor que o diminutivo adianta e com toda a previsibilidade com que as mais emblemáticas premiações do meio deliram. São os chamados filmes para </span><i style="font-family: verdana;">Oscars</i><span style="font-family: verdana;">, numa dinâmica repetidamente testada e geralmente bem sucedida; para não falar da provável e poderosa influência do estúdio entre os votantes, mas cessemos por aqui a conspiração. Entre filmes deste género encontramos os de Hallström, </span><b style="font-family: verdana;"><i>As Regras da Casa</i></b><span style="font-family: verdana;"> e </span><i style="font-family: verdana;"><b>Chocolate</b></i><span style="font-family: verdana;">. Tão-pouco </span><b style="font-family: verdana;"><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2008/09/chicago-2002.html"><span style="color: lime;">Chicago</span></a></i></b><span style="font-family: verdana;"> ou </span><i style="font-family: verdana;"><b>Dúvida</b></i><span style="font-family: verdana;"> arriscam por aí além. São todos bons filmes, mas </span><span style="font-family: verdana;">nunca</span><span style="font-family: verdana;"> </span><span style="font-family: verdana;">formalmente extraordinários. </span><br />
<span style="font-family: verdana;"><br /></span>
<span style="font-family: verdana;">No outro extremo, a Miramax foi responsável por títulos arrojadíssimos (</span><b style="font-family: verdana;"><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/06/gangs-de-nova-iorque-2002.html"><span style="color: lime;">Gangs de Nova Iorque</span></a></i></b><span style="font-family: verdana;">, </span><b style="font-family: verdana;"><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/09/o-aviador-2004.html"><span style="color: lime;">O Aviador</span></a></i></b><span style="font-family: verdana;"> ou </span><b style="font-family: verdana;"><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2008/09/haver-sangue-2007.html"><span style="color: lime;">Haverá Sangue</span></a></i></b><span style="font-family: verdana;">), outros mais arriscados (</span><b style="font-family: verdana;"><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2008/10/pulp-fiction-1994.html"><span style="color: lime;">Pulp Fiction</span></a></i></b><span style="font-family: verdana;">, </span><i style="font-family: verdana;"><b><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/05/kill-bill-vinganca-vol1-2003.html"><span style="color: lime;">Kill Bill</span></a></b></i><span style="font-family: verdana;">, </span><b style="font-family: verdana;"><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/04/gerry-2002.html"><span style="color: lime;">Gerry</span></a></i></b><span style="font-family: verdana;">), outros dotados de uma sensibilidade artística incrível (como </span><b style="font-family: verdana;"><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2008/09/piano-o-2003.html"><span style="color: lime;">O Piano</span></a></i></b><span style="font-family: verdana;">, </span><b style="font-family: verdana;"><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2014/02/as-horas-2002.html"><span style="color: lime;">As Horas</span></a></i></b><span style="font-family: verdana;"> ou </span><b style="font-family: verdana;"><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2008/09/cold-mountain-2003.html"><span style="color: lime;">Cold Mountain</span></a></i></b><span style="font-family: verdana;">). O estúdio deu ainda suporte e grande visibilidade a produtos não americanos e inequivocamente geniais como </span><b style="font-family: verdana;"><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2010/09/heroi-2002.html"><span style="color: lime;">Herói</span></a></i></b><span style="font-family: verdana;">, </span><b style="font-family: verdana;"><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/02/cidade-de-deus-2002.html"><span style="color: lime;">Cidade de Deus</span></a></i></b><span style="font-family: verdana;"> ou </span><b style="font-family: verdana;"><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2011/02/o-fabuloso-destino-de-amelie-2001.html"><span style="color: lime;">O Fabuloso Destino de Amélie</span></a></i></b><span style="font-family: verdana;">. Feitos o balanço e o saldo, dificilmente me encontraria entre aqueles que repudiam as propostas do estúdio só pelo nome. Apesar de inteiramente digno</span><span style="font-family: verdana;">, </span><b style="font-family: verdana;"><i>À Procura da Terra do Nunca</i></b><span style="font-family: verdana;"> é, sim, um desses filmes bonitinhos e </span><span style="font-family: verdana;">inofensivos, que apelam à lágrima.</span><br />
<i style="font-family: verdana;"><br /></i>
<span style="font-family: verdana;">Eis, pois, u</span><span style="font-family: verdana;">m </span><i style="font-family: verdana;">biopic</i><span style="font-family: verdana;"> fabuloso e claramente bem escrito (Allan Knee, a partir da peça homónima) sobre o autor de </span><b style="font-family: verdana;"><i>Peter Pan</i></b><span style="font-family: verdana;"> e as circunstâncias que terão levado à criação do seu emblemático e inspirador universo. Criativo q.b. na abordagem - na forma plástica e primária como propõe o cenário imaginário, mostra-se fiel ao espírito e aos valores temáticos: a infância, a inocência, a brincadeira. A direcção artística e o guarda-roupa asseguram o requinte visual. A fotografia de Roberto Schaefer garante a sobriedade das cores e dos enquadramentos, nunca constituindo, propriamente, planos inesquecíveis ou passagens marcantes, mas o que faz, faz bem. Dificilmente um <i>filme Miramax</i> teria pontuação negativa em categorias destas. </span><span style="font-family: verdana;">Marc Forster, no seu perfil tarefeiro e nunca especialmente inspirado ou magistral, conduz os destinos da proposta a porto seguro.</span><br />
<span style="font-family: "verdana";"><br /></span><span style="font-family: "verdana";">A composição musical de Jan A. P. Kaczmarek é em tudo maravilhosa (ganhou o Óscar!) e a variação do tema principal em piano, com que o filme encerra, é a mais perfeita prova disso. É pela música, também e tanto, que o filme aflora como</span><span style="font-family: "verdana";"> uma delícia subtil e delicada sobre as forças de imaginar... e de acreditar. </span><span style="font-family: verdana;">Pela surpreendente sinceridade interpretativa de Freddie Highmore e pelo desarmante </span><i style="font-family: verdana;">underacting</i><span style="font-family: verdana;"> </span><span style="font-family: verdana;">de Johnny Depp - igualmente inesperado dado que dele esperamos as maiores excentricidades -</span><span style="font-family: verdana;"> </span><b style="font-family: verdana;"><i>À Procura</i></b><span style="font-family: verdana;"> </span><span style="font-family: verdana;">revela-se absolutamente comovedor. O elenco é todo ele intocável, desde a sempre brilhante Kate Winslet ao bem-humorado Dustin Hoffman, de Julie Christie a Radha Mitchell, do Peter Pan de Kelly MacDonald à voz fofinha do pequeno Michael (Luke Spill).</span><br />
<br />
<span style="font-family: "verdana";">Hoje, passados alguns anos da estreia do filme, já poucos se lembram daquele que em 2004 obteve sete nomeações para os Óscares, tendo inclusive </span><span style="font-family: verdana;">sido</span><span style="font-family: verdana;"> nomeado para melhor filme. Acontece. Mas que chegou à ribalta das estatuetas chegou. Por mérito próprio, por poder ou influência, é sempre difícil, nestes <i>filmes Miramax</i>, perceber ao certo e é difícil alhearmo-nos da questão. Tem uma crítica ao filme o direito de se deixar influenciar por esses factores externos ao objecto artístico em si? Mas o</span><span style="font-family: verdana;">nde começam os interesses artísticos e os da indústria, na manifestação que o filme representa e é? A questão acender-nos-ia a discussão por páginas e páginas. </span><br />
<span style="font-family: verdana;"><br /></span>
<span style="font-family: verdana;"><b><i>À Procura da Terra do Nunca</i></b> a</span><span style="font-family: verdana;">quece-nos o coração, mas não a mente. Julgo que não há nenhum mal nisso. A mensagem <i>just believe</i> serve, pelos vistos, para todos: para os senhores do dinheiro e para os artistas, para os sonhadores. Esteja sempre o dinheiro ao serviço dos sonhos.</span><br />
<span style="font-family: "verdana";"><br /><a href="http://3.bp.blogspot.com/_GYpm2cSb-04/TF9WJFUpiKI/AAAAAAAAFrI/Uvl6iktd2dk/s1600/02.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5503211983717632162" src="https://3.bp.blogspot.com/_GYpm2cSb-04/TF9WJFUpiKI/AAAAAAAAFrI/Uvl6iktd2dk/s400/02.jpg" style="cursor: pointer; display: block; height: 116px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 400px;" /></a></span> </div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-17132314437849629262017-10-13T18:18:00.002+01:002017-10-13T18:26:28.783+01:00HARRY POTTER E OS TALISMÃS DA MORTE: PARTE 2 (2011)<div style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-msGIjLUanYI/WeDhmqIx-EI/AAAAAAAAKtg/RR5YgUcFHh8UZsFL1rD6NwufukGnFHlsgCLcBGAs/s1600/hpu.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="750" data-original-width="500" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-msGIjLUanYI/WeDhmqIx-EI/AAAAAAAAKtg/RR5YgUcFHh8UZsFL1rD6NwufukGnFHlsgCLcBGAs/s200/hpu.jpg" width="133" /></a></div>
<span style="font-weight: bold;">PONTUAÇÃO:</span> MUITO BOM<br />
<span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Título Original:</span> Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Realização:</span> David Yates</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Principais Actores: </span>Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Michael Gambon, Ralph Fiennes, Alan Rickman, Maggie Smith, Helena Bonham Carter, Jason Isaacs, John Hurt, Kelly Mcdonald, Helen McCrory, Matthew Lewis, Bonnie Wright, Julie Walters, Robbie Coltrane</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">Crítica:</span></span> </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>A BATALHA FINAL</b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: right;">
