★★★★★
Título Original: DollsRealização: Takeshi Kitano
Principais Actores: Miho Kanno, Hidetoshi Nishijima, Tatsuya Mihashi, Chieko Matsubara, Kyôko Fukada, Tsutomu Takeshige, Nao Omori, Hawking Aoyama, Yuuko Daike, Ren Osugi, Kayoko Kishimoto
Crítica:
O INVERNO DO AMOR
Dolls é um filme profundamente cruel, tanto para as suas personagens como para o espectador. Kitano filma o amor em tons de tragédia, conduzindo as suas personagens para o abismo, qual manipulador de marionetas do Bunkaru. O teatro tradicional japonês e as suas desgraçadas histórias são o ponto de partida, a assumida fonte de inspiração para o mosaico que, engenhosamente, se comporá. No Bunkaru, aliás, é filmado o prólogo, mais a jeito de epígrafe, com que o filme abre; o que não deixa de ser insólito. É desmascarada, de forma mais do que evidente, a artificialidade da representação, inaugurando linhas de sentido que serão sustentadas ao longo de toda a obra. As personagens são a concretização plena da mimesis. Os actores personificam o momento em que os bonecos ganham vida. O cineasta está escondido, mas decidirá sempre o destino das suas marionetas.
Dolls é, provavelmente, o filme mais belo de Kitano. Refiro-me ao lirismo visual almejado e por demais alcançado, à poética construção da imagem que se impõe. Essencial, para o efeito, o jogo simbólico de cores fortes, em especial do vermelho. O vermelho que é amor e sangue, no cordão que liga os dois vagabundos e no vestido da eterna espera. Há vários aspectos notáveis e intensamente significantes: a fotografia de Katsumi Yanagijima (multiplicam-se as imagens memoráveis, de encantos vários), a montagem (a cargo do próprio realizador, com sobreposições poderosíssimas) e a banda-sonora (do lendário Joe Hisaishi, que amplifica a dimensão humana e intimista de todo o retrato). São muitas, as cenas que nos conquistam pela sua simplicidade (seja somente pelo enquadramento ou pela expressividade ou inexpressividade dos elementos cénicos), mas todas elas nos imbuem na essência sentimental e entristecedora da obra. O casal Sawako e Matsumoto, pela sua singularidade e simbolismo, merecerão com certeza um lugar de destaque entre os mais icónicos pares românticos da História do Cinema.
O amor resiste ao tempo? Um sopro de melancolia estremece cada amante e percorre cada história. Os fios enleiam-se, mas a borboleta está partida, o coração despedaçado, o destino irreversível e irremediável. Desolador em todos os silêncios, no vazio e na impossibilidade das uniões, Dolls atinge-nos como uma experiência desarmante e contemplativa, plena de romantismo. A câmera, graciosa no movimento, conduz-nos o olhar para a cegueira, para a solidão a que se entregam aquelas almas. O amor de Kitano atravessa as quatro estações, mas é no Inverno, sempre mais rigoroso, que é conhecido o fim. É paradoxal, que a esperança mova aqueles fantasmas, quando não têm futuro. É neste paradoxo que reside a tragédia.
Dolls é, provavelmente, o filme mais belo de Kitano. Refiro-me ao lirismo visual almejado e por demais alcançado, à poética construção da imagem que se impõe. Essencial, para o efeito, o jogo simbólico de cores fortes, em especial do vermelho. O vermelho que é amor e sangue, no cordão que liga os dois vagabundos e no vestido da eterna espera. Há vários aspectos notáveis e intensamente significantes: a fotografia de Katsumi Yanagijima (multiplicam-se as imagens memoráveis, de encantos vários), a montagem (a cargo do próprio realizador, com sobreposições poderosíssimas) e a banda-sonora (do lendário Joe Hisaishi, que amplifica a dimensão humana e intimista de todo o retrato). São muitas, as cenas que nos conquistam pela sua simplicidade (seja somente pelo enquadramento ou pela expressividade ou inexpressividade dos elementos cénicos), mas todas elas nos imbuem na essência sentimental e entristecedora da obra. O casal Sawako e Matsumoto, pela sua singularidade e simbolismo, merecerão com certeza um lugar de destaque entre os mais icónicos pares românticos da História do Cinema.
O amor resiste ao tempo? Um sopro de melancolia estremece cada amante e percorre cada história. Os fios enleiam-se, mas a borboleta está partida, o coração despedaçado, o destino irreversível e irremediável. Desolador em todos os silêncios, no vazio e na impossibilidade das uniões, Dolls atinge-nos como uma experiência desarmante e contemplativa, plena de romantismo. A câmera, graciosa no movimento, conduz-nos o olhar para a cegueira, para a solidão a que se entregam aquelas almas. O amor de Kitano atravessa as quatro estações, mas é no Inverno, sempre mais rigoroso, que é conhecido o fim. É paradoxal, que a esperança mova aqueles fantasmas, quando não têm futuro. É neste paradoxo que reside a tragédia.
Grande filme.
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