segunda-feira, 26 de outubro de 2009

As Crónicas de Calcifer (6) - O Caso Imperdoável de IMPERDOÁVEL

As Aventuras de Um Calcifer À Beira de Um Ataque de Nervos

Por vezes, é mesmo muito difícil conseguir comprar um DVD.
Cada um tem as suas histórias, certamente. Eu tenho as minhas e decidi-me a contar-vos esta.
Tomem as seguintes linhas como avisos, conselhos e não vos arrependereis.

Tudo começou quando esta chama de língua afiada se lembrou de que estava mais do que na altura de adquirir o DVD de Imperdoável, o célebre western de Clint Eastwood. Não sei se é pela minha aparência, mas parece que cada vez tenho mais azar. Ou então tenho, definitivamente, a mania da perseguição.
Sabia que havia no mercado português aquela edição da "Colecção Eastwood". Como sou mesquinho com as capas, preferia a outra edição, com a capa mais bonita. E onde encontrei essa raridade? Na W.... E logo comprei!
Cheguei a casa, pus o disco no leitor e qual não é a minha surpresa quando não só não se trata da versão digitalizada, como vendia a capa, mas de uma outra com apenas dois idiomas: alemão e castelhano.

Teria eu que me resignar ao Imperdoável, grande werstern americano, realizado por Clint Eastwood, falado em alemão? Ou em castelhano?

Perante o ridículo da situação, corri para o reembolso. E, seguidamente, para a MM. Nesta nova área comercial apenas havia a versão da Colecção. Aderi, irremediavelmente.
Cheguei a casa, pus o disco no leitor e qual não é a minha surpresa quando não só não se trata, novamente, da versão digitalizada, como da mesma edição bilingue: em alemão e castelhano. História repetida?
Perante o duplo ridículo da situação, corri para o reembolso. Uma vez mais.

Ainda hoje tanto W. como MM. continuam a vender estas edições enganosas e vergonhosas. Não parecem sequer minimamente preocupadas em reclamar o produto às autoridades competentes.

Cuidado meus amigos! Não é que vos sugira o tráfico ilegal via downloads, mudar de nacionalidade também me parece demasiado, mas... não desesperem!

Fui à Fnac, dias depois e por acaso, e encontrei a edição de 2 discos, com a melhor das capas, versão verdadeiramente digitalizada, com legendas em português e até falado em inglês!

Final feliz para uma chama, agora, também feliz. ____________________________________
AS CRÓNICAS DE CALIFER. A ironia, a sátira, o humor. Nota: o conteúdo destas «Crónicas de Calcifer» não expressa, necessariamente, as opiniões e interesses do autor deste blogue.

sábado, 24 de outubro de 2009

10 Breves Perguntas (8)

Continua a nossa iniciativa.
Desta vez... Tiago Ramos, autor do blogue Split Screen, aceitou o convite do CINEROAD para responder a 10 breves questões com 10 breves respostas.

1. Um realizador: Alejandro González Iñárritu
2. Um argumento: O Despertar da Mente
3. Um actor: Gael García Bernal
4. Uma actriz: Kate Winslet
5. Um filme-desilusão: Wall-E
6. Um filme-surpresa: Tudo Sobre a Minha Mãe
7. Um filme sobrevalorizado: Quem Quer Ser Bilionário?
8. Um filme subvalorizado: Revolutionary Road
9. Um filme em que chorei: E.T. - O Extra-Terrestre
10. Último DVD: Munique

Um muito obrigado, Tiago Ramos.
As mesmas 10 questões serão respondidas por um novo convidado especial, muito em breve. Até lá!

Vislumbres Perfeitos

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

TAXI DRIVER (1976)

PONTUAÇÃO: EXCELENTE
★★★★★
Título Original: Taxi Driver
Realização: Martin Scorsese
Principais Actores: Robert De Niro, Cybill Shepherd, Peter Boyle, Jodie Foster, Harvey Keitel, Leonard Harris, Albert Brooks

Crítica:

O GRITO

Nova Iorque, anos 70. Saída da guerra, a América confronta-se com a derrota. O sonho acabou. As gerações mais jovens sentem-se órfãs de um passado vencido, humilhado e retirado. Travis Bickle sinedoquiza, pois, toda uma geração de almas perdidas, distanciada da família e das raízes e alienada numa sociedade ferida. Imerso em insónias continuadas, Bickle deambula no taxi por entre o submundo citadino. Nas ruas, apercebe-se do lixo, dos cheiros e do purgatório. O luar dá lugar à iluminação frenética que se espalha pelos prédios, a brisa dá lugar aos fumos que, numa atmosfera asfixiante, encobrem o homem incompreendido, ansioso pelo grito. Travis Bickle é, como tantos outros, mais um exposto filho sem identidade, uma potencial bomba-relógio sujeita à explosão de revolta e violência a qualquer momento. We are the people não poderia, por isso, constituir maior ironia.

Visualmente perturbador, escrito sob a negra sombra de Dostoiévski e enigmaticamente protagonizado por Robert De Niro, Taxi Driver é arte sublime, dotado de uma aura superior. É Martin Scorsese na sua melhor forma, levando o noir a novos horizontes. Cenas como a do monólogo ao espelho ou a do desfecho de disparos e sangue mostram uma abertura à improvisação e uma capacidade de encenação fora de série. A simbiose resulta magistral e as cenas... eternizam-se a si próprias. Magnificamente montado, fotografado e ainda musicalmente orquestrado (pelo lendário Bernard Hermann), a realização inspirada conflui assumidas influências de Hitchcock a Godard.

Haverá salvação para o Homem condenado? O final desvanece em mistério. E no mistério reside todo o fascínio. Grande filme.

sábado, 17 de outubro de 2009

10 Breves Perguntas (7)

Continua a nossa iniciativa.
Desta vez... Filipe Coutinho, autor do blogue Cinema is my Life, aceitou o convite do CINEROAD - A Estrada do Cinema para responder a 10 breves questões com 10 breves respostas.

1. Um realizador: Wilder/Hitch/Allen - Não consigo preterir um em função dos outros
2. Um argumento: Fight Club - Argumento que mudou a minha vida
3. Um actor: James Stewart - "O" actor
4. Uma actriz: Audrey Hepburn - Mulher da minha vida!
5. Um filme-desilusão: Papillon - Esperava muito mais
6. Um filme-surpresa: You Can't Take It With You - Nunca pensei que fosse perfeito!
7. Um filme sobrevalorizado: Apocalypse Now - Nunca gostei
8. Um filme subvalorizado: Bourne Trilogy - Melhor acção das últimas décadas
9. Um filme em que chorei: Nuovo Cinema Paradiso - Final soberbo
10. Último DVD: Changeling - Imaculado Eastwood

Um muito obrigado, Filipe Coutinho.
As mesmas 10 questões serão respondidas por um novo convidado especial, muito em breve. Até lá!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

IMPÉRIO DO SOL (1987)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Empire of the Sun
Realização: Steven Spielberg
Principais Actores: Christian Bale, John Malkovich, Miranda Richardson, Nigel Havers, Joe Pantoliano, Leslie Phillips, Masatô Ibu, Emily Richard, Rupert Frazer, Peter Gale, Takatoro Kataoka, Ben Stiller

Crítica:

E TUDO O VENTO LEVOU


Império do Sol é a inspiradora e emocionante odisseia de um rapaz pela sobrevivência... com destino à maturidade. Com a invasão nipónica à Xangai ocidentalizada dos anos 40, em plena 2ª Guerra Mundial, o jovem James "Jamie" Graham perde os pais, a opulência da sua condição social e vê-se a contas consigo mesmo num mundo à beira da ruptura. Da solidão das ruas em tumulto à atitude heróica face ao desconhecido, do campo de prisioneiros à bomba atómica, eis a dura e cruel realidade da guerra, na perspectiva de quem, apesar do sofrimento, consegue ser feliz por não conseguir medir as implicações a longo prazo de tão devastador acontecimento.

Tecnicamente irrepreensível na recriação histórica (dos cenários ao guarda-roupa, passando pelas miniaturas) e absolutamente deslumbrante da primeira à última cena (os trabalhos de fotografia e de mise-en-scène são visualmente impressionantes), Império do Sol resplandece, pois, magnificente. Enaltecido pela envolvente banda sonora de John Williams e sincopado pela montagem de Michael Kahn, o argumento de Tom Stoppard, baseado nas memórias de J. G. Ballard, não só triunfa magistralmente nas reflexões sobre a guerra, a violência, Deus e a perda da inocência, como ganha uma dimensão épica, apesar dos contornos pessoais... e concretiza uma mensagem universal de paz. O perfeccionismo de Steven Spielberg é por demais evidente: na encenação, na cuidada preparação de cada plano, na direcção da equipa técnica, na direcção de actores... A propósito: já não falo do talentoso John Malkovich, mas será que alguém esquece a não só brilhante como incrível performance de Christian Bale? Aos 12 anos? Que magnífica escolha de casting!