<i>Words are (...) our most inexhaustible source of magic.</i></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E tudo culmina aqui: Hogwarts é, como não podia deixar de ser, o derradeiro refúgio de Harry Potter, o palco do confronto final - e decisivo - entre as forças do Bem e do Mal. <b><i>Os Talismãs da Morte: Parte 2</i></b> não desilude: é um espectáculo visual sem antecedentes na série, verdadeiramente épico e colossal, e um clímax de emoções operático, onde as personagens se superam e dão o tudo por tudo em nome da amizade e da bondade. Afinal, <i>it is the quality of ones convictions that determines success, not the number of followers</i>, como diz às tantas o professor Lupin. E não deixa de ser uma moral comovedora e, no fim de contas, encorajadora: a união de poucos, quando genuína e bem-intencionada, pode derrotar exércitos de egos. Se o mundo compensasse sempre aqueles que amam, viveríamos certamente num mundo melhor, num mundo ideal. Esta é a mensagem, a potência e a beleza da fantasia.<br />
<br />
Os cenários de Stuart Craig, <i>designer </i>de produção, e da restante equipa de decoração revelam-se, uma última vez, ao mais alto nível: das profundezas do banco Gringotts à fartura de adereços da Sala das Necessidades, dos destroços do velho castelo, ainda em chamas, à plataforma 9 3/4 da Estação de King's Cross. Sempre aliados às infindas possibilidades dos efeitos digitais, que tanto mais do que raios reluzentes e pirotecnia criaram. Possibilitaram aranhas, <i>trolls</i>, dragões, cidades e um mundo.<br />
<br />
Alexander Desplat entrega toda a sua sensibilidade na concretização de partituras e arranjos notáveis, que catapultam a saga para uma seriedade bem-vinda. Assistimos a um filme sério - sentimo-lo desde o primeiro <i>frame, </i>como aliás já nos tinha prevenido a parte primeira, igualmente bela e deslumbrante pela arte visual de Eduardo Serra. Com a melhor equipa, David Yates só poderia, uma vez mais, ter todas as condições para brilhar. E tudo brilha, tudo está certo. O tom e o peso da despedida está lá, nos sons e nos silêncios, em cada quadro. Como se tudo estivesse condenado e prestes a desaparecer para sempre. Essa sensação, sendo omnipresente e esmagadora, tende a vergar-nos e obter a nossa reverência. E a nossa admiração. Que bom, que uma tão apaixonante saga acaba em <i>crescendo</i> e, tecnica e qualitativamente, tão bem.<br />
<br />
Cada golpe contra a fortaleza, cada pedra que cai e se quebra é um duro golpe no nosso próprio coração. Hogwarts é a casa de Harry e é a nossa casa, que lutamos por defender a todo o custo. Destruir Hogwarts é atentar contra a memória dos que a defenderam ao longo de séculos, é pôr em risco a formação do futuro, é destruir um símbolo. Ali, de varinhas ao alto, ferem-se o corpo e a alma. Morre, definitivamente, a inocência. O universo de J. K. Rowling, que começou num conto infanto-juvenil, assume-se, enfim e inequívocamente, dotado de um espírito ambicioso, complexo e por demais adulto.<br />
<br />
Em busca da destruição dos últimos horcruxes, desvendam-se mais segredos. Cada pedaço de alma de Tom Riddle, aprisionado num objecto mágico, encerra uma história mal-contada, atraindo o espectador para mais detalhes. Detalhes que parecem nunca mais acabar. Basta estar com atenção. Depois, os talismãs, outros que tais, amuletos que se ramificam com o passado, com nomes, com outras tantas histórias interligadas. Ficamos a saber mais sobre Dumbledore e as suas motivações, ficamos a saber mais sobre Harry e Voldemort e as suas conexões, ficamos a saber mais sobre Snape e a sua riqueza enquanto personagem, plena de carácter, camuflada por aparências e julgamentos. Apaixonamo-nos, definitivamente, por Snape. Que <i>twist</i>, não há como não ficar a adorar a criação de Rowling e, talvez ainda mais, a memorável e eterna interpretação de Alan Rickman. Do saudoso Alan Rickman. Vibramos, mais do que nunca, com a lealdade e o íntimo protector da professora McGonagall (Maggie Smith), assim como acontece com a Sra. Weasley (Julie Walters). Emocionamo-nos e aplaudimos a coragem de Neville Longbottom (Matthew Lewis), desde os primeiros filmes gozado ou dado como cobarde ou sem valor. Até que absolvemos Draco Malfoy (Tom Felton), clara que está a sua fraqueza de espírito.<br />
<br />
Nos últimos momentos, lembramo-nos das alegrias que Hogwarts nos proporcionou e temos pena... pena que a saga esteja a instantes de acabar, ainda que possa, mereça e deva ser revisitada sempre, tantas vezes quantas desejarmos. Quando o tema principal irrompe e o ecrã desvanece a negro, suspiramos de tranquilidade. Saimos do filme com o coração cheio. Refletimos sobre as palavras de Dumbledore e encontramos nelas a voz de J. K Rowling. As palavras fizeram magia - é esse o poder da literatura. No cinema, a magia faz-se pelas palavras, pelas imagens em movimento, pelos sons, pela música. É uma combinação de artes. Daí ser uma arte tão completa, porque resulta da fusão de tantas. A magia aconteceu diante dos nossos olhos, no ecrã. Acompanha-nos agora nas nossas melhores recordações. Mas não é por isso, parafraseando Dumbledore, que a magia não existe, que a magia não é real. E esta certeza, um tanto ou quanto poética, serve-me de consolação. Ainda assim, pondo a poesia de parte, vejo magia a acontecer todos os dias. Basta-me abrir os olhos.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-Jxmoj7S_8_I/WeDhxfAk_NI/AAAAAAAAKtk/JO10-UHcJ3EKfQ0UCSWM8I82n6R_AD2ugCLcBGAs/s1600/potter_5%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="472" data-original-width="1388" height="132" src="https://1.bp.blogspot.com/-Jxmoj7S_8_I/WeDhxfAk_NI/AAAAAAAAKtk/JO10-UHcJ3EKfQ0UCSWM8I82n6R_AD2ugCLcBGAs/s400/potter_5%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
<br /></div>
</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-3130224793512722842017-10-13T01:51:00.000+01:002017-10-23T23:39:53.019+01:00HARRY POTTER E OS TALISMÃS DA MORTE: PARTE 1 (2010)<div style="text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-Ta6O38ohXcg/Wd_z9RxaUSI/AAAAAAAAKtA/GmobEXBugq4P6wnOih4Z6NXrqwSqFqoTgCLcBGAs/s1600/Harry-Potter-and-the-Deathly-Hallows-Part-1-poster.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="479" data-original-width="323" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-Ta6O38ohXcg/Wd_z9RxaUSI/AAAAAAAAKtA/GmobEXBugq4P6wnOih4Z6NXrqwSqFqoTgCLcBGAs/s200/Harry-Potter-and-the-Deathly-Hallows-Part-1-poster.jpg" width="134" /></a><span style="font-weight: bold;">PONTUAÇÃO:</span> MUITO BOM<br />
<span style="font-size: small;"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Título Original:</span> Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Realização:</span> David Yates</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Principais Actores: </span>Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Imelda Staunton, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Ralph Fiennes, Bill Nighy, Jason Isaacs, Timothy Spall, Brendan Gleeson, Domhnall Gleeson, Rhys Ifans, Toby Jones</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">Crítica:</span></span> </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>PELA PAISAGEM DESOLADORA</b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: right;">
<i>You can't fight this war on your own, Mr. Potter... he's too strong.</i></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mais do que uma opção comercial, penso que dividir o sétimo livro da saga <b><i>Harry Potter </i></b>em dois filmes fez e faz todo o sentido. A franquia merecia um final épico e aprofundado - digno do riquíssimo imaginário criado por J. K. Rowling - contado sem atropelos, com todo o tempo que a história precisa para nos emocionar, para nos fazer arrepiar, rir e chorar e sobretudo torcer pelos nossos heróis ou vilões preferidos. Afinal, foram dez anos de tantas aventuras e desventuras, sustos e perdas e de... tantas esperas. Uma geração cresceu com o pequeno feiticeiro da cicatriz, <i>o rapaz que sobreviveu</i>, à medida que cada tomo lhe enegrecia o caminho. Depois do desmazelo que foi <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2017/10/harry-potter-e-o-principe-misterioso.html"><span style="color: lime;">O Príncipe Misterioso</span></a></i></b>, é reconfortante constatar que <b><i>Harry Potter </i></b>volta à melhor forma. O nível sobe e sobe muito. Esta primeira parte d'<b><i>Os Talismãs da Morte</i></b> não é senão o melhor filme da saga desde <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2011/07/harry-potter-e-o-prisioneiro-de-azkaban.html"><span style="color: lime;">O Prisioneiro de Azkaban</span></a></i></b>: cinema em estado puro, desta feita na forma de um incessante, aterrorizante e asfixiante <i>road movie</i>, que nos faz temer o pior a cada instante.<br />
<br />
Se disse cobras e lagartos de David Yates na crítica ao filme anterior, a meu ver justamente, há que dizer o melhor no que respeita à sua realização, agora. Inspiradíssimo, revela-se mestre da câmera numa encenação cuidada, estudada e multifacetada na condução das emoções, sejam elas de que natureza forem. Dos <i>close-ups</i> aos planos mais abertos, dos <i>travellings</i> por entre as árvores, a alta velocidade, aos<i> slow motions </i>mais oportunos... a sua linguagem cinematográfica revela-se de uma segurança e atinge uma maturidade inequívocas. Para muito contribui, é certo, o denso e tão bem adaptado argumento de Steve Kloves, rico em pormenores mas lento em expô-los ou em dissecá-los. Diria que o faz lentamente para preservar todo o sabor da história, como aquelas carnes que assam durante longas horas a baixa temperatura. Resultado: desfazem-se na boca. Talvez pela comparação gastronómica se entenda perfeitamente o quão suculento é saborear esta deliciosa experiência cinematográfica.<br />
<br />
