★★★★★
Título Original: The Hobbit: An Unexpected Journey
Realização: Peter Jackson
Principais Actores: Martin Freeman, Ian McKellen, Richard Armitage, Ken Stott, Graham McTavish, William Kircher, Cate Blanchett, Elijah Wood, Hugo Weaving, Christopher Lee, Andy Serkis
Versão Alargada
Crítica:
A PRIMEIRA AVENTURA
In a hole in a ground, there lived a hobbit.
O Hobbit - Uma Viagem Inesperada marca o regresso à alta fantasia e ao maravilhoso universo da Terra
Média, criado por Tolkien e recriado e imortalizado no cinema por Peter Jackson. É a tão
aguardada prequela à incontornável trilogia O Senhor dos Anéis, dividida igualmente em três partes, embora desta feita a partir de um livro apenas. All good stories deserve embellishment, dir-nos-á Jackson pela voz de Gandalf, às tantas, e queremos acreditar que é o caso. Afinal, o vasto imaginário de Tolkien (entre livros publicados, apêndices e anotações) constitui uma reluzente mina de ouro, somente equiparável, porventura, às imensas galerias de tesouros de Erebor.
Este primeiro tomo assemelha-se muito e não por acaso, na sua estrutura narrativa, à saudosa Irmandade do Anel. Abre no Shire verdejante - Howard Shore apronta-se a convocar a nostalgia, pelo arranjo melódico - no preciso dia em que abre O Senhor dos Anéis. Bilbo Baggins inicia os escritos e a narração no Fundo do Saco, na data do seu aniversário. Frodo parte para a floresta, onde esperará por Gandalf. Estabelece-se pois, perfeitamente, a ponte para a saga já existente. Posicionados que estamos na epopeia, conscientes do espaço e do tempo (seja ele o passado do Reino dos Anões, o futuro da Terra Média que já tão bem conhecemos ou o presente da narração), viajamos sessenta anos atrás e aí nos manteremos. O Bilbo de Ian Holm dá lugar ao Bilbo de Martin Freeman. E a aventura começa: contratado como assaltante e herói improvável, o desconfiado hobbit parte na companhia do feiticeiro cinzento e de uma companhia de treze inusitados mas guerreiros anões - Thorin, Balin, Dwalin, Fili, Kili, Dori, Nori, Ori, Óin, Glóin, Bifur, Bofur e Bombur - numa arriscada viagem que mudará, para sempre, a sua vida e o destino da Terra Média. Num permanente e absorvente road movie, sempre de um local para o outro - e cada um mais deslumbrante do que o anterior, com paragem obrigatória em Rivendell - avançam rumo à Montanha Solitária, onde esperam defrontar o temível dragão Smaug, senhor das infindáveis riquezas de Thrór, e recuperar, por fim, o lar dos anões. Após a introdução, necessariamente mais demorada, a história mantém-se genericamente fluída.
Martin Freeman compõe um hobbit memorável, em todos os seus trejeitos e riqueza de carácter, numa junventude credível para o Bilbo de Ian Holm. What... have I got... in my pocket? Note-se como o hobbit pleno de dúvidas, receios e fraquezas do início dá lugar, progressivamente, a um ser cada vez mais engenhoso e corajoso. Ian McKellen torna ao seu carismático e eloquente Gandalf, intenso em cada olhar e com a voz sempre tão bem colocada. Richard Armitage e o seu Thorin Escudo-de-Carvalho recupera, de certa forma, o halo do Aragorn de Viggo Mortensen. Herdeiro do trono, espera-se igualmente o regresso do rei, embora Thorin mostre sempre algum desprezo para com Bilbo ou, encoberto ou descoberto pela sua liderança, alguma sede de poder. Ostenta, claramente, uma dualidade na personalidade que Aragorn, mais sábio e ponderado, jamais ostentou (ou ostentará, diegeticamente falando). Como é bom rever Elijah Wood, Cat Blanchett, Hugo Weaving e Christopher Lee nas suas extraordinárias personagens, para sempre suas. Ainda no elenco, a destacar Radagast (Sylvester McCoy), o Castanho, mago da natureza, personagem caricata quanto baste, quando muito não seja pelo seu ninho defecado debaixo do chapéu, sempre tão cheio de vida, ou pelos seus olhos pedrados, sempre tão afectados pelos efeitos alucinogénicos dos cogumelos.
