terça-feira, 19 de outubro de 2010

Breves notas sobre ALEXANDER REVISITED

Oliver Stone, 2007

Pontos negativos:

- Mais do que nunca, aquela primeira narração de Ptolomeu (Anthony Hopkins) surge forçada entre os descontrolados avanços e recuos da narrativa.
- Chega-se a Gaugamela sem um background emocional que sustente a narrativa. Desconhecem-se as razões e os motivos do herói. Desvirtua-se Gaugamela, agora entre o caos da acção/confusão (a necessidade de recorrer a tantas legendas para orientar o espectador é a prova disso) e aquela que era uma das melhores e mais arrebatadores cenas do filme passa agora a uma experiência mais ou menos vazia e sem sabor. Nem a genial banda sonora de Vangelis faz milagres, no que toca a necessidades emocionais.
- A reestruturação não-cronológica (agora muito mais acentuada, do princípio ao fim da obra) prejudica gravemente o filme; não resulta, definitivamente. Da reestruturação provém uma complexidade inútil e infrutífera.
- Também devido à reestruturação não-cronológica o filme perde emoção e carga simbólica e ganha frieza, aproximando-se do relato histórico.
- A maior atenção dada a Bagoas não prejudica propriamente o filme, mas pessoalmente prefiro as dicas subtis da versão original, em que se evidencia quase exclusivamente o amor puro entre Alexandre e Hefaísto.
- A inclusão daquela poderosa cena entre mãe e filho, logo depois daquela apoteótica batalha na Índia, é imperdoável, inadmissível. Qual é o sentido narrativo desta decisão?... É certo que esta versão redistribui Angelina Jolie um pouco por todo o filme, mas não havia necessidade disso.

Pontos positivos:
- A versão alongada da Aula de Aristóteles; contém alguns takes que aprofundam o contexto espacial da cena e o próprio conteúdo dos diálogos é aprofundado.
- A pertinência de incluir a cena do assassinato de Filipe da Macedónia logo a seguir ao perturbante homicídio de Cleitus é finalmente compreensível. Há uma relação, uma comparação possível.
- A carta de Aristóteles: I can only hope that you continue what you began as the boy I knew at twelve. Be that man always, Alexander, and you will not slip. And perhaps you will prove this old materialist, as you always thought me, a dreamer after all.
- O aperfeiçoamento de algumas sequências, como o regresso à Babilónia, no final, ou as mordidelas da águia e da serpente, também no final: takes curtos e quase que imperceptíveis, que aprimoram o resultado final.
- O desfecho da obra, com a narração de Anthony Hopkins, é magnífica. Melhor, muito melhor do que na versão original. Pausada, mais aprofundada, excepcional.

Saldo:
- Sinceramente? Não creio que Alexander Revisited seja a anunciada final cut. Pessoalmente, não considero o filme acabado, pode ser significativamente melhorado. E é sempre tempo para isso.
- Sinceramente? A versão original é muito melhor do que esta. Bastava-lhe trocar a cena inicial por a cena inicial deste Revisited, juntar a Carta de Aristóteles e a nova versão da sua aula, aperfeiçoar a transição da morte de Cleitus para o assassinato de Filipe, aperfeiçoar as sequências que referi nos pontos positivos e dar-lhe aquele final memorável com o Anthony Hopkins do Revisited. Aí sim, cinco estrelas. Como eu adoraria remontar este filme.

Leia a crítica ao filme Alexandre, O Grande, aqui!

19 comentários:

  1. Vou esperar então pela "ultimate cut" :-)

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  2. KING MOB: LOL É provável que venhas a esperar muito tempo. É só uma suposição minha ;)

    Cumps.
    Roberto Simões
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  3. " e aquela que era uma das melhores e mais arrebatadores cenas do filme passa agora a uma experiência mais ou menos vazia e sem sabor"

    "prefiro as dicas subtis da versão original, em que se evidencia quase exclusivamente o amor puro entre Alexandre e Hefaísto."

    Estamos afinal de acordo.
    Quem diria?...

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  4. RUI FRANCISCO PEREIRA: Sim, quem diria. Mas era possível, uma vez que ainda não conhecia a versão do filme. A propósito, já viste entretanto a versão original?

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    Roberto Simões
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  5. Não conhecia nenhuma opinião que comparasse dirctamente estas duas versões.
    Tendo a tua como referência, ainda para mais dizendo que esta versão é pior, será uma proposta a considerar ;)

    Já agora, que nota dás?

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  6. RUI FRANCISCO PEREIRA: O filme preenche os requisitos pelos quais atribuo a classificação BOM. Tem pontos positivos que a versão original não tem e vice-versa. Pessoalmente, prefiro a versão original (sendo que só me falta conhecer a Director's Cut, uma 3ª versão; que, por acaso, surgiu em 2º lugar). Esta Director's Cut tem características que defendo para a versão final, quem sabe se não é essa que preferirei.

    Cumps.
    Roberto Simões
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  7. Essa DC de que falas tem alterações mínimas, segundo sei...
    Foi tão inútil que Stone fez logo a terceira versão, acho.

