★★★★★
Título Original: The Last Temptation of Christ
Realização: Martin Scorsese
Principais Actores: Willem Dafoe, Harvey Keitel, Paul Greco, Steve Shill, Verna Bloom, Barbara Hershey, Roberts Blossom, Barry Miller, Gary Basaraba, Irvin Kershner, Victor Argo, Michael Been, Paul Herman, John Lurie, Leo Burmester
O CRISTO PROIBIDO
I am the saint of blasphemy.
Depois de dezenas de representações de Cristo no cinema, todas mais ou menos consensuais (se não tivermos em conta, sobretudo, a versão superstar), eis que nos deparamos com aquela que será, porventura, uma das mais chocantes, ousadas e irreverentes. A partir do romance Nikos Kazantzakis, livremente baseado nas segradas escrituras, A Última Tentação de Cristo propõe-nos um retrato polémico e controverso, onde Jesus, mais do que o messias divinizado que os textos eternizaram, nos surge finalmente como um homem - um homem agoniado pelos seus conflitos interiores, duvidando da sua fé e da sua missão, sentindo o medo, o ódio e a culpa e desejando o pecado da carne como qualquer outro homem. Um homem dotado de livre arbítrio que, em última instância, se eternizou por vontade própria.
A representação, pouco ortodoxa, atentará facilmente contra os mais devotos, mas é somente mais uma representação (que responde, claro está, a uma necessidade contemporânea de humanizar e desmistificar a figura histórica de Cristo). A questão é pertinente: se lembrarmos a alucinação de Cristo às portas da morte (que por si só justifica o título da obra), recordar-nos-emos daquela emblemática cena em que Jesus reencontra o cego-alvo-de-milagre a espalhar a palavra e a retratar o Filho de Deus, sendo que o próprio Filho de Deus não se revê nas suas palavras. Até que ponto não terão romanceado, os evangelhos, a vida e a palavra de Cristo, atendendo aos mais variados propósitos?
O argumento Paul Schrader suscita um questionamento contínuo e uma reflexão profunda sobre a natureza das crenças instaladas, particularmente sobre as religiões cristãs. O twist final eleva, num cúmulo criativo, toda esta mensagem do filme. Enfim, grande exercício dramatúrgico, magistralmente filmado por Scorsese. Willem Dafoe compõe um Cristo memorável, em toda a complexidade que o papel exigia. Peter Gabriel experimenta-nos as emoções, pela inspiração da música. A produção artística, dos cenários ao guarda-roupa, confere autenticidade à viagem no tempo e a fotografia de Michael Ballhaus perpetua a aridez do deserto na solidão da alma.
Mais um exemplo da versatilidade e da qualidade do cinema de Scorsese.
Father, will you listen to me? Are you still there? Will you listen to a selfish, unfaithful son? I fought you when you called, I resisted! I thought of no more. I didn't want to be your son! Can you forgive me?
A representação, pouco ortodoxa, atentará facilmente contra os mais devotos, mas é somente mais uma representação (que responde, claro está, a uma necessidade contemporânea de humanizar e desmistificar a figura histórica de Cristo). A questão é pertinente: se lembrarmos a alucinação de Cristo às portas da morte (que por si só justifica o título da obra), recordar-nos-emos daquela emblemática cena em que Jesus reencontra o cego-alvo-de-milagre a espalhar a palavra e a retratar o Filho de Deus, sendo que o próprio Filho de Deus não se revê nas suas palavras. Até que ponto não terão romanceado, os evangelhos, a vida e a palavra de Cristo, atendendo aos mais variados propósitos?
I'm a liar. A hypocrite. I'm afraid of everything. I never tell the truth. I don't have the courage. When I see a woman, I blush and look away. But inside I have lust. For God, I smother the lust, and that satisfies my pride. But my pride destroys Magdalene. I never steal or fight, or kill... not because I don't want to but because I'm afraid. I want to rebel against everything, everybody... against God!... but I'm afraid. If you look inside me you see fear, that's all. Fear is my mother, my father, my God.
O argumento Paul Schrader suscita um questionamento contínuo e uma reflexão profunda sobre a natureza das crenças instaladas, particularmente sobre as religiões cristãs. O twist final eleva, num cúmulo criativo, toda esta mensagem do filme. Enfim, grande exercício dramatúrgico, magistralmente filmado por Scorsese. Willem Dafoe compõe um Cristo memorável, em toda a complexidade que o papel exigia. Peter Gabriel experimenta-nos as emoções, pela inspiração da música. A produção artística, dos cenários ao guarda-roupa, confere autenticidade à viagem no tempo e a fotografia de Michael Ballhaus perpetua a aridez do deserto na solidão da alma.
Mais um exemplo da versatilidade e da qualidade do cinema de Scorsese.
acrescento: Mais um exemplo da versatilidade e da qualidade da música de Peter Gabriel.
ResponderEliminarDafoe é demasiado branco e loiro para personificar Jesus, mas de resto está impecável ;)
LOOT: Concordo inteiramente com a primeira frase e tendo a concordar também com a segunda, ainda que tal evidência não tenha implicações maiores para a avaliação geral da obra, não é? :)
ResponderEliminarRoberto Simões
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Claro ;)
ResponderEliminarUm dos melhores filmes de Scorsese, um projecto que dá que falar e que pensar. Muito melhor que o snuff-film do Mel Gibson. Cumprimentos
ResponderEliminarhttp://onarradorsubjectivo.blogspot.com/
O NARRADOR SUBJECTIVO: Um grande filme de Scorsese, sem dúvida. Pessoalmente, contudo, prefiro o snuff-film do Gibson. Independentemente dos objectivos comerciais, vejo muita arte ali.
ResponderEliminarRoberto Simões
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