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Título  Original: My Own Private IdahoRealização: Gus Van Sant
Principais Actores:  River Phoenix, Keanu Reeves, William Richert, James Russo, Flea, Grace Zabriskie, Udo Kier, Rodney Harvey, Chiara Caselli, Michael Parker, Jessie Thomas, Sally Curtice
Crítica:
I'm a connoisseur of roads.
I've been tasting roads my whole life.
I've been tasting roads my whole life.
A ESTRADA
This road will never end. 
It probably goes all around the world.
It probably goes all around the world.
A Caminho de Idaho,  visionária pérola de Gus Van Sant, situa-se algures entre a Perfeição e  a Imperfeição. Tal como a vida de todos nós. Formalmente, é de difícil  classificação: é um road movie (o seu tema é a estrada) com claras influências do western  (a paisagem, a fogueira, as pistolas), é uma constante encenação de  Shakespeare pelas ruas de Portland, embebida em melancolia, e, ao mesmo  tempo, uma excepcional experiência avant-garde. A obra explora também a ambivalência sexual, mas o tratamento do amor universal é, porventura, um dos maiores feitos.  Mike ama Scott e o que temos é um amor não correspondido entre duas pessoas, independentemente dos seus sexos. A dada altura, tanto Mike  como Scott seguem o seu caminho, tomando as suas escolhas... e é  interessante perceber como Gus Van Sant jamais se mostra tendencioso ou  moralista; o sua arte fala por si só e de que maneira.
Viver passa por um inevitável ritual de auto-descoberta, por meio do qual encontramos o nosso lugar no mundo. À partida, esse caminho é mais fácil quando conhecemos e compreendemos o nosso passado, as nossas origens: esse factor dá-nos a estabilidade emocional essencial para a formação das nossas personalidade e identidade. Porém, os jovens de Gus Van Sant provêm de famílias disfuncionais, por algum motivo destruídas, e vêem-se sozinhos na estrada - sem saber ao certo de onde vêm e para onde vão. Estão desorientados, perdidos, alienados e... indefinidos. Mike, por exemplo, tenta reencontrar o amor da mãe (e reencontrar, desse modo, as suas origens) e encontrar o amor por alguém no seu dia-a-dia; quiçá por Scott, o seu melhor amigo:
Mike: We're good friends, and that's good to be, you know, good friends. That's a good thing. (...) That's okay. We're going to be friends.
Scott: I only have sex with a guy for money.
Mike: Yeah, I know, I mean...
Scott: And two guys can't love each other.
Mike: Yeah. Well, I-I don't know, I mean, I mean for me, I could love someone even if I, you know, wasn't paid for it. I love you, and... you don't pay me. (...) I really wanna kiss you, man. [pausa] Well goodnight man. [pausa] I love you, though. [pausa] You know that. I do love you.
Scott: I only have sex with a guy for money.
Mike: Yeah, I know, I mean...
Scott: And two guys can't love each other.
Mike: Yeah. Well, I-I don't know, I mean, I mean for me, I could love someone even if I, you know, wasn't paid for it. I love you, and... you don't pay me. (...) I really wanna kiss you, man. [pausa] Well goodnight man. [pausa] I love you, though. [pausa] You know that. I do love you.
As performances são absolutamente excepcionais.  Os ritmos  da narcolepsia de Mike marcam, tantas vezes, a própria  cadência do  filme... River Phoenix entrega-se de corpo e alma ao papel  da sua (infelizmente curta) vida e mostra-se  totalmente entrosado na personagem. Emana fascínio e inspiração...   Brilhante! William Richert tem um desempenho formidável e Keanu Reeves,   cujo talento raramente aprecio, revela-se assaz competente.
Tecnicamente, estamos perante um filme arrojado e irrepreensível. Os time-lapses marcam  imediatamente o tom e o ambiente poético, assim como as muitas outras  passagens líricas, sempre magnificamente fotografadas por John Campbell e  Eric A. Edwards e extraordinariamente montadas por Curtiss Clayton. O  orgasmo de Mike, por exemplo, é de nos deixar abismados e sem palavras;  tal é a beleza, o simbolismo e a carga emocional daquele único e tão  curto take. Então e a forma  como Gus filma o sexo? Montagem rápida, planos estáticos mas em tempo  real e com grande poder sugestivo. A confluência estética da obra não se  fica por aqui: notem-se os diferentes tipos de filmagem, por exemplo,  nas memórias de Mike. Ou a cena das capas de revista na loja de  pornografia. Ou as entrevistas tipo-documentário a prostitutos reais,  incorporadas no filme como se da diegese ficcional fizessem parte. A  banda sonora é igualmente eclética e confunde-se perfeitamente com a natureza criativa da obra. Enfim, um todo completamente fascinante.
Sem dúvida: um dos melhores filmes dos anos 90 e um dos melhores filmes de Gus Van Sant. Uma sublime e obrigatória obra de arte.
Have a nice day.

No plano argumentativo, este filme de Gus van Sant é dos melhores e dos mais genuínos e nota-se, mais sentidos. No plano técnico é genial, cheio de metáforas, de belíssimos planos. É um filme muito poético.
ResponderEliminarMal posso esperar para ver!
ResponderEliminarTIAGO RAMOS: Completamente de acordo. Genuíno, fabuloso, poético e belíssimo.
ResponderEliminarJACKSON: A cada dia que passa sem o veres, nem sabes o que perdes!
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema