sábado, 11 de junho de 2011

CERCADOS (2001)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: Black Hawk Down
Realização: Ridley Scott
Principais Actores: Josh Hartnett, Ewan McGregor, Jason Isaacs, Tom Sizemore, William Fichtnerv, Eric Bana, Sam Shepard, Ewen Bremner, Tom Hardy, Ron Eldard, Charlie Hofheimer

Crítica:

ESTADO DE GUERRA

Apenas os mortos viram o fim da guerra.
Platão

Cercados não é propriamente um filme onde reine a subtileza. Não obstante, impera nele a elegância e a sofisticação que marcam, obra após obra, o estilo visual de Ridley Scott. Qual olhar de Deus, o cineasta desce sobre uma região particular do globo, que nem um satélite de análise: Somália, inícios dos anos 90 e o seu conflito civil. Mais particularmente, a demorada Batalha de Mogadíscio, com a intervenção americana no ar e no terreno. Quase milimetricamente, disseca a paisagem, a cultura e a atmosfera. Fornece-nos as coordenadas espácio-temporais, uma e outra vez, com uma preocupação obsessiva em simular o retrato histórico com detalhe e exactidão.

Resgatam-se as cores tórridas de Apocalypse Now (da obra-prima de Coppola resgatam-se também, com certeza, os gloriosos helicópteros) e capta-se a acção em movimento de um Spielberg em busca do seu Soldado Ryan. A fria mas implacável montagem de Pietro Scalia impõe um ritmo não só empolgante como absolutamente electrizante. E para a sublime captação da atmosfera, a direcção artística funde habilmente o real e o artificial (ou o propositadamente construído para o filme, entenda-se) na edificação de uma noção de realismo visceral. O filme - e a experiência em que consiste a sua visualização - vive ainda da exploração das infindáveis potencialidades do som e dos seus efeitos (Michael Minkler, Myron Nettinga e Chris Munron) e da carga emocional da banda sonora (Hans Zimmer, ao serviço do drama e da tensão crescente, a espaços aliviada por toda uma panóplia de canções cool que acompanham as overdoses de humor americano dos jovens soldados, sedentos de escape à seriedade do tema e das circunstâncias).

O elenco conta com uma constelação de estrelas em ascenção à data da estreia (Josh Harnett, Ewan McGregor, Eric Bana ou Orlando Bloom) que, com assaz competência, partilha o protagonismo colectivo que o argumento propõe. Não há heróis, no meio da pura, tremenda e impressionante acção. A guerra é cruel, profundamente devastadora e dilacerante e não reúne preferências. Nela, não há qualquer triunfo. Às tantas, o ódio perde o sentido e todas as mortes caem no vazio. Um soldado de intervenção, estrangeiro, ao qual se abriram as portas de um outro mundo, sucumbe perante os desígnios políticos, qual número ou peça de Xadrez. Não é nada, somente um instrumento que é tudo. O que vale uma vida humana? Cercados acaba por potenciar consideráveis discussão e reflexão.

Consideração final? Um soberbo e revigorante filme de guerra, que acaba por condensar e executar exemplarmente um pouco de toda a técnica e linguagem do género, até ao seu ano de produção.

8 comentários:

  1. Desculpa lá ó Roberto mas este filme é uma porcaria. Uma palhaçada autêntica.

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  2. ÁLVARO MARTINS: Estás desculpado. Não nos conhecemos por estas lides desde ontem e já esclarecemos bem a nossa opinião a respeito de Ridley Scott. Diria que se a porcaria em cinema tivesse sempre este calibre, não teríamos assim tanto com que nos lamentar. Respeito a tua opinião e compreendo-a inclusivé, mas a nossa exigência na determinação do limiar do que é ou não "porcaria" não coincide mesmo.

    Elevando o patamar, já viste A ÁRVORE DA VIDA do Malick? Para quando uma crítica lá pelo Preto e Branco?

    Roberto Simões
    CINEROAD

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  3. Ainda não vi Roberto. E tu? Estou esperançoso que chegue cá à minha terrinha para o poder ver numa sala de cinema. Mas espero vê-lo em breve seja numa sala seja no pc eheh

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  4. ÁLVARO MARTINS: Já vi e absorveu-me por inteiro. Para mim é a opus magnum de Malick. É tão universal. Compreende uma dimensão imensa do tempo e do espaço. De certa forma, condensa a humanidade em pouco mais de duas horas. É daquelas obra-primas (que procuram a atingir a totalidade) pelas quais é preciso esperar décadas. Penso que é uma obra ambiciosa, mas naturalmente ambiciosa. Gostei muito. Não sei se gostarás muito, provavelmente não, provavelmente sim. É Malick, mas ao mesmo tempo é uma superação de si mesmo que não sei se apreciarás. Por isso espero pela tua opinião.

    Roberto Simões
    CINEROAD

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  5. Já ouvi falar deste filme e gostaria de o ver.

    Abraço
    Frank and Hall's Stuff

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  6. De acordo um bom filme, que explora e condensa tudo o que se fez até à data no género. Não é ainda assim um Saving Private Ryan, mas é um filme mais que competente onde se nota a versatilidade e a habilidade de Scott. Destaco acima de tudo o argumento, propício mais do que nunca a algumas reflexões.

    abraço

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  7. E já agora também gostava de ver aqui a crítica ao The Tree of Life (que gostei muito como experiência, mas que e infelizmente peca aqui e ali na narrativa a meu ver), para quando?

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  8. BRUNO CUNHA: Não é nem será, seguramente e na minha opinião, uma perda de tempo ;)

    JORGE: Estamos então de acordo quanto a CERCADOS, de Ridley Scott. Quanto a THE TREE OF LIFE também gostaria de deixar aqui a minha crítica, fá-lo-ei a seu tempo. Gostaria que fosse em breve, mas talvez primeiro gostasse de revê-lo. Quanto à classificação, tenho poucas dúvidas sobre aquela que lhe atribuirei. Obras de arte destas não há muitas.

    Roberto Simões
    CINEROAD

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