Que os ventos futuros tragam todo o reconhecimento merecido para tão extraordinária criação. Grande filme, grande pedaço de arte.

sábado, 10 de outubro de 2009

10 Breves Perguntas (6)

Continua a nossa iniciativa.
Álvaro Martins, autor do blogue Preto e Branco, aceitou o convite do CINEROAD - A Estrada do Cinema para responder a 10 breves questões com 10 breves respostas.

1. Um realizador: Andrei Tarkovsky
2. Um argumento: Once Upon a Time in America, de Sergio Leone
3. Um actor: Jack Nicholson
4. Uma actriz: Bridgitte Bardot
5. Um filme-desilusão: The Pillow Book, de Peter Greenaway
6. Um filme-surpresa: Dealer, de Benedek Fliegauf
7. Um filme sobrevalorizado: Titanic, de James Cameron
8. Um filme subvalorizado: Bringing Out The Dead, de Martin Scorsese
9. Um filme em que chorei: Transe, de Teresa Villaverde
10. Último DVD: Sonatina, de Takeshi Kitano

Um muito obrigado, Álvaro Martins.
As mesmas 10 questões serão respondidas por um novo convidado especial, muito em breve. Até lá!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

AMOR CÃO (2000)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: Amores Perros
Realização: Alejandro González Iñárritu
Principais Actores: Emilio Echevarria, Gael Garcia Bernal, Goya Toledo, Álvaro Guerrero, Vanessa Bauche, Jorge Salinas

Crítica: Amor Cão é, numa só imagem, um grito desesperado a partir da solidão. Um filme de emoções viscerais, detentor de uma energia possante e no qual o amor nos toca a todos sob distintas formas, mas sempre com a mesma significação: dor e sofrimento. Todos diferentes, mas todos igualmente implicados na equação da vida. Guillermo Arriaga concebe um argumento de uma intensidade e amplitude incríveis e Alejandro González Inãrritu capta-as com assaz talento, sensibilidade e irreverência. Magníficos desempenhos de Gael Garcia Bernal e de Emilio Echevarria. Um filme genuinamente surpreendente, uma viagem frontal e marcante às fragilidades da condição humana.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

SINAIS (2002)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: Signs
Realização: M. Night Shyamalan
Principais Actores: Mel Gibson, Joaquin Phoenix, Cherry Jones, Rory Culkin, Abigail Breslin, Patricia Kalember, M. Night Shyamalan

Crítica:

O ACONTECIMENTO

It's happening.

Sinais é, todo ele, uma magnífica construção clautrofóbica sobre fé e família. Suspense sob a mais alta tensão, num storytelling excelso e arrebatador, aqui e ali com tiradas de um humor inesperado e genuíno.

A banda sonora de James Newton Howard mostra-se essencial para o crescendo nevrálgico. Depois, o filme de Shyamalan revela-se dedicado a homenagens e fortes invocações: o cinema de Hitchcock, o cinema dos anos 50, A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells. A sequência final, contudo, saiu prejudicada pela aparição manhosa daquele esverdeado ser; e, por isso, todo o filme, também.

Em suma: é uma boa obra, mas não tão inspirada como seria de esperar de um filme de Shyamalan.

People break down into two groups. When they experience something lucky, group number one sees it as more than luck, more than coincidence. They see it as a sign, evidence, that there is someone up there, watching out for them. Group number two sees it as just pure luck. Just a happy turn of chance. I'm sure the people in group number two are looking at those fourteen lights in a very suspicious way. For them, the situation is a fifty-fifty. Could be bad, could be good. But deep down, they feel that whatever happens, they're on their own. And that fills them with fear. Yeah, there are those people. But there's a whole lot of people in group number one. When they see those fourteen lights, they're looking at a miracle. And deep down, they feel that whatever's going to happen, there will be someone there to help them. And that fills them with hope. See what you have to ask yourself is what kind of person are you? Are you the kind that sees signs, that sees miracles? Or do you believe that people just get lucky? Or, look at the question this way: Is it possible that there are no coincidences?

domingo, 4 de outubro de 2009

A VILA (2004)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
Título Original: The Village
Realização: M. Night Shyamalan
Principais Actores: Bryce Dallas Howard, Joaquin Phoenix, Adrien Brody, William Hurt, Sigourney Weaver, Brendan Gleeson, Judy Greer, Jayne Atkinson, Michael Pitt, Cherry Jones, Celia Weston, Fran Kranz

Crítica:

AS FRONTEIRAS DO MEDO

Um prodigioso conto sobre inocência, amor e impossibilidade. M. Night Shyamalan esvoaça, uma vez mais e com asas de génio, sobre as fragilidades da condição humana. Entre o cosmos e o caos, aquela vila no meio de nenhures representa a eterna e inatingível utopia do retorno à pureza original. Por meio dela, faz-se a reflexão: sociológica, filosófica, ontológica.

Magistralmente filmado e dotado de um memorável trabalho dramatúrgico, A Vila impõe-se, pois, como um clássico absoluto. Uma obra cheia de espírito, suspense e genuíno e enternecedor sentimento. Uma pérola negra; porém, plena de esperança. Magníficos desempenhos de Bryce Dallas Howard e de Joaquin Phoenix (protagonistas de uma das mais belas histórias de amor do cinema recente), de Adrien Brody e de William Hurt. No elenco constam ainda nomes sonantes como Sigourney Weaver, Brendan Gleeson e Michael Pitt. A perfeição da obra não se fica, todavia, pelas metáforas e brilhantes actuações: a direcção artística mostra-se excepcional, assim como o guarda-roupa (que imediatamente nos projecta no antigamente), Roger Deakins deslumbra na cinematografia e James Newton Howard compõe uma extraordinária banda sonora. Portanto, A Vila é, também, tecnicamente irrepreensível.

Um dos filmes mais marcantes da década, absolutamente imperdível. Subtil e perfeito.

sábado, 3 de outubro de 2009

10 Breves Perguntas (5)

Continua a nossa iniciativa.
Bruno Soares, autor do blogue BS Movies, aceitou o convite do CINEROAD - A Estrada do Cinema para responder a 10 breves questões com 10 breves respostas.

1. Um realizador: Martin Scorsese
2. Um argumento: Pulp Fiction
3. Um actor: Robert Downey Jr.
4. Uma actriz: Rachel McAdams
5. Um filme-desilusão: The Black Dahlia
6. Um filme-surpresa: JCVD
7. Um filme sobrevalorizado: Moulin Rouge!
8. Um filme subvalorizado: Ocean's Twelve
9. Um filme em que chorei: Million Dollar Baby
10. Último DVD: Colateral

Um muito obrigado, Bruno Soares.
As mesmas 10 questões serão respondidas por um novo convidado especial, muito em breve! Até lá.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O ÚLTIMO IMPERADOR (1987)

PONTUAÇÃO: EXCELENTE
★★★★★
Título Original: The Last Emperor
Realização: Bernardo Bertolucci


Principais Actores: John Lone, Joan Chen, Peter O`Toole, Ying Ruocheng, Victor Wong, Dennis Dun, Ryuichi Sakamoto
 
Crítica:

O CREPÚSCULO DE UMA ERA

Profundamente belo, sedutor e tocante, O Último Imperador é um feito raro: ao mesmo tempo que invoca e honra, com absoluto detalhe, uma herança cultural milenar e tão singular, assume-se visceral na representação superior da elegância artística, numa monumental, genuína e inesquecível obra-prima.

De entre as suas configurações épicas, deveras impressionantes, emerge todo um cunho intimista que só o genial talento de um cineasta como Bertolucci poderia retratar, com tamanha perfeição... e com tão virtuosa erudição. As implicações e contradições de uma China em profunda evolução espelham-se na personalidade de um só homem: Pu Yi, o derradeiro herdeiro do Trono do Dragão. Apenas as grandes muralhas da Cidade Proibida, a par com as mentiras dos eunucos que o rodeiam, marcam a fronteira entre um passado de tradição e um presente de revolução.

Às tantas, o jovem manchu diz:

This isn't a school; it's a prison. A real prison.

Ou mesmo...


Forbidden City had become a theatre without an audience.

E toda essa fracção cultural acaba por pesar, tão verdadeira quanto iconicamente, na sua figura: o imperador, por imposição, torna-se um homem comum, por condenação. A aceitação de tamanho facto revelar-se-á o processo de uma vida inteira.

The Emperor has been a prisoner in his own palace since the day that he was crowned, and has remained a prisoner since he abdicated. But now he's growing up, he may wonder why he's the only person in China who may not walk out of his own front door. I think the Emperor is the loneliest boy on Earth.

Magnificamente fotografado por Vittorio Storaro e assombrosamente orquestrado por Ryuichi Sakmoto, David Byrne e Cong Su, a obra mostra-se tecnicamente irrepreensível na direcção artística e no irretocável guarda-roupa. A arte da mise-en-scène é, saliente-se, poderosamente simbólica. Dotado, ainda, de um argumento extraordinariamente bem escrito (com uma carga sócio-política muito forte) e de sólidas prestações (John Lone, Peter O'Toole), eis, deslumbrante, um daqueles triunfos magistrais da História do Cinema que a seu tempo se consagrará, incontornavelmente, como um dos melhores filmes de sempre.


<br>


CINEROAD ©2020 de Roberto Simões