As cenas memoráveis são inúmeras: desde a abertura pelos céus de Londres, em plena fuga e adrenalina máxima ao inesperado ataque à tenda de casamento do Bill Weasley, da poção polisuco pelos corredores do Ministério da Magia à belíssima animação dos Talismãs da Morte, na pitoresca casa do pai de Luna, do atordoante confronto de varinhas na mansão dos Malfoy à introspectiva fuga pela floresta, que domina toda a segunda metade da viagem, em que os protagonistas se encontram consigo próprios, com o silêncio e com a solidão, enquanto o mundo de mágicos e <i>muggles</i> desaba, depreendemos, perante a maligna ameaça de Lorde Voldemort. Ralph Fiennes é, a propósito, absolutamente assombroso na sua <i>performance;</i> por mais que a caracterização o ajude a personificar as trevas - fisicamente causa calafrios - é pela alma e espírito que impregna toda sua dimensão, toda a sua amplitude. É, certamente, um dos grandes vilões da História do Cinema.<br />
<br />
Em busca dos horcruxes, os perigos são mais letais do que nunca. As personagens desaparecem, ferem-se, são torturadas, morrem. O mundo encantado há muito que deu lugar a uma demanda terrífica. O tom é sério e a fantasia é levada a sério. Por isso, dói-nos tanto e tão verdadeiramente quando a tragédia se desfere na mais inocente, querida e heróica criatura, ainda que digital, ainda que de tão lá para trás. Marcou-nos pela sua graça e agora leva-nos o coração às lágrimas. O final é desolador, como desoladora é a paisagem e desoladoras são as circunstâncias que nos apertam o peito, do início ao fim. Dumbledore também tinha merecido uma despedida assim, mas assim não foi. O espírito de Dumbledore permanece e a sua herança mostra-se decisiva para o desenlace.<br />
<br />
Eduardo Serra capta essa natureza despida, inóspita, quase deserta, quase morta, com que se espelham as angústias e os medos de Harry, Ron e Hermione. A beleza do quadro é silenciadora, quase tumular. Como se essa viagem dos três - pelo mundo exterior, longe de Hogwarts - fizesse parte de um ritual obrigatório de crescimento e de maturação, quem sabe se preparatório ou decisivo para o que há-de vir. Brilhante trabalho de fotografia.<br />
<br />
Alexandre Desplat assume a composição e a orquestração musical; se, por um lado, se distancia igualmente das partituras de John Williams, como o fizera pessimamente Nicholas Hooper no capítulo anterior, por outro jamais os seus temas destoam da proposta de Yates. Pelo contrário, sublimam-na, ao serviço da narrativa e do sentimento.<br />
<br />
Por tudo isto, a primeira parte d'<b><i>Os Talimãs da Morte</i></b> é um filme, a todos os níveis, magistral. De uma profunda dimensão interior, humana e despojada de artifícios como nunca nenhum <b><i>Harry Potter</i></b> tinha sido antes. A ponte perfeita para a conclusão da saga, que se espera novamente plena em pirotecnia e em espetáculo. Se a parte última tratar tão bem o sentimento, as personagens e a história quanto esta primeira, o final será nada menos do que operático e triunfal.<br />
<br />
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<a href="https://2.bp.blogspot.com/-lZHbehjQSXM/We5vrCAUz3I/AAAAAAAAKuE/w6N-syS2t0Qsys3U1-qepx_0CKSLr6kvwCLcBGAs/s1600/deahtly%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="571" data-original-width="1600" height="142" src="https://2.bp.blogspot.com/-lZHbehjQSXM/We5vrCAUz3I/AAAAAAAAKuE/w6N-syS2t0Qsys3U1-qepx_0CKSLr6kvwCLcBGAs/s400/deahtly%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
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Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-61584049859001067332017-10-12T18:44:00.000+01:002017-10-12T18:47:02.968+01:00HARRY POTTER E O PRÍNCIPE MISTERIOSO (2009)<div style="text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-kCJkFUxd0iQ/Wd9pkCIXm6I/AAAAAAAAKsY/Wf3Eg_XOedg0T09WiQ8VPkJB0Qq0VZv3wCLcBGAs/s1600/half-blood-prince-theatrical-poster.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1541" data-original-width="1000" height="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-kCJkFUxd0iQ/Wd9pkCIXm6I/AAAAAAAAKsY/Wf3Eg_XOedg0T09WiQ8VPkJB0Qq0VZv3wCLcBGAs/s200/half-blood-prince-theatrical-poster.jpg" width="128" /></a><span style="font-weight: bold;">PONTUAÇÃO:</span> RAZOÁVEL</div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: small;"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Título Original:</span> Harry Potter and the Half-Blood Prince</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Realização:</span> David Yates</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Principais Actores: </span>Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Michael Gambon, Jim Broadbent, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Tom Felton, Julie Walters, Bonnie Wright, Evanna Lynch, Maggie Smith</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Crítica:</span></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>O MISTÉRIO CINZENTO</b></div>
<div style="text-align: center;">
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<div style="text-align: right;">
<i>This is beyond anything I imagine.</i></div>
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<br /></div>
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<b><i>O Príncipe Misterioso</i></b> é, facilmente, o capítulo mais decepcionante de toda a saga. <b><i>Harry Potter</i></b> sempre teve os seus mistérios intricados, o <i>suspense</i> crescia por meio de pistas e, no final, tudo acabava por fazer sentido. Mas a forma como a história era contada preocupava o espectador, envolvia-o, cativava-o para a investigação de forma activa. Ao sexto filme, o espectador é como que ignorado. A acção atropela-se de episódio em episódio, sem maturar os sinais, sem estabelecer ligações sólidas. A adaptação flui à deriva, desinteressante. Como se bastasse chegar ao ponto Y sem se esboçar como lá se chegou e porque lá se chegou. Sim, <b><i>O Príncipe Misterioso </i></b>é o mais esquecível de todos os filmes <b><i>Harry Potter</i></b>.<br />
<br />
Nicholas Hooper distancia-se em demasia das sonoridades originais e o filme perde identidade. A música jamais se alia ao poder emocional das interpretações dos actores, despotenciando as cenas e lesando, irreversivelmente, o produto final. Tão-pouco a encenação é estudada, procurando arquitectar momentos icónicos ou minimamente marcantes. A linguagem é banal, como se se realizasse um episódio de uma série televisiva de terceira categoria, mas com um grande orçamento. Há pouco cinema, neste pedaço, e não esperaríamos isto de uma saga com o estrondoso impacto simbólico e cultural que <b><i>Harry Potter</i></b> alcançou, dentro e fora do circuito cinematográfico. Ainda para mais no ponto escaldante em que <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2017/10/harry-potter-e-ordem-da-fenix-2007.html"><span style="color: lime;">A Ordem da Fénix</span></a></i></b> nos deixou; curiosamente, pelas mãos do mesmo realizador. Aqui tudo arrefece e os <i>fait divers </i>amorosos (que também constam do livro, é certo) ganham protagonismo sobre a história central e transversal aos vários filmes. Este desequilíbrio é um erro. E depois, sendo que todo este filme deveria preparar-nos para o seu trágico desfecho - para o adeus de uma das personagens mais queridas e importantes deste fantástico universo -<b><i> O Príncipe Misterioso </i></b>falha em apostar no elo entre o protagonista e o mártir, ausentando este último da maior parte da acção.<br />
<br />
Bruno Delbonnel, criativo diretor de fotografia, pinta aqui um dos seus mais pobres trabalhos artísticos, caindo no facilitismo da saturação cromática, dos filtros e de um cinzentismo atroz, que suja e ofusca o eventual esplendor do<i> design </i>de produção e da<i> mise en scène</i>. O melhor do filme são mesmo os actores: Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson dão cada vez mais de si, conferindo profundidade às suas personagens. Michael Gambon conquista o seu lugar enquanto Albus Dumbledore e Jim Broadbent é um memorável Horace Slughorn, como aliás já são, por tradição, todas as adições ao elenco ditas <i>secundárias</i>.<br />
<br />
Após uma continuação tão desconexa, resta a esperança de que a saga não esteja nas mãos erradas... e condenada a um clímax inglório.<br />
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<a href="https://3.bp.blogspot.com/-e9DhHkAHAWA/Wd-dsIWJkFI/AAAAAAAAKso/8vJ88MFItjkkJ1vsHLXjRgJg9_H0ocsQgCLcBGAs/s1600/prince.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="1280" height="140" src="https://3.bp.blogspot.com/-e9DhHkAHAWA/Wd-dsIWJkFI/AAAAAAAAKso/8vJ88MFItjkkJ1vsHLXjRgJg9_H0ocsQgCLcBGAs/s400/prince.jpg" width="400" /></a></div>
<br /></div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-43315562913280044272017-10-12T02:10:00.000+01:002017-10-29T16:17:13.741+00:00HARRY POTTER E A ORDEM DA FÉNIX (2007)<div style="text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-RzBKFWAPaCE/Tjv2MCxVEmI/AAAAAAAAIM0/raLNa6-RQSg/s1600/Harry%2BPotter%2Band%2BThe%2BOrder%2Bof%2Bthe%2BPhoenix.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5637370045346943586" src="https://3.bp.blogspot.com/-RzBKFWAPaCE/Tjv2MCxVEmI/AAAAAAAAIM0/raLNa6-RQSg/s200/Harry%2BPotter%2Band%2BThe%2BOrder%2Bof%2Bthe%2BPhoenix.jpg" style="cursor: hand; cursor: pointer; float: right; height: 200px; margin: 0 0 10px 10px; width: 135px;" /></a><span style="font-weight: bold;">PONTUAÇÃO:</span> MUITO BOM<br />
<span style="font-size: small;"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Título Original:</span> Harry Potter and the Order of the Phoenix </div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Realização:</span> David Yates</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Principais Actores: </span>Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Imelda Staunton, Michael Gambon, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Emma Thompson, Tom Felton, Julie Walters, Gary Oldman, Ralph Fiennes</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">Crítica:</span></span> </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>A REBELIÃO SECRETA</b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div>