Como não podia deixar de ser, O Hobbit, revela-se-nos um espectáculo visual e tanto. O primor, o detalhe e a sofisticação da direcção artística (Dan Hennah, Ra Vincent e Simon Bright) é, em todos os cenários, um verdadeiro assombro, aliando-se à beleza estonteante e hipnótica da fotografia de Andrew Lesnie e aos prodigiosos efeitos digitais da Weta Digital. Os wargs serão, porventura, o calcanhar de Aquiles da equipa de efeitos especiais, pela pouca autenticidade alcançada, mas a sua presença nunca chega a ser dominante o suficiente para pôr o filme em causa. Mais uma vez, o deslumbramento contínuo e a cada fotograma passa inevitavelmente pela beleza natural da Nova Zelândia, onde decorreram as filmagens. A caracterização (pela equipa de Peter King) assume-se como um trabalho absolutamente portentoso; vejam-se, por exemplo, os looks que diferenciam cada um dos anões - em si, um feito verdadeiramente épico. O tom do filme, até pelo carácter infantil do conto, é muito mais cómico e desafogado do que o d'O Senhor dos Anéis e o grupo de anões que entra porta adentro e se instala em casa de Bilbo não deixa margem para dúvidas. Note-se a sequência do jantar, entre cânticos alegres e pratos voadores, que é simplesmente hilariante. Há ainda vários momentos musicais, a pontuar e a enriquecer a narrativa (na versão alargada, até o Rei dos Goblins tem um momento surpreendente).
Este primeiro tomo assemelha-se muito e não por acaso, na sua estrutura narrativa, à saudosa Irmandade do Anel. Abre no Shire verdejante - Howard Shore apronta-se a convocar a nostalgia, pelo arranjo melódico - no preciso dia em que abre O Senhor dos Anéis. Bilbo Baggins inicia os escritos e a narração no Fundo do Saco, na data do seu aniversário. Frodo parte para a floresta, onde esperará por Gandalf. Estabelece-se pois, perfeitamente, a ponte para a saga já existente. Posicionados que estamos na epopeia, conscientes do espaço e do tempo (seja ele o passado do Reino dos Anões, o futuro da Terra Média que já tão bem conhecemos ou o presente da narração), viajamos sessenta anos atrás e aí nos manteremos. O Bilbo de Ian Holm dá lugar ao Bilbo de Martin Freeman. E a aventura começa: contratado como assaltante e herói improvável, o desconfiado hobbit parte na companhia do feiticeiro cinzento e de uma companhia de treze inusitados mas guerreiros anões - Thorin, Balin, Dwalin, Fili, Kili, Dori, Nori, Ori, Óin, Glóin, Bifur, Bofur e Bombur - numa arriscada viagem que mudará, para sempre, a sua vida e o destino da Terra Média. Num permanente e absorvente road movie, sempre de um local para o outro - e cada um mais deslumbrante do que o anterior, com paragem obrigatória em Rivendell - avançam rumo à Montanha Solitária, onde esperam defrontar o temível dragão Smaug, senhor das infindáveis riquezas de Thrór, e recuperar, por fim, o lar dos anões. Após a introdução, necessariamente mais demorada, a história mantém-se genericamente fluída.
Martin Freeman compõe um hobbit memorável, em todos os seus trejeitos e riqueza de carácter, numa junventude credível para o Bilbo de Ian Holm. What... have I got... in my pocket? Note-se como o hobbit pleno de dúvidas, receios e fraquezas do início dá lugar, progressivamente, a um ser cada vez mais engenhoso e corajoso. Ian McKellen torna ao seu carismático e eloquente Gandalf, intenso em cada olhar e com a voz sempre tão bem colocada. Richard Armitage e o seu Thorin Escudo-de-Carvalho recupera, de certa forma, o halo do Aragorn de Viggo Mortensen. Herdeiro do trono, espera-se igualmente o regresso do rei, embora Thorin mostre sempre algum desprezo para com Bilbo ou, encoberto ou descoberto pela sua liderança, alguma sede de poder. Ostenta, claramente, uma dualidade na personalidade que Aragorn, mais sábio e ponderado, jamais ostentou (ou ostentará, diegeticamente falando). Como é bom rever Elijah Wood, Cat Blanchett, Hugo Weaving e Christopher Lee nas suas extraordinárias personagens, para sempre suas. Ainda no elenco, a destacar Radagast (Sylvester McCoy), o Castanho, mago da natureza, personagem caricata quanto baste, quando muito não seja pelo seu ninho defecado debaixo do chapéu, sempre tão cheio de vida, ou pelos seus olhos pedrados, sempre tão afectados pelos efeitos alucinogénicos dos cogumelos.
