sexta-feira, 8 de outubro de 2010

POR MAIS ALGUNS DÓLARES (1965)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: Per Qualche Dollaro in Più / For a Few Dollars More
Realização: Sergio Leone
Principais Actores: Clint Eastwood, Lee Van Cleef, Gian Maria Volonté, Mara Krupp, Luigi Pistilli, Klaus Kinski, Joseph Egger, Panos Papadopulos, Benito Stefanelli, Roberto Camardiel, Aldo Sambrell, Luis Rodríguez, Tomás Blanco

Crítica:

A CAÇA AO TESOURO

Where life had no value, death, sometimes, had its price.
That is why the bounty killers appeared.

Por Mais Alguns Dólares ainda se mata sem remorso, disparando as balas e eliminando os adversários sem grandes preocupações morais. A preocupação maior é tão-somente o entretenimento, desta vez por meio de uma história bem mais excitante e envolvente do que aquela que Por Um Punhado nos permitia. Sergio Leone aprimora a sua técnica, ainda sem a mestria de câmera que viria a alcançar em O Bom, O Mau e O Vilão e sem aquele tão corrosivo, irreverente e desconcertante humor, capaz de promover as mais espontâneas gargalhadas. Ainda assim, há humor quanto baste neste segundo capítulo da trilogia, momentos de genuína paródia até, que flui sagaz ao ritmo dos tiroteios.

Clint Eastwood (Monco) e Lee Van Cleef (Mortimer) formam uma dupla verdadeiramente apaixonante e cheia de carisma. When two hunters go after the same prey, they usually end up shooting each other in the back. And we don't want to shoot each other in the back. Os dois brilham sob a orquestração inspirada de Leone, que capta nos mais ambiciosos e arriscados close-ups a inteligência sem limites daqueles enigmáticos olhares. El Indio, a personagem de Gian Maria Volonté, é o inimigo perfeito, também ele amoral e adepto das mortes gratuitas, um fora-da-lei sem escrúpulos sedento de ouro e de sangue, dotado de um riso sarcástico e contagiante.

A banda sonora, a cargo de Ennio Morricone, jamais poderá dispensar a mais fervorosa menção. Afinal, o trabalho do compositor é sempre extraordinário e fundamental, ao ponto de ser inimaginável conceber um western spaghetti destes, assinado por Leone, sem a sua tão distinta sonoridade e alma. Destaques imprescindíveis vão também para a luminosa fotografia de Massimo Dallamano ou para a portentosa direcção artística, a cargo de Ángel Cabero, Montoro, Rafael Ferri, Carlo Leva e Carlo Simi. O trabalho de sonoplastia assume por vezes um tom caricatural; nada que não condiga, afinal, com o registo natural da obra.

Há alguns erros crassos e não há porque ignorá-los - talvez o exemplo mais flagrante seja mesmo aquela despedida final em que um cavalga sobre o entardecer e o outro, simultaneamente, conta os mortos em pleno fulgor da tarde - mas o certo é que nos deixamos prender pela trama, pelo candor de cenas como o do tiroteio sobre os chapéus, pela energia e imprevisibilidade crescentes dos sucessivos reencontros daquelas personagens e pela paciente espera que faz esticar o suspense ao limite.

No final, há para os vencedores as tão esperadas recompensas, como sempre, mas para nós, espectadores, fica a recompensa maior que é a sensação e a certeza de termos acabado de assistir, durante pouco mais de duas horas e tão agradavelmente, a um grande filme.

8 comentários:

  1. Boa crítica. E sim em geral estou de acordo, identifico-me, se bem que lá está o equipare mais ao Bom, Mau e Vilão. Mas enfim, um BOM já é um grande filme, por isso não há muito a dizer, compreendo-te.

    Do filme, destaco a aparição pela primeira vez de Lee Van Cleef num Western Spaghetti. Facto que viria a originar tantos e tantos filmes do género com o actor. E realmente percebe-se, o seu ar enigmático, duro e pesado confere-lhe características adequadas para as personagens que povoam estas cidades desertas. Muito boa a sua personagem também aqui.

    A banda sonora é novamente alvo de destaque, assim como a realização de Leone, e a sua preocupação em ir construindo os papéis. El Indio tem uma evolução no filme muito bem feita.

    E assim aproximamo-nos mais do expoente máximo desta trilogia e da carreira de Leone.

    abraço

    ResponderEliminar
  2. Este filme representa um dos grandes momentos do western-spaghetti. Leone pegou no que já tinha feito em POR UM PUNHADO DE DÓLARES e elevou um pouco mais a fasquia. Tornou Lee Van Cleef numa vedeta na Europa e durante muito tempo este foi o filme mais rentável em Itália! O sucesso dos seus 2 primeiros westerns daria a Leone grandes orçamentos para os filmes seguintes!

    ResponderEliminar
  3. JORGE: Obrigado ;) Sim, o "bom" é uma grande classificação. Fazer um "bom" filme não é fácil. Lee Van Cleef tem de facto uma prestação muito carismática.

    EMANUEL NETO: Ora nem mais. Factos.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

    ResponderEliminar
  4. Acho pertinente que refiras a mais valia no trabalho de Massimo Dallamano. O Leone haveria mais tarde de o colocar de parte e Massimo respondeu em grande com um western-spaghetti em nome próprio, BANDIDOS. Recomendo.

    ResponderEliminar
  5. PEDRO PEREIRA: Um trabalho notável, sem dúvida. Fica a sugestão ;)

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD – A Estrada do Cinema «

    ResponderEliminar
  6. A parceria Leone-Clint foi das melhores do cinema. Naturalmente fizeram este excelente filme.

    Cumprimentos

    http://www.comfortamblynumb.blogspot.com/

    ResponderEliminar
  7. DUARTE ALVES: Não tanto, mas um bom filme sem dúvida! ;)

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

    ResponderEliminar
  8. Realmente é um bom filme, tendo o terceiro como o melhor da trilogia. Sendo o primeiro razoavel, o segundo bom e o terceiro ótimo. O que faz para mim essa trilogia ser épica, é que mesmo com algumas falhas (maiores no primeiro filme) há momentos dignos de nota 10, o que poucos filmes alcançam.

    ResponderEliminar

Comente e participe. O seu testemunho enriquece este encontro de opiniões.

Volte sempre e confira as respostas dadas aos seus comentários.

Obrigado.


<br>


CINEROAD ©2020 de Roberto Simões