<div style="text-align: right;">
<i>Every great wizard in history has started out as nothing more</i></div>
<div style="text-align: right;">
<i> than we are now - students. If they can do it, why not us?</i></div>
</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Lançados os primeiros quatro filmes, eis-nos chegados, exactamente, a meio da saga do jovem feiticeiro mais conhecido - e mais amado - em todo o mundo: Harry Potter. <i style="font-weight: bold;">A Ordem da Fénix </i>marca a chegada de David Yates à realização (e, de certa forma, à sétima arte, uma vez que o seu passado atrás das câmeras se fizera, até então e praticamente, na televisão). Ao mesmo tempo que se recupera o espírito dos primeiros tomos (a abertura no final do verão londrino, entre a execrável família <i>muggle </i>e as incontroláveis e proibidas práticas mágicas,<i> </i>seguido das aventuras e desventuras ao longo do ano lectivo em Hogwarts, sempre com novidades pouco fiáveis entre os professores), este novo filme faz o necessário ponto de situação, invocando memórias passadas, convocando personagens anteriores e introduzindo, inclusive, <i>flashbacks</i>. Assim prepara a assombrosa e tão aguardada recta final da demanda, que até ao oitavo filme manterá sempre a assinatura de Yates. Agora que Voldemort regressou, sabemo-lo desde o trágico desfecho d'<b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2011/08/harry-potter-e-o-calice-de-fogo-2005.html"><span style="color: lime;">O Cálice de Fogo</span></a></i></b>, o perigo não só espreita a cada esquina como se adensa e se prontifica a ferir e a matar, sem piedade, quando menos se espera.<br />
<br />
Com Yates, a saga ganha uma aura mais contemporânea. Vem a fotografia de Slawonir Idziak, com o seu inesperado grão, maculando a limpidez da imagem, e uma iluminação soturna, tão omnipresente, opressiva e sufocante, tal e qual o conflito interior na mente e espírito do protagonista, ameaçado por sonhos, visões e trevas. Nicholas Hooper entrega composições magistrais, plenas de sensibilidade e bom gosto, ao serviço da comédia, da acção ou dos momentos mais horripilantes, tornando as mais variadas sequências por demais vívidas e entusiasmantes. É o caso, por exemplo, do assalto pirotécnico dos gémeos Weasley ao exame da inquisidora de Hogwarts (cuja sonoridade potencia o <i>comic relief</i>, aliada ao espectáculo visual, muito ao jeito dos fogos-de-artifício de Gandalf, no acto inicial d'<b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/02/o-senhor-dos-aneis-2001-2002-2003.html"><span style="color: lime;">A Irmandade do Anel</span></a></i></b>) ou do último acto entre os corredores do Departamento de Mistérios e as intermináveis e copiosas estantes de profecias, entre a opressão dos Devoradores da Morte e a defesa dos Aurores, entre o confronto do Senhor das Trevas e do luminoso Albus Dumbledore. A maravilha e o esplendor visual, o estímulo e o arrepio sonoro... feitos potencialmente mágicos para a experiência que é viver a fantasia em frente a um ecrã, absolutamente transportado e absorto nela.<br />
<br />
A adaptação do livro terá cortado, certamente, muitos momentos deliciosos e ricos em pormenor. Não obstante, <b><i>A Ordem da Fénix</i></b> chega-nos como um capítulo coeso, pleno de ritmo e de essência narrativa. A história flui, alicerçada por personagens de peso, interpretadas por escolhas de <i>casting </i>ao mais alto nível. A destacar a brilhante Imelda Staunton, tão hilariante e cor-de-rosa como dissimulada, odiosa e assustadoramente sádica. Os restantes nomes continuam as suas construções de filme para filme e, todos sem excepção, são tão memoráveis: Alan Rickman e o seu sempre misterioso e charmoso Snape (neste filme começamos, finalmente, a descortinar o seu passado), Emma Thompson e a sua adorável e míope professora de adivinhação, Michael Gambon e o seu aqui mais distante Dumbledore (na graça do espectador, em eterna luta com a memória do saudoso Richard Harris dos dois primeiros filmes) e tantos outros. Aqui é introduzida ainda a caricata bruxa Bellatrix Lestrange, de Helena Bonham Carter. Por mil cobras e aranhas, que elenco de luxo. Não esqueçamos o trio principal: não mais crianças, Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson cresceram com uma geração. E que estupendos actores se fizeram, a avaliar pelas personagens que, notavelmente, trabalharam e aprimoraram, ao sabor da escrita de J. K. Rowling.<br />
<br />
Com <b><i>A Ordem de Fénix</i></b>, as peças brancas do tabuleiro movimentam-se, na sombra e na clandestinidade, ganhando alento e crescendo em número e estratégia. O Mal terá combate à altura, antevemos. E cada vez mais vibramos com a série, com um mundo que tão sedutoramente nos encanta e fascina. O feitiço está lançado e, a avaliar pelo que aqui assistimos, promete.</div>
<div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-s7yyboVmtn0/Wd6uWAaQSrI/AAAAAAAAKrw/WFOZGqc_HHcsByhzSHIHau9-b-VEEgVwACLcBGAs/s1600/hp%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="261" data-original-width="740" height="140" src="https://4.bp.blogspot.com/-s7yyboVmtn0/Wd6uWAaQSrI/AAAAAAAAKrw/WFOZGqc_HHcsByhzSHIHau9-b-VEEgVwACLcBGAs/s400/hp%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
<div>
</div>
</div>
</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-77121238427916856512017-08-05T02:36:00.002+01:002017-08-05T02:40:51.644+01:00MAMMA MIA! (2008)<div style="text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-uzdnYzNgdJU/WYUAgZAbvYI/AAAAAAAAKrA/wC0SHv5C9HIZPfNeTMXZ6j0YN7y47WnKQCLcBGAs/s1600/mammamia.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1500" data-original-width="1012" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-uzdnYzNgdJU/WYUAgZAbvYI/AAAAAAAAKrA/wC0SHv5C9HIZPfNeTMXZ6j0YN7y47WnKQCLcBGAs/s200/mammamia.jpg" width="134" /></a><span style="font-weight: bold;">PONTUAÇÃO: </span>BOM</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: small;"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"></span></span></span></span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span></span></span></span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span></span></span></span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span></span></span></div>
</div>
</div>
</div>
<div align="left">
<span style="font-weight: bold;">Título Original:</span><span style="font-weight: bold;"> </span>Mamma Mia!</div>
<div align="left">
<span style="font-weight: bold;">Realização:</span> Phyllida Lloyd<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Principais Actores:</span> Meryl Streep, Amanda Seyfried, Stellan Skarsgård, Pierce Brosnan, Colin Firth, Julie Walters, Christine Baranski, Dominic Cooper, Myra McFadyen, Niall Buggy</div>
</div>
<span style="font-weight: bold;"><br />Crítica:</span><br />
<b><br /></b><i>You can dance, you can jive, having the time of your life...</i><br />
<div style="text-align: center;">
<b><br />A ILHA DE AFRODITE </b></div>
<br />
<div style="text-align: right;">
<i>See that girl, watch that scene, diggin' the dancing queen!</i></div>
<div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Leve, descontraído, descomplexado, despretensioso e, por isso mesmo, absolutamente irresistível. Assim é <b><i>Mamma Mia!</i></b> A cada cena, uma explosão de frescura, de jovialidade. As eternas canções dos ABBA, numa musicalidade orelhuda, nostálgica e contagiante, envolvem-nos e levam-nos, transportam-nos, alheam-nos da nossa realidade. Viajamos para o azul do mar, para a verdejante e solarenga costa grega. Batemos o pé, entregamo-nos ao riso e queremos lá saber do resto. Estamos a divertir-nos, a divertir-nos genuinamente, como poucas vezes a ver um filme. Às tantas, damos por nós a cantar e a cantar - já conhecemos os temas, fazem parte da nossa vida. Se ainda não fazem, será uma questão de instantes. Camaleónica, a deusa Meryl Streep surpreende como nunca, depois de tantos papéis inesquecíveis, de tantas personagens arrebatadoras. Sem preconceitos, assim se vê o calibre do qual são feitas, tão-somente, as actrizes maiores. Ela canta, dança, salta, chora, emociona, vibra como uma adolescente, demonstrando que a idade é, verdadeiramente, uma questão de espírito. Gravou <i>The Winner Takes It All</i>, na sua cena mais intensa e comovedora, de uma só vez. Benny Andersson, membro dos mítico grupo sueco, chamou-lhe, por isso, <i>um milagre</i>. Não admira.<br />
<br />
O elenco é soberbo. Para além da ímpar protagonista, a hilariante Julie Walters (e quando digo hilariante, é hilariante mesmo; é ver para crer) e a mais lírica mas igualmente estouvada Christine Baranski, formam as Donna and The Dynamos!, as amigas cinquentonas e solteironas. Depois, o trio de hipotéticos pais: Pierce Brosnan, Colin Firth e Stellan Skarsgård, outrora risíveis <i>hippies</i>; quem diria. Não se estreando propriamente, é com <i><b>Mamma Mia!</b></i> que Amanda Seyfried é catapultada para as luzes da ribalta, com a sua voz de anjo e os seus tão expressivos olhos. O mesmo para Dominic Cooper, que assim alcançou maior reconhecimento. Todos cantam os seus próprios versos, havendo temas para todos brilharem, para todos terem o seu momento. E isso é imprescindível para a solidez narrativa e para a sua dimensionalidade. Até os figurantes cantam, qual coro, arrancando - não raras vezes - as mais incontidas gargalhadas. A cena mais emocionante, para mim, é aquela (ainda no primeiro acto) em que Donna conquista - à rotina mundana - dezenas de seguidoras (mães e mulheres) pela <i>villa </i>fora até ao cais, lembrando que ainda são capazes, que ainda são jovens, que ainda podem ser felizes. É, para o espectador, um misto de sorriso, arrepio e lágrima sentida. É o próprio exemplo, meta-diegético, de Streep. É, pois, inspiracional.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<i>You are the dancing queen!
<br />Young and sweet
<br />Only seventeen!
</i><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Guarda-roupa, cenografia e fotografia aliam-se numa paleta de cores quentes, privilegiando os azúis e os púrpuras ao sol e as mais variadas luzes ao luar. Até o visual é festivo, alegre, contribuindo para a <i>good vibe</i> do filme, ou não se tratasse este do denominado <i>feel good movie</i>. Phyllida Lloyd, adaptando o sucesso da Broadway e despojada de purismos desnecessários, entrega a sua acalorada e tão empática visão cinematográfica com as desejadas simplicidade e eficácia; o tremendo êxito comercial do filme, aliás, fala por si. Fez muito <i>money, money money,</i> pois é puro <i>honey, honey. </i><b><i>Mamma Mia!</i></b> tem o condão de encantar espectadores de todas as gerações e de agradar a toda a família. Sempre enérgico, sempre pulsante. Julgo que só um ser profundamente aborrecido possa odiar, verdadeiramente, este filme. Até os créditos finais são de acompanhar até ao fim. <i>Oh, eu assisti este no cinema. E foi tão bom.</i></div>
<br />
<div style="text-align: right;">
<i>You're a teaser, you turn 'em on
<br />Leave 'em burning and then you're gone
<br />Looking out…
</i><br /><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-y0oTtDm-H4c/WYUAZLT-5jI/AAAAAAAAKq8/ZmclPtw7FZEeuNhUr2t0FInp-EiJ6WU6QCLcBGAs/s1600/Mamma-Mia-006%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="430" data-original-width="1280" height="131" src="https://2.bp.blogspot.com/-y0oTtDm-H4c/WYUAZLT-5jI/AAAAAAAAKq8/ZmclPtw7FZEeuNhUr2t0FInp-EiJ6WU6QCLcBGAs/s400/Mamma-Mia-006%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-11944387521151255852017-08-04T15:55:00.000+01:002017-08-04T16:12:35.265+01:00A PAIXÃO DE SHAKESPEARE (1998)<div style="text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-KFlfwbEtmAk/UvjbW1vrRZI/AAAAAAAAKAo/BbGR13rN6xg/s1600/shakespeare-in-love-poster.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-KFlfwbEtmAk/UvjbW1vrRZI/AAAAAAAAKAo/BbGR13rN6xg/s1600/shakespeare-in-love-poster.jpeg" width="140" /></a><span style="font-family: "arial";"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-family: "verdana";">PONTUAÇÃO:</span></span></span> MUITO BOM<br />
<span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;">★</span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;">★</span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;">★</span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;">★</span></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: "verdana";"><span style="font-weight: bold;">Título Original</span>: Shakespeare in Love<br /><span style="font-weight: bold;">Realização</span>: John Madden<br /><span style="font-weight: bold;">Principais Actores</span>: Gwyneth Paltrow, </span><span style="font-family: "verdana";">Joseph Fiennes, </span><span style="font-family: "verdana";">Geoffrey Rush, Judi Dench, Tom Wilkinson, Colin Firth, Imelda Staunton, Ben Affleck, Steve O'Donnell, Tim McMullen, Steven Beard, Jim Carter, Sandra Reinton, Simon Callow, Martin Clunes, Rupert Everett</span><br />
<br />
<span style="font-family: "verdana";"></span>
<span style="font-family: "verdana";"><span style="font-weight: bold;">Crítica</span>:<br /><br /><i>Who is that?<br /></i></span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "verdana";"><b>COMO ROMEU E JULIETA</b></span></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "verdana";"><i>Nobody. The author.</i></span></div>
<span style="font-family: "verdana";"><br /><i>l don't know. It's a mystery</i> como pode o fruto de tão eloquentes interpretações, tão arrojada produção artística, tão inspirada e bem-disposta fluidez narrativa e tão bela dedicatória ser apenas recordado por factores que lhe são puramente externos - pelos prémios que ganhou a concorrentes seus, mais ou menos memoráveis. Isso sim é injusto, isso sim é redutor. Nenhum filme se torna melhor ou pior pela estatueta que recebeu ou deixou de receber. Compreendo o fenómeno, até posso - em certa medida - rever-me e concordar com ele, mas tendo a desvalorizá-lo... porque <b><i>A Paixão de Shakespeare </i></b>é um triunfo absoluto do espírito e da arte. Também o foram <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2014/02/a-vida-e-bela-1997.html"><span style="color: lime;">A Vida É Bela</span></a></i></b>, <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/01/barreira-invisvel-1998.html"><span style="color: lime;">A Barreira Invisível</span></a></i></b> e <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2014/02/o-resgate-do-soldado-ryan-1998.html"><span style="color: lime;">O Resgate do Soldado Ryan</span></a></i></b>, cada um à sua maneira. Foi um ano de grande colheita para o cinema, não restam dúvidas. Mas o mérito de uns não significa o desmérito de outros. Ainda para mais, sendo comédia, <b><i>A Paixão</i></b> é logo à partida menosprezada, como se pertencesse a um género inferior; preconceito que seriamente me incomoda. Não há géneros menores. </span><span style="font-family: "verdana";">Feita, a jeito de introdução, a defesa a que a memória e o tempo tão claramente têm resistido, passemos à crítica ao filme.<br /><br /><b><i>A Paixão de Shakespeare </i></b>propõe a viagem no tempo e a ficcionalização biográfica do poeta e dramaturgo. É, portanto e sobretudo, uma proposta. Uma proposta criativa, baseada tanto em factos como em rumores, como na liberdade poética de quem cria um objecto artístico deste tipo. É uma visão pós-moderna, que transpira - por todos os poros - uma admiração e reverência absolutas às palavras e construções das peças e sonetos, parafraseando muitos dos seus mais icónicos versos e expressões. </span><span style="font-family: "verdana";">Marc Norman e Tom Stoppard concretizam um argumento admirável. </span><span style="font-family: "verdana";">Na sua</span><b style="font-family: verdana;"><i> Paixão</i></b><span style="font-family: "verdana";"> ecoam, desde a abertura, referências a </span><b style="font-family: verdana;"><i>Hamlet</i></b><span style="font-family: "verdana";"> e a'</span><b style="font-family: verdana; font-style: italic;">O Mercador de Veneza</b><span style="font-family: "verdana";"> e o desfecho alude à génese da </span><b style="font-family: verdana;"><i>Noite de Reis </i></b><span style="font-family: "verdana";">e da </span><b style="font-family: verdana;"><i>Tempestade</i></b><span style="font-family: "verdana";">, sendo que o seu âmago imagina as origens de </span><b style="font-family: verdana;"><i>Romeu e Julieta</i></b><span style="font-family: "verdana";">, reflectindo-a engenhosamente no romance entre o poeta e Viola (magnetica e magnificamente interpretados por Joseph Fiennes e Gwyneth Paltrow), ambos efervescentes nos actos, nas palavras e no amor... Não se propõe </span><b style="font-family: verdana;"><i>Romeu e Julieta</i></b><span style="font-family: "verdana";"> a ser senão a peça sobre o amor... </span><i style="font-family: verdana;">love like there has never been in a play</i><span style="font-family: "verdana";">. A paixão ardente das palavras e das declamações incendeia cada interpretação, à qual se aliam as sonantes e desfrutáveis composições musicais de Stephen Warbeck, influenciando a cadência da montagem (David Gamble) e o próprio ritmo narrativo. De um certo prisma, </span><b style="font-family: verdana;"><i>A Paixão de Shakespeare</i></b><span style="font-family: "verdana";"> tem uma natureza musical - não sendo nunca um musical, a música influencia decisivamente o movimento (a coreografia dos corpos e das câmeras) e a acção (os acontecimentos e o tempo diegético). A música não acompanha, a música é intrínseca a cada cena. Um pouco como aconteceu noutra ficcionalização biográfica de época absolutamente assombrosa e igualmente pontuada pela comicidade: <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2017/03/amadeus-1984.html"><span style="color: lime;">Amadeus</span></a></i></b>; ainda que neste caso o facto do protagonista ser o compositor da própria música confira outra importância e dimensão a cada trecho escutado.<br /><br />Há cómico de situação (da tortura aos pés de Henslowe, ao bigode de Thomas Kent, aos coitos interrompidos de Rosaline, ao disfarce de ama de Shakespeare, entre tantos outros), de linguagem (rol interminável, pelas mais variáveis bocas: <i>I am the </i></span><span style="font-family: "verdana";"><i>money!</i>, <i>the show must... go on!</i>, <i>too late, too late!</i>) e de personagem (desde o clamoroso e agourento vigário ao jovem John Webster, sanguinário e amante de ratos, à própria personagem de Geoffrey Rush, sempre de um lado para o outro, cobrando o seu patronato e assegurando que tudo vai acabar bem, quase numa garantia metadiegética). Há um elenco portentoso, assegurando um talento coletivo preponderante: juntam-se aos já referidos nomes como Tom Wilkinson, Imelda Staunton, Colin Firth, Simon Collow, Martin Clunes e Mark Williams. E claro, Judi Dench como Queen Elizabeth, que em poucos minutos ofusca com o seu carisma e poder interpretativo. E não menos, seguramente, com o seu majestoso guarda-roupa e caracterização - categorias ao mais alto nível nesta obra. Estaremos, aliás e muito provavelmente, perante um dos melhores <i>charriots</i> de Sandy Powell, uma das melhores <i>designers</i> e estilistas da indústria.<br /><br />Pouco me interessa se foi o melhor do seu ano. Isso vale o que vale. Agora, quantos filmes do género existirão e que poderão rivalizar com ele? Pois é, muitos poucos. Talvez perfaçam, tão-somente, uma mão cheia. Deles, <b><i>A Paixão de Shakespeare</i></b> sempre será um dos mais charmosos, cativantes e românticos filmes. Um clássico absoluto, a ver e rever sempre... sempre com o mesmo fascínio e com o mesmo deleite. Com o encanto e a doçura comparáveis... - perdoem-me a imagem, mas é irresistível, até pelo esplendor visual da obra - ao melhor dos <i>cupcakes</i>.<br /></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-CLCNa3VxwTY/UvjbWnDPncI/AAAAAAAAKAk/5om8VTkR3-4/s1600/Shakespeare-in-Love.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="127" src="https://2.bp.blogspot.com/-CLCNa3VxwTY/UvjbWnDPncI/AAAAAAAAKAk/5om8VTkR3-4/s1600/Shakespeare-in-Love.jpg" width="400" /></a></div>
</div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-915068512410572452017-05-12T21:55:00.000+01:002017-05-12T21:57:26.301+01:00O HOBBIT - A BATALHA DOS CINCO EXÉRCITOS (2014)<div style="text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-NsZzhwh2JFY/WQvQIcv_SqI/AAAAAAAAKqY/xRecyo3w4RQbVBYl31TkDYNJ8XQ3VYN-wCEw/s1600/cineroad%2Bfilm%2Bcritic.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-NsZzhwh2JFY/WQvQIcv_SqI/AAAAAAAAKqY/xRecyo3w4RQbVBYl31TkDYNJ8XQ3VYN-wCEw/s200/cineroad%2Bfilm%2Bcritic.jpg" width="134" /></a><span style="font-weight: bold;">PONTUAÇÃO:</span> MUITO BOM</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: small;"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"></span></span></span></span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span></span></span></span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span></span></span></span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span></span><span style="color: lime;"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent"><span style="font-weight: bold;"><span class="userContent">★</span></span></span></span></span></span></div>
</div>
</div>
</div>
<div align="left">
<span style="font-weight: bold;">Título Original: </span>The Hobbit: The Battle of the Five Armies</div>
<div align="left">
<span style="font-weight: bold;">Realização:</span> Peter Jackson<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;">Principais Actores:</span> Martin Freeman, Ian McKellen, Richard Armitage, Luke Evans, Orlando Bloom, Evangeline Lilly, Aidan Turner, Lee Pace, Billy Connolly, Ken Stott, Graham McTavish, William Kircher, Cate Blachett, James Nesbitt, Stephen Fry, Ryan Gage, Benedict Cumberbatch, Ian Holm</div>
</div>
<br />
<span style="font-weight: bold;">Versão Alargada<br /><br />Crítica:</span><br />
<div style="text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<b><br />LÁ E DE VOLTA OUTRA VEZ </b></div>
<br />
<div style="text-align: right;">
<i> If more people valued home above gold, <br />this world would be a merrier place.</i></div>
<div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b><i>A Batalha dos Cinco Exércitos</i></b> começa em chamas - poderoso e apoteótico - onde o capítulo anterior, <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2013/12/o-hobbit-desolacao-de-smaug-2013.html"><span style="color: lime;">A Desolação de Smaug</span></a></i></b>, deveria ter terminado. Talvez por isso o ataque do dragão faça as honras de prólogo, onde outrora sempre constaram sequências reveladoras, decorridas no passado da acção principal. Aquele que poderia ter sido um final impressionante é, agora e desde o primeiro instante, uma abertura operática, ultra-emocionante e que, sem sombra de dúvida, alavanca as expectativas de qualquer espectador-viajante ao mais alto nível para aquela que é a derradeira conclusão da aventura épica.<br />
<br />
Se o filme anterior deixou o espectador em<i> suspense</i>, este apressa-se a acudi-lo e, ao fim dos primeiros minutos, já o arrasou completamente. Apetece esmurrar a mesa e gritar: <i>que filme tão bom!</i> Ali está Bard, no cimo daquela quebradiça torre do sino, de arco igualmente quebrado, a apoiar a última lança negra no ombro do filho, Bain, ao sabor do improviso e da convicção, na esperança de acertar na falha da armadura de escamas e de, assim, precipitar o destino do monstro. Cruel destino, a hora em que se cumpre o herói - o humano de entre um colectivo de heróis de outras estirpes. Ali está Peter Jackson ao leme, senhor do filme, na sua mais estonteante e arrebatadora forma.<br />
<br />
Concluída a desolação e finalizada que está a missão itinerante das personagens, o filme é outro -sendo que o filme ainda está praticamente todo por acontecer. Nas ruínas de Dol Goldur, Gandalf, Saruman, Galadriel e Elrond enfrentam, espetacular e estrondosamente, o Necromante, fechando esse arco narrativo, estabelecendo a ponte para <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/02/o-senhor-dos-aneis-2001-2002-2003.html"><span style="color: lime;">O Senhor dos Anéis</span></a></i></b>. Todas as atenções se viram então para a Montanha Solitária e para as suas imediações, onde se aguardam os confrontos bélicos aos quais o título, oportunamente, alude. Enquanto que, pelos salões de Erebor e para desnorte dos demais anões, Thorin é assolado pela loucura - pelo chamado <i>mal do dragão</i> -, ainda alheio à localização da Arkenstone, uma multidão de sobreviventes de Esgaroth apodera-se de Dale, pretendendo reclamar, a todo o custo, a promessa de Escudo-de-Carvalho. Nada mais têm a perder. O exército de Thranduil, de silenciosos elfos da Floresta Misteriosa, surge, como por magia, com o mesmo interesse e propósito. Não tardarão a escorrer das profundezas da terra as hordas de orcs de Azog - o objectivo é só um: assumir o controlo da Montanha, ou não fosse ela de um posicionamento estratégico a norte, entre o leste e o oeste, nos planos terríveis que o Mal desenha para o futuro. Juntar-se-lhes-ão bandos de morcegos de Gundabad, com milhares de orcs e trolls. Chegará em auxílio de Thorin o primo Dain Pé-de-Ferro (Billy Connolly), montado num javali e à frente de uma legião de bodes guerreiros, montadas inusitadas mas surpreendentemente bem habilitadas para a buçalidade da guerra.<br />
<br />
Surgem machados afiados, que rodopiam de mão em mão, dilacerando cabeças à velocidade da graça e do bom humor. Como nos Campos de Pelennor, há proezas físicas delirantes, que nos surpreendem em catadupa. Há trolls manipulados que nem marionetas, orcs que se catapultam sem querer e Bombur a assegurar o riso fácil mas tão delicioso, aos saltos contra tudo e contra todos. Há avanços e recuos das massas, de corpos ou píxeis mais ou menos credíveis. Julgo que, às tantas, o cúmulo de <i>takes</i> artificiosos prejudica os efeitos dramáticos, que se pretendem crescentes, e o factor humano tende a esvair-se. É a nódoa que lhe aponto, unicamente. Depois há uma perseguição à carroça dos anões pelo rio gelado, que na versão alargada resulta numa corrida <i>non-stop</i> absolutamente desenfreada e alucinante. Tornamos à pulsação acelerada. Também nesta versão, o hilariante embora repugnante Alfrid tem um final merecido e à altura. Que caricatura: os seus <i>comic reliefs </i>são irresistíveis, de tão absurdos no meio daquela agitação. O clímax da guerra e da acção dá-se no Monte dos Corvos. Os efeitos digitais estão à disposição, superando-se nas mais inacreditáveis invenções. Lá, o esperado duelo entre Thorin e Azog. O que começou em fogo... termina no gelo.<br />
<br />
Há tantos outros momentos inesquecíveis: a Pietà de Galadriel e Gandalf, a despedida entre Bifur e Bilbo no alto da muralha e na véspera da peleja, a chegada de Dain declive abaixo, as lutas de arco e espada entre Legolas, Taurel e Kili frente aos inimigos, aquele minuto em que Gandalf se senta ao lado do hobbit, após a batalha das batalhas e fazendo por acender o seu teimoso cachimbo, em que se mostram incapazes de trocar uma única palavra que seja, mas o silêncio entre eles diz tudo... ou o regresso ao Shire, com o Fundo do Saco invadido pelos mais pespinetas e interesseiros vizinhos. Tudo acaba onde começou. Só assim se poderá proporcionar um novo começo.<br />
<br />
Se é um final digno? Absolutamente. É mais do que esperava. Mais é melhor? Talvez menos fosse melhor. <b><i>A Batalha dos Cinco Exércitos</i></b> excede-se facilmente. Apesar de ser o filme mais curto da saga, muito teve que ser criado para o sustentar. Ainda assim, não julgo a narrativa, nem a sua duração, jamais as interpretações e os majestosos feitos artísticos, sobre os quais me debrucei nas críticas aos capítulos anteriores (reduzi-los aqui a esta menção de passagem é tremendamente injusto, mereciam parágrafos). Não é a falha que anula a coragem de um objecto como este nem, tão-pouco, os seus tantos méritos. O que temos é tão bom. Valeu a pena a divisão em três filmes. <i><b>O Hobbit </b></i>é uma extraordinária tríade da mais alta fantasia. <br />
<i><b><br /></b></i>
<i><b>O Hobbit </b></i>não atinge a excelência d'<b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/02/o-senhor-dos-aneis-2001-2002-2003.html"><span style="color: lime;">O Senhor dos Anéis</span></a></i></b>; a comparação parece inevitável. Mas e daí? Não tinha que superar o insuperável. A história dos épicos é uma história de permanente e esperada superação. O último tem que ser sempre melhor e maior que o anterior... mas porquê esta pressão? Qual a sua real utilidade? O pecado de Jackson foi a indecisão: parecer querer ceder à pressão e tentar superar-se a si próprio e ao mesmo tempo não. Esta pressão, que tantas vezes afunda a expectativa e a experiência dos espectadores, não é só um factor externo ao filme. Também determinou a sua génese, os seus caminhos e, naturalmente, o seu resultado final. Apesar de tudo, que elevado objecto artístico encontramos aqui. Estabelece-se a hexalogia: uma odisseia como poucas, à qual é sempre tão bom voltar. É como visitar a família, a que tanto amamos e prezamos. E com a qual passamos momentos tão agradáveis.</div>
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-x9xy8REjWC0/WQvQnSCPCzI/AAAAAAAAKqY/dilwM5Np0YEOehOG7sjGy_atzKLC_EArgCEw/s1600/hobbit_five_armies_2D.5_%2B%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="133" src="https://3.bp.blogspot.com/-x9xy8REjWC0/WQvQnSCPCzI/AAAAAAAAKqY/dilwM5Np0YEOehOG7sjGy_atzKLC_EArgCEw/s400/hobbit_five_armies_2D.5_%2B%25282%2529.jpg" width="400" /></a></div>
