sexta-feira, 16 de agosto de 2013

DRIVE - RISCO DUPLO (2011)

PONTUAÇÃO: BOM
★★★★
Título Original: Drive
Realização: Nicolas Winding Refn
Principais Actores: Ryan Gosling, Carey Mulligan, Bryan Cranston, Albert Brooks, Oscar Isaac, Christina Hendricks, Ron Perlman

Crítica:

O ESCORPIÃO SOLITÁRIO


I drive.

Em Drive, sob a assinatura formal - esmerada e entusiasmante - de Refn, Ryan Gosling interpreta uma personagem solitária, enigmática e, até certo ponto, impenetrável. Sensivelmente a meio do filme, apaixona-se pela doce, bela e vulnerável vizinha Irene (Carey Mulligan) e até a esse ponto já desenvolvemos para com ele uma inexplicável empatia sem que, no entanto, o conheçamos minimamente, saibamos o que esperar dele ou especulemos sobre as suas razões de viver. É um ser incuravelmente introspectivo (o porquê nunca chegaremos a descobrir), pouco fala e a sua expressão ou olhar pouco revelam. Sabemos que ele é Driver e ponto final. A sua existência resume-se a conduzir, seja como duplo na indústria cinematográfica ou como mecânico durante o dia ou como motorista do crime, quando a noite cai. Contudo, devemos suspeitar de uma pessoa assim; pelo menos é o que nos vem comprovar a segunda parte do filme.

If I drive for you, you get your money. You tell me where we start, where we're going, where we're going afterwards.
 I give you five minutes when we get there. Anything happens in that five minutes and I'm yours. No matter what. Anything a minute on either side of that and you're on your own. 
I don't sit in while you're running it down. I don't carry a gun. I drive.

Regressado da prisão mas não do perigoso e imprevisível mundo do crime, Standard (Oscar Isaac), o marido de Irene, coloca a vida da mulher e do filho à mercê da máfia. A esta altura, já Driver está por demais envolvido ambos e, sentindo-se na obrigação de os salvar, custe o que custar, revelará uma face de si mesmo não só violenta como brutalmente chocante, que até então desconhecíamos. Driver faz sempre o que tem a fazer sem perguntar nada a ninguém, como se o seu instinto ditasse o que está certo e errado - e é isso que é mais assustador. Nunca chega a haver uma conversa com Irene sobre o que ele vai ou não fazer ou deve ou não fazer para os proteger, a ela e ao filho. A sua figura perde-se ou ganha-se entre o herói de acção (pelo qual esperávamos desde o começo, pela invocação do género) e o homem comum (sobre o qual se precipita, fatalmente, a tragédia). Refn reforça este volte-face no estilo, de sempre apurada elegância: a contenção dá lugar a explosões de sangue, o pulsar do coração acelera e os níveis de adrenalina também. As perseguições tornam-se para lá de empolgantes, numa Los Angeles mágica e deslumbrantemente fotografada e iluminada por Newton Thomas Sigel; pulmão do filme. Michael Mann vem-nos logo à ideia, a propósito. A cidade e a noite. A montagem de Matthew Newman mede, a duas velocidades, o tempo e a pulsação entre as cenas mais paradas e demoradas e as mais alucinantes.

É absolutamente vertiginosa, pois, a inesperada corrida para que Refn nos lança, sem redes de segurança ou de protecção. As canções e os excelentes momentos musicais que se proporcionam aquecem-nos o sangue, inicialmente, para depois um certo realismo visceral no-lo gelar, nos golpes mais selvagens. Que frieza percorre as veias da narrativa, como se o calor de um beijo ou um gesto de ternura estivessem premeditadamente condenados. Se há vazio em Drive, será provavelmente na falta de dimensionalidade das personagens, às tantas peões do estilo obsessivo do cineasta: não há espaço, afinal, para o conflito moral, apenas avançamos de acção em acção sem grande tempo para reflexões. É mais como um murro no estômago, não tanto um murro no cérebro. Mas lá que nos electriza nos meandros despudorados e tão bem filmados do seu neo-noir, lá disso não tenhamos dúvidas.

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