sábado, 25 de março de 2017

O LIVRO DA SELVA (2016)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM
★★★★ 
Título Original: The Jungle Book
Realização: Jon Favreau
Actor Principal: Neel Sethi
Vozes: Bill Murray, Ben Kingsley, Idris Elba, Christopher Walken, Scarlett Johansson, Lupita Nyong'o, Giancarlo Esposito, Brighton Rose, Garry Shandling, Sam Raimi, Jon Favreau

Crítica:

AS AVENTURAS DE MOGLI 

They want to send you to the man-village? 
You can be a man right here!

Superar a versão original e animada de 1967, cuja crítica poderão consultar aqui, não era propriamente uma tarefa de outro mundo. Concretizar a versão live action, à partida, também não, dado que jamais teríamos, propriamente, uma versão live action. Mogli seria uma personagem de carne-e-osso, graças à performance mais ou menos arrancada de um miúdo engraçadote, e tudo o resto seria de criação digital. Sabendo nós das maravilhas do digital por estes dias - haja talento e dinheiro - dificilmente nos espantaríamos com o resultado obtido. Teríamos o miúdo a contracenar com o ecrã verde e um sem fim de artifícios que tornariam o mais recente filme da Disney em pouco mais do que, novamente, uma animação. E é claro... mais um golpe comercial, puro e simples. Acontece que... as boas surpresas acontecem.

Nesta nova versão d'O Livro da Selva houve dinheiro, houve talento... e uma admirável visão artística. Primeiro que tudo, Neel Sethi foi um achado genuinamente milagroso. O rapazinho tem graça e carisma e foi, claramente, magistralmente dirigido. Depois, os efeitos digitais (equipa de Robert Legato) são tão reais que não se exibem, a todo instante, gritando: hey, reparem, cá vão os efeitos digitais! Não somos inovadores? Não somos os maiores? Nada disso, é como se já tivéssemos ultrapassado essa fase histórica. Aqui o imaginário computadorizado dá-se por garantido e como real e abstraimo-nos do artifício, concentrando-nos na história. Para todos os efeitos, estamos, efeitivamente, na selva; passe o trocadilho. Quando nos maravilhamos com a inebriante beleza da paisagem, é pensando na paisagem, não que ela é simulada. Isto raramente acontecia, por exemplo, em Avatar. Pensamos no CGI, necessariamente, perante os animais falantes; o que não poderia ser de outra forma. Mas mesmo dando vida à fábula houve respeito e verosimilhança pelo comportamento e pelas particularidades de cada animal (nomeadamente na forma de andar, de perscrutar, de ser ou estar); o que identificamos, imediatamente, como autêntico, porque já assistimos a documentários da vida selvagem ou porque já observámos estes seres de perto e sabemos que é assim. Já conhecíamos a excelência dos tigres digitais desde A Vida de Pi e dos mais variados símios desde Planeta dos Macacos - A Origem; talvez por isso sejam eles, de todos, os melhor conseguidos. Mas o que dizer do patusco e preguiçoso Balú? Um desafio, por certo, dada a humanidade que lhe foi conferida. Estabelecer o equilíbrio entre o urso real e o fabuloso nem sempre deve ter sido fácil de conseguir - o que é certo é que ninguém se importaria de ter um amigo destes, para as ocasiões: fosse para nos proteger dos perigos ou para nadar no rio, de papo para o ar, a cantarolar o quão a vida é boa e o quão bom é a boa vida. A propósito, a banda sonora de John Debney é extraordinária e as canções recuperadas são somente duas até aos créditos - as consideradas indispensáveis: The Bare Necessities, cantada a meias entre Mogli e Balu, e I Waana Be Like You, vociferada pelo magnífico Rei Lu. Os momentos musicais, perfeitamente introduzidos, jamais destoam do todo, antes o refrescam.

O Livro de Selva de Wolfgang Reitherman foi, assim, inteiramente repensado, reajustado e, finalmente, encontramos uma narrativa à altura da história. Temos, do princípio ao fim: personagens bem desenvolvidas, cenas memoráveis, ritmo (e não mais bocejos), um crescendo emocional (momentos para rir, momentos de acção e para torcer pelo que acontece, momentos para chorar) e uma poderosíssima moral: sobre os seres humanos, sobre a natureza e sobre a relação entre ambos. As vozes da versão de origem são boas, mas, se me permitem, as da versão portuguesa são maravilhosas. E o realizador Jon Favreau não é um tarefeiro - basta admirar o seu trabalho de câmera, a sua arte e o que fez deste Livro da Selva - isto é muito bom cinema, para todas as faixas etárias. Um genuíno filme de aventuras, a ver e rever sempre - na companhia das nossas crianças ou na da criança que há ou haverá, eternamente, em nós. É impossível acabar de assistir a este filme sem um sorriso no rosto. E claro, sem sair a trautear The Bare Necessities...

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comente e participe. O seu testemunho enriquece este encontro de opiniões.

Volte sempre e confira as respostas dadas aos seus comentários.

Obrigado.


<br>


CINEROAD ©2020 de Roberto Simões