<br />Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-81411583016487707692017-05-02T02:48:00.002+01:002017-05-12T21:58:55.187+01:00O HOBBIT - As Críticas à Trilogia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-3LDAiGLrEIM/WQfnyfAXmEI/AAAAAAAAKpo/W_NGIPEEZgsQPlsrVYNj8A84ayQFNkHLQCLcB/s1600/hobbit_an_unexpected_journey_1_a_h%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="138" src="https://1.bp.blogspot.com/-3LDAiGLrEIM/WQfnyfAXmEI/AAAAAAAAKpo/W_NGIPEEZgsQPlsrVYNj8A84ayQFNkHLQCLcB/s400/hobbit_an_unexpected_journey_1_a_h%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>O HOBBIT - UMA VIAGEM INESPERADA</i> | <a href="http://cineroad.blogspot.pt/2013/12/o-hobbit-uma-viagem-inesperada-2012.html"><span style="color: lime;">AQUI</span></a></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><br /></i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-B6LG6evqSDY/WQfn6WbG9xI/AAAAAAAAKps/KlS4yX_T5HAX7X7nKqvvFXWtgJnyw8BrACLcB/s1600/Smaug_the_Terrible.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="141" src="https://2.bp.blogspot.com/-B6LG6evqSDY/WQfn6WbG9xI/AAAAAAAAKps/KlS4yX_T5HAX7X7nKqvvFXWtgJnyw8BrACLcB/s400/Smaug_the_Terrible.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>O HOBBIT - A DESOLAÇÃO DE SMAUG</i> | <a href="http://cineroad.blogspot.pt/2013/12/o-hobbit-desolacao-de-smaug-2013.html"><span style="color: lime;">AQUI</span></a></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><br /></i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-skRKFncJTs4/WQfoA9JC1VI/AAAAAAAAKpw/FXJR6kSXeXY6-JGdcdJjonc3qBNKuuiuwCLcB/s1600/The%2BHobbit%2BThe%2BBattle%2Bof%2BFive%2BArmies%2BCate%2BBlanchett%2Band%2BIan%2BMcKellen%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="137" src="https://1.bp.blogspot.com/-skRKFncJTs4/WQfoA9JC1VI/AAAAAAAAKpw/FXJR6kSXeXY6-JGdcdJjonc3qBNKuuiuwCLcB/s400/The%2BHobbit%2BThe%2BBattle%2Bof%2BFive%2BArmies%2BCate%2BBlanchett%2Band%2BIan%2BMcKellen%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i>O HOBBIT - A BATALHA DOS CINCO EXÉRCITOS</i> | <a href="http://cineroad.blogspot.pt/2017/05/o-hobbit-batalha-dos-cinco-exercitos.html"><span style="color: lime;">AQUI</span></a> </b></div>
Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-62550560980471206152017-04-28T23:40:00.000+01:002017-04-29T13:32:44.889+01:00INTERSTELLAR (2014)<div style="text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-zyyagDQal8Q/WQJ8lju3M1I/AAAAAAAAKoo/u8QUciPa7Ikm3g8xtFnuR_5u8_zcjDZNQCLcB/s1600/interstellar3.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-zyyagDQal8Q/WQJ8lju3M1I/AAAAAAAAKoo/u8QUciPa7Ikm3g8xtFnuR_5u8_zcjDZNQCLcB/s200/interstellar3.jpg" width="127" /></a><b>PONTUAÇÃO</b>: MUITO BOM</div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: lime; font-size: small; font-weight: bold;">★★★★★</span></div>
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<b>Título Original</b>:<span justify="" text-align:=""> Interstellar<br /><b>Principais Actores</b>: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Michael Caine, Jessica Chastain, Casey Affleck, John Lithgow, Wes Bentley, Matt Damon, Ellen Burstyn, David Gyasi, Topher Grace, Bill Irwin, Josh Stewart, William Devane, Leah Cairns, Mackenzie Foy, Timothee Chalamet, David Oyelowo, Collette Wolfe<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: 13.6px;"><br /></span></span></div>
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<b>Crítica</b>:<br />
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<b>PARA ALÉM DAS ESTRELAS</b></div>
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<i>Mankind was born on Earth. It was never meant to die here. </i></div>
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Um ano depois de Cuarón chegar ao espaço, eis chegada a vez de Nolan. Mas se <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2017/03/gravidade-2013.html"><span style="color: lime;">Gravidade</span></a></i></b> proporcionou uma experiência assaz vertiginosa e claustrofóbica assente num feroz realismo e num regrado rigor científico - poder-se-á mesmo dizer que nunca a ficção científica teve, até então, os pés tão assentes na terra - <b><i>Interstellar</i></b> está muito mais próximo do cânone do género (nota-se a influência, por exemplo, da incontornável obra-prima de Kubrick <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/07/2001-odisseia-no-espaco-1968.html"><span style="color: lime;">2001: Odisseia no Espaço</span></a></i></b>) desbravando a imensidão e o infinito ao sabor das hipóteses e das especulações: da ficção, portanto. Pode, é certo, partir de teorias reais e de conceitos mais ou menos generalizados e absolutamente queridos a incursões deste tipo: o esgotamento dos recursos naturais da Terra e o cenário apocalíptico, a lei de Murphy, a inteligência artificial, a teoria da relatividade de Einstein e as derivações de Kip Thorne (consultor privilegiado) - a distorção espaco-tempo, ondas gravitacionais, buracos negros, etc. <b><i>Interstellar</i></b> cose-os e articula-os numa manta interessantíssima, construindo o <i>suspense</i> e o enigma de forma não só intricada como ultra-estimulante e eficaz, amarrando irreversivelmente o espectador numa missão permanentemente desconhecida - como, aliás, é marca dos Nolan desde <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2008/09/memento-2000.html"><span style="color: lime;">Memento</span></a></i></b>, passando por <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2010/12/o-terceiro-passo-2006.html"><span style="color: lime;">O Terceiro Passo</span></a></i></b> até <a href="http://cineroad.blogspot.pt/2011/02/origem-2010.html"><b><i><span style="color: lime;">A Origem</span></i></b></a>. Os <i>twists </i>multiplicam-se pela narrativa, tornando a acção seguinte absolutamente imprevisível. Não obstante, a viagem desemboca de forma rebuscada, no plano da coincidência e num espectro derradeiramente romântico. Para os amantes da ficção científica, esse não é um problema. Talvez o seja para os fanáticos da ciência.<br />
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De um filme para o outro, d'<b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2011/02/origem-2010.html"><span style="color: lime;">A Origem</span></a></i></b> para <b><i>Interstellar</i></b> (tendo a pôr de lado a trilogia do Batman, que pertence a um universo muito específico e particular e em tudo menos interessante na sua filmografia, quando comparada aos restantes títulos), Christopher Nolan passa do mais ínfimo microcosmos (o sonho dentro do sonho dentro do sonho, na mente de um indivíduo) para o mais incomensurável macrocosmos (no tudo e nada do espaço aberto), ainda que a aventura cósmica continue alicerçada na ambição e na grandiloquência do argumento e das propostas visuais, com recorrentes brincadeiras com o espaço e com o tempo - como Nolan gosta de esculpi-los, como se fosse um engenheiro divino, qual Chronos. Se antes desdobrava cidades e as elevava nas alturas, agora visita mundos inóspitos, insólitos e surpreendentes ao olho: planetas de água onde ondas gigantes varrem constantemente a superfície, planetas de nuvens congeladas, onde o céu replica o solo e as personagens parecem passear sobre espelhos, ou buracos negros esféricos ou massivos, com extraordinários poderes de atracção e distorção, que poderão levar os astronautas ao futuro num ápice, enquanto no tempo terrestre as personagens deixadas envelhecem, adoecem ou morrem. Uma das cenas mais emocionantes, a propósito, dá-se aquando do regresso de Cooper (fabuloso Matthew McConaughey) à nave, depois da perigosa experiência no planeta aquoso <i>de Miller</i>, onde cada hora equivalem a sete anos na embarcação. Passaram-se, ao todo e sem que desse conta, vinte e três anos. Cooper dirige-se ao monitor para assistir às gravações enviadas da Terra durante esse período e depara-se com o crescimento e evolução da sua família, nos momentos bons e nos momentos maus que, pela distância, jamais acompanhou. Depara-se com a dor da ausência, a dele e a dos seus entes queridos - e essa dor é por demais insuportável. Mas a sua heróica missão, já sabia, teria essas consequências. Só por meio dela poderia tentar salvar o futuro - dos filhos e da humanidade.<br />
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<div style="text-align: center;">
<i>Once you're a parent, you're the ghost of your children's future. </i></div>
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O foco na relação pai-filhos, muito particularmente na relação de pai-filha entre Cooper e Murph (incríveis Mackenzie Foy, Jessica Chastain e Ellen Burstyn) e no amor incondicional e insondável nutrido entre ambos fazem de <b><i>Interstellar</i></b>, provavelmente, a obra mais emocionante do realizador, à data, capaz de medir forças com as pretensões intelectuais da narrativa. O último acto, como o de <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/07/2001-odisseia-no-espaco-1968.html"><span style="color: lime;">2001</span></a></i></b>, projecta-nos no futuro, numa quinta dimensão e numa complexa e duvidosa existência. Sentimo-nos como que suspensos num sonho ou num hiper-cubo interminável e pouco palpável, que nem o astronauta, derradeiramente perdidos, à procura de uma explicação apaziguadora, à procura da luz. <i>Rage, rage against the dying of the light</i>, já declamava, misteriosamente, o Professor Brand (Michael Caine, <i>habitué</i> de Nolan), o mesmo que dizia: <i>I'm not afraid of death. I'm an old physicist - I'm afraid of time.</i> É nesses instantes fulcrais, em que se resolvem as hipóteses sobrenaturais levantadas no primeiro acto, que TARS - o <i>robot</i> com fisionomia semelhante à do monólito de Kubrick - intervém sabe-se lá de onde ou quando e afirma ter reunido preciosa informação quântica, capaz de descortinar os segredos do universo. Que desfecho terá <i><b>Interstellar</b></i>?, perguntamo-nos. É provável que o final passe e que não compreendamos bem o que assistimos, depreendemos. Talvez o descortinemos melhor em futuras visualizações. Mas sentimo-lo. Sentimos aquele desenlace. As últimas cenas são desconcertantes, profundamente trágicas e, verdadeiramente, de partir o coração. Fica a certeza de que os instantes finais nos apresentam o amor como elemento essencial para a transcendência, como adianta a citação abaixo, às tantas proferida pela Drª Brand (Anne Hathaway). O amor como espinha dorsal das relações humanas, do sentido da vida e do filme. Esta resolução, apesar de romântica e aparentemente facilitista, transpira tudo menos sentimentalismo bacoco. Não deixa de ser curioso que a maior odisseia pelo espaço culmine numa descoberta interior, como que convocando a auto-reflexão do ser humano. Procuramos lá fora, encontramos cá dentro. A fé no amor faz, afinal, mais sentido do que a fé em tudo o resto. Em <i><b>Interstellar</b></i>, Deus nem faz parte da equação.<br />
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<div style="text-align: center;">
<i>Love is the one thing we're capable of perceiving </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>that transcends dimensions of time and space.</i></div>
