★★★
Título Original: AvatarRealização: James Cameron
Principais Actores: Sam Worthington, Zoe Saldana, Sigourney Weaver, Stephen Lang, Joel Moore, Giovanni Ribisi, Michelle Rodriguez
Crítica:
O UNIVERSO MÁGICO DE PANDORA:
ENTRE A FERTILIDADE E A ESTERILIDADE
ENTRE A FERTILIDADE E A ESTERILIDADE
Everything is backwards now,
like out there is the true world, and in here is the dream.
O fenómeno global Avatar é compreensível à luz da inovação e dos avanços tecnológicos que desde cedo estiveram anunciados a este regresso do visionário James Cameron, doze anos após o arrebatador Titanic. Compreensível, na medida em que as massas deliram por experiências espectaculares e alucinantes, que as transportem imediatamente para realidades alternativas, tantas vezes fantasiosas, como é o caso.
Neste sentido, importa tratar a relevância do 3D. De qualquer modo, importaria sempre que a tratássemos, uma vez que Avatar é sinónimo de 3D: é, desde a sua raiz, uma tentativa de deslumbramento contínuo. De certa forma, esse objectivo é atingido e o filme revela-se pioneiro. O efeito do 3D, por mais atordoante que seja (e, pelo que entendi, esta consequência secundária varia bastante, consoante a predisposição, hábito ou preconceito do espectador), mostra-se não só surpreendente como impressionante, na forma como se co-relaciona com os nossos sentidos e com a nossa percepção. Parece-me, contudo e francamente, que o deslumbramento se alheou da importância nuclear da narrativa, o que é lamentável. Assim sendo, aquilo que poderia funcionar como um elemento complementar para a qualidade da obra, resume-se a um acessório cujos resultados são sensorialmente estimulantes e aparatosos mas sem maior papel narrativo.
Depois, claramente, importa tratar o filme a dois níveis, absolutamente dissociáveis: a real filmmaking e a motion capture. Sublinho absolutamente dissociáveis uma vez que não julgo perfeitamente conseguida a combinação das duas formas de fazer cinema; sim, mais do que duas técnicas, são duas formas distintas de fazer cinema, com linguagens e implicações completamente diferentes.
Avatar inicia a sua estrutura episódica, unificada por uma narração mais ou menos eficaz, com a real filmmaking. O digital interfere na fotografia, mas é um mero complemento. E, neste campo, Cameron jamais se revela especialmente inspirado no enquadramento e no movimento da câmera. Até penetrarmos na vegetação abundante de Pandora - onde a motion capture e os efeitos digitais assumem a totalidade da moldura - aquilo a que assistimos é banalíssimo: cenários, fotografia e mise-en-scène iguais aos de outros tantos blockbusters norte-americanos, onde personagens sem dimensão vagueiam pelo set enquanto a voz off se faz ouvir. Cá para mim, uma obra extraordinária e sublime faz-se do primeiro ao último shot, do primeiro ao último frame. Pois bem, a postura de Cameron em tudo aquilo que se confunde ou não com o marketing ligado ao produto, é a de quem se preparava para apresentar não só o filme mais caro de sempre como uma obra-prima única, onde cada dólar gasto valeu a pena. Basta ficarmo-nos pelos primeiros minutos de Avatar para constatarmos que não estamos perante uma obra-prima e os indícios de que se trata de uma obra desequilibrada não tardarão a fazer notar-se.
Onde Cameron brilha - incontestavelmente - é na projecção imaginada de todo aquele universo exótico e alienígena. A direcção artística é não só prodigiosa como verdadeiramente sumptuosa e minuciosa na criação de Pandora e dos Na'vi. A exuberância e a diversidade da vegetação e da fauna originam visões mágicas, plantas multiformes e animais incríveis! A paisagem é de cortar a respiração... as montanhas suspensas são de uma beleza inebriante... e, quando a noite cai, o esplendor da bioluminescência e a extrema sensibilidade de todo aquele meio ambiente concretizam uma fabulosa e colorida dimensão onírica; identificam-se, facilmente, as formas e as influências do universo submarino que Cameron tão bem conhece. Estupendos, os efeitos digitais. Que fertilidade abundou, durante todo este processo criativo. A acção das batalhas é pujante e Cameron revela total mestria na matéria.
Agora, sejamos frontais: quando postas lado a lado, ou em diálogo - falo da real filmmaking e do pacto entre a motion capture e a criação digital - sobressai um desfasamento evidente e que não parece natural, por mais mérito que o detalhe da recriação digital mereça. Quando colocadas lado a lado, em ponto de igualdade, o universo de Pandora apresenta-se-nos artificial. O universo de Pandora, por mais que tente ser foto-realístico, está condenado à fronteira entre o real e a animação. E cá para mim, pende claramente para a animação. Afinal, quando o digital impera sobre o real, só podemos pisar o campo da animação. Avatar tem, pois, uma natureza híbrida e recusa-se a assumi-la: às tantas, estamos a assistir a um filme de animação e Avatar recusa essa categorização, a meu ver óbvia e legítima. Quer fazer-nos crer que tudo aquilo é real - percebo e compreendo esse desejo - mas Pandora não é real nem parece tão real quanto se pretendia. Isso condena qualquer hipótese de verossimilhança, essencial para que um filme de fantasia funcione. Deste modo, Avatar representa um grande avanço técnico, mas não basta para se afirmar como um clássico do género.
Se há esterilidade em Avatar - e há muita, lamentavelmente - essa faz-se notar mais nitidamente nas performances dos actores e no argumento. Quanto aos actores - sempre que os temos - não há uma única personagem que seja digna de nota. Custa a crer, mas nem uma é modelada ou tem profundidade. Se não temos, desde logo, boas personagens, como poderia a história vingar? E chegamos ao argumento. De Danças com Lobos a Pocahontas, as referências ou paráfrases são mais do que conhecidas. Em boa verdade, a história de Avatar não é nada que já não tenhamos visto. Da história pedia-se muito mais, do argumento pedia-se muito mais também: entendo que a narrativa não respira, não há silêncios nem pausas, os episódios sucedem-se sem tempo para amadurecer as linhas de sentido e com tamanha previsibilidade. A forma como a história é contada dá ênfase ao deslumbramento visual e às sequências de acção, estendendo a duração do filme e não privilegiando propriamente a história. Não há, diga-se de passagem, um único diálogo memorável. Já piadas brejeiras, há inúmeras. Para além do mais, o planeta e a cultura Na'vi têm tanto potencial e tanto por onde explorar e, no entanto, fica-nos apenas uma amostra luminosa e pirotécnica inconfundível, sem grande substância... A única substância é a pertinente mensagem ecológica. Mas até que ponto é que o ritmo e as prioridades do filme não a abafam? Às tantas, mais parece que a mensagem ecológica lá está para limpar a natureza comercial da obra. A banda sonora de James Horner tem os seus momentos altos, mas quantas vezes não nos vêm à memória os temas de Titanic ou de Tróia. De As Quatro Penas Brancas há inclusivé reciclagem. Enfim... cessem as lamentações.
Continuo a pensar que Avatar é o esboço daquela que poderia ter sido uma obra extraordinária. Perdeu-se na ambição. Há quem diga que Avatar é um excelente produto de entretenimento. Entre algum aborrecimento constrangedor, poder-se-á dizer que assegura um entretenimento fora do comum. No fim de contas, entre a fertilidade e a esterilidade... penso que a esterilidade levou a melhor. Conquistou-me a sua fantástica proposta conceptual. Mas de James Cameron esperava mais.
Numa simples palavra: fabuloso!
ResponderEliminarEu vi e gostei. Bem atraente aos olhos, porém, o texto é preso a clichês e saídas previsíveis.
ResponderEliminarResenha completa lá no site!
abraço
Já vi e é mesmo fenomenal. Mas não foi em 3D. Ainda. Quero ver.
ResponderEliminarAbraço cinéfilo.
Sim, Cameron fez um ótimo investimento em Avatar e consegue, mais uma vez, conquistar o público com um filme mágico, marcante e imperdível. Fica uma ótima sensação de "quero mais".
ResponderEliminarFrustrantemente, trabalho até o dia 25. Devo ver o filme só no 27 mesmo.
ResponderEliminarFui ver ontem. É uma experiência visual avassaladora, incrível como o CGI está fantástico. O argumento é previsível, bastante clássico, mas não deixa de ser interessante. É claro que com um investimento desses, não se podia dar ao luxo de um argumento que agradasse apenas a um pequeno nicho...
ResponderEliminarÉ um filme genial, com uma palete de cores impressionante, não existe narrativa alguma que consiga igualar visualmente AVATAR.
ResponderEliminarE repetirá muitos dos feitos de Titanic, mesmo ficando quiça um pouco esquecido tal como o filme do barco gigante :(
Um filme muito popular é sempre alvo de uma grande trupe de embirrantes :) E neste caso os 2 ultimos filmes de Cameron são ou vão ser um exemplo perfeito disso.
Obra-prima!!!
ResponderEliminarVerdadeiramente fantástico. Uma autêntica viajem a outro planeta.
ResponderEliminarA nível de argumento, é uma ideia simples e clássica mas bem tratada por Cameron, com momentos bastante originais.
Cumprimentos,
Hélder Almeida
Fabuloso, lindo e mágico! Confesso que não sou um grande fã da "obra-prima" de Cameron (Titanic...agora aponto sem dúvidas para Avatar..), mas como o realizador já me tinha marcado positivamente em "aliens" e "the terminator 1 e 2", tive a sorte de poder ver a antestreia deste filme e a história já me andava a cativar há algum tempo lá fui eu e...fiquei completamente rendido!
ResponderEliminarO argumento em si, não é propriamente "original", mas consegue manter-nos presos ao ecrã durante todo o filme e podemos sentir tudo o que Jake Sully sente, desde a magia que pandora lhe traz até ao peso de "trair" a sua própria raça! Esteticamente, sem um mínimo defeito, apesar de ter sido 60% de imagem digitalizada, acho que Cameron nos mostra um mundo que parece existir na realidade!
Aponto apenas a um defeito, eu vi o filme em 3D e acho que não vale muito a pena, pois não me parece haver grande diferença entre 3D e a versão normal que justifique pagar mais para o ver em 3D. Porém cada um é que sabe.
Abram alas para Cameron! E como disse o Anderson, também fiquei com a sensação de "quero mais"... as quase 3 horas de filme passaram muito rápido! Lol
Cumprimentos e continua assim Roberto.
Abraço,
J.Peixe
Um novo capítulo na história do cinema.
ResponderEliminarAvatar é sem dúvidas um dos maiores espetáculos audiovisuais de todos os tempos e ficará marcado como tal por muitos e muitos anos.
ResponderEliminarEu digo que é excelente... Muito provavelmente irá estar nos 10 nomeados aos Oscar de melhor filme!
ResponderEliminarO filme é um pouco cliché no argumento mas irá proporcionar um enorme espectáculo entre realidade/virtual...
ResponderEliminarO motion picture está fabuloso...
Irás gostar(penso eu) e irás notar que existirá uma linha ténue no antes e no depois de Avatar...
É revolucionário mas não perfeccionista...
Abraço
http://nekascw.blogspot.com/
Caríssimos visitantes, obrigado por todos os comentários.
ResponderEliminarNa verdade, ainda não vi o filme. Fá-lo-ei muito em breve.
Depois darei conta do meu veredicto.
É curioso como AVATAR tem rompido com as dúvidas de tantos e tem gerado tamanho consenso entre cinéfilos, crítica especializada e público em geral.
Espero, no mínimo, uma experiência reveladora. A ver vamos.
J. PEIXE e PAULO ROBERTO MONTANARO: sejam muito bem-vindos ao CINEROAD!
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Como cinema, espetáculo; como filme, ótimo.
ResponderEliminarAinda assim, uma experiência única.
Ainda ñ foi possível assistir!
ResponderEliminarAbraço e Feliz Natal!
Diego!
DIEGO RODRIGUES: Não sendo propriamente, e no meu entender, uma obra-prima, é - sim - tudo isso que você diz.
ResponderEliminarDEWONNY: Recomendo vivamente.Trata-se de uma experiência invulgar e deveras inovadora. Pandora deslumbra-nos...
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD – A Estrada do Cinema
É um filme bonito com uma história que chama a atenção para natureza, mas o achei meio fraco prometeu tanto, no entanto, não conseguiu o que eu esperava dele.
ResponderEliminarApesar da história não trazer nada de novo, gostei.
ResponderEliminarSaliento a tecnologia "humana" que é totalmente credível e a flora e fauna de Pandora.
Também gostei muito de o ver em 3D.
Eu gostei imenso do filme, tanto que o considero um dos melhores filmes do ano e da década, talvez mesmo de sempre! Porquê? É simples, abriu-se uma porta nova no cinema. Os efeitos visuais são avassaladores. As 3 horas do filme voaram sem dar conta. A história em si, vendo bem as coisas não é nova, pois vai buscar muitas ideias ao Danças com Lobos, The Matrix ou mesmo ao Último dos Moicanos. No entanto, não deixa de ser uma história bonita, que passa uma mensagem de paz e confraternidade com os povos e a natureza. No mundo actual em que vale tudo em prol da riqueza económica egoísta, achei mais interessante ainda, pois é uma forte crítica às guerras do Iraque e Afeganistão. Avatar merece as minhas 5 estrelas!
ResponderEliminarPéssimo "filme".
ResponderEliminarParabéns pela brilhante crítica, Roberto.
ResponderEliminarNão podia concordar mais com tudo, inclusive com a nota.
Um projecto com IMENSO potencial que se perde. E vai piorar agora com mais duas sequelas. Uff.
Enfim.
Cumprimentos,
Jorge Rodrigues
Mais de BOM seria um crime.
ResponderEliminarFolgo em saber que mantiveste a lucidez, no que à nota toca :)
RUI FRANCISCO PEREIRA: Tenho por hábito a lucidez. Pedia-te que nos deixasses a tua opinião a respeito do filme.
ResponderEliminarJá agora, e porque não o fiz acima, gostaria que de me dirigir ao Flávio. Qual é a tua opinião a respeito do filme em questão?
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD – A Estrada do Cinema «
Vi pouco mais de meia hora no pc (e só vi por curiosidade) e tendo a concordar com o Flávio. Se isto é cinema eu sou o Pai Natal.
ResponderEliminarFoi um exagero o que disse, mas considero-o realmente muito mau. Acho toda aquela pirotecnia visual um aborrecimento, daí que não tenha prestado muita atenção ao trabalho, com certeza árduo, em construir Pandora. Mas o defeito, e isto nem para referir as interpretações ou a banda musical, reside sobretudo no argumento, que está recheado de irritantes lugares-comuns. Muito resumidamente, eu concordo com grande parte daquilo que escreveste, e gostei daquilo que disseste: «a narrativa não respira, não há silêncios nem pausas, os episódios sucedem-se sem tempo para amadurecer as linhas de sentido e com tamanha previsibilidade.» E, bom, quanto ao 3D, que foi a publicidade que o filme fez principalmente no seu início, que foi quando o apanhei, não sou fã. Rejeitá-lo-ei sempre que puder, porque não gosto e, para mim, não funciona como parte do filme e da sua construção. De James Cameron adoro só mesmo o Titanic, e quase me chacinam por causa disso. :P
ResponderEliminarAbraço
ÁLVARO MARTINS: Uma postura radical e redutora, como sabemos, mas o que importa é que percebemos a tua posição.
ResponderEliminarFLÁVIO GONÇALVES: Nesse caso estamos amplamente de acordo. Quanto ao TITANIC, também eu sou um dos chacinados, mas estou seguro das suas qualidades. Curiosamente, é o alien da carreira de Cameron e, para mim, o seu melhor filme.
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD – A Estrada do Cinema «
Excelente crítica, muito bem argumentada. No entanto não posso dizer que me identifique em tudo o que dizes. Uma coisa é verdade esperava-se muito mais de Cameron, é inegável. Nesse sentido a desilusão foi grande. Por outro lado não posso dizer que me desagradou tanto como a ti, o universo de Pandora, mágico, pictórico e muito visual conquista-me, ainda que depois a história não seja nada de mais.
ResponderEliminarDepois ainda tem uma banda sonora de realce, bastante agradável para o desenrolar da narrativa, uma fotografia espectacular e uma mensagem importante (ainda que ofuscada).
Mas pronto é isso talvez lhe desse um pouco mais na classificação, mas compreendo-te.
abraço
Como acho que já tive ocasião de dizer noutro lado qualquer, "NÃO VI E NÃO GOSTEI"
ResponderEliminarO Rato Cinéfilo
O argumento é incrivelmente previsível, cheio de clichês e por aí não prima nada. Agora, Flávio, daí a chamarmos-lhe "péssimo filme", julgo que vai uma grande distância. Acho difícil negarmos que é uma experiência extraordinária, um mundo novo que faz um grande apelo aos sentidos e consegue transportar, no mínimo, uma pequena parte do nosso desejo de fantasia.
ResponderEliminarJORGE: Muito obrigado ;) Pois, não tenho muito mais para acrescentar. Aquilo que me agrada em AVATAR não é soberano em relação àquilo que me insatisfaz. Lamentavelmente, não posso classificá-lo de outra forma.
ResponderEliminarRATO: Atitudes/formas de estar para o cinema. Não me identifico.
DIOGO F: Totalmente de acordo ;)
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Eu amo a democracia. Tinha para mim que Avatar apenas poderia ser um filme hollywoodiano típico com respostas simplórias, utópicas, para questões de monta, e com hiperexposição de efeitos visuais para combinar com a comida fast food do público que lota as salas de cinema. Dado os constantes elogios ao filme, imagino que agora devo vê-lo.
ResponderEliminarENALDO: Olhe que o filme é tudo isso que referiu. Não creio que será uma perda de tempo, assisti-lo, no entanto não será uma experiência muito intelectual; passe a ironia.
ResponderEliminarRoberto Simões
CINEROAD
Os média andaram tanto tempo a chatear que AVATAR é o fenómeno mais caro e mais espetacular de sempre do cinema mas não é nada disso! É só mais um projeto financiado por milhões de dólares que mais parece um jogo de computador! Não gosto deste tipo de cinema...
ResponderEliminarA história da Pocahontas com uma roupagem nova e algo ridícula. Não gostei deste filme. Cumprimentos!
ResponderEliminarhttp://onarradorsubjectivo.blogspot.pt/