Como não podia deixar de ser, O Hobbit, revela-se-nos um espectáculo visual e tanto. O primor, o detalhe e a sofisticação da direcção artística (Dan Hennah, Ra Vincent e Simon Bright) é, em todos os cenários, um verdadeiro assombro, aliando-se à beleza estonteante e hipnótica da fotografia de Andrew Lesnie e aos prodigiosos efeitos digitais da Weta Digital. Os wargs serão, porventura, o calcanhar de Aquiles da equipa de efeitos especiais, pela pouca autenticidade alcançada, mas a sua presença nunca chega a ser dominante o suficiente para pôr o filme em causa. Mais uma vez, o deslumbramento contínuo e a cada fotograma passa inevitavelmente pela beleza natural da Nova Zelândia, onde decorreram as filmagens. A caracterização (pela equipa de Peter King) assume-se como um trabalho absolutamente portentoso; vejam-se, por exemplo, os looks que diferenciam cada um dos anões - em si, um feito verdadeiramente épico. O tom do filme, até pelo carácter infantil do conto, é muito mais cómico e desafogado do que o d'O Senhor dos Anéis e o grupo de anões que entra porta adentro e se instala em casa de Bilbo não deixa margem para dúvidas. Note-se a sequência do jantar, entre cânticos alegres e pratos voadores, que é simplesmente hilariante. Há ainda vários momentos musicais, a pontuar e a enriquecer a narrativa (na versão alargada, até o Rei dos Goblins tem um momento surpreendente).
O sentido de Jackson para o espectáculo, para a construção de ambiciosas e empolgantes cenas de acção non-stop, a grande escala e a grande velocidade, jamais pára de nos surpreender. É preciso muito engenho e criatividade para tamanhas coreografias - inclusive da câmera. O confronto com os trolls ou a luta entre os Gigantes de Pedra resultam em cenas de vibrante entretenimento, mas o que dizer da colossal montanha russa de emoções que nos está reservada para os confins das Montanhas Sombrias, repletas de goblins? Os nossos heróis escapam aos perigos, uma e outra vez; talvez os sintamos demasiado invencíveis, por vezes, mas o que assistimos é tão cool que perdoamos o atrevimento. O culminar da perseguição de orcs sobre o desfiladeiro, liderada pelo assustador Azog - entre chamas e pinhas incandescentes, altas árvores e redentores vôos de águias - resulta num final fabuloso e poderosíssimo para este primeiro capítulo da trilogia. A coda, em que um singelo e esvoaçante tordo desperta, de um sono soberbo, um gigante adormecido, é por demais simbólica e metafórica... Ecoa, então, pelas galerias de ouro e pela nossa memória, a profecia das runas lunares, que Elrond descobriu da invisibilidade no mapa dos anões. Abre-se um enorme olho. Augura-se, pois, a mais entusiasmante e promissora continuação para a história. Mal podemos esperar pel'A Desolação de Smaug.
A melhor cena do filme é, quanto a mim, a do encontro entre Bilbo e Gollum e a troca de adivinhas na escuridão. A encenação e a contracena entre Freeman e a criação digital, mais real do que nunca e tão humanamente interpretada por Andy Serkis, é tremenda. Eis, então, a primeira aparição do Anel Um, one ring to rull them all, que despoletará a guerra às portas de Minas Tirith e a destrutiva demanda de Frodo rumo ao coração de Mordor.
A aventura pode, pois, principiar em O Hobbit - Uma Viagem Inesperada. E como estamos perante um triunfante filme de aventuras! Mas para nós, amantes desta Terra Média, este será sempre um regresso a casa. Um desejado e reconfortante regresso a casa. Talvez os anões reconquistem o seu lar, lá par o final, mas nós não temos dúvidas: ganhámo-lo desde o primeiro instante.
Crítica reformulada a 2 de Maio de 2017.
ResponderEliminarRoberto Simões
CINEROAD