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Fiel a si próprio, Nolan entrega-nos, uma vez mais, uma ambiciosa e desafiante combinação de entretenimento excitante e de matéria inteligente, mais ou menos explicativa, num produto capaz de suscitar múltiplas interpretações e o mais inesgotável debate filosófico. O arrojo é do pensamento e das ideias, mas também das interpretações do elenco renomado, dos efeitos digitais (que expandem o imaginário e as proporções da direcção artística, detalhista), da possante sonoplastia (que respeita os silêncios e os sussurros, mas também se impõe num <i>crescendo</i> ensurdecedor e ameaçador sempre que necessário) e da mística banda sonora de Hans Zimmer (que potencia a transcendência no culminar da sonoridade religiosa). Todos os elementos se aliam a bem do espectáculo e do clímax apoteótico.<br />
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Note-se, contudo, que o trabalho de câmera nunca é especialmente virtuoso - a maior parte dos planos são fixos e a sua composição é relativamente simples. A maioria dos malabarismos no espaço dá-se não pela acção da câmera (que prefere, como disse, ficar estática) mas pelas naves ou outros objectos que rodam ou se movimentam. A simplicidade é uma arte, <i>menos é mais</i>, mas também pode ser um defeito. E no caso de Nolan e de um filme como <i style="font-weight: bold;">Interstellar </i>é claro como o cineasta se apoia tão mais nos seus mais variados departamentos técnicos e artísticos, do que na arte de filmar propriamente dita. Creio que o filme poderia ascender ao patamar da excelência caso o realizador brilhasse mais. Assim brilha somente o autor, o autor visionário, o que também não é dizer pouco, ou não fosse Nolan o autor mais comercial do actual panorama cinematográfico norte-americano. Nolan sabe como alimentar uma legião febril de fãs, ávida do seu estilo e das suas histórias, tornando cada filme seu um retumbante êxito de bilheteiras. Quando as ideias dão dinheiro, um cineasta não tem como não estar nas graças dos grandes estúdios. E ter dinheiro para concretizar ideias audaciosas não é tão frequente quanto gostaríamos, pelo que se trata de um círculo vantajoso para todos os envolvidos. Dinheiro à parte, ganham o cinema e os espectadores.<br />
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<b><i>Interstellar</i></b> é, pois, puro magnetismo. Será certamente - arrisco e aposto dizer -, uma das mais fascinantes ficções científicas deste primeiro quarto de século. O tempo e só o tempo nos trará, ou não, a confirmação. Não obstante, há quem já a tenha - mas sabemos bem: o tempo... o tempo é relativo.<br />
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<a href="https://4.bp.blogspot.com/-7bWYUIqndIk/WQJ81vGlPbI/AAAAAAAAKow/npIfmEGb_Ikz5-5I_sJIfNFs2K2F3WuxACLcB/s1600/651486%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="132" src="https://4.bp.blogspot.com/-7bWYUIqndIk/WQJ81vGlPbI/AAAAAAAAKow/npIfmEGb_Ikz5-5I_sJIfNFs2K2F3WuxACLcB/s400/651486%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
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Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2564385704953108037.post-39645534852959863492017-04-25T12:26:00.002+01:002017-04-25T12:37:45.117+01:00VISTO DO CÉU (2009)<div style="text-align: center;">
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<a href="https://1.bp.blogspot.com/-ySyba5mJJV4/WP6OM7abByI/AAAAAAAAKn8/TVVQ6tYCl-s3sLSglut3tGF2Dw8TzTLvgCLcB/s1600/lovely_bones-4.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-ySyba5mJJV4/WP6OM7abByI/AAAAAAAAKn8/TVVQ6tYCl-s3sLSglut3tGF2Dw8TzTLvgCLcB/s200/lovely_bones-4.jpg" width="135" /></a></div>
<b>PONTUAÇÃO</b>: RAZOÁVEL</div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: lime; font-size: small; font-weight: bold;">★★★</span></div>
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<b>Título Original</b>: The Lovely Bones<br />
<b>Realização</b>: Peter Jackson</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Principais Actores</b>: Saoirse Ronan, Mark Wahlberg, Rachel Weisz, Stanley Tucci, Jake Abel, Susan Sarandon, Michael Imperioli, Reece Ritchie, Nikki SooHoo, Tom McCarthy, Rose McIver, Courtney Baxter<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: 13.6px;"><br /></span></div>
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<b>Crítica</b>:<br />
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<b>UM OLHAR DO PARAÍSO</b></div>
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<i><br /></i></div>
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<i> I was here for a moment. And then I was gone.</i></div>
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O mínimo que se poderá dizer de um filme como<b><i> The Lovely Bones </i></b>é que é um filme desnivelado. A sua acção decorre entre universos paralelos, visualmente tão distintos que não só nos parecem perfeitamente desconexos, como a água e o azeite, como parecem pertencer, facilmente, a dois filmes completamente diferentes.<br />
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A perspectiva de Susie Salmon, assassinada aos catorze anos, mergulha a trama numa dimensão mística e sobrenatural - a visão de Jackson torna-a impressivamente surrealista e fantástica, sempre que a acção se passa no além, no limbo, onde a alma da jovem aguarda a entrada no Paraíso. As imagens são fruto da imaginação de uma rapariga pré-adolescente, depreendemos pelas cores vivas e pela generalidade das concepções criativas com que nos deparamos, mas a artificialidade dos efeitos digitais, em contraponto com a acção tão mais realista no plano terrestre, não deixa de ser insólita. Por mais que os anos 70 de Peter Jackson sejam coloridos, mérito do extraordinário trabalho de fotografia de Andrew Lesnie, do guarda-roupa de Nancy Steiner e da direcção artística (Naomi Shohan, Jules Cook, Chris Shriver, George DeTitta Jr., entre outros).<br />
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A experiência torna-se ainda mais inusitada quando pensamos na forma como um drama pessoal e familiar tão intenso, de mãos dadas ao perturbante <i>thriller</i>, pleno de <i>suspense</i> e crime, se desenrola, muitas vezes, ao som de músicas divertidas e leves, quando o humor, mais do que pontuar a acção, a passa a dominar. A dado momento <i><b>The Lovely Bones</b></i> acabou de nos mostrar um assassinato, uma família devastada pela perda e uma avó alucinada e caricatural (apesar de tudo, brilhante Susan Sarandon) chega a casa, virando-a do avesso e aligeirando o filme na mais berrante comédia. Por tudo isto, penso que o filme de Jackson perde pela multiplicidade de tons: abraça demasiados registos em tão pouco tempo e, ao invés de ganhar personalidade, perde-a, descarrilando aqui e ali para a novela <i>pop</i>.<br />
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Compreendo que seja a adaptação do aclamado romance de Alice Sebold... mas o livro não mostra o limbo como um parque de diversões. E é muito mais sério e aprofundado. No filme, corta-se o caso da avó com o detective policial (Michael Imperioli), por se considerar que seria informação acessória e por isso desnecessária para a história, mas corta-se também a violação, assassinato e desmembramento de Susie pelo monstruoso vizinho George Harvey (Stanley Tucci, irreconhecível e arrepiante), por demais nuclear, dado o tema principal... São decisões de adaptação absolutamente questionáveis, parecem-me. Compreendo inclusive que se almejasse um determinado <i>rating</i>, até aos 13 anos - o filme tal como está fala directamente aos adolescentes. Mas tinha potencial para ser um filme mais adulto, mais negro - e, por isso mesmo, mais tocante e impactante.<br />
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Todavia, o livro é o livro. O filme é o filme. E o mais curioso no meio desta confusão toda é que, ainda assim, Peter Jackson assina um filme acima da média. E porquê? Não pelos desempenhos dos pais de Susie: a escolha de Mark Wahlberg para o papel de pai - um papel aqui tão importante - é lamentável. A sua interpretação é miserável. Rachel Weisz, a mãe, lá interpreta o texto, mas podia ser outra actriz qualquer. Então, porque não estamos perante um desastre completo? Essencialmente, pelas magnetizantes <i>performances</i> de Saoirse Ronan e de Stanley Tucci e porque Jackson sabe muito bem suscitar e gerir emoções. <b><i>The Lovely Bones</i></b> consegue, apesar de tudo, ser um filme bastante emocional. Ajuda a banda sonora de Brian Eno, por demais comovente, mas sobretudo o expressivo trabalho de câmera, do <i>close-up</i> aos planos mais abertos, e a inteligente montagem de Jabez Olssen. Quando Jackson deixa a comédia de lado e se foca no drama, na tragédia, mas sobretudo na personagem de Tucci e na investigação criminal encabeçada pela irmã da vítima, Lindsey (Rose McIver), no último acto, a atmosfera é tensa e capaz de nos fazer transpirar. Torcemos para que o psicopata seja desmascarado ou severamente punido. No final, fica-nos a ideia de um filme que deslizou entre o visualmente belo, o estimulante, o incongruente e o bacoco, mas que na sua essência - a história e as personagens - lá acabou de alguma maneira por triunfar, acabando por fazer sentido a sua ousada e tão <i>sui generis </i>proposta.<br />
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A crítica foi mais ou menos unânime quanto a este filme e, desta vez, a minha voz não destoa do coro. Por mais que goste de Peter Jackson e das suas propostas megalómanas. Aqui simplesmente parece ter andado à deriva e não ter encontrado o rumo certo ou mais apropriado para contar a sua história. Mas Jackson é Jackson e desde <b><i><a href="http://cineroad.blogspot.pt/2009/02/o-senhor-dos-aneis-2001-2002-2003.html"><span style="color: lime;">O Senhor dos Anéis</span></a></i></b> que qualquer um dos seus filmes vale a pena.<br />
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<a href="https://1.bp.blogspot.com/-3TP9SIzzrSc/WP6O9oXqpfI/AAAAAAAAKoI/nr4Uhb7yNVMXZ9ZN-ZselRV5Qr05XxPiQCEw/s1600/lovely%2B%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="125" src="https://1.bp.blogspot.com/-3TP9SIzzrSc/WP6O9oXqpfI/AAAAAAAAKoI/nr4Uhb7yNVMXZ9ZN-ZselRV5Qr05XxPiQCEw/s400/lovely%2B%25282%2529.jpg" width="400" /></a></div>
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Roberto Simõeshttp://www.blogger.com/profile/02926349271558904224noreply@blogger.com0