★★★★★
Título Original: 1492: Conquest of Paradise
Realização: Ridley Scott
Principais Actores: Gérard Depardieu, Armand Assante, Sigourney Weaver, Loren Dean, Ángela Molina, Fernando Rey, Michael Wincott, Tchéky Karyo, Kevin Dunn, Frank Langella, Mark Margolis, Kario Salem
Crítica:
A CONQUISTA DO PARAÍSO
Paradise and hell both can be earthly.
Em 1992, também Hollywood comemorou os 500 anos da descoberta da América. Num ambicioso e impressionante trabalho de reconstituição histórica, possibilitou-se a viagem no tempo e a homenagem. 1492: Cristóvão Colombo, contudo, passou ao largo das expectativas de meio mundo, que aguardava por mais um filme de acção e aventuras. Em vez disso, Ridley Scott concretizou uma epopeia: hipnotizante, espectacular e arrebatadoramente bela. E como nas clássicas epopeias, recai o protagonismo sobre a voz do poeta: chegando a atingir uma dimensão mística e espiritual, tanto por meio da deslumbrante poesia das imagens como por meio da gloriosa e arrepiante banda sonora de Vangelis, a arte da filmagem revela-se absolutamente magistral em toda a sua técnica, elegância e apurada sensibilidade, num tom marcadamente contemplativo e elegíaco. A realização e a visão únicas do cineasta, quais decisões de montagem, mostram-se imperiais para a essência narrativa do filme, muito mais do que o argumento em si ou do que as performances dos actores. É essa a verdadeira e incompreendida natureza do filme, que se prende, é certo, a fortes compromissos de ordem histórica, mas que pela arte imortaliza toda a humanidade, em todos os seus defeitos e virtudes.
Qualquer filme de Ridley Scott é sempre um assombro visual e 1492 não é excepção. Cada frame é minuciosamente planeado, desde a escolha dos exteriores à construção dos cenários, à riqueza da decoração e à pintura e iluminação do quadro. O perfeccionismo e a sofisticação alastram-se ao guarda-roupa, aos acessórios e aos demais valores de produção. Sobre o ceú vermelho do entardecer, içam-se as velas para ocidente. A partida da expedição do Porto de Palos, enaltecido por cânticos graves e sonantes, consititui um momento extraordinariamente poderoso. Após meses de viagem, desfaz-se a névoa e o mistério. Olhares de espanto e regozijo acolhem o mítico Éden das escrituras, de vegetação abundante... em solene slow motion, passo por passo, Colombo pisa o solo virgem das índias ocidentais e ajoelha-se perante o extenso e sonhado areal. Que cena memorável. A atmosfera do Novo Mundo, em toda a sua variedade de cores e sons, maravilha-nos e invade-nos o inconsciente. A influência de obras como Aguirre, O Aventureiro de Herzog ou A Missão de Joffé é, a meu ver, notória.
Qualquer filme de Ridley Scott é sempre um assombro visual e 1492 não é excepção. Cada frame é minuciosamente planeado, desde a escolha dos exteriores à construção dos cenários, à riqueza da decoração e à pintura e iluminação do quadro. O perfeccionismo e a sofisticação alastram-se ao guarda-roupa, aos acessórios e aos demais valores de produção. Sobre o ceú vermelho do entardecer, içam-se as velas para ocidente. A partida da expedição do Porto de Palos, enaltecido por cânticos graves e sonantes, consititui um momento extraordinariamente poderoso. Após meses de viagem, desfaz-se a névoa e o mistério. Olhares de espanto e regozijo acolhem o mítico Éden das escrituras, de vegetação abundante... em solene slow motion, passo por passo, Colombo pisa o solo virgem das índias ocidentais e ajoelha-se perante o extenso e sonhado areal. Que cena memorável. A atmosfera do Novo Mundo, em toda a sua variedade de cores e sons, maravilha-nos e invade-nos o inconsciente. A influência de obras como Aguirre, O Aventureiro de Herzog ou A Missão de Joffé é, a meu ver, notória.
Perante a pureza da América selvagem, evidencia-se o contraste com a corte espanhola; plena de inveja e intriga, hipocrisia e sede de poder. Longe da civilização e de um Deus inquisidor, o divino em cada folha, em cada árvore, em cada pedra. O Deus na Natureza, a religião nativa. Corrompidos, esses sim, os exploradores da fé perdida condenam o paraíso à má-aventurança e à destruição. Nas poucas cenas de acção, suscitadas pelo motim de Adrián Moxica, a brutalidade e o pior do ser humano. Pelas acções do navegador Cristóvão (Gérard Depardieu, num underacting desarmante), o conhecimento, o respeito e a não-violência. O inconformismo, o empreendorismo, a necessidade de calar as teorias vãs e de comprovar que a terra é redonda e não plana como uma mesa. O desejo da evolução, do progresso das ideias e das mentalidades. Riches don't make a man rich, they only make him busier. Porque seriam impossíveis novas descobertas? Também a conquista de Granada aos mouros se dizia impossível, lembra Colombo à rainha, em vésperas da benção da missão.
Nothing that results from human progress is achieved with unanimous consent. And those who are enlightened before the others are condemned to persue that light in spite of others.
Um triunfo magnífico.
É um belo filme, sem dúvida. Dá para ter uma ideia de toda a glória que Colombo teve da Corte Espanhola e mais tarde a sua desgraça. Se não me engano, algumas cenas deste filme foram filmadas em Portugal.
ResponderEliminarEMANUEL NETO: Estamos inteiramente de acordo. Nas 'filming locations' da página do filme no IMDb não diz nada a esse respeito, desconheço se foi parcialmente filmado em Portugal, julgo que não.
ResponderEliminarRoberto Simões
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