Realização: Ang Lee
Principais Actores: Emma Thompson, Alan Rickman, Kate Winslet, Hugh Grant, Elizabeth Spriggs, Greg Wise, Emilie Francois, Imogen Stubbs, Gemma Jones
Crítica:
O caminho para a felicidade trilha-se no equilíbrio entre a sensibilidade e o bom senso. Veja-se o exemplo de Marianne Dashwood (Kate Winslet, de radioso talento): vive e sente as emoções à flôr da pele, enquanto canta e toca ao piano, enquanto declama a mais erudita e sentimental poesia, quando nos campos chuvosos é recolhida pelo cavaleiro dos seus sonhos... A jovem ignora a prudência e os códigos da sua condição de mulher e entrega-se de corpo e alma à paixão, aos olhos de todos. Já a sua irmã mais velha, Elinor (Emma Thompson, um autêntico portento), é o oposto. Encara o amor com racionalidade, responsabilidade e até mesmo com alguma reserva. Encontrarão elas o amor? Cada uma à sua maneira e a seu tempo. E com as devidas aprendizagens.
O argumento, a adaptação, é um exercício de muito boa escrita, fiel ao espírito e à essência do romance de Jane Austen, às suas personagens e aos seus respectivos dilemas e a todas as suas significações; sinédoques de uma época e de uma tradição cultural muito específica. Ang Lee, na realização, concretiza um triunfo elegante, subtil e extrememente sensível. Também na direcção de actores o chinês revela as suas excepcionais qualidades: não só as interpretações de Winslet e Thompson são absolutamente memoráveis e carismáticas como as de Alan Rickman e Elizabeth Spriggs se destacam; o primeiro como o mal-amado embora dedicadíssimo Coronel Brandon, um autêntico gentleman, e a última como a engraçadíssima Mrs. Jennings. O restante elenco funciona harmoniosamente no todo. Visualmente, Sensibilidade e Bom Senso é ainda um filme encantador. E tal particularidade em muito se deve ao mérito inegável do guarda-roupa (Jenny Beavan, John Bright), dos cenários e decorações (Philip Elton, Andrew Sanders, Ian Whittaker) e da distinta beleza dos exteriores, magnificamente fotografada por Michael Coulter.
Em suma, puro deleite artístico, num grande filme de Ang Lee.
ENTRE A RAZÃO E O CORAÇÃO
Love is not love
which alters when it alteration finds.
Or bends with the remover to remove:
Oh no! It is an ever fixed mark
that looks on tempests and is never shaken.
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Oh no! It is an ever fixed mark
that looks on tempests and is never shaken.
Shakesperare, Soneto 116
O caminho para a felicidade trilha-se no equilíbrio entre a sensibilidade e o bom senso. Veja-se o exemplo de Marianne Dashwood (Kate Winslet, de radioso talento): vive e sente as emoções à flôr da pele, enquanto canta e toca ao piano, enquanto declama a mais erudita e sentimental poesia, quando nos campos chuvosos é recolhida pelo cavaleiro dos seus sonhos... A jovem ignora a prudência e os códigos da sua condição de mulher e entrega-se de corpo e alma à paixão, aos olhos de todos. Já a sua irmã mais velha, Elinor (Emma Thompson, um autêntico portento), é o oposto. Encara o amor com racionalidade, responsabilidade e até mesmo com alguma reserva. Encontrarão elas o amor? Cada uma à sua maneira e a seu tempo. E com as devidas aprendizagens.
O argumento, a adaptação, é um exercício de muito boa escrita, fiel ao espírito e à essência do romance de Jane Austen, às suas personagens e aos seus respectivos dilemas e a todas as suas significações; sinédoques de uma época e de uma tradição cultural muito específica. Ang Lee, na realização, concretiza um triunfo elegante, subtil e extrememente sensível. Também na direcção de actores o chinês revela as suas excepcionais qualidades: não só as interpretações de Winslet e Thompson são absolutamente memoráveis e carismáticas como as de Alan Rickman e Elizabeth Spriggs se destacam; o primeiro como o mal-amado embora dedicadíssimo Coronel Brandon, um autêntico gentleman, e a última como a engraçadíssima Mrs. Jennings. O restante elenco funciona harmoniosamente no todo. Visualmente, Sensibilidade e Bom Senso é ainda um filme encantador. E tal particularidade em muito se deve ao mérito inegável do guarda-roupa (Jenny Beavan, John Bright), dos cenários e decorações (Philip Elton, Andrew Sanders, Ian Whittaker) e da distinta beleza dos exteriores, magnificamente fotografada por Michael Coulter.
Em suma, puro deleite artístico, num grande filme de Ang Lee.
Um argumento a puxar para o saturado e desinteressante, contudo, uma realização inspirada (mas pouco arriscada) e interpretações exemplares, Sensibilidade e Bom Senso é uma pequena desilução.
ResponderEliminarAbraço
Adoro este filme, certamente um de meus romances preferidos. A sensibilidade da direção, a consistência do roteiro, o elenco maravilhoso...
ResponderEliminarJACKSON: Não concordo que seja uma desilusão. Quer dizer, para ti tê-la-á sido eventualmente. Mas no seu todo, não creio que saiba a desilusão. Muito pelo contrário. A realização é de facto inspirada. Podia ter sido mais ousada, mas serviu magnificamente, e a meu ver, os propósitos da trama. Gostei bastante do argumento e, tal como tu, das interpretações.
ResponderEliminarWALLY: Sim, estou de acordo. O argumento é bem consistente, bem desenvolvido. Gostei bastante do filme.
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Uma trapalhada, a meu ver. Achei o livro em que se inspira bastante superior, mais complexo em termos de construção de personagens e, claro, não se tratasse de algo que Jane Austen escreveu, mais profundo no que diz respeito à forma de pensar e de agir das pessoas da época em que viveu e não só; o argumento do filme, por seu lado, parece um rascunho do livro.
ResponderEliminarBom, a mensagem do livro está lá, é certo, mas perdeu-se a essência de várias personagens (e, vivendo a história muito delas, e do seu desenvolvimento, consequentemente, da trama). A Mrs. Jennings literária, personagem hilariante mas nunca uma caricatura, sempre bem intencionada, está aqui muito mal representada. Mr. Palmer, de quem a autora se serve para fazer uma crítica ao comportamento estóico e de indiferença que se julgava dever ser cultivado, quase nem merece referência. A Marianne do livro cativou-me muito mais, mas isto talvez se deva ao facto de eu não ter conseguido deixar de pensar que Emma Thompson (de que, geralmente, gosto bastante) estava com uns 36 anos a interpretar uma personagem de 17. Isto não seria grave, nem é tão incomum quanto isso, mas dado que Kate Winslet tinha a idade apropriada para interpretar a personagem e as duas irmãs fictícias não têm mais de 3 anos - se bem me lembro- de diferença de idade, foi-me impossível desviar desse aspecto. Não falo do Edward Ferrars, interpretado pelo Hugh Grant, que ele já no livro é uma personagem pouco memorável. Só Marianne, interpretada pela sempre excelente Kate Winslet, é que se salva, tendo sido para mim, no filme, o único atractivo.
Falando agora somente do filme... bom, não me parece que, como objecto independente, seja digno de grandes louvores. A realização de Ang Lee não me surpreendeu (ou, melhor dito, surpreendeu, mas pela negativa, pois esperava melhor), e a história está demasiado desengonçada para perdurar na memória. As interpretações estão competentes, mas só Kate Winslet merece sinceros elogios da minha parte.
"Orgulho e Preconceito", de Joe Wright, é um filme muito melhor concebido. Aguenta-se firme, como objecto independente, e consegue ser fiel ao livro, respeitando assim as suas raízes. O cenário, no filme de Wright, é captado com uma sensibilidade que torna todo o seu bucolismo absolutamente irresistível; em "Sensibilidade e Bom Senso", à excepção de um ou outro detalhe, dificilmente poderia dizer o mesmo. Uma (grande, grande) desilusão.
AMO este filme! A direção de Ang Lee é muito competente nas tomadas e conta bem o que Jane Austen quis passar em sua história. ;)
ResponderEliminarRÚBEN GONÇALVES: Bem-vindo ao CINEROAD! Fico contente pela visita. Espero ver-te por aqui mais vezes e parabéns pela excelência dos teus textos n'O Sétimo Continente.
ResponderEliminarQuanto ao filme, não achei trapalhada nenhuma. A perspectiva de analisar um filme em comparação com o livro no qual se baseou é possível, digna e muito interessante. Os estudos comparativos são sempre muito pertinentes e reveladores.
Na verdade, é como "objecto independente", com o seu universo próprio, que o filme me interessa. Mesmo assim não resististe à comparação, desta vez com um filme de Joe Wright (que, também na minha opinião, é um título superior).
Contudo, não posso desvirtuar as qualidades próprias do título de Ang Lee tendo em conta as expectativas em relação a uma adaptação e a comparação com uma outra adaptação. Destaca-se, claro, a performance de Kate Winslet. Mas vejo no filme muito mais do que essa interpretação. E não concordo que a história esteja "desengonçada". Enfim, estamos em desacordo.
Volta sempre!
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Olá Roberto. Bom, eu sou um visitante preguiçoso, porque costumo ler mas raramente comento.
ResponderEliminarObrigado pelo elogio inicial e pelas sugestões no Sétimo Continente relativamente a Platão.
Quanto a "Sensibilidade...", estamos em desacordo, sim, mas nada de insólito ou de invulgar. Parabéns pelo espaço.