    Abraço

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  8. RUI FRANCISCO PEREIRA: Precisamente. É de alterações subtis que a versão original precisava, para se aprimorar. Não das alterações drásticas deste REVISITED. É a minha opinião. Obviamente ainda não vi a DC, estou a especular.

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    Roberto Simões
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  9. Eu gosto do filme desde sempre! Claro que falhas, como toda obra de arte, mas me pegou de primeira.

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  10. PEDRO HENRIQUE: A sério? Por acaso gostaria imenso de ler uma crítica sua ao filme.

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    Roberto Simões
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  11. Interessante este seu post, sempre fiquei curioso quando à essa versão do diretor. Desanimei também. Acho a versão original boa, mas tão problemática.

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  12. WALLY: É isso, na versão original os problemas são evidentes, mas ainda assim é um bom filme.

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    Roberto Simões
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  13. Ora bem já o viste...foi difícil mas o processo lá se concretizou. E surpreendes-me, sinceramente, na opinião geral, quando dizes que preferes a versão original a esta. Eu prefiro esta, ainda que não tenha visto tantas vezes a dita versão original e por isso não terei a tua capacidade de comparação.

    Mas do que me lembro, prefiro mesmo esta, acho as linhas narrativas mais dinâmicas, mais articuladas e não tão complexas como dizes. Talvez se aproxime de um registo mais histórico, mas isso parece-me melhor e mais conseguido. Por outro a versão original detinha um registo mais biográfico, mais cronológico, mais linear que esta, que não me identifico tanto. Em suma ao nível da estrutura narrativa prefiro esta última versão.

    Mas é claro, tal como já tinha dito, não melhora a obra para níveis extraordinários, contendo e insistindo nos mesmo erros. Há transições muito pouco conseguidas, essa da mãe e do filho após a guerra é um caso. As cenas com Hefaísto, não me chocando nem me deslumbrando, também me parecem menos conseguidas aqui. Aí prefiro as subtilezas da primeira versão.

    A entrada com a batalha de Gaugamela também não me parece assim tão vazia, acho acima de tudo que funciona diferentemente em relação à versão original. Aqui mostra o herói, expõe a espectacularidade e a acção para o espectador. Honestamente acho que é uma entrada triunfal, talvez com menos dramatismo e relação para com os personagens, mas por outro injecta-nos uma adrenalina, e um início de construção do herói por meio de uma batalha, emocionalmente poderosa. Contudo, acho que te percebo, acabam por ser duas alternativas, para gostos diferentes.

    Não tenho muito mais a dizer, no geral prefiro substancialmente este final cut. E de facto a cena final é magnífica, e Vangelis lá me soa outra vez...:)

    abraço

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  14. É verdade, também não me parece Anthony Hopkins mais incoerente ou mais desajustado, parece-me acima de tudo mais pertinente o seu papel, embora o resultado final não seja satisfatório. De facto o início da narração na babilónia não assenta, em total contradição com o magnífico final.

    Também eu gostaria de poder tocar e produzir outra versão, mais adequada e ajustada, como acontece com tantos outros filmes. Mas este, acima de muitos, sempre gritou por isso.

    abraço

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  15. JORGE: Sem dúvida, mas ainda assim prefiro a original. Penso que a história sai a ganhar com a ordem cronológica. Chegar a Gaugamela sem background é um desperdício, na minha opinião. Gaugamela perde pujança. O filme no seu todo não sai a ganhar com esta versão, no que à ordem dos episódios diz respeito. Que benefícios é que este mosaico traz, sinceramente? ;)

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    Roberto Simões
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  16. Eu vejo mais dinamismo, que traz um certo enigma a ir-se resolvendo progressivamente na cabeça do espectador. Por um lado a epopeia e as conquistas do herói vão sendo mostradas (são muitas) e à medida que o filme avança vamos entendendo melhor as decisões, as motivações e os desejos para tais actos, como que nos vamos surpreendendo. Por outro, temos sucessivamente (por meio desse mosaico) a confrontação directa do que a infância e a adolescência repercutiu no herói, o que fez dele o homem que acompanhamos em tal demanda. Acho a percepção do tempo e da mensagem geral mais conseguida com este mosaico. O puzzle vai captando mais a atenção e de vez em quando somos presenteados com belíssimas articulações e sugestões (embora não seja sempre).

    Isto tudo não quer dizer que esta seja uma versão muito melhor que a original, que por si só já me agrada, é a meu ver um pouco melhor apenas e só.

    abraço

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  17. JORGE: Sim, sim, claro, estou a entender. Penso que é daqueles casos em que temos, simplesmente, opiniões diferentes ;)

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    Roberto Simões
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  18. Oliver Stone passou mais de 10 anos planejando esse filme e foi um desastre. Acho que ele perdeu o rumo ao mostrar tantos lados do guerreiro macedônico. A escalação do elenco foi terrível, nem Anthony Hopkins foi bem.

    Um ponto positivo do filme, foram as cenas de batalhas, grandiosas e bem filmadas. Destaque para a batalha em Gaugamela e na Índia.

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  19. PELÍCULA CRIATIVA: É sabido que não partilho da opinião generalizada sobre o filme, que o considera um "desastre" daqueles. Nem tanto ao mar. Mas é certo que as cenas das batalhas são as mais extraordinárias.

    Cumps.
    Roberto Simões
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