sábado, 17 de agosto de 2013

A PAIXÃO DOS FORTES (1946)

 PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: My Darling Clementine
Realização: John Ford
Principais Actores: Henry Fonda, Linda Darnell, Victor Mature, Cathy Downs, Walter Brennan, Tim Holt, Ward Bond

Crítica:

A VINGANÇA DE WYATT EARP

Maybe when we leave this country young kids like you
 will be able to grow up and live safe.

Wyatt Earp, por John Ford. Mais a lenda, não tanto a história, daquela mítica figura que o próprio cineasta conheceu pessoalmente em 1927 e que Henry Fonda interpreta, formidavelmente. Mais um homem do oeste - sequeoso de vingança e de justiça, mas mais brando nos costumes e no trato, muito menos bruto e grosseiro certamente, e que finalmente alia o charme natural ao cuidado com a apresentação.

Clementine: I love your town in the morning, Marshal. The air is so clean and clear... the scent of the desert flower.
Wyatt Earp: That's me... barber. 

Após o misterioso assassinato do irmão, num intervalo à travessia do gado pela empoeirada imensidão da paisagem rumo à Califórnia, Tombstone torna-se o lugar para um novo começo. Earp deixa a sua existência errante e assume responsabilidade civil como xerife. É então que My Darling Clementine abranda o seu principal fio narrativo - a vingança - e se demora na crónica de costumes, no retrato histórico, na invocação nostálgica de um passado perdido; muito ao estilo do que faria Hawks, também, mais tarde, de set em set, em Rio Bravo. Após densos ou bem humorados diálogos e alguns tiros esporádicos - na barbearia, na pensão ou no alpendre - a acção retorna a Tombstone - precisamente, com a fuga do alcoolizado, tísico e enigmático Doc (Victor Mature). E quando o faz, fá-lo de forma explosiva e absolutamente electrizante, até ao final. Puro entretenimento. A fotografia de Joseph MacDonald toma-nos de assombro, glorificando o céu, as nuvens e as rochas, transpirando, a cada frame, uma beleza de cortar a respiração.

Também o romance marca presença, nesta narrativa de múltiplos registos que é My Darling Clementine. A figura feminina - representada de duas formas opostas pelas personagens de Chihuahua (Linda Darnell, a prostituta, mulher de recreio) e de Clementine (Cathy Downs, professora, a mulher para casar) - partilha e distrai as atenções dos homens do ódio que os corrói no dia-a-dia. Clementine, ao qual o título (por sua vez oriundo da canção popular) faz menção, simboliza a esperança e a redenção do homem do oeste a uma fórmula mais pacífica e romantizada do herói. Afinal, também há lugar para a doçura e para o amor no coração e na vida de um homem duro.

Embora a construção narrativa não esteja tão magnificamente esculpida quanto a composição dos planos, muito menos quando comparada, obviamente, à imponência silenciadora de Monumment Valley - encontramo-nos perante um western enérgico e incontestavelmente prazeroso e valoroso. A salientar, obrigatoriamente, que a versão final que chegou aos cinemas de todo o mundo beneficiou (ou sofreu?) de cortes por parte de Zanuck, da Fox, que achara a versão de Ford demasiado demorada e cansativa. Há uma versão do realizador, seis minutos mais longa, mas não definitiva.

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