terça-feira, 22 de novembro de 2011

O FANTÁSTICO SENHOR RAPOSO (2009)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: Fantastic Mr. Fox
Realização: Wes Anderson

Filme de Animação

Crítica:

UMA FAMÍLIA À BEIRA
DE UM ATAQUE DE NERVOS

Why a fox? Why not a horse, or a beetle, or a bald eagle? I'm saying this more as, like, existentialism, you know? Who am I? And how can a fox ever be happy without, you'll forgive the expression, a chicken in its teeth?

O Fantástico Senhor Raposo é daqueles filmes dos quais gosto mais hoje do que ontem e dos quais, muito provavelmente, gostarei ainda mais amanhã do que hoje. Todo o cinema de Wes Anderson acaba por ter este efeito curioso em mim, de certa forma. Penso que seja porque tem muito mais substracto do que aparenta, porque mascara na sua comédia nonsense o lado mais trágico da humanidade, mesmo quando envereda pela mais grotesca e inesperada animação, trabalhando a técnica stop motion de forma brilhante, como é o caso.

A narrativa é episódica, cada capítulo tem um título próprio e no centro da história está a família, como não poderia deixar de ser. Disfuncional, quais Tenenbaums ou aqueloutros em viagem a Darjeeling. E se não bastasse o cómico de personagem, brota o cómico a cada situação caricata ou a cada diálogo rápido, descarado, frontal ou profundamente filosófico. Marido, mulher, pai, mãe, filho, primos, amigos, comunidade... todos os papéis sociais são convocados, numa sátira hilariante sobre as relações entre os indivíduos ou sobre os problemas inerentes a qualquer relação. Não deixam de ser notáveis a complexidade e a eficácia com que Wes Anderson concretiza esta moral, recorrendo à fábula, tendo raposas e outros castiços animais como protagonistas da acção, a partir do conto infantil de Roald Dahl. Para isso, o elenco de vozes é, acredito, preponderante: George Clooney, Meryl Streep, Jason Schwartzman, Bill Murray, Willem Dafoe, Owen Wilson, entre outros, emprestam as suas vozes aos bonecos e os mesmos ganham alma e dimensão. Todas as aventuras e desventuras caminham para a redenção, para a aceitação uns dos outros, como se apenas pela união a existência individual e a de conjunto ganhasse sentido e utilidade.

Criar ou formular uma realidade estilizada, ainda para mais 100% animada, e depois apercebermo-nos da arte de a filmar, que apesar de tudo não descura uma só vez as suas potencialidades (narrativas, semânticas, etc.) diz muito sobre o cuidado e a sensibilidade artística deste projecto. O filme maravilha-nos com movimentos metódicos e precisos; todo o cinema de Wes Anderson é bastante geométrico, desde as configurações da mise-en-scène a este olhar iminentemente artístico, que enquadra, ritma e constrói imagens num código e numa linguagem característica (esse método e geometria ecoa também, por exemplo, nos diálogos, escritos a quatro mãos entre o realizador e o habitual parceiro Noah Baumbach).

Nunca demasiadamente infantil, às vezes sagaz, outras vezes ternurento, mas sempre inteligente e sobretudo divertido, O Fantástico Senhor Raposo assegura, pois, hora e meia de grande entretenimento, com uma apropriadíssima banda sonora de Alexandre Desplat. Animação irresistível, que explora a sua técnica nos mais variados registos de forma irrepreensível.

2 comentários:

  1. Esteticamente delicioso e narrativamente inventivo, brindando-nos ainda com personagens carismáticas e bem construídas. Um produto altamente aconselhável no seio da animação, e não só.

    Curiosamente e falando nos Óscares, neste ano para mim tinha ganho The Princess and the Frog, em vez de Up. Ainda assim foi dos melhores anos que vi, com Coraline e este Fantastic Mr. Fox ainda na competição.

    abraço

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  2. JORGE: É realmente um "produto" francamente bom.

    Roberto Simões
    » CINEROAD «

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