quarta-feira, 30 de junho de 2010

A CRIANÇA (2005)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: L'Enfant
Realização: Jean-Pierre e Luc Dardenne
Principais Actores: Jérémie Renier, Déborah François, Jérémie Segard, Fabrizio Rongione, Olivier Gourmet, Stéphane Bissot, Mireille Bailly

Crítica:

À MARGEM, À DERIVA

Poucas palavras para um grande filme. O realismo como estética. A tentativa de representação da realidade tal como ela é, dura e crua, sem artifícios. A Bélgica contemporânea e uma questão social séria e preocupante: uma geração imatura e irresponsável, sem objectivos e sem rumo, entregue a si prória... que se vê a braços, inesperadamente, com a gravidez precoce e não-planeada.

Bruno e Sonia são o espelho dessa realidade. Descomprometidos com o futuro, apáticos do mundo. Não trabalham, não têm laços familiares, ele vive para as drogas e para a delinquência, ela limita-se à paixão e ao sustento desonesto por parte dele. Têm um filho, mas as crianças maiores são eles. Fumam, discutem enquanto conduzem, distraem-se uma e outra vez, ignorando a fatalidade da vida. A câmera dos Dardenne observa-os de perto, segue-os de perto, obsessivamente. E o bebé naquele meio, em risco permanente, sem amor. Apenas nasceu. Na primeira vez que Bruno cuida do filho, imagine-se, vende-o para adopção. Ganha um bom maço de notas. Mais do que negligente ou irresponsável, o seu comportamento e a sua atitude são plenamente amorais.

O filme não é moralista, mas a moral recai sobre o espectador. Condenamos aqueles seres infantis, mas temos dificuldade em apontar o dedo e a culpa. Quem são os responsáveis? Que esperança há para aquela criança, não sabemos bem. Mas se pensarmos se há ou não esperança para aquele casal, para Bruno, sobretudo... temos novamente dificuldade em pensar sobre isso. Aperceber-se-á ele, alguma vez, do sentido da vida? Haverá tempo, ainda, para interiorizar valores essenciais? Até quando dura a infância? Que adultos estamos nós, sociedade, a formar?

O realismo está de boa saúde, nas mãos dos Dardenne.

7 comentários:

  1. Adoro este filme, é um retrato desiludido e niilista de uma humanidade despreocupada, afundada na corrupção e no egoísmo. É um vislumbre de uma inocência estendida por demasiado tempo. Não de uma infância, mas de uma infantilidade. De um amor inseguro, sem provas. É um filme que procura o amor com todas as forças e conclui com o "nada" com que se inicia... achei brilhante nesse aspecto.
    Quero também muito revê-lo. :)

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  2. Grande grande filme. Para mim é o melhor deles juntamente com o Rosetta.

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  3. FLÁVIO GONÇALVES: Sim, penso que tens toda a razão. Também gostei.

    ÁLVARO MARTINS: É o único que conheço dos realizadores, mas é de facto um grande filme.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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  4. Roberto, aconselho-te a veres o resto deles. São, para mim, os melhores actualmente neste cinema neo-realista. Eu acho que o grande trunfo do cinema dos Dardenne (que se perdeu um bocado no último) é o estilo da mise-en-scène, a forma como a câmara segue frenéticamente os personagens, o ritmo associado a isso, a veia à Dogma 95 que assumem. Porque é isso que acentua aquela realidade dura que apresentam em todas as suas obras. E, claro, nunca entram em sensacionalismos baratos, nunca entram em lamechices ou em violência (qualquer que seja) gratuíta e sem sentido.

    Mas não percebi a classificação, já que gostaste tanto. É claramente merecedor de cinco estrelas, na minha opinião.

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  5. ÁLVARO MARTINS: A nota foi um erro, já estava para alterá-la mas ainda não tinha tido oportunidade de vir ao computador. É um MUITO BOM, claro. Já tenho O SILÊNCIO DE LORNA cá em casa para ver, a ver vamos se estou de acordo. Já tinha lido as tuas observações sobre o filme e sei que não gostaste assim tanto, ao contrário do ROSETTA, por exemplo.

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD – A Estrada do Cinema

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  6. Assim está melhor :p

    Sim, não gostei muito do Lorna por causa desse (quase) abandono da mise-en-scène que os caracterizava. Mas de resto está lá tudo a que eles nos habituaram ;)

    O Rosetta sim, é tão bom ou melhor do que este.

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  7. ÁLVARO MARTINS: Espero vê-